terça-feira, 1 de maio de 2012

Aí está o Giro d’Itália


Basso, vencedor em 2006 e 2010

Faltam apenas quatro dias para o arranque da Volta a Itália, a primeira grande volta da temporada, um objectivo para muitos dos melhores corredores do mundo e que marca o início desta segunda fase da temporada, depois das clássicas da Primavera. Michele Scarponi, vencedor do ano passado após a desclassificação de Contador, o duplo vencedor Ivan Basso, o eterno “Pequeno Príncipe” Damiano Cunego, Frank Schleck, Joaquin Rodríguez e Roman Kreuziger são os maiores candidatos à vitória final.

Giro ligeiro?

Depois de uma edição de 2011 desumana, carregado de montanha, com uma etapa rainha que demorou mais de 8 horas para quase metade dos ciclistas e um encadeamento final de etapas que levou os sprinters a desistirem após a 12ª etapa, depois de tudo isso… este ano o Giro tem um percurso duro, mas aceitável.

A começar na Dinamarca, este Giro tem nas suas 13 primeiras etapas um contra-relógio inicial que não chega aos 9 quilómetros, um contra-relógio colectivo de 33 e sete oportunidades para os sprinters lutarem pela vitória, havendo ainda mais uma na 18ª etapa, sem que antes disso haja demasiada montanha para os enviar para casa.

De resto, há duas chegadas em montanha do primeiro fim-de-semana corrido em Itália, uma chegada em colina na segunda semana e outra na terceira, uma tirada de média montanha ainda na segunda semana e mais cinco etapas de montanha, quatro delas com chegada em alto: a 14ª, a 15ª, a 19ª e a 20ª. Para terminar, um contra-relógio plano de 31,5 quilómetros em Milão. Etapas a passar os 210 km, apenas há três e apena uma delas é de montanha.

14ª etapa, chegada a Cervinia, uma das mais duras da prova
Não é um Giro fácil, nem nada que se pareça. É um Giro muito duro, para trepadores, tal como os últimos, mas humano. Para o vencer, é essencialmente necessário ser um bom trepador e chegar à última semana com força para não se enterrar na classificação, mas os contra-relógios podem assumir um papel muito importante a favor de uns e contra outros candidatos.

Três candidatos a repetir

Damiano Cunego (2004), Ivan Basso (2006 e 2010) e Michele Scarponi (2011) são três homens que já sabem o que é vencer a Volta a Itália, apesar do último não ter estado no pódio final como vencedor. São também três dos maiores candidatos à vitória na edição que arranca este fim-de-semana.

Depois da vitória em 2010, Ivan Basso (Liquigas) dedicou 2011 a tentar vencer a Volta a França. Com uma queda feia que lhe atrasou a preparação em Maio, terminou o Tour em 8º (7º sem Contador) e abdicou de estar na Vuelta para se dedicar às provas italianas de final de temporada. Olhando para o percurso da Volta a França, talhado para contra-relogistas, este ano voltou-se novamente para o Giro, mas tem estado cheio de azares, com uma constipação em Fevereiro, uma queda que o obrigou a desistir do Paris-Nice e outra que o obrigou a desistir da Volta à Catalunha, onde o seu objectivo já passava apenas por ganhar forma. O Giro del Trentino e a Volta à Romandia eram os últimos testes à sua forma para decidir se ia ou não ao Giro.

Nem no Giro del Trentino nem na Romandia esteve em grande destaque, mas gostou das suas sensações e decidiu-se por ir ao Giro. Se estiver realmente bem (e disse ele que só lá ia se se sentisse em condições de vencer), é um dos maiores candidatos à vitória. O contra-relógio final será uma desvantagem mas tem montanha suficiente para ganhar tempo a quem é melhor contra-relogista e tem uma excelente equipa para o ajudar.

Michele Scarponi (Lampre) fez um excelente primeiro semestre em 2011: 4º no Giro da Sardenha, 3º no Tirreno-Adriático, 6º na Milano-Sanremo, 2º na Volta à Catalunha (vencedor sem Contador), vencedor no Giro del Trentino e segundo na Volta a Itália na condição que já se sabe. Este ano tem estado mais discreto, sendo “apenas” 7º no Tirreno-Adriático e 8º na Volta ao País Basco, mas recentemente fez uma grande Liège-Bastonge-Liège. Mudou o seu calendário e veremos com que consequências. Tal como Basso, terá que ganhar tempo na montanha e tem uma boa equipa para o ajudar.

