segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um Campeonato Nacional de méritos e deméritos

Terminou mais um fim-de-semana (prolongado) de Campeonatos Nacionais, do qual se destaca o sétimo título no contra-relógio para Nelson Oliveira e o primeiro (ou segundo) de João Cabreira, sem que tenha sido necessário o Boavista trabalhar ou de colocar alguém em fuga porque houve um director desportivo que dedicou o dia a anular fugas de ciclistas seus.

Elites

Ao contrário do que se dizia, o circuito não era plano, mas ainda assim era de prever que um grupo algo numeroso discutisse o título nacional de elites ao sprint. Para esse cenário, toda a gente sabia que Filipe Cardoso, Sérgio Ribeiro (Barbot), Bruno Sancho (LA/Paredes), Samuel Caldeira (Tavira) e Bruno Lima (Boavista) - se conseguisse aguentar as dificuldades - tinham semelhantes probabilidades de sucesso. Posto isto, rapidamente se formou uma fuga com Nelson Vitorino (Tavira), Carlos Baltazar (Barbot), Hugo Sancho (LA), Vítor Carvalho (Valongo) e um ciclista da Casa do Benfica de Pataias. Entre os fugitivos não havia nenhum grande sprinter, não precisavam de se temer uns aos outros e as suas equipas poderiam descansar no pelotão, entregando as responsabilidades de perseguição ao Boavista. Porém, na frente não se entenderam e foram absorvidos pelo pelotão, comandado pela LA (sim, a mesma equipa que na frente tinha um dos três profissionais).

De seguida, a Barbot endureceu a corrida, como tinha que fazer, sabendo que quem mais ganharia com isso seria Sérgio Ribeiro. Acabou por saltar uma fuga com o campeão nacional Rui Sousa (Barbot), Hernâni Brôco (LA), André Cardoso (Tavira) e Micael Isidoro (Loulé). Mais uma vez era a Boavista a única sem representação na frente mas quem perseguiu foi a Barbot, confiante de que poderia criar uma situação de corrida mais agradável para os seus objectivos, como conseguiu quando se juntaram à frente Sérgio Ribeiro e Sérgio Sousa, acompanhados por Ricardo Mestre (Tavira), Márcio Barbosa (LA), José Mendes (CCC Polsat) e Bruno Pires (Leopard). Ficaram 10 ciclistas na frente, sendo a principal beneficiada a Barbot, que tinha lá Sérgio Ribeiro e dois ciclistas para o ajudarem. Assim sendo, todos sabiam que Sérgio Sousa e Rui Sousa seriam queimados a favor do seu líder e competia à LA e a Tavira escolherem qual dos seus corredores seria a aposta e qual trabalharia na frente. Havia ainda a possibilidade de simplesmente pouparem os dois e esperarem que Boavista trabalhasse lá atrás, pois já não tinha Bruno Lima em prova mas também não tinha ninguém na frente e era a única equipa com real obrigação de perseguir os escapados. O que LA e Tavira não deveriam fazer era trabalhar no pelotão, que foi precisamente a opção dos de Paredes.

À entrada para a última volta, restavam na frente Serginho, Márcio Barbosa, Pires, Mestre e Isidoro, com a LA à morte na frente do pelotão. Resultado: alcançaram os fugitivos, anularam Sérgio Ribeiro que era um dos principais candidatos à vitória mas ficaram sem equipa para controlar os últimos quilómetros e o seu sprinter Bruno Sancho tinha tantas hipóteses teóricas de vencer quanto Filipe Cardoso ou Samuel Caldeira. Simplificando: o director desportivo de Paredes desgastou toda a equipa para anular uma situação de corrida que não lhe agradava e construir outra que não era mais vantajosa.

