segunda-feira, 17 de outubro de 2011

8 Vencedores de 2011

Depois do Il Lombardia (assim se chama agora o Giro di Lombardia), a temporada está praticamente terminada e o (muito) pouco que falta de competição não alterará este balanço de temporada. Podemos assim falar naqueles que, a meu ver, são os 8 grandes vencedores da temporada. Assim está de regresso o Carro Vassoura, depois de algum tempo na oficina a mudar óleo, trocar pneus…



Sobre quem foi o melhor dos melhores, o número 1, não vou entrar em discussões neste artigo, onde os 8 grandes vencedores de quem falarei estarão ordenados por ordem alfabética de apelido. Para expressarem a vossa opinião, além da caixa de comentários sempre disponível, têm ainda a votação no lado direito.

Mark Cavendish

Campeonato do Mundo e camisola verde da Volta a França, dois grandes objectivos que ambicionava e que conseguiu em 2011. Tratando-se de Cavendish, ganhar cinco etapas num só Tour até parece normal e com isso já vão 20 nos últimos quatro anos, faltando 14 para igualar Eddy Merckx. Ao ritmo que vai, nem me interessa quantos têm mais triunfos do que ele, porque parece-me que Merckx é o único adversário nessa estatística e o britânico baterá o Canibal dentro de 4 ou 5 edições. Talvez até em apenas 3 anos, se continuar com esta média de cinco vitórias por Tour. É certo que nem sempre pareceu o mais rápido e por algumas vezes deu a sensação de que, se partisse lado a lado com os seus adversários, não venceria, mas um sprint não se resume aos últimos 100 metros. Geralmente, Cavendish tem a equipa que necessita para o deixar na posição ideal e para vencer, e o que realmente importa são os resultados obtidos. Por isso foi para a Sky pago como ouro.

Mark Cavendish é o ciclista com maior valor do ponto de vista do marketing, mais do que Philippe Gilbert, Contador ou qualquer outro. Segundo o ranking de 2011 da SportsPro Media, uma agência que fornece várias avaliações e outros materiais sobre comunicação na indústria do desporto, Mark Cavendish é o 35º desportista melhor cotado, ou seja, o 35º que mais dinheiro pode dar de retorno aos seus patrocinadores, tanto individuais como da sua equipa. A lista saiu a 17 de Maio e então Cavendish (único ciclista incluído) ainda não tinha as cinco vitórias no Tour e o título mundial mais tarde conquistado. Esperemos pela “classificação” de 2012.

Apesar de só recentemente Cavendish ter assinado pela Sky, já há muito tempo que se sabia que chegariam a acordo. O interesse da Sky em Cavendish era enorme e fácil de entender. Os próximos Jogos Olímpicos serão já no próximo ano e num percurso plano, onde Cavendish deverá ser o maior candidato à vitória. Ainda para mais, os Jogos serão em Londres. Imaginem o impacto que teria para a Sky a vitória de um corredor seu, uma superestrela britânica, em Londres. Apesar de outras equipas pretenderem contratar Cavendish, empresas como Quick Step, BMC, Radioshack, Garmin ou qualquer outra não teriam tanto a ganhar por patrocinarem Cav como a Sky. Cavendish sabia disso e sabia que ninguém lhe poderia dar um contrato melhor que a Sky mas preferiu esperar pelos Campeonatos do Mundo, onde poderia aumentar o seu valor sem correr risco deste diminuir. Sagrou-se campeão do mundo e aumentou o valor da sua imagem, pois certamente terá mais atenções para si voltadas a partir de agora, pelo menos até aos Jogos de Londres.

2011 foi excelente para Cavendish. Cavendish não é um exemplo de amabilidade para os jornalistas e muito menos para os seus adversários e sem isso não seria tão popular como é, mas isso também cria inimizades. Por isso, alguns críticos quase o davam como acabado em Março, depois de um começo de ano apagado e do seu colega Goss vencer a Milano-Sanremo. Se 2012 não começar com vitórias, esses mesmos críticos dirão que é vítima da “maldição da camisola arco-íris”. Mas 2011, para Cavendish, foi excelente, o seu melhor ano.

Juanjo Cobo

Juan José Cobo, o quase ex-ciclista que venceu a Volta a Espanha. Cobo é uma figura caricata, que diz que o ciclismo é o seu trabalho mas não a sua paixão, ao ponto de morar a 50 km de Peña Cabarga, um dos pontos-chave da Vuelta do ano passado e deste ano, e não conhecer a subida. A Vuelta até começou mal para ele, com um contra-relógio colectivo em que a Geox foi penúltima, mas foi melhorando e foi ganhando liberdade dentro da equipa até se tornar líder da prova e depois vencedor. Renasceu para o ciclismo, em 2012 terá um papel importante dentro da Geox, terá o amigo David De La Fuente a dar-lhe o apoio que necessita (“talvez seja frágil”) e um monte de gente que andará á sua volta para garantir que está a 100% e pode continuar no seu melhor nível. Veremos o que dá.

