terça-feira, 10 de julho de 2012

Um inglês, um queniano e um australiano

Há uns anos atrás, quem diria que teríamos um Tour disputado entre um inglês, um australiano e um queniano (que agora é inglês)? Pois é, a organização desenhou um Tour para anglo-saxónicos e a aposta está a ser ganha. Bradley Wiggins parece o mais forte candidato, o seu colega Chris Froome parece a mais fiel sombra e Cadel Evans procura forma de os bater.

As origens


A primeira vez que reparei em Chris Froome foi em 2007, quando Rui Costa venceu o Giro delle Regioni, pertencente à Taça das Nações sub-23, e Froome venceu uma etapa (e foi segundo noutra). Corria pela selecção mista UCI e reparei nele pelo facto de ser queniano. Em 2008 veio a Portugal pela Barloworld de Hugo Sabido, disputou a Volta ao Algarve e a Volta a Santarém, onde foi 6º (4º no contra-relógio). Não vou dizer que logo aí vi nele potencial para disputar uma grande volta, mas era um jovem de 23 muito bom contra-relogista, que enquanto sub-23 tinha mostrado muito potencial na montanha e acabou por evoluir nesse sentido. Nascido no Quénia, crescido na África do Sul mas filho de britânicos, em 2008 adoptou essa nacionalidade, em 2010 assinou pela Sky e foi vice-campeão nacional de contra-relógio (atrás de Wiggins), em 2011 foi 2º na Vuelta (e só não venceu porque a Sky esteve mal tacticamente e agora está a lutar pelo pódio no Tour.

Relativamente a Bradley Wiggins, já dele aqui falei e já tinha dito que era o principal candidato a par de Cadel Evans, que venceu no ano passado e na altura escrevi sobre as suas origens. Estes são os três candidatos à vitória (pese Froome ser braço-direito de Wiggins), com Vicenzo Nibali e Denis Menchov a tentarem intrometer-se no pódio, Jurgen Van Den Broeck atrasado por problemas mecânicos, Robert Gesink e Alejandro Valverde fora da luta, Ryder Hesjedal fora de prova (todos por quedas) e Samuel Sánchez fora de prova e a recuperar das lesões para tentar chegar aos Jogos Olímpicos.

Um Tour anglo-saxónico


Desde que o percurso deste Tour foi anunciado que acho que foi feito a pensar em anglo-saxónicos. Claro que é impossível um Tour ser 100% à medida de um ciclista, mas exemplos não faltam de organizações que tentam escolher vencedores, delineando percursos que aumentem as suas possibilidades de sucesso. Por exemplo, a Volta à Suíça 2009 sem grandes montanhas para Cancellara a poder discutir, as Vueltas com poucos quilómetros de contra-relógio para Joaquim Rodríguez ou Igor Antón darem luta ou o Tour do ano passado com poucos quilómetros de contra-relógio para que Contador não rebentasse aí com Andy Schleck e na montanha houvesse duelo entre eles (como em 2010, porque quando fizeram o percurso para 2011 não sabiam que Contador disputaria o Giro). Mesmo em Portugal temos o caso da Volta ao Algarve, que em 2007 fez um percurso totalmente plano a pensar em Petacchi, um vencedor que atrai mais destaque internacionalmente do que Hugo Sabido (2005) e João Cabreira (2006).

Com um Tour "desequilibrado" para a montanha, Joaquim Rodríguez, Samuel Sánchez, Ivan Basso ou Damiano Cunego poderiam voltar a estar entre os primeiros classificados, ou até Igor Antón, que tem dado boas demonstrações na Vuelta, e o regressado Alejandro Valverde. Optando por contra-relógios longos, seria maior a probabilidade de Wiggins, Froome e Evans fossem os principais opositores de Alberto Contador... lembrem-se que, quando o percurso foi delineado, a organização já tinha visto na Vuelta do que Wiggins e Froome eram capazes mas não sabia que Contador seria suspenso (aconteceu em Janeiro).

Estão vocês a pensar: mas o que ganha a Volta a França com isso? Resposta simples: adeptos e dinheiro. Não é por não haver espanhóis ou italianos no pódio deste ano que os adeptos destes país vão deixar de o ser, por outro lado, com um britânico no pódio o Tour ganhará muitos adeptos por essas bandas, tal como aconteceu com Armstrong nos EUA. E agora pensem lá quais os países "falidos" e quais os países ricos... Espanha e Itália no primeiro grupo, Inglaterra no segundo.


... e um português


Se a luta pelo primeiro lugar está entre os três já referidos, a luta pelo top-10 está muito aberta. Nibali e Denis Menchov parecem ter todas as condições para preencher duas vagas, bem como Jurgen Van Den Broeck, que já aí reentrou depois dos problemas da etapa de sábado, sobrando quatro vagas. Zubeldia, Monfort, Van Garderen, Roche, Rui Costa, Taaramae e Brajkovic são os mais sérios candidatos, sendo que Roche (teoricamente) leva desvantagem no contra-relógio (mas ontem até que se defendeu muito bem), Van Garderen leva desvantagem na montanha e por ter que trabalhar para Evans e todos os outros cinco são relativamente equilibrados. Taaramae foi quinto na única chegada em alto até agora disputada mas esteve mal no dia seguinte e para terminar no top-10 é preciso ser muito regular. Estando a 3 minutos do top-10 e faltando ainda tanto Tour, não é de excluir a hipótese de Frank Schleck, Coppel, Leipheimer ou Peter Velits lá chegarem, mas por agora a tarefa está complicada.

Parece-me que as aspirações de Rui Costa terminar nos dez primeiros são legítimas. Para isso, terá que ser regular na montanha e estar ao seu nível no contra-relógio final, onde as diferenças poderão ser enormes. Não terá que terminar nos dez primeiros na próxima chegada ao alto (quinta-feira), mas terá que terminar perto dos quinze primeiros nessa etapa, na 16ª e 17ª (dias 18 e 19 de Julho), que parecem ser as mais difíceis. O resto deverá ser mais ou menos tranquilo. Bora lá, Rui!

*****
Mais crónicas de minha autoria estão no Visão Desportiva. Passem por lá e espero que gostem.
E se gostam do blog, partilhem-no no Facebook, mostrem a amigos vossos que gostem de ciclismo, etc. Eu agradeço. E claro, sintam-se à vontade para comentar ;)

1 comentário:

  1. Muito boa análise parabéns! As tuas crónicas são uma "delicia" para os amantes da modalidade.

    ResponderEliminar

Share