quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Volta a Portugal 2012, primeira análise

Falta uma semana para começar a Volta a Portugal 2012, a prova que faz a diferença entre uma excelente e uma péssima temporada para cada uma das equipas portuguesas. São 12 dias de tudo ou nada, em mais do mesmo: Senhora da Graça, Torre, contra-relógio e final em Lisboa. Aqui vou deixar uma série de breves comentários sobre a próxima edição da Volta a Portugal, um aperitivo para os próximos dias desenvolver.


O tudo ou nada das equipas portuguesas


Sem sombra de dúvida, e como todos sabem, as equipas portuguesas jogarão ao longo destes 12 dias (11 de corrida, 1 de descanso) a prova de fogo de toda uma temporada. A Volta a Portugal não consegue atrair as melhores equipas do mundo porque, como já aqui referi várias vezes, desde alguns anos a esta parte a aposta foi fazer uma prova à medida das equipas portuguesas. Para atrair as equipas de topo, a prova teria que ser mais cedo, mas isso faria a temporada nacional "a sério" terminar mais cedo. Para atrair as grandes equipas, teria também que ser mais curta, mas isso reduziria os dias de publicidade que as equipas fazem aos seus patrocinadores na televisão. Esta é a grande oportunidade do Clube de Ciclismo de Tavira, a Fullracing, o Clube de Ciclismo de Paredes e o Boavista Club Ciclismo mostrarem que merecem os seus patrocinadores, respectivamente Carmim e Prio, Efapel e Glassdrive, LA Alumínios e Onda. Atendendo às reduzidas verbas que estes clubes recebem actualmente, o cenário ideal seria angariarem novos patrocinadores para 2013, mas tendo em conta a actual situação que o país vive, se as quatro equipas se conseguirem manter para a próxima época já será um feito louvável, mesmo que nas actuais condições nenhuma se possa considerar profissional.

A luta pela geral


Se no ano passado existiam cinco grandes favoritos (4 deles ficaram nos 5 primeiros) e cada equipa portuguesa tinha pelo menos um, este ano é esperada uma grande luta a dois, entre Carmim-Prio e Barbot-Glassdrive. Vidal Fitas tem aquele que considero o maior candidato, Ricardo Mestre, e uma boa equipa para o auxiliar na missão de repetir o feito de 2011, mas é Carlos Pereira quem tem mais alternativas: Rui Sousa, David Blanco e Nuno Ribeiro. Com Hugo Sabido, Vergílio Santos e José Mendes, a LA Alumínios poderá colocar um homem nos cinco primeiros, mas mais do que isso parece muito difícil. Já a Onda-Boavista, não tendo um ciclista capaz de subir à Torre com os melhores e defender-se no contra-relógio de mais de 30 km, deverá ter objectivos mais modestos quanto à geral e dedicar-se a outras lutas, pois tem ciclistas bastante competentes. Quanto às equipas estrangeiras, nada devem ameaçar na luta pela vitória final.

A salvação dos ciclistas portugueses


Perante a actual situação, em que os ciclistas das equipas portuguesas recebem à volta de 300/400€ x 9 meses, alguns mais, muitos outros nem isso, e a Volta ao Algarve tem um pelotão demasiado forte e melhor preparado, a Volta a Portugal serve como única rampa de lançamento para uma carreira internacional. Ricardo Mestre, jovem e já com provas dadas, será quem está mais próximo está dessa situação, seguido-se Sérgio Ribeiro, que tem a desvantagem da idade (quase nos 32 anos) mas ainda tem legítimas aspirações a emigrar. Depois há uma série de ciclistas para quem está na hora de confirmar o que prometiam nas camadas jovens, como José Mendes ou Amaro Antunes, ainda que este tenha mais tempo para se afirmar e por agora se deva concentrar em cumprir as ordens da equipa, ou jovens com um futuro promissor na modalidade mas ainda demasiado jovens para aspirar as grandes vôos e que por agora se têm que contentar com esses magríssimos salários. Deles (dos jovens) falarei num artigo próximo.

Etapas-chave? Mais do mesmo


Olhando para o traçado desta Volta a Portugal, deve decidir-se nos mesmos sítios do costume, Senhora da Graça e Torre, sendo que este ano não há chegada à Nossa Senhora da Assunção (Santo Tirso) nem substituta e o contra-relógio será totalmente plano, em vez do acidentado do ano passado. O argumento de que a Volta termina sempre nos mesmos sítios porque só estes pagam para isso, perdeu força no ano passado quando o contrato com a Câmara Municipal de Mondim de Basto foi reduzido para 80% e perdeu ainda mais força agora quando o mesmo município decidiu suspender o apoio à prova, que é como quem diz, este ano a Volta a Portugal terá uma etapa na Senhora da Graça mas a organização não receberá nada por isso. Bem sei que poderá receber no futuro e que, de qualquer forma, é uma chegada histórica para a Volta, mas ainda assim há outras soluções. Fica assunto para abordar nos próximos dias.

Ao longos dos próximos dias, irei aprofundar os vários temas de interesse da Volta a Portugal.

*****
Este ano a Volta a Portugal decorrerá em simultâneo com a primeira metade da Volta a Espanha. Hoje a Caja Rural anunciou o seu 9, incluindo os portugueses Manuel Cardoso, André Cardoso e Hernâni Brôco. Juntam-se assim aos já confirmados Sérgio Paulinho e Bruno Pires (Saxo Bank) e Tiago Machado (Radioshack).

3 comentários:

  1. Excelente análise como sempre de uma sempre interessante Volta a Portugal.
    Como grande boavisteiro que sou e, ainda que me custe, reconheço as dificuldades da Onda para lutar pela geral, no entanto é uma das equipas com melhor equipa para lutar por etapas e por classificações secundárias, para além de puder a vir intrometer um ou dois ciclistas no top10. Possui bons e aguerridos roladores (gémeos Gonçalves) bons trepadores (Daniel Silva, Fernandez e Celio Sousa), o CN do CRI (J.Gonçalves) e um bom finalizador (Bruno Lima)ainda que seja necessário apurar a sua forma.
    Outra incógnita será a prestação de J.Cabreira.
    Clubismos à parte, espero que continue com as excelentes rubricas que tem vindo a apresentar.

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  2. Muito bom artigo como é hábito...mas atenção existe um ou outro corredor estrangeiro que pode lutar pela Geral, estou-me a referir ao sul africano Reinhardt Van Rensburg da MTN Qhubeka e que já é sabido que vai estar presente..em relação à questão dos favoritos nas equipas portuguesas creio que o José Mendes não partirá assim com tanta desvantagem em relação ao Ricardo Mestre e ao David Blanco e portanto a sua aspiração ao pódio é mais que legítima.

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  3. Obrigado pelos comentários de ambos.

    Anónimo, é principalmente pelos irmãos Gonçalves mas também pelo Délio Fernández que entendo que podem fazer uma boa Volta. De qualquer forma, têm que fazer melhor do que no ano passado. Mesmo para o Cabreira e o Daniel Silvas, acho mais produtivo serem combativos nas etapas mais duras do que se resguardarem a pensar na geral e depois no contra-relógio perderem 3 ou 4 minutos cada um, que é o que deverá acontecer num percurso tão longo e plano.

    Pengo, o Van Rensburg é um dos ciclistas mais vitoriosos da temporada, mas tem sobretudo corrido em África e provas menores europeias. Ainda não tem provas dadas em provas como a Volta a Portugal. Pode vir a dar, mas ainda não o fez ;)

    Cumprimentos a todos!

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