sexta-feira, 16 de julho de 2010

Era uma vez um ciclista que não servia para o Tour


Em Setembro de 2000, com 21 anos, Manolo Saiz deu-lhe uma oportunidade como estagiário na ONCE e aí ficou mais três anos completos, obtendo as primeiras duas vitórias em 2003, e logo no Paris-Nice e na Vuelta. Não é difícil perceber o porquê da Saunier Duval o contratar em 2004, quando a equipa cântabra se formou e a ONCE teve dificuldades para continuar no pelotão, acabando por se tornar Liberty Seguros. Mais dois bons anos, incluindo a vitória na classificação da montanha da Vuelta ’05, e nova mudança de equipa, agora para a Caisse d’Epargne.
Na Caisse d’Epargne continuou com grandes resultados em clássicas e provas por etapas, mas nem o título nacional de 2007, nem o 6º lugar na Vuelta ’08 foram suficientes para que Eusebio Unzué lhe fizesse a vontade e lhe deixasse correr o Tour. No último ano, com Valverde suspenso por ter sangue numa bolsa encontrada em casa do Eufemiano Fuentes, tudo indicava que Joaquim Rodriguez se estrearia no Tour, mas foi impedido por uma lesão que o afectou durante o Giro. Acabou o ano com um sétimo lugar na Vuelta, a medalha de bronze nos Mundiais e um bilhete para a Rússia.
Assinou pela Katusha com uma condição bem clara: correr o Tour. Até lá, foi 6º no Paris-Nice, ganhou a Volta à sua Catalunha natal, o GP Indurain e foi 3º no País Basco (em que até se defendeu no contra-relógio).
De preparação para o Tour, foi 9º na Volta à Suíça e antes de rumar a Roterdão para cumprir o seu sonho, tão agradecido que estava, renovou com a equipa russa. Na quarta-feira, quando era 9º na geral, disse ser claro que não está ao nível de Contador e Schleck, um gesto de humildade raro quando estamos habituados a que todos digam que vão para ganhar. Disse também que queria acabar nos dez primeiros mas preferia ganhar uma etapa. Também não é muito raro, quando cada vez mais gente prefere ir no autocarro para manter o lugar na geral do que lutar por uma etapa.
Tal como na última Flèche Wallone, hoje bateu o Contador, mas sem o Evans pela frente, e venceu a etapa que tanto queria, na prova que tanto queria. Tem 31 anos e é um debutante no Tour.
Quanto ao Contador, continua sem levantar os braços mas já conseguiu ganhar tempo ao Schleck, aproveitando uma desatenção do camisola amarela. Já é sabido que, se não se for logo na sua roda, torna-se muito difícil. Um dos maiores problemas de Contador continua a ser a inteligência e isso nota-se quando lhe pedem que fale. No final da etapa disse que tinha falado com o Rodríguez para saber se lutavam pela etapa, porque ele [Contador] a queria ganhar. O que esperava de resposta?
Domingo há mais um round para a luta da geral, em Ax 3 Demaines, num Tour em que temos que ter cuidado a usar palavras como “round” e “luta”. Que o digam Robert Hunter, Fuglsang, Carlos Barredo, Rui Costa e Mark Renshaw.

1 comentário:

  1. LOL realmente falar em "round" já não se pode falar da boca para fora heheh

    Muito bem gostei da crónica :)

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