terça-feira, 16 de agosto de 2011

Volta a Portugal de 0 a 10

Terminada a Volta a Portugal, vamos lá pontuar os principais intervenientes desta que é a prova rainha do ciclismo português. Este exercício já foi feito após a Volta a França e até pelo nome facilmente percebem no que consiste, mas há uma diferença entre o balanço do Tour e o balanço da nossa Volta: quem apontou para a Volta e falhou, já não tem onde salvar a época.

10

Ricardo Mestre, o melhor. Houve muitos ciclistas que focaram a sua época na Volta, vários que ambicionavam uma boa classificação geral e alguns que aspiravam à vitória, mas só um a poderia alcançar e foi ele, Ricardo Mestre. Sobre a sua ainda curta carreira, falei logo após a vitória no contra-relógio e sobre o seu percurso para ganhar esta Volta nada há a acrescentar ao que já foi dito, até porque se decidiu em apenas dois dias (crono e Torre) e nos outros 9 bastava estar regular. Por isso, não resta muito a dizer. Ricardo Mestre, nota 10, Volta perfeita.

9,5

André Cardoso não me leva o 10 porque não venceu a Volta, mas menos do que 9,5 seria muito pouco para alguém que esteve na discussão de todas as etapas decisivas, venceu a etapa rainha, terminou em segundo na classificação geral e… atrás de um colega. É-me complicado dar uma nota à Volta do André por isso. É um 9,5 perfeito, façamos assim.

9

9 para Sérgio Ribeiro. A Volta a Portugal do Serginho foi de muito alto nível. Cumpriu os seus objectivos pessoais, vencendo a camisola branca e duas etapas (tal como em 2010), acrescentando a isso quatro dias de camisola amarela e um sexto lugar final. Nota-se que trabalhou muito para subir ainda melhor do que já o fazia e é actualmente um ciclista extremamente completo. Não é apenas um sprínter mas no pelotão internacional seria um dos sprinters que melhor passaria as dificuldades, talvez ao género de Boasson Hagen ou Sagan (não quero com isto dizer que é tão rápido quanto eles, porque não é).

Penso que poderia ter vencido mais uma etapa (a de Castelo Branco ou a de Lisboa) mas o desgaste provocado em etapas como a da Senhora da Graça, contra-relógio e Torre deixou mossa, um desgaste maior do que Franceso Gavazzi, o vencedor nesses dias. Aliás, já em Gouveia o italiano tinha sido mais forte que o Sérgio Ribeiro. Não há que lamentar nada. Uma boa classificação geral em vez de total dedicação a discutir etapas era uma opção, foi a tomada pelo Sérgio e valeu-lhe o sexto lugar final sem comprometer o auxílio à aposta da equipa para a geral, Rui Sousa.

8

Entrego quatro 8s. A Rui Sousa e a Hernâni Brôco, que falharam os seus objectivos de vitória na Volta mas o primeiro conseguiu o terceiro posto e o segundo conseguiu a vitória na Senhora da Graça, dois dias de amarelo e o quinto lugar final. Não é o que queriam, mas têm motivos para sair de cabeça levantada e satisfeitos com as suas prestações. E 8 para Tavira e para o Vidal Fitas. Para o Vidal porque montou (mais uma vez) a estratégia certa e graças a isso nunca passou por sobressaltos, e para a sua equipa porque controlou a corrida sempre que foi preciso e cada corredor desempenhou o papel que lhe cabia. Por vezes vemos directores desportivos que montam a estratégia correcta mas depois os ciclistas falham, noutras vezes vemos os ciclistas cheios de força mas sem a usarem da melhor forma, e nesta Volta a Portugal tivemos uma Tavira-Prio em que havia alguns corredores maior fortes que outros (como em todas as equipas) mas todos foram úteis pelo trabalho desempenhado. O resultado foi a vitória do Mestre, o segundo lugar final do André Cardoso, duas etapas vencidas e a classificação colectiva. O trabalho de Nelson Vitorino e David Livramento deu mais nas vistas por ser desempenhado nas subidas, mas todos os outros também estiveram lá quando foi preciso.