Alberto Contador

A temporada de Alberto Contador não foi excelente como a de Mark Cavendish e, entre os oito corredores destacados neste artigo, será aquele que criará maior controvérsia por ser considerado um vencedor desta temporada. O ano começou atribulado para o espanhol (como, de resto, já tinha terminado 2010), sem saber quando poderia correr (e se poderia). Pôde estar na Volta ao Algarve, onde foi quarto, longe das duas vitórias conquistadas nos últimos anos. Seguiram-se vitórias em duas etapas e geral da Volta a Múrcia, etapa e geral da Volta à Catalunha e etapa da Volta a Castela e Leão. Na Volta a Itália, voou… pelo menos comparativamente aos seus adversários. Não se sabe se pela ausência dos irmãos Schlecks, Evans, Basso, Gesink, etc ou se por estar na melhor forma da sua carreira, mas na Volta a Itália o espanhol arrasou toda a concorrência, deixando a mais de seis minutos o segundo classificado. Na Volta a França falhou e apenas foi quinto, mas olhando para as condições que teve para preparar a ronda francesa e para a imensidão de quedas que o afectaram (ainda que só uma o fizesse perder tempo directamente), até considero um resultado bem positivo. Juntando-lhe a vitória na Volta a Itália, considero-o um dos vencedores desta temporada e espero que o TAS não o suspenda.

Cadel Evans

Outro que, olhando agora para o que fez esta temporada, não deverá arrepender-se de nada. Vitória no Tirreno-Adriático e na Volta à Romandia (depois de falhar as clássicas das Ardenas por lesão), segundo lugar no Criterúm du Dauphiné e vitória na Volta a França com uma regularidade espectacular. Só a vitória na Volta a França já lhe valeria uma temporada perfeita e nem deverá ficar a lamentar a ausência nas clássicas das Ardenas, ele que no ano passado até tinha vencido a Flèche Wallonne… nada comparado com uma Volta a França.

Para 2012 as expectativas são elevadas. A BMC reforçou-se bem e além de Greg Van Avermaet, uma das boas revelações da temporada e não apenas pelo Paris-Tours, contará com Philippe Gilbert para Amstel Gold Race, Flèche Wallonne e Liège-Bastogne-Liège, três clássicas que em situação normal seriam um objectivo de Evans. Com Gilbert na equipa, Evans focar-se-á apenas no Tour, Jogos Olímpicos (não entendo para quê, mas ele diz que é um objectivo) e Campeonatos do Mundo. No Tour terá melhor equipa que este ano, mantendo Morabito e Hincapie, importantes ajudas na conquista deste ano, Tschopp, que não esteve no Tour mas realizou um bom Giro (16º), e reforçando a equipa com Tejay Van Garderen, Marco Pinotti e Cummings. De qualquer forma, de pouco vale uma grande equipa quando o líder não tem pernas para se bater com os demais. Veremos se Evans as terá.

Philippe Gilbert

18 vitórias, incluindo Amstel Gold Race, Flèche Wallone, Liège Bastong-Liège (tripla apenas feita por Rebellin em 2004), Clássica San Sebastian, Campeonato Belga em linha e contra-relógio, uma etapa da Volta a França e GP do Québec. 18 vitórias numa só época, número que desde a criação do Pro Tour apenas foi ultrapassado por Petacchi (2005), Boonen (2006), Cavendish (2009) e Greipel (2009 e 2010), todos eles sprinters, claro, porque os sprinters, quando estão em forma e a concorrência é fraca conseguem três ou quatro vitórias na mesma prova, como fazia Boonen no Qatar e Greipel na Áustria ou Turquia, ou como Petacchi e Cavendish que, no melhor das suas carreiras (Petacchi em 2006, Cavendish nos últimos anos) conseguem cinco ou seis vitórias numa só grande volta). Gilbert conseguiu as 18 vitórias bem espalhadas por toda a temporada e ninguém pode dizer que foram em provas menos cotadas ou com pouca concorrência. Desde a Volta ao Algarve, a 16 de Fevereiro, até ao GP de Valónia, a 14 de Setembro, o maior período sem vitórias foi de 34 dias… e estamos só a falar de vitórias, porque ainda foi 3º a Milano-Sanremo, 2º no Eneco Tour e 2º em duas etapas do Tour, entre outros resultados de destaque.

