sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Candidatos aos Mundiais

Quem fica com a camisola arco-íris de Cavendish?
Para o campeão em título Mark Cavendish as hipóteses de manter a camisola arco-íris são irreais, mas há um vasto leque de ciclistas que podem mesmo ambicionar o ouro (ou pelo menos as medalhas) em Valkenburg. Entre eles destacam-se Gilbert, Sagan, Valverde, Rodríguez e Simon Gerrans, mas há ainda alguns que coloco numa segunda linha, entre eles Rui Costa.


Não é do meu feitio fazer uma lista de 50 nomes e no final da prova vir dizer «eu bem que avisei que este era um grande candidato». Estes são os cinco que considero grandes candidatos e mais sete que acredito que estarão na decisão da corrida.

Os cinco grandes candidatos


Se estes Mundiais fossem há um ano atrás, Philippe Gilbert (Bélgica) seria o favoritíssimo à vitória, depois de conquistar 18 vitórias entre Fevereiro e Setembro e não foram vitórias em voltas ao bairro. Entre as provas ganhas estiveram Amstel Gold Race, Flèche Wallone, Liège-Bastogne-Liège, Clássica San Sebastián e uma etapa do Tour. Este ano Gilbert esteve muito tempo abaixo do esperado e teve que esperar pela Vuelta para obter a sua primeira vitória. Conseguiu ainda uma segunda e chega a estes Mundiais, ideais para as suas características, abaixo do nível de 2011 mas num bom momento de forma.

Um dos papões da temporada foi Peter Sagan (Eslováquia), com 16 vitórias, e muito delas em grandes provas: 3 etapas do Tour (+ camisola verde), 4 etapas da Volta à Suíça e 5 na Volta a Califórnia. Aliás, desde o começo da Volta à Califórnia até à 6ª etapa do Tour teve 25 dias de competição, onde conquistou 13 triunfos. Se no Tour mostrou ser um dos melhores sprinters do mundo, na Amstel Gold Race deste ano foi terceiro e mostrou-se capaz de "dobrar" o Cauberg. Juntando as duas coisas, é um dos grandes candidatos ao arco-íris de Valkenburg.
No Tour, de verde, Sagan imitou Hulk. Agora vestirá de arco-íris?

Alejandro ValverdeJoaquim Rodríguez são as duas maiores armas dos espanhóis, depois duma Vuelta em que levaram, respectivamente, duas e três etapas, o 2º e o 3º lugares na geral. Ambos se adaptam muito bem ao percurso acidentado e ambos são rápidos. Rodríguez não tanto como Valverde, mas mais rápido que a maioria dos homens com capacidade para resistir à dureza do percurso.

O último dos meus cinco favoritos é Simon Gerrans (Austrália), um dos melhores da época e especialmente em provas de um dia. Venceu Milano-Sanremo e GP do Québec, foi segundo na Clássica San Sebastian e 4º em Montreal. Além disso é campeão nacional e venceu o Tour Down Under. Será a aposta dos australianos, tem equipa para o ajudar, está em grande forma