quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Tour ao ritmo da Sky (por Davide Gomes)

Na página do Facebook convidei os leitores do Carro Vassoura a escreverem a sua análise da Volta a França para depois ser aqui publicada. O Davide Gomes, que desde já felicito, respondeu ao "desafio" e convido-vos a ler o seu texto:





Tour ao ritmo da Sky 
Este Tour ficou marcado pelo domínio da britânica Sky. No início pensei que havia duas formas de derrotar a Sky: deixar a criança nas mãos da equipa britânica e forçá-los a comandar o pelotão o mais tempo possível para provocar desgaste nos gregários de Wiggins ou nas etapas mais duras pegar no pelotão com toda a força para deixar o máximo de homens da Sky para trás. A verdade é que se tentou de ambas as formas e nenhuma resultou. A 1ª quase resultou na subida para La Toussuire, no momento em que Froome teve necessidade de repor forças, mas Wiggins não cedeu e os adversários não tiveram forças para atacar e o grupo que ia na frente não conseguiu dilatar a vantagem. A 2ª foi tentada pela Liquigas na última etapa de montanha com um ritmo forte desde início que fez cair Porte e Rogers durante a subida mas no final quem teve mais forças foram mesmo Wiggins e Froome que seguiram sem resposta dos adversários.

O lugar mais baixo do pódio foi ocupado por Vicenzo Nibali o italiano da Liquigas que foi o mais activo na tentativa de destronar Wiggins, com vários ataques quer a subir quer a descer, no entanto faltaram-lhe forças na última etapa de montanha onde a sua equipa tanto trabalhou e Nibali não correspondeu e não teve forças para seguir a Froome e Wiggins. O 4º coube a Jurgen Van Den Broeck, um dos meus corredores favoritos, que tal como Nibali foi incansável na procura de uma melhor classificação e também de uma etapa. Infelizmente (e para meu desespero) não conseguiu fazê-lo, e não satisfeito com o resultado e demonstrando o seu espírito lutador e a sua vontade de dar espectáculo estará presente na Vuelta onde vai medir forças com Contador, Froome e Rodriguez.
No restante top-10 as maiores surpresas na minha óptica foram Haimar Zubeldia e Cadel Evans. Tejay Van Garderen, Pierre Rolland e Thibaut Pinot apenas vieram comprovar o grande potencial que têm e dentro de 5 anos serão eles provavelmente a discutir o Tour. Zubeldia surpreendeu-me pela sua boa performance e no seio de uma equipa tão problemática como a Radioshack, mostrou que pode ser mais que um gregário ficando à frente de corredores teoricamente mais fortes como são os casos de Horner e Kloden (aproveito para lembrar que Zubeldia já tinha sido o melhor da Radioshack no Tour e na Vuelta do ano passado). Também se percebeu através de Zubeldia que a regularidade e um bocadinho de sorte à mistura é o que separa um top-10 de um top-25: o espanhol com a sua experiência aguentou na alta montanha, se bem que nos Pirenéus teve que sofrer e também escapou às quedas que voltaram a assolar o pelotão. Cadel Evans surpreende pela negativa, um Tour em que partia como o maior favorito a par de Wiggins. Sempre muito cuidadoso nas etapas de sprint em estar bem colocado até aos últimos 3 quilómetros para fugir ao azar, o australiano perdeu tampo onde no ano passado ganhou aos Schleck, no contra-relógio. Mas isto já era de prever (já no Critérium du Dauphiné Evans tinha sido quase dobrado por Wiggins) o que ninguém esperava era que Evans, na mesma montanha em que lança um ataque forte e tinha Van Garderen a seu lado para ganhar tempo, fosse absorvido e ficasse para trás. Depois disto, o vencedor do ano passado foi perdendo tempo quase todos os dias e no contra-relógio foi surpreendentemente dobrado pelo vencedor da juventude e companheiro de equipa Van Garderen. A questão que agora coloco é: Evans voltará a conseguir estar mais alguma vez ao nível de 2011? Eu penso que não, poderá conseguir mais alguns top-10 mas dificilmente voltará a repetir a vitória do ano passado e duvido mesmo que volte a subir ao pódio de um GT. O australiano andou bem na 1º semana e disse que não ia lutar pelo 2º lugar, mas sim pela vitória, mas nos momentos decisivos as pernas não chegaram, sinais de que a idade já pesa nas pernas e nem todos têm a durabilidade de Jens Voigt.