Um dos colegas de Scarponi é Damiano Cunego (Lampre), vencedor da prova em 2004, então com 22 anos. No ano passado voltou a colocar a Volta a França como grande objectivo e foi 7º (6º), uma das agradáveis surpresas da prova, com grandes prestações nas etapas de montanha. Por isso, este ano encheu-se de moral para as grandes voltas e voltou a apostar no Giro. Foi 13º no Paris-Nice (mas um dos que melhor subiu), 6º na Catalunha, 4º no País Basco e 2º no Giro del Trentino. Veremos se não entrará no Giro já numa forma demasiado avançada. Se não for o caso, se conseguir chegar à hora das decisões na sua melhor forma, então será um dos grandes candidatos à vitória e com Scaponi pode fazer uma dupla temível.

Três à procura de vencer a primeira grande volta

19ª etapa, já na recta final, outra das mais duras
Além dos três anteriormente referidos, há mais três grandes candidatos à vitória, Joaquin Rodríguez, Roman Kreuziger e Frank Schleck, três homens que ambicionam a sua primeira vitória em grandes voltas.

Joaquim Rodríguez (Katusha) tem sido um dos melhores trepadores nos últimos anos e, depois de ser oitavo no Tour e quarto na Vuelta em 2010, em ambos bastante prejudicado pelo contra-relógio, em 2011 decidiu voltar-se para Giro e Vuelta. Purito Rodríguez não quer ser 4º ou 5º no Tour, como muitos outros. O seu objectivo é claro: vencer uma grande volta, seja qual for das três. Como Giro e Vuelta são as que mais favorecem os trepadores, foi para elas que se virou no ano passado e se vira este ano. Não começou o Giro 2011 da melhor forma e terminou “apenas” no quinto lugar, mas a sua última semana e o Critérium du Dauphiné que se lhe seguiram deixam antever que pode lutar pela vitória este ano. Pelo caminho, foi 6º no Tirreno-Adriático, 2º na Volta ao País Basco e venceu a Flèche Wallone.

Frank Schleck (Radioshack) é aquele que tem melhores resultados na Volta a França (5º em 2008 e 2009 e terceiro no ano passado) mas nunca disputou a vitória num Giro. A sua única participação foi em 2005, quando terminou no 42º lugar. Passaram 7 anos, já mostrou ser um dos melhores trepadores do mundo (talvez o melhor neste Giro) mas a sua preparação estava pensada para o Tour. Vai à Volta a Itália como substituto de Jakob Fuglsang, tem vindo a realizar uma temporada muito fraca (em parte devido a problemas físicos) e o seu estado de forma para este Giro é o que coloca mais reticências. Tal como Rodríguez, terá que ganhar na montanha o máximo tempo possível para se defender no contra-relógio.

E chegamos à minha aposta para este Giro: Roman Kreuziger (Astana). 12º no Tour 2008, 9º no Tour 2009, 8º no Tour 2010, 6º no Giro do ano passado (5º sem Contador) e apenas fará 26 anos no próximo domingo. Não é o melhor trepador em prova, mas é muito bom trepador e, se for regular na montanha, poderá tirar proveito dos contra-relógios para ganhar este Giro. Também não é exímio contra-relogista mas é quem deve ganhar tempo à concorrência no último dia… e ainda são 33 km. Chega a este Giro depois de ser 3º no Tirreno-Adriático, 6º no Giro del Trentino e na Volta à Romandia.

Outros candidatos a top-10

Etapa rainha: passagem no Mortirolo e chegada ao Passo
dello Stelvio, a 2757m de altitude, no penúltimo dia
Há ainda uma série de outros corredores que estarão no Giro para disputar um lugar no top-10. O venezuelano José Rujano (Androni) e o francês John Gadret (Ag2r), terceiro no ano passado após a desclassificação de Contador, têm que ser os primeiros a ser enunciados. Rigoberto Urán (Sky) além de grande trepador é também muito bom contra-relogista e poderá aspirar a um lugar de destaque nesta prova, talvez até entre os cinco melhores. O seu colega Sergio Heano (Sky), Domenico Pozzovivo (Colnago) e Ryder Hesjedal (Garmin) são outros três grandes candidatos a top-10.