7

Para a equipa Barbot-Efapel. Com duas vitórias de etapas e um lugar no pódio final, a Barbot foi uma das equipas com melhores resultados, além de ter sido um bloque muito coeso na ajuda aos seus líderes. As constantes lamúrias de Carlos Pereira foram um dos aspectos negativos da prova, mas a equipa esteve forte, controlou a corrida quando tinha que controlar e daí colheu os seus frutos.

7 para Francesco Gavazzi, que venceu duas etapas, foi segundo noutras duas e terceiro por uma ocasião, sendo um dos grandes animadores da prova. 7 para a Caja Rural pelas vitórias na classificação da montanha e da juventude e por ser uma equipa extremamente combativa.

Selecção Nacional

Tenho falado pouco sobre a prestação da selecção nacional porque não os vejo como uma equipa mas sim como nove corredores que tinham a oportunidade de mostrar o seu valor e que, respeitando-se uns aos outros, deveriam procurar protagonismo. Por isso, optei por esperar que a prova terminasse e só agora fazer um balanço das suas prestações, sem atribuir pontuações a nenhum deles.

Habitualmente, os seleccionados de José Poeira limitam-se a andar no pelotão e esperar que no fim alguém safe a prestação do grupo, como aconteceu várias vezes com o Rui Costa. Na Volta do ano passado, verificou-se essa passividade por parte dos corredores que envergavam as cores nacionais, mas este ano a atitude foi diferente e para melhor. Micael Isidoro e Domingos Gonçalves foram os mais combativos, mas Jóni Brandão e António Carvalho também se deixaram ver em fugas e Luís Afonso tentou no último dia. Quanto a resultados, apenas há a destacar o terceiro lugar de António Carvalho na primeira etapa em linha, mas ninguém lhes pedia que discutissem a Volta ou etapas, apenas que mostrassem atitude. Infelizmente nem todos aproveitaram a oportunidade e é de lamentar que Hélder Leal, Bruno Saraiva e Válter Coutinho não o tenham feito, pois já não estão em idade sub-23 e deveriam ter feito mais para se mostrarem e lutarem para estar em equipas profissionais no próximo ano.

Notas negativas

Nota negativa para a qualidade do pelotão, pois houve excepções como Gavazzi, Guardini, Bisolti ou Firsanov mas a maioria dos membros das equipas estrangeiras era de pouca qualidade. Quando as equipas disputam a corrida e ainda participam em fugas, é muito bom. Quando as equipas têm 3 ou 4 corredores (algumas nem tanto) participam em fugas mas, além disso, nada acrescentam à prova, sabe a muito pouco. A classificação geral dominada por portugueses e de equipas portuguesas demonstram isso mesmo. Não é que agora haja mais portugueses de boa qualidade, é que não havia estrangeiros de qualidade para competir com os melhores portugueses (dos que correm por cá).

Nota negativa para o João Cabreira, o único que se apresentava à partida como candidato à vitória final e nunca mostrou capacidade para discutir os primeiros lugares. Terminou no nono lugar e a mais de oito minutos do vencedor. Nota negativa para a Onda-Boavista que entre as equipas portuguesas foi a que mais distante esteve da disputada da camisola amarela, a única que não venceu etapas e que não vestiu nenhuma camisola de líder. É sabido que, se dependesse de José Santos, a Volta a Portugal seria apenas disputada por equipas portuguesas para ter mais hipóteses de vencer mas, a julgar por o que se viu nos últimos dias, é necessário algo mais do que afastar os estrangeiros para que possa voltar a vencer uma Volta (conseguiu em 92 com Cássio Freitas e 93 com Joaquim Gomes).

