sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Um camisola amarela desconhecido?

Qualquer um deles já merecia vestir de amarelo
Por vezes um ciclista desconhecido da grande maioria dos adeptos chega à camisola amarela, principalmente nas primeiras etapas de uma prova por etapas. Lembro-me por exemplos de José Miguel Elias em 2004, Christian Pfannberger em 2006, ou Miguel Suáres Manteiga em 2000 e Fidel Chacon em 2005, que apesar de correrem em equipas portuguesas eram desconhecidos da maioria dos adeptos portugueses.

A situação que temos hoje na Volta, pelo menos à hora que termino de escrever (são 20h30), é de outro tipo: não se sabe mesmo quem é o camisola amarela. Sérgio Ribeiro subiu ao pódio para vestir a camisola mas, segundo o regulamento da UCI, o líder é Hugo Sabido. Classificações oficiais, ainda não as há.

Um arranque perfeito para a LA/Antarte

A LA/Antarte foi a grande vencedora do prólogo, com Hugo Sabido a ser primeiro e vestir de amarelo, Bruno Silva terceiro e melhor jovem e Hernâni Brôco sexto e melhor entre os principais candidatos à vitória final. Com isso tudo, triunfaram também colectivamente.

A carreira do Hugo Sabido, pelo menos até ao momento, não foi tão boa quanto se perspectivava no início, em parte devido a vários infortúnios em momentos importantes da sua passagem pela Team Barloworld. Ele, que até venceu a Volta ao Algarve em 2005, nunca tinha andado de camisola amarela numa das principais provas do calendário nacional. Quando venceu a Volta ao Algarve, apenas chegou à liderança no último dia, e na Volta ao Alentejo de 2004, depois de vencer a segunda etapa, chegou a estar empatado com o líder mas o desempate dava a camisola a Pedro Soeiro.

Desta vez, Sabido não deixou margem para dúvidas e cilindrou toda a concorrência, deixando o segundo a seis segundos, a mesma distância que separou o 2º e o 33º. Porém, com a liderança em Sabido, o director desportivo Mário Rocha tinha que pensar muito bem no que fazer. Ao olhar para os últimos anos, Hugo Sabido não parece homem para lutar pela vitória final. É muito bom ciclista, tem tudo para terminar nos dez primeiros, talvez até nos cinco, mas mais do que isso parece-me pedir de mais ao Hugo e o chefe-de-fila terá que ser o Brôco.

Então, o que poderia fazer hoje a LA/Antarde? Todas as equipas que querem vencer a geral (e todas as portuguesas querem) esperam que os seus líderes não percam tempo. Assim sendo, na LA esperam que Brôco não perca (e talvez ganhe) tempo para os principais adversários nas chegadas à Senhora da Assunção, Senhora da Graça e Gouveia e, quando Sabido perder a amarela, será para Brôco. Estas são as contas na LA, tal como as contas do Boavista passam por Cabreira ganhar tempo nessas etapas, as contas da Barbot passam por Rui Sousa a ganhar tempo e as do Tavira por Ricardo Mestre e André Cardoso. Por isso, a LA só poderia desejar três cenários: Hugo Sabido leva a camisola amarela até ao final; Hugo Sabido perde a camisola amarela para Brôco e Brôco lidera até ao final; um ciclista menos importante chega à liderança nos primeiros dias e poupa trabalho à LA.

Com base nisto, acho Mário Rocha optou muito bem por não colocar os seus ciclistas a trabalhar hoje na frente do pelotão. Mário Rocha sabe que não têm equipa para controlar o pelotão até ao final da Volta (nenhuma equipa tem) e muito menos se queria arriscar a controlar o pelotão hoje para no final do dia perder a camisola amarela para Filipe Cardoso (estava apenas a 6 segundos), Samuel Caldeira (estava a 9) ou Sérgio Ribeiro (estava a 10 e vencendo a etapa e bonificando numa meta volante ou com cortes também lá chegaria). Além do mais, se Sabido perdesse o primeiro posto para um dos três fugitivos por um ou dois minutos, não haveria grande problema. Nenhum deles se assemelha a Vladimir Efimkin, porque Efimkin não era um ciclista qualquer e chegou à Volta a Portugal de 2005 com bons resultados, o que não acontece com nenhum dos três estrangeiros que protagonizaram a fuga do dia. Além do mais, toda a gente sabe que Carlos Pereira e Vidal Fitas são directores desportivos que assumem sempre a responsabilidade e, quando têm uma oportunidade de vencer, trabalham para ela. Por isso, Barbot-Efapel e Tavira-Prio assumiram o comando do pelotão e baixaram rapidamente a diferença dos fugitivos, que chegou a ser de 7 minutos a 80 quilómetros do final (nada de preocupante).

A vitória da etapa foi discutida ao sprint e Sérgio Ribeiro confirmou o favoritismo que lhe era atribuído. A Barbot preparou-lhe o sprint como pôde e, apesar de Filipe Cardoso ficar na frente muito cedo, um homem da Lampre (que trabalhava para Francesco Gavazzi) acabou por disfarçar essa pequena falha no trabalho da Barbot. Quando o corredor da Lampre abriu, Filipe Cardoso lançou da melhor forma Sérgio Ribeiro, que venceu.

Mas quem é o líder agora?


Em caso de empate na classificação geral individual, as fracções de segundo registados durante as etapas contra-relógio individuais (incluindo o prólogo) são reincorporadas no tempo total para desempatar os corredores ex-aequo.
Em caso de novo empate ou na ausência de etapas contra relógio individuais, tem-se em linha de conta a soma do número total de lugares obtidos em cada etapa e como última forma de desempate, o lugar obtido na última etapa disputada.