João Cabreira e Mário Costa acabaram por conseguir fugir nos últimos quilómetros e Cabreira conquistou, em princípio, o título nacional de elites. Sim, o título de campeão nacional vai para uma equipa que pouco ou nada precisou de fazer excepto na última volta. Prata para o Mário Costa (uma vitória de uma equipa amadora seria, no mínimo, muito caricata) e bronze para o Filipe Cardoso.



Tal como toda a gente esperava, o título de contra-relógio de elites foi para Nelson Oliveira, ainda em idade sub-23. É o sétimo na carreira nesta especialidade e pouco mais é necessário dizer. Prata para Hugo Sabido a 1’01’’ e bronze para Bôco a 1’26’’. Olhando para os tempos de Mestre e Rui Sousa (mais 6 e 15 segundos que Brôco), parece que vamos ter uma Volta a Portugal muito disputada, a não ser que venha uma qualquer equipa estrangeira com alguém que estrague a festa portuguesa.

Formação

Nos sub-23, prova em linha marcada por várias quedas, a principal delas junta à praia, na zona de paralelo. Há quem diga que foi por um malabarista que decidiu entrar no paralelo com os antebraços no guiador, como se estivesse em contra-relógio e não necessitasse de segurar nas manetas. Terminou no chão e arrastou com ele muitos outros. Fábio Silvestre foi o grande vencedor, dando mais um título à Liberty Seguros depois da vitória de Domingos Gonçalves no contra-relógio.
A prova de juniores foi marcada por uma queda no grupo principal à entrada para a penúltima volta (vejam a foto ao lado), que fez com que vários desistissem e eliminou as hipóteses de alcançarem os fugitivos. A prova de cadetes foi marcada por um acelera-a-subir-e-abranda-a-descer que fez com que a prova fosse lenta e pouco selectiva. A prova de femininas foi idêntica a todas as outras da categoria.
De resultados não vale a pena falar porque para isso existe o site da PAD. Ficam apenas duas críticas:
1) Como demonstra a imagem anterior, a chegada poderia ser muito mais larga, bastando para isso que fosse feita 400 ou 500 metros antes. Naquele sítio, havia um separador que não permitia usar as duas faixas, mas se a meta estivesse colocada um pouco antes não haveria qualquer problema, todos poderiam sprintar em maior segurança e talvez se tivesse evitado a queda dos juniores que enviou vários miúdos ao hospital.
2) No ano passado, a prova de cadetes começou com mais de uma hora de atraso e a desculpa de que tinham demorado devido à classificação dos elites (elites correram de manhã e cadetes à tarde). Este ano, passaram os cadetes para a manhã e não haveria qualquer desculpa para atrasos… mas começaram com 40 minutos de atraso e espera ao sol. Não há qualquer desculpa: é mesmo falta de consideração para com os rapazes. Comissários e/ou organizadores experientes (dependendo de quem for a culpa) sabem perfeitamente o tempo que é necessário para montar uma prova e é ridículo que, 5 minutos antes da hora marcada para o começo, ainda estejam a fazer medições de andamentos.

Independentemente disso: Parabéns a todos os vencedores e medalhados!

*****
Quanto a outros países com expressão na modalidade, Giovanni Visconti venceu pela segunda vez em Itália, Sylvain Chavanel em França, Robert Wagner na Alemanha, Pim Ligthart na Holanda, Fabian Cancellara na Suíça, José Joaquin Rojas bateu Contador em Espanha, e Philippe Gilbert venceu na Bélgica, sendo o principal candidato para a primeira etapa do Tour. Outros vencedores sonantes: Frank Schleck no Luxemburgo, Janez Brajkovic na Eslovénia, Peter Sagan na Eslováquia e Bradley Wiggins na Grã-Bretanha. Já agora, no Brasil o novo campeão é Murilo Fischer na Bulgária venceu o nosso bem conhecido Danail Petrov e na Moldávia esteve presente o Eugeniu Cozonac do Louletano, que foi 5º na prova em linha e 2º no contra-relógio (2º e 1º em sub-23).

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