Como somatório disto tudo, Gilbert quebrou o recorde de pontos num só ano no CQ Ranking (melhor site de estatística de ciclismo, com dados desde 1999). Os 3168 pontos de Gilbert superam claramente o anterior recorde, datado de 2008: 2662 alcançados por Alejandro Valverde, esse amigo de Enfemiano Fuentes que está prestes a regressar à competição.

Os números falam por si só. Enorme temporada de Philippe Gilbert, que no próximo ano correrá pela BMC e também deve ter assinado por valores chorudos.

Marcel Kittel

Surge nesta lista, não por uma ou outra grande vitória mas sim (sobretudo) pela imensidão de vitórias conquistada durante todo o ano. Apenas 23 anos cumpridos em Maio, primeira temporada numa equipa profissional, a Skil-Shimano, e conquista 17 vitórias. Começou pela Volta de Langkawi (Malásia), destacou-se ainda por conquistar quatro das cinco etapas dos 4 Dias de Dunkerque mas foi em Agosto, na Volta à Polónia, que mostrou também poder bater concorrências mais rígidas, conquistando as quatro etapas planas da prova. Na Vuelta conquistou mais uma vitória.

Para 2012 será um dos sprinters a merecer mais atenção, tendo novamente como colega John Degenkolb (outra boa revelação deste ano), eles que já tinham sido companheiros de equipa entre 2008 e 2010, então na Thüringer Energie Team, equipa continental focada na formação e de onde têm saído grandes talentos alemães. Veremos se se atrapalham ou se aumentam a produtividade de ambos.

Tony Martin

Outro alemão em destaque, sobretudo pelo título mundial de contra-relógio. Ao contrário de outras pessoas (jornalistas, comentadores, críticos, adeptos, etc, etc), não dei Cancellara como ex-número 1 por perder um ou dois contra-relógios e não o dou por este ano ter estado abaixo do que se esperava enquanto contra-relogistas. Cancellara é tetra-campeão mundial e campeão olímpico e Tony Martin foi o melhor contra-relogista de 2011 por clara margem. Venceu a Volta ao Algarve e Paris-Nice com bons desempenhos nas etapas mais acidentadas e soberbo desempenho nos contra-relógios. Na Volta a França pretendia lutar pelo top-10 mas nem esteve perto, salvando-se pela vitória no contra-relógio, tal como conseguiria na Vuelta, finalizando uma preparação espectacular que o levou ao título mundial da especialidade. No total disputou 11 contra-relógios e venceu 9. Veremos quem leva a melhor em Londres, nos Jogos Olímpicos.

Peter Sagan

Eslovaco de nascimento, esloveno para os comentadores da Eurosport, Peter Sagan confirmou o talento demonstrado no ano passado e uma grande evolução. Foram 15 vitórias, oito das quais em provas World Tour (2 etapas na Suíça, 2 etapas e geral na Polónia e 3 etapas na Vuelta). Este ano ficou bem patente que é sobretudo um sprinter. Um sprinter muito bom em prólogos e que passa a média montanha melhor do que a maioria dos sprinters, mas ainda assim um sprinter.

Veremos até onde evolui e se consegue aproximar-se do nível dos melhores sprinters do mundo no que a chegadas planas diz respeito. Poderá também aprimorar-se nas subidas e dar um grande corredor de clássicas, se bem que, pelo que me parece, já tem suficiente para disputar a vitória em clássicas bem importantes. Veremos em 2012 se tem o suficiente para vencer alguma.

*****

Além destes, pela positiva destaco ainda Bradley Wiggins, Fabian Cancellara, Thomas Voeckler e Matthew Goss. Bradley Wiggins venceu o Critérium do Dauphiné, o seu maior sucesso no ciclismo de estrada, e mostrou na Vuelta que pode lutar pelo pódio do Tour, especialmente do próximo, que parece ter demasiado contra-relógio para pouca montanha. Fabian Cancellara foi o azarado do ano, sendo 2º na Milano-Sanremo, 3º na Volta a Flandres com todos contra ele, 2º em Roubaix novamente com grande marcação, 3º no Mundial de contra-relógio (se não fosse contra as barreiras, seria 2º) e 4º no Mundial de fundo, ficando fora do pódio por milímetros. São quase vitórias e quase pódios que não passam disso. Thomas Voecker pelo seu brilhante Tour e 8 vitórias e Matthew Goss que apenas ganhou por cinco vezes mas incluiu a Milano-Sanremo e foi vice-campeão mundial. Veremos o que faz para o ano na GreenEdge, sendo o principal sprinter da equipa (apesar de não faltarem homens rápidos).

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