domingo, 18 de março de 2012

Dez Tugas lá fora


Rui Costa venceu no Tour 2011
Depois de falar em promissores jovens do pelotão World Tour, desta vez venho aqui falar dos dez portugueses que correrão este ano ao serviço de equipas estrangeiras, daquilo que já fizeram em temporadas anteriores, no começo desta e do que espero de cada um deles para esta temporada.

De recordar que temos desde jovens a iniciar-se no profissionalismo, como Fábio Silvestre (Leopard) e Jóni Brandão (Burgos BH), a craques capazes de discutir classificações em provas de elite, como Rui Costa (Movistar) e Tiago Machado (Radioshack)


Nelson Oliveira (Radioshack)

Começo pelos dois portugueses a correr na Radioshack. Quanto ao Nelson, foi para o estrangeiro com uma medalha de prata nos Mundiais de contra-relógio 2009 e rotulando de “um futuro grande contra-relogista” e passados estes anos já ninguém tem dúvidas de que o é. Em 2012 ainda não competiu devido a problemas de saúde, mas não tenho dúvidas de que continuará entre os melhores contra-relogistas, seja em que prova for.

De qualquer forma, para 2012 é recomendável que dê nas vistas mais frequentemente, seja intrometendo-se entre os sprinters (e enquanto sub-23 fez isso algumas vezes), melhorando na média montanha ou através de fugas. A sua temporada também dependerá muito do tipo de provas que disputar, pois obviamente será mais difícil vencer em contra-relógios com presença de Fabian Cancellara e Tony Martin. Poderá chegar ao dia em que bata estes dois, mas para já, é cedo.

Tiago Machado (Radioshack)

Tiago Machado foi 3º no Tour Down Under
Pelo terceiro ano na Radioshack, o Tiago já é um valor seguro em provas de uma semana, no ano passado com top-10 na Volta ao Algarve (6º), Tirreno-Adriático (7º), Criterium Internacional (5º) e Giro del Trentino (2º). Abriu o ano com um terceiro lugar no Tour Down Under, prova World Tour, foi sexto no Algarve e a partir de amanhã estará na Volta à Catalunha.

Não é fácil ter liberdade numa equipa com os irmãos Schleck, Horner, Kloden, Monfort e Fuglsang, todos eles com melhores resultados na alta montanha e em provas por etapas, mas Tiago Machado poderá ter as suas oportunidades em provas de uma semana e veremos se evolui na alta montanha.

Bruno Pires (Saxo Bank)

Se para Tiago Machado e Nelson Oliveira é difícil ter liberdade por estarem numa das melhores equipas do mundo, Bruno Pires e Sérgio Paulinho não deverão ter esse problema. Em 2009 e 2010 os organizadores Pro Tour não queriam a Fuji-Servetto/Footon-Servetto nas suas provas porque a qualidade do plantel era muito pouca e, além de andar em fugas, pouco podiam fazer. Este ano é a Saxo Bank quem faz esse papel.

Em 2011 viu-se que a equipa era muito dependente de Contador e para 2012 não teve nenhum reforço significativo. Com a suspensão do espanhol, impedido de correr até Agosto, e a lesão de Nick Nuyens, que vai perder grande parte das clássicas, o trepador Chris Anker Sorensen e o sprinter Juan José Haedo são as principais referências desta equipa.

Bruno Pires deverá ter toda a liberdade para as provas de montanha mas nas grandes provas (e não me refiro só a “grandes voltas”) terá que apostar em fugas para poder dar nas vistas, pois para o grande público não interessa se um corredor é 20º ou 30º no Criterium do Dauphiné. Isso só interessa aos adeptos portugueses e é porque temos poucos corredores nessas provas.

Sérgio Paulinho (Saxo Bank)

Deverá ter liberdade semelhante a Bruno Pires, com a desvantagem de ser pior trepador e a vantagem de ser melhor contra-relogista. De qualquer forma não o vejo com capacidades para fazer classificações gerais de destaque e deverá apostar em fugas, como fez na Volta a Espanha do ano passado, na altura à procura de contrato para 2012.