Sylvester Szmyd (Liquigas) terá que trabalhar para Basso mas é indiscutivelmente um dos melhores trepadores em prova e poderá segurar-se no top-10, tal como o jovem Diego Ulissi (Lampre), braço direito de Cunego e Scarponi. Mikel Nieve (Euskaltel) e Daniel Moreno (Katusha) são dois trepadores de indesmentível qualidade e combatividade e Beñat Intxausti (Movistar) outro espanhol que poderá finalizar entre os dez melhores depois da recente vitória na Volta às Astúrias. O seu colega Sergio Pardilla (Movistar), Dario Cataldo (Omega Pharma), Matteo Carrara (Vacansoleil) e Marco Pinotti (BMC) também poderão aproveitar fugas para se evidenciar na montanha e tentar chegar ao top-10.

Para finalizar, gostaria de destacar quatro jovens: os já referidos Urán, Ulissi e Henao mas também o holandês Tom Jelte Slagter (Rabobank), bastante promissor e que poderá dar nas vistas já neste Giro.

Os sprinters

Havendo oito etapas talhadas para sprinters neste Giro, não posso descurar eles nesta mini-antevisão da prova. O campeão mundial Mark Cavendish (Sky) é, claro, o cabeça-de-cartaz. Ainda que não acabe a prova, durante as duas primeiras semanas tentará coleccionar o maior número possível de vitórias.

Concorrência é o que não faltará a Cavendish, com Tyler Farrar (Garmin), Alessandro Petacchi (Lampre), Matt Goss (GreenEdge), Mark Renshaw e Theo Bos (Rabobank), Francesco Chicchi (Omega Pharma) e Andrea Guardini (Farnese Vini) à cabeça. Thor Hushovd (BMC) e Danielle Bennati (Radioshak) já foram mais rápidos mas estão cada vez mais versáteis e continuam a ser duas ameaças para as chegadas mássicas, tal como Romain Feillu (Vacansoleil) e o campeão mundial sub-23 Arnaud Demare (FDJ).

Os contra-relogistas

Além de alguns homens já referidos para a geral, como Intxausti ou Pinnoti, há grandes contra-relogistas a apontar para a primeira e para a última etapa, como Taylor Phinney (BMC), Alex Rasmussen (Garmin), Svein Tuft (GreenEdge), Gustav Erik Larsson (Vacansoleil), Adriano Malori (Lampre), Jesse Sergent (Radioshack), Manuele Boaro (Saxo Bank), Geraint Thomas (Sky), Michael Kwiatkowski (Omega) e o nosso Nelson Oliveira (Radioshack), o único tuga em prova. Para o primeiro contra-relógio, que nem chega a 9 quilómetros, destaco três homens: Phinney, Thomas e Bennati (ele mesmo!), se bem que qualquer um dos outros referidos poderá ganhar.

E para finalizar, uma chamada de atenção para Alessandro Ballan (BMC), Filippo Pozzato e Oscar Gatto (Farnese Vini), que certamente farão pela vida em busca de vitórias.

*****
Esta é só a minha mini antevisão da prova. Se quiserem acrescentar algo, comentem. Se quiserem apenas palpitar o vencedor, têm a votação do lado direito. Se quiserem ir comentando algo, estamos juntos napágina do Facebook ;)

3 comentários:

  1. Tenho a sensação que, de acordo com as ultimas provas, o Hubert Dupont vai acabar na frente do Gadret. Veremos ;)

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  2. Rui permita-me acrescentar a essa lista de principais favoritos à vitória no Giro o Pozzovivo, ele tem estado muito bem..é um homem da montanha e esta vai fazer mais uma vez a diferença neste Giro, olho para ele e vejo capacidade para poder vencê-lo apesar da sua equipa não ter o poderio por exemplo da Lampre ou da Liquigás.
    , portanto penso que ele é mais do que um candidato ao Top 10.


    Falando em Liquigás sempre gostei do Basso mas já não o vejo com as mesmas capacidades que fizeram dele um ciclista talhado para provas de 3 semanas e especialmente para o Giro, posto isto não o imagino a vencer a corrida, não é o mesmo Basso e mesmo que ele apresente a confiança em níveis elevados como tem evidenciado pelas suas declarações, não o vejo a lutar pela geral do Giro.


    Kreuziger é regular e andará pelos primeiros lugares mas para mim aqueles que têm mais chances de vencer este Giro são precisamente os 2 homens da Lampre, Scarponi e Cunego...agora depende da estratégia da equipa e saber qual dos 2 estará melhor e oferecerá mais garantias de vitória à geral.


    Abraço

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  3. Obrigado a ambos pelos comentários :)

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