*****
Se as minhas contas não me falham, Portugal terá direito a seis corredores nos próximos Campeonatos do Mundo de elites, o que não seria possível caso a Volta a Portugal baixasse de categoria. Já no ranking sub-23, a 25 de Julho Portugal era o 26º classificado, o último lugar que dá direito a presença em prova (com 3 corredores) e penso que se manterá nessa posição quando sair o ranking de 15 de Agosto (o que conta para apurar o número de participantes de cada país).

*****
A Volta a Espanha que sábado começa, terá três portugueses e meio: Tiago Machado, Nelson Oliveira, Sérgio Paulinho e David Blanco. Nos próximos dias, também aqui será falada.

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Ali no lado direito, no sítio do costume, podem votar em quais os temas que mais vos interessam para os próximos dias. Abordarei todos eles, mas gostaria de saber qual/quais mais interessa(m) aos leitores

9 comentários:

  1. Boa Ace .
    O Cabreira desgastou-se muito aantes da Volta

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  2. Bom blog continua! O Cabreira é um ciclista para ir adquirindo a sua capacidade nos proximos anos... Veremos vale relembrar que esteve parado

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  3. Quando começa o Campeonato do Mundo?

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  4. Obrigado pelos comentário ;)

    Bruno, os Mundiais são de 19 a 25 de Setembro ;)

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  5. Só vim cá fazer um pouco de SPAM e para ficares a saber que espero com uma certa expectativa que abordes o futuro do ciclismo português... Antes que este se dê. lol Da vuelta será difícil dizeres muitas "novidades", mas acredito que tenhas alguns pensamentos e reflexões sobre o que será o ciclismo nacional que é a coisa mais incerta para mim.

    Portanto, força no teclado, por favor. rsrs

    João Lázaro NaboDoPCM

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  6. A tua análise só peca por duas coisas. Nota 7 ao gavazzi. Eu para um 8 (se não 8,5). Compreendo que seja inglório colocá-lo no mesmo patamar de Rui Sousa ou Hernâni Brôco. Mas se ele cumpriu com o que dele se esperava, tendo em conta as suas características, porque não?
    Acumulou duas vitórias e outros tantos pódios, fez ainda uma bela exibição na Torre. (ainda que por uma fuga, há que dar valor, não?). A segunda crítica vai por em todo o texto não encontrar referência a Nélson Vitorino. A sua performance em toda a competição, e na Torre em particular, merecia uma menção.

    Qunato à ultima questão, não leves a mal, mas análises à Vuelta há por aí aos pontapés. Falta é gente para discutir e pensar o ciclismo português. Eu gostava de ter o saber suficiente, mas não tenho. E por isso venho até aqui para ler qualquer coisa :)

    Saudações.

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  7. Atenção: Queria dizer uma referência/menção com o destaque merecido a Nélson Vitorino, em vez de ser colocado no oito da Prio-tavira. Afinal, Ficou acima de Brôco e logo atrás de Rui Sousa.

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  8. Obrigado pelos comentários ;)

    João, concordo contigo.

    Pedro, quanto ao Gavazzi, nem considero uma crítica mas sim uma opinião diferente. Aceito. Quanto à não referência ao Nelson Vitorino, aceito a crítica, mas entendi que deveria ser avaliado juntamente com toda a equipa, pois a missão dele era a mesma que a dos colegas e realizou-a com enorme qualidade, como os restantes. As suas exibições já foram referidas nas etapas em que as teve e achei que no balanço final ficaria melhor assim. A sua classificação geral é um prémio pelo trabalho feito, mas não era o objectivo. Enfim, opiniões ;)
    Quanto à Vuelta, concordo ;)

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  9. Rui e porque não também uma análise à próxima Volta a Portugal do Futuro que começa já no início de Setembro?


    Seria interessante sabermos que corredores jovens portugueses a podem vencer e que equipas estrangeiras teremos nessa prova.


    Abraço

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