Rui Costa (Movistar)

O último dos portugueses de equipas World Tour que aqui falo mas, a meu ver, o melhor português da actualidade. O Rui Costa não é trepador nem pouco mais ou menos, mas é o português que tem melhores e mais consistentes resultados, por passar bem a média montanha, por ter explosão para as subidas curtas, por ser rápido, combativo e inteligente a correr.

Nos últimos três anos conseguiu sete vitórias: 4 dias de Dunkerque e uma etapa da Volta a Chihuahua em 2009, Trofeu Deiá e uma etapa da Volta à Suíça em 2010, Volta a Madrid, uma etapa do Tour e o GP de Montreal em 2011. Não estou a falar de provas em que esteve bem, estou sim a falar de VITÓRIAS.

Começou 2012 com o 2º lugar no Trofeu Deiá, quinto na Volta ao Algarve e ontem na Milano-Sanremo esteve em destaque, logo na fase inicial da corrida tentando chegar aos nove da fuga do dia, e depois com um ataque no Cipressa, penúltima subida da prova. No que falta da temporada (e falta quase tudo) espero que continue a ser combativo e a procurar vitórias. Não é corredor para ir ao Giro, Tour ou Vuelta lutar pela classificação geral, mas como eu já disse diversas vezes, tem características para procurar vitórias nas etapas de média dureza e para repetir o feito do ano passado no Tour.

Manuel Cardoso (Caja Rural)

Manuel Cardoso venceu no ano passado na Catalunha
A Caja Rural é a equipa estrangeira com mais ciclistas portugueses em 2012, três, incluindo o melhor sprinter nacional, Manuel Cardoso. Com uma etapa do Tour Down Uner em 2010 e uma da Volta à Catalunha em 2011, este ano o Manuel terá que estar mais vezes entre os primeiros para conquistar nova oportunidade no World Tour. Para já, competiu pouco, mas leva dois quartos lugares e dois sextos.

Pareceu-me que o problema nos últimos dois anos foi a colocação nos quilómetros finais, pois quando entrava na recta da meta bem colocado conseguia bons resultados. Pode ser que comece a colocar-se melhor para os sprints e consiga aproveitar todo o seu potencial.

André Cardoso (Caja Rural)

Em 2008 tinha tudo acordado com a Relax, mas a equipa terminou e ficou-se por Portugal, adiando a sua primeira aventura internacional para 2012. Nos últimos Mundiais o André Cardoso têm-se mostrado um corredor para largas distâncias e nas últimas Voltas a Portugal tem-se mostrado um grande trepador. Veremos o que pode fazer em pelotões de maior qualidade, mas estou confiante de que poderá ter bons resultados. A Volta a Espanha deverá ser o principal objectivo mas estou expectante para ver o seu desempenho na Volta à Catalunha que amanhã começa.

Hernâni Brôco (Caja Rural)

Aos 30 anos o Hernâni Brôco arranca para a sua primeira aventura internacional e numa equipa que lhe permitirá correr grandes provas, com a Volta a Espanha como ponto alto da temporada. Não estará na Catalunha mas estará depois na Volta ao País Basco, ele que no ano passado foi quarto na Volta às Astúrias. Não é tão bom trepador quanto André Cardoso mas é melhor contra-relogista e as Voltas à Catalunha e ao País Basco podem ser um indicador da forma como a Caja Rural planeia delinear o calendário de Brôco e André Cardoso. Um tem preferência pelas provas com contra-relógio, outro pelas provas só com montanha.

Jóni Brandão (Burgos BH)

Vencedor da Volta a Portugal do Futuro 2011, Jóni Brandão é um dos muitos corredores formados em Santa Maria da Feira e que nos últimos anos chegaram ao profissionalismo, por exemplo como Rui Costa ou André Cardoso. Correu as duas últimas Voltas a Portugal com um desempenho positivo para a sua idade (32º e 38º) mas é difícil fazer uma previsão para este primeiro ano como profissional. Deverá correr sobretudo em Espanha e Portugal e tomar uma postura combativa. Espero também que a Burgos seja uma equipa séria e que tenha condições de profissional, não como a maioria dos corredores que representam equipas portuguesas.

