quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

2+2 são sempre 4, mas 4 nem sempre é suficiente


Talvez seja só a visão de um adepto diferente, talvez seja a visão de um estudante de marketing (it's all about marketing), talvez tenha interesse, talvez não, mas cá vai:
Um “jornalista”(?) que passa a vida a escrever sobre acusações de doping (sobre absolvições nunca sabe nada, ou sabe mas não escreve), escreveu agora sobre a não transmissão televisiva da Volta ao Algarve em canais abertos. Ora, sendo este o tema do momento, é como passar o ano a agredir adolescentes e no 1 de Junho ir a uma associação de país dizer que o Estado devia financiar tudo o que esteja relacionado com crianças. Além de tudo, uma forma fácil de conquistar a simpatia dos mais distraídos, passando-se por um grande defensor da causa.
É claro que a Volta ao Algarve tem uma lista de participantes incrível, que poderia chamar a atenção de muitos (ainda mais) estrangeiros para o nosso país e promover Portugal pelo mundo, mas não se pense que não é preciso trabalhar o potencial da Volta ao Algarve. Como em tudo, é preciso trabalho para alcançar a capacidade máxima e é isso que fazem alguns competidores da Volta ao Algarve. O Rali de Portugal, o Red Bull Air Race ou as provas de golfe que cá se queriam organizar (ou querem), são mais trabalhadas. Sim, é claro que é difícil pedir mais à organização da Volta ao Algarve, que voluntariamente faz tudo o que pode para o bem da prova, mas não podemos ignorar que há equipas altamente profissionalizadas a trabalhar noutros eventos desportivos que acabam por conseguir os apoios estatais através do Turismo de Portugal. E não se chega a estes apoios na semana anterior ao evento, nem se consegue espaço na programação da Eurosport no mês prévio. Consegue-se com um trabalho iniciado muito tempo antes. Se tudo for bem feito (e é preciso condições para tal), então aí sim, o Estado poderá patrocinar a transmissão televisiva da prova para toda a Europa como divulgação do país.
Quanto à transmissão para Portugal, a conversa é outra. Pensar que os canais portugueses deveriam lutar para ter os direitos transmissivos da prova, é mostrar desconhecimento pelo mercado da televisão em Portugal. Ora, no horário habitual das etapas, RTP1, SIC e TVI têm programas dedicados, sobretudo, a reformados. E exclamarão os adeptos do ciclismo “a Volta ao Algarve é muito melhor!” Claro que é! Para mim e para quem gosta de ciclismo, a Volta ao Algarve é muito melhor do que o Portugal no Coração ou qualquer programa do género. Mas, entre as 14h e 16h30, quem é que está em casa a ver televisão e contribuir para as audiências? Haverá mais pessoas a pedirem provas de ciclismo ou um programa como aqueles que os três canais têm? Claro que há mais pessoas a pedir esse tipo de programas e é por isso que os três canais têm programas semelhantes: é isso que lhes dá mais audiência àquela hora.
Para além do mais, existem compromissos com anunciantes, anunciantes esses que pagam para ter o seu anúncio no intervalo da Fátima Lopes ou da Júlia Pinheiro e não veriam com bons olhos que os seus anúncios passassem em intervalos de outros programas, pois seria impossível calcular a audiência que teriam e o público-alvo seria muito diferente. Por exemplo, a Sonasol tem interesse em anunciar durante um programa maioritariamente assistido por donas de casa…. terá o mesmo interesse em anunciar durante uma prova de ciclismo, em que a maioria dos espectadores é homem? Não! Então, vale a pena o esforço de procurar novos anunciantes para 5 dias (5, só 5!) de programação diferente, desconhecendo as audiências que poderão ser registadas? Não!
A melhor solução passa por trabalhar bem (uma petição pública na internet é uma brincadeira, “trabalhar bem” é outra coisa) para que o Turismo de Portugal agarre na Volta ao Algarve, financie a sua cobertura televisiva (ou parte dela, porque há formas de conseguir o resto) e a meta na Europa através da Eurosport. Feito isso, para transmitir também em Portugal, teria que ser na RTP2 ou na RTPN, porque se transmitisse no canal principal não conseguiria cobrir os custos de oportunidade.
O ciclismo é espectacular, nós adoramos, mas não queiram fazer parecer que é perfeito de todos os pontos de vista e para todas as finalidades. É preciso ver o que está bem e manter, ver o que não está tão bem e melhorar e ainda há aspectos que estão bem mas têm que ser alterados para se chegar onde se quer. A Volta ao Algarve é espectacular, mas vendam-na como é e não como o que queriam que fosse, porque um cão grande que uiva, é um cão grande que uiva e um lobo é outro animal.

2 comentários:

  1. «uma petição pública na internet é uma brincadeira, “trabalhar bem” é outra coisa»

    Uma das coisas mais acertadas que li nos últimos tempos. O ciclismo, quer queiramos quer não, é (em Portugal) um desporto de minorias. A Sporttv prefere passar jogos de escalões secundários de futebol a passar ciclismo. Porquê? Porque é fácil para os adeptos estarem em casa em frente ao computador e assinar uma petição para... Estar em casa em frente à televisão - 5 dias num ano!!!

    A Liga Orangina tem transmissão (julgo) de um jogo por jornada, o que totaliza 30 jogos num ano; um mês de futebol em doze meses de um ano. É muita exposição!

    Os adeptos de ciclismo devem unir-se para se fazerem ouvir, porque ter muitos seguidores no Twitter da Eurosport não serve para nada. Quem vende produtos para jovens com disponibilidade para estarem em frente à televisão numa tarde vai patrocinar os Morangos com Açúcar, porque (por mais que isso me custe) é isso que vende!

    Peço desculpa pelo comentário longo, mas se nós (adeptos) não começarmos a promover o nosso potencial enquanto consumidores vamos continuar com lamentos e vitimizações que nunca vão mudar a pouca popularidade do ciclismo (à parte da Volta) em Portugal.

    ResponderEliminar
  2. Tens razão no que dizes. Para se entrar num mercado tão restrito é preciso conhece-lo e entende-lo. Não basta pedir.

    ResponderEliminar

Share