sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quanto vale Bruyneel? O final da Radioshack?

Bruyneel e Andy Schleck: parece que falavam mais quando
estavam em equipas adversárias
Johan Bruyneel foi, durante muitos anos, considerado o melhor director desportivo do mundo, primeiro porque venceu sete Tours com Armstrong e depois por mais dois com Alberto Contador. Entre isso, quando não teve nenhum dos dois, falhou, mais do que as suas equipas, ele próprio, e Alberto Contador já demonstrou que pode vencer sem ele. Afinal, o que vale o belga? A uma semana de começar o Tour, a Radioshack está em xeque e grande parte da culpa passa por Bruyneel. O que pode fazer a equipa no Tour? Continuará em 2013? O que será dos Schlecks, Cancellara, Tiago Machado e Nelson Oliveira?

Episódio 1: Schlecks, Giro ou Tour?


Depois do fracasso que 2011 foi para a Radioshack, longe da discussão nas três grandes voltas, sendo o melhor resultado em prova de três semanas o 15º lugar de Zubeldia na Vuelta (não vencendo qualquer etapa ou classificação), os irmãos Andy e Frank Schleck poderiam dar um novo alento à equipa. Entre eles e Bruyneel começaram os problemas.

O percurso do Tour deste ano não é nada ao género dos irmãos e desde logo Johan Bruyneel admitiu na comunicação social a hipótese de um deles ir ao Giro. Não é assim que se fazem as coisas! Os Schlecks têm o estatuto de líderes e o calendário dos líderes das equipas deve ser discutido entre eles e directores desportivos, e não impostos, muito menos através da comunicação social, sejam os Schlecks, Cancellara, Contador, Wiggins, Cavendish, Tom Boonen, Gilbet ou por aí fora.

A época não começou nada mal, com Tiago Machado a ser 3º no Tour Down Under, Chris Horner foi 2º no Tirreno-Adriático e Cancellara venceu a Strade Bianche, foi 2º na Milano-Sanremo e era, a par de Boonen, o grande candidato para a Volta a Flandres e o Paris-Roubaix. Caiu na primeira das duas provas, fracturou a clavícula e perdeu duas excelentes oportunidades para conseguir um resultado que motivasse e ao mesmo descansa-se toda a equipa. Com Andreas Kloden muito abaixo do que rendeu em 2011 (quando venceu Paris-Nice e País Basco), com Horner a sair do T-A com problemas num calcanhar, sem Leipheimer que abandonou a equipa para a chegada dos irmãos Schleck, com Frank muito longe do seu melhor e com Andy a queixar-se de problemas físicos e a acumular desistências e prestações medíocres, a Radioshack ia para o Giro, primeira grande volta da temporada, obrigada a fazer o que não tinha conseguido nas pequenas voltas (exceptuando TDU e T-A): dar nas vistas.

Episódio 2: Frank Schleck no Giro


Abandonada a ideia de levar um Schleck ao Giro, Jakob Fuglsang era a aposta para a prova italiana mas lesionou-se duas semanas antes e não podia competir, pelo que Bruyneel decidiu… que Frank Schleck seria o chefe-de-fila. Bruyneel, sentindo o pescoço em perigo e a pressão por resultados, tomou esta decisão que deixava a preparação de Frank Schleck para o Tour toda trocada e sem a melhor preparação para o Giro. Mais um azar, o luxemburguês caiu, lesionou-se no ombro e abandonou, deixando a equipa (e Bruyneel) sem hipóteses de uma boa classificação geral e saltou novamente a tampa ao belga, que voltou a usar a comunicação social para fazer as suas críticas, o que não agradou nenhum dos irmãos, cada vez mais de cadeias às avessas com o director desportivo.

Episódio 3: Horner “sem” Tour


Como se não bastasse, Bruyneel ainda tinha mais uma na manga. Durante a Volta à Suíça anunciou uma lista de 14 pré-seleccionados para a Volta a França e sem Chris Horner… que não sabia que estava descartado. Horner, que no ano passado era um dos 4 líderes até abandonar por queda e que este ano foi 2º no T-A, tinha legítimas aspirações a estar na equipa para o Tour e com alguma liberdade (pois defende-se muito melhor no crono que os irmãos Schleck), foi notificado da sua não-convocatória pela esposa, que achou estranho o que viu na comunicação social e o questionou sobre isso. Horner respondeu pelo mesmo meio, e numa entrevista teceu algumas críticas a Bruyneel, que rapidamente respondeu… sempre pela CS, como se na Radioshack não tivessem contactos pessoais uns dos outros.