Fábio Silvestre (Leopard Continental)

Campeão nacional sub-23 e terceiro no campeonato de contra-relógio, Fábio Silvestre é o emigrante português mais jovem e um dos mais promissores do todo o ciclismo português. É um sprinter e contra-relogista que pode fazer boas classificações nas provas por etapas sem grande montanha. Também foi formado em Santa Maria da Feira e tem alguma experiência internacional pela selecção nacional, o que certamente será importante nesta passagem pela Leopard Continental. Como uma das “equipas B” da Radioshack, a Leoaprd correrá por toda a Europa, não em provas sub-23 mas sim em provas continentais.

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Este artigo é dedicado aos portugueses, mas termino com declarações de um francês. Jérémy Roy é um corredor francês e sabe que, como tem muitos compatriotas no pelotão internacional, para dar nas vistas tem que se esforçar. Se andar 6 ou 7 dias no pelotão e no final for 20º, nem os adeptos franceses ligam. No ano passado venceu o GP de Abertura a Marselhesa e esteve próximo de vencer no Paris-Nice (2º numa etapa) e no Tour (3º numa etapa), onde andou muitos dias em fuga, ganhou o prémio da combatividade em duas etapas e no final. No recente Paris-Nice, foi 19º, a melhor classificação geral nos seus nove anos de profissional. Se fosse um tuga, os adeptos portugueses estariam satisfeitos, mas ele não estava.
“Eu não costumo correr sem entrar em fugas. Desta vez não conseguiu e fui apenas um seguidor. Eu consegui ficar nos vinte primeiros, mas em termos de resultados prefiro disputar vitórias”. Agora vai estar na Volta à Catalunha e o objectivo é.. estar nas fugas ao longo da corrida.
Eu gostava que os portugueses pensassem mais em ganhar, nem que seja uma etapa, do que em defender os seus vigésimos lugares na geral. No fundo, só os adeptos portugueses ligam a isso.

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E o que pensam vocês sobre os portugueses no estrangeiro?

4 comentários:

  1. Mais uma vez excelente artigo..
    Em relação aos portugueses estou curioso de ver o que o Bruno Pires pode fazer este ano, a sua prestação do USA Cycling Chellenge deixou muito boas indicações da sau capacidade..Para o Joni e o Fábio espero que se mostrem durante este ano para ter sucesso na sua carreira profissional.
    Na última parte do artigo, deixas-te um tema muito interessante de se reflectir, eu penso que terá a haver com a cultura que temos, os corredores franceses são assim por natureza e é por isso que sou grande fan deles! Mas isto pode vir a mudar..

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  2. Parabéns,finalmente um belo artigo de opinião que aguardava há algum tempo.
    Acho brilhante a maneira como vês o ciclismo e depois da tua reflexão sou obrigado a concordar com tudo, no entanto, gostaria de ver um português no top10 de uma grande volta a curto prazo.

    O Tiago Machado até agora não se mostrou muito bem em provas de três semanas, mas devido a sua relativa inexperiência (apenas 2) penso que ainda pode fazer um bom resultado no futuro, pois é um bom trepador, bom contra-relogista, bom rolador, combativo, poucas vezes tem dias maus.
    Gostava de saber a tua opinião sobre isto.
    Obrigado, o ponto do Roy tambem foi bastante bom. Um exemplo a tomar nota.

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  3. Obrigado aos dois pelos comentários ;)

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  4. Muito boa análise!!! Vamos ver o que os "Tugas" farão amanhã na etapa rainha da Catalunha!!! Hoje o melhor foi o Bruno Pires! Vamos ver o que consegue fazer amanhã!

    Continuação de um bom trabalho.
    Força
    Cumprimentos

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