quarta-feira, 16 de março de 2011

Como é simples ter espectáculo!


O Paris-Nice que domingo terminou e o Tirreno-Adriático que decorreu até terça-feira, disputando-se durante vários dias em simultâneo, são um excelente exemplo de como é simples ter (ou não) espectáculo numa prova por etapas de curta duração. E não se pense que isto é válido apenas para provas World Tour. Não! É válido para qualquer prova, com a diferença que umas chegam a todo o mundo pela TV e outras apenas chegam na hora a quem está na estrada.
O Paris-Nice, que nos últimos anos tem contado com um prólogo, as habituais etapas para sprinters, duas ou três etapas de média montanha (como chegada a meio do Mont Ventoux em 2008 ou Mende 2010) e a etapa final, este ano decidiu inovar, colocando a meio da prova uma etapa com condições para fazer muito mais diferenças que as restantes: um contra-relógio de 27 quilómetros na antepenúltima etapa. A prova ficou decidida. Aliás, ainda a prova não tinha começado e já Tony Martin era o grande favorito, antevendo-se que ninguém recuperaria as diferenças aí feitas pelo alemão.
27 km para um contra-relógio no início de Março é demasiado, poderia decidir e decidiu mesmo, tal como muito provavelmente teria decidido a favor dum trepador uma chegada numa montanha de primeira categoria (daquelas primeiras categorias a sério). Martin deu 20s a Wiggins, 29’’ a Porte, 46’’ a Klöden, 55’’ a Peraud e 57’’ a Westra, o último a ficar a menos de um minuto. Klöden saiu do contra-relógio no segundo lugar da geral a 36s, com dois dias para cumprir calendário porque não dava mesmo para recuperar a desvantagem. E se não fosse Martin? Se não fosse Martin seria Klöden a sair do contra-relógio como vencedor, pois Wiggins não tem pedalada para lhe ganhar um segundo que seja e o adversário seguinte (Taaramae) estava a 34s. Ao contrário da ideia que algumas pessoas tentam transmitir, na etapa final de Nice não se recuperam 30s e até 20 é muito difícil. Pode ser que tenham aprendido e não repitam, tal como a Volta a Portugal nunca mais terá a Serra da Estrela à 3ª etapa (2008).
Não muito longe, tivemos o Tirreno-Adriático. E o que tinha este T-A no percurso que pudesse decidir a prova antes do último dia? Nada, absolutamente nada! Claro que o pelotão podia dar meia hora de vantagem a um fugitivo, mas isso não seria provocado pelo percurso mas sim pela falta de interesse.
O T-A tem vindo a mudar de fórmula desde 2005 e parece-me que esta foi das melhores edições, exceptuando o contra-relógio colectivo do primeiro dia, que é algo me faz sempre muita comichão. Depois de em 2005 ser para o sprinter mais regular (percursos totalmente para velocistas), desde 2006 já misturou tudo: cronos mais ou menos planos, finais em colinas e até mesmo chegadas ao alto, umas misturas com mais sucesso e outra com menos.
Este ano, além de duas chegadas para sprinters (a Milan-Sanremo está próxima), houve três etapas com finais propícios a fazer diferenças de segundos e um crono final de 9 km. Não bastava ser contra-relogista ou ser puncheur*, tão-pouco havia um sítio claro para atacar ou uma fórmula certa e muitos foram os ciclistas que tentaram a sua sorte, uns mais longe da meta, outros na última rampa, outros nos últimos 300 metros. Cadel Evans e Scarponi foram os mais regulares nos três dias chave mas o australiano levou a vantagem do contra-relógio colectivo inicial, partiu na liderança para o último dia e levou a vitória. De sábado a terça-feira, todos os dias interessavam para encontrar o vencedor final e apenas 15 segundos separaram os três do pódio.
* puncheur, finalizador de colinas
*****
Além de Tony Martin, este P-N teve dois grandes heróis: Thomas De Gendt e Thomas Voeckler. O primeiro venceu a primeira etapa, perdeu a camisola amarela na terceira e voltou a fugir para recuperar a liderança na quarta, onde venceu Voeckler, que venceu também a oitava. Voeckler é a prova de que não se precisa de ser um grande trepador, um grande sprinter ou um grande homem de clássicas para se ser um grande ciclista. Basta ser relativamente bom e ter uma grande paixão por correr. As restantes etapas foram para Greg Henderson, Matt Goss, Andreas Klöden e Remy Di Gregório.
Quanto ao T-A, CRE para Rabobank, etapas ao sprint para Tyler Farrar e JJ Haedo, depois Scarponi numa dobradinha da Lampre com Cunego, Gilbert, Evans e Cancellara no crono final. Tiago Machado esteve ao ataque nas três últimas etapas em linha e acabou em 7º na classificação geral. Provas de três semanas nunca correu, mas em provas de uma não precisa de dar mais demonstrações de qualidade.
*****
Para sexta-feira, não só mas principalmente, fica a Milan-Sanremo, a Clássica da Primavera, la Classicissima, o primeiro Monumento da temporada. A propósito disso, está uma votação ali ao lado direito.

2 comentários:

  1. O Paris-Nice com um contra-relógio individual de 27 km foi uma prova sem qualquer interesse. Correcção: DEPOIS do contra-relógio foi uma prova sem qualquer interesse.
    Antes disso tivemos um de Gendt e um Voeckler a dar espectáculo. Voeckler continuou a dá-lo após o contra-relógio pela simples razão que isso é o melhor que ele sabe fazer.
    É um ciclista fenomenal e um exemplo a seguir: a sua vontade de vencer sobrepõe-se às capacidades físicas e técnicas e deixa muitas "estrelas" a corar de vergonha pelo pouco espectáculo que dão.


    O Tirreno-Adriatico foi, à imagem do ano passado, uma prova emocionante. A edição de 2010 foi ainda mais mas não me senti defraudado este ano, apesar das expectativas altas que tinha à partida.
    Tiago Machado provou uma vez mais que é um ciclista de uma força de vontade incrível. Lembro-me do ataque já no último km na etapa vencida por Evans: o grupo apanhou-o e passou por ele a alta velocidade. O que fez Tiago? Sem desistir, apanhou a roda de Pinotti (salvo erro) e garantiu uma posição confortável dentro do top 10 que defenderia sem surpresas no Contra-relógio.

    O único erro do T-A: Contra-relógio por equipa que faz diferenças de tempo na geral individual... Os organizadores podiam aproveitar os tempos para a geral colectiva e até o vencedor para darem a primeira camisola de líder. Mas vimos gente a ficar arredada da luta final por algo que não era a sua capacidade. Os organizadores já abriam os olhos.

    Quanto à MSR: aposto em Haussler, mas sempre com a camisola de campeão mundial do Hushovd à espreita. Não seria uma vitória magnífica para alguém que era dado como terminado há mais de um ano? Aquela camisola de campeão faz milagres numa carreira...

    ResponderEliminar
  2. Apesar de o Husshovd e Haussler serem dos maiores candidatos à vitória, penso que a liderança aqui será para Haussler e Farrar, enquanto Hushovd liderará em Flandres e Roubaix. De qualquer forma, aponto como maior favorito o Freire :)

    ResponderEliminar

Share