Esta semana saiu a convocatória final para o Tour e, imagine-se… Horner foi um dos escolhidos. Bruyneel, que tinha dito que o norte-americano não ia por ter abdicado de correr a Volta à Suíça, diz agora que ele vai porque os patrocinadores exigiram.

Episódio 4: Fuglsang sem Tour


Quem não está entre os 9 escolhidos é Fuglsang, o que é uma enorme surpresa. Nos últimos anos tem tido algumas oportunidades para lutar por boas classificações e tem mostrado que não é homem para acompanhar os melhores escaladores, mas, quando lhe é pedido, dá tudo pelos seus líderes (irmãos Schleck) e é uma peça importante no trabalho de equipa, como foi na Volta à Suíça. Depois da vitória na Volta ao Luxemburgo e do grande trabalho feito na Suíça, ficar de fora do Tour foi um choque, até porque, imagine-se… Bruyneel avisou primeiro a imprensa do que o próprio ciclista, uma vez mais.

Se Horner não gostou da pré-convocatória pelo seu nome, Bruyneel poderia prever que Fuglsang não gostaria desta notícia e o avisar antecipadamente, mas não o fez. Furioso, Fuglsang disse logo que não havia 9 corredores melhores do que ele para o Tour e no dia seguinte venceu os Nacionais de contra-relógio da Dinamarca. Disse também ser evidente que as coisas não estão a funcionar bem na equipa, claro!

Que futuro?


A Radioshack, a precisar claramente de subir de rendimento, vai para o Tour com uma equipa débil, ainda mais pela lesão de Andy Schleck contraída no Critérium du Dauphiné (Bruyneel não esteve na conferência de imprensa de Andy).

Fabian Cancellara será um dos grandes favoritos à vitória nos contra-relógios, se bem que deverá abandonar antes do último para preparar os Jogos Olímpicos; Horner e Frank Schleck são os homens para a geral, sendo que o primeiro é homem para top-10 final mas não muito mais nem para vencer uma etapa frente-a-frente aos melhores trepadores, e o segundo já avisou que, depois de clássicas das Ardenas, Giro, Volta ao Luxemburgo e Suíça, não deverá aguentar na melhor forma até final do Tour; Kloden e Zubeldia já passaram os seus melhores anos e caber-lhes-á tentar a sorte em fugas, tal como Popovych e Voigt. À parte de Cancellara, aqueles de quem mais espero são Tony Gallopin e Maxime Monfort. Gallopin, porque, pela sua polivalência, poderá vencer uma das etapas de média dificuldade, e Monfort porque também é daqueles que dá sempre o seu melhor, seja para si ou para os colegas.

Correndo mal o Tour, como prevejo, a Radioshack vai à Vuelta lutar pela sua sobrevivência. É verdade que têm contractos de patrocinadores para 2013, mas Leopard e Radioshack também tinham os seus e juntaram-se, anulando alguns contractos… e na Geox anularam-se mesmo todos.

Cancellara, Fuglsang, Frank e Andy Schleck lesionaram-se quando menos convinha à equipa, e disso ninguém tem culpa. De resto, Bruyneel foi fazendo muita porcaria e destruindo o ambiente dentro da equipa. Apesar dos azares, tudo podia ser melhor? Acredito que sim, principalmente neste Tour, em que se vão ver todos os erros até agora feitos.

1 comentário:

  1. Para o bem do ciclismo era muito importante que a Radioshack não se extingui-se. Mas os egos dos irmãos Schleck e do Sr. Bruyneel são muito complicados e chegar a um acordo não me parece ser nada fácil, ainda mais com alguns rumores a dizer que os Schleck vão para uma equipa nova com sponsor alemão.
    No que toca ao Tour, penso que vai ser complicado.. O Frank ou consegue ter grandes prestações na Alta montanha e ganhar mesmo muito tempo ou então um top-10 não vai ser fácil!
    Como fan que sou dos irmãos Schleck espero que tudo corra bem e que este ano seja apenas um ano mau e que em 2013 tudo volte ao normal!
    Excelente artigo Rui, como sempre!

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