Nos contra-relógios, os tempos têm que ser tirados aos centésimos de segundo para se poder fazer as classificações. Sem isso, como se poderia saber se o segundo classificado foi Filipe Cardoso ou Bruno Silva? E como se pode saber se o quarto foi Sérgio Sousa ou Ricardo Vilela? Alguém se lembra do prólogo de 2009, em Viseu, em que Cândido Barbosa bateu Filipe Cardoso por dez centésimos de segundo? Ou no Tour desse mesmo ano, em que, após o contra-relógio por equipas, Lance Armstrong ficou a 22 centésimos da camisola amarela de Fabian Cancellara? Nesse dia Armstrong ganhou 40s a Cancellara mas no contra-relógio do primeiro dia tinha perdido 40s e… 22 centésimos.

Não restam dúvidas de que os centésimos de segundo têm que ser registados nos contra-relógios individuais e é por isso que, quando existem cronos, o desempate para a classificação geral é feito por esses centésimos. Eles não aparecem nas classificações gerais na televisão, mas contam sempre para desempate.

Pois bem, na classificação oficial de ontem não há registos de centésimos. A classificação que a RTP ia dando quando chegavam os corredores tinha centésimos, mas essa apenas serve para informar os telespectadores e não serve como oficial. A classificação que realmente conta terminava nos segundos e dava Sérgio Ribeiro a dez segundos da liderança. Com a vitória de hoje e as respectivas bonificações, Sérgio e Hugo Sabido ficam empatados. Com o critério de desempate, quem fica na frente? Não se sabe, pois a maldita classificação de ontem não tem os malditos centésimos.

Aos microfones da RTP, Mário Rocha explicou o seu pensamento, que faz sentido. Critiquei o director desportivo da LA nos Campeonatos Nacionais mas hoje tenho que o elogiar pela segunda vez. Dizia ele, que na classificação oficial o 12º classificado do prólogo estava a 10 segundos de Sabido e, uma vez que Sérgio Ribeiro tinha sido 15º, então teria perdido 10 segundos e mais alguma coisa para Sabido. Faz sentido, não faz? Assim sendo, a liderança continuaria na posse do Hugo. Sérgio Ribeiro subiu ao pódio para vestir a camisola amarela mas, até agora (e já passam mais de quatro horas desde o final da etapa), não há classificações oficiais na internet.

Curiosamente, é a primeira vez que vejo uma confusão destas, curiosamente acontece na primeira vez que as classificações da Volta estão a cargo da Fullsport (antes estavam a cargo da Edosof) e curiosamente a Fullsport é uma empresa de Carlos Pereira, director desportivo da Barbot. Eu não estou a dizer que uma coisa está relacionada com a outra. É apenas uma curiosidade mas os leitores deste blog já estão habituados a que eu pense sempre nestas coisas e nestes pormenores, não estão?

Ah, e não posso deixar de elogiar o António Carvalho e o seu excelente terceiro lugar numa prova como a Volta. Ele que até já tinha vencido uma etapa contra profissionais no GP Abimota. Vamos ver se a Selecção Nacional continua a bom nível e era engraçado que animassem a prova. A história do “são muito novos” perde o sentido pois o Micael Isidoro está perto de cumprir 29 anos, o Bruno Saraiva tem 26, o Hélder Leal vai fazer 25 em Outubro e o Valter Coutinho tem 23 e todos os outros estão no último ano sub-23.

*****
Já foi anunciado o final da equipa HTC e a empresa Omega Pharma vai patrocinar a equipa de Patrick Lefevere, passando a chamar-se Omega Pharma-Quick Step. A equipa Lotto deve manter os seus principais ciclistas, sendo a única dúvida Philippe Gilbert. 

5 comentários:

  1. Apenas uma correcçao. Nem todos os ciclistas da selecçao Nacional estão no ultimo ano de sub 23. Luis Afonso nasceu em 1990, Antonio Carvalho e Joni Brandao em 89. quando o ultimo ano de sub-23 é 88

    às vezes antes de falar, é bom que se tenha a certeza senão corre-se o risco de acontecer situações destas

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  2. Obrigado pelo comentário.
    Realmente, o Luís Afonso é excepção, pois está no 3º ano de sub-23. Mas, ao contrário do que diz, o último ano sub-23 é o de 89. Assim sendo, o António Carvalho, o Jóni Brandão e o José Gonçalves estão mesmo no último ano do escalão.

    De qualquer forma, obrigado pelo reparo sobre o Luís Afonso, pois como diz (e muito bem) "às vezes antes de falar, é bom que se tenha a certeza senão corre-se o risco de acontecer situações destas".

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  3. Anónimo o último ano de sub 23 é o de 89 tal como o Rui referiu e bem.

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  4. Sei que já tem um mês e não sei se mesmo o Rui lerá, mas queria que pensasse comigo, ciclistas de 90, estão no seu 3º ano, ciclistas de 89, no seu 4º, os de 90 fazem 21 anos em 2011, os de 89, 22 anos. O que penso é que os de 88 ainda têm 23 anos logo ainda serão sub-23 em 2011. Consequentemente os de 89 para o ano serão sub-23 na mesma porque terão 23 anos.

    Penso eu, não pesquisei.

    Penso que o escalão se sub-23 seja 5 anos.

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  5. Ok, já verifiquei, e realmente é como vocês dizem. 89 é mesmo o ultimo ano de um sub-23.

    Vi isto pelo Bruno Silva, que sabia que é de 88, e mesmo que tenha 23 anos feitos em 2011 já é elite

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