O Super-Sagan

Sagan é o maior vencedor deste Tour a par de Wiggins e da Sky, com três vitórias de etapa e a camisola dos pontos no seu ano de estreia. Sagan foi inteligente e sabia onde devia estar na hora H. Na 1ª etapa seguiu bem a roda de Cancellara e apesar de muita gente não gostar de “chupa-rodas”, Sagan teve mérito, porque mais ninguém conseguiu ir atrás do suíço. Na etapa ganha por Luis Léon Sanchéz, Sagan colocou-se inteligentemente na fuga e fez 2º ganhando aí uma grande vantagem para os sprinters adversários e depois beneficiou dos 30 pontos retirados a Goss por sprint irregular, apesar de nessa altura da corrida ter já praticamente garantida a geral por pontos. Sagan é um autêntico diamante em bruto, agora a questão é como é que o joalheiro vai trabalha-lo. Fala-se da sua possível saída da Liquigas e a equipa para onde for pode ser decisiva para vermos o que vai dar Peter Sagan daqui para a frente, se vai ser um grande sprinter ou se vai ser um homem de clássicas, e olhando para as suas actuais características parece-me inevitável que se venha a tornar campeão mundial e quiçá um candidato a vencer os 5 monumentos. 
E os outros?

Olhando para o restante da Volta a França falta falar de Thomas Voeckler, que deu mais uma grande alegria aos seus compatriotas vencendo a camisola da montanha e ganhando duas etapas. Difícil de decidir qual foi o melhor Tour para a Europcar, se o do ano passado em que andou praticamente duas semanas de amarela, venceu a etapa rainha, a camisola da juventude e o 4º da geral, ou este em que venceu 3 etapas, teve o oitavo da geral e a camisola das bolinhas.
A outra equipa francesa em destaque foi a FDJ, onde venceu duas etapas, por Fédrigo e Thibaut Pinot. Este último, uma das grandes revelações deste Tour, vencedor da classificação da montanha no Tour da Romandia de 2010, 3º da Volta a Turquia do ano passado, vencedor da 4ª etapa do Tour d´Ain do ano passada que ligava Belley - Le Grand Colombier, contra os melhores corredores das equipas francesas como Moncoutie, Gadret e Taaramäe e 5º na etapa do Verbier da Volta à Suiça ganha por Rui Costa. Pinot entrou neste Tour pela porta mais pequena ao vir substituir o seu colega Jeannesson que se lesionou, mas agarrou com unhas e dentes esta oportunidade e ganhou de forma brilhante a 8ª etapa. A partir daí foi sempre a crescer com grandes exibições na montanha e acompanhando sempre os melhores para delírio dos franceses, acabou num honroso 10º lugar e foi 2º na classificação dos jovens, nada mau para o corredor mais novo do pelotão deste Tour.
Por parte dos outros intervenientes tivemos equipas que cumpriram os serviços mínimos, como a Rabobank que venceu uma etapa de novo por intermédio de Luis Leon Sanchez, que passou muito mal a primeira semana onde aproveitou para travar amizade com Tony Martin, a Garmin também venceu com Millar, a Lotto venceu três com Greipel e a Movistar venceu uma das etapas mais duras por intermédio de Valverde numa demonstração de força de toda a equipa, o nosso Rui costa incluído.
Outras equipas houve como a Vacansoleil, Omega Pharma-Quickstep, AG2R e por aí fora que apenas vieram passear a bicicletas.
Aproveito para dar os parabéns ao Rui por esta iniciativa e que surjam mais deste género.
*****
Relembro que o texto anteriormente apresentado não é da autoria do "condutor" habitual do Carro Vassoura, Rui Quinta, mas sim de Davide Gomes. Mais convites/desafios aos leitores serão lançados em breve e para serem actualizados sobre eles basta juntarem-se à página do Carro Vassoura no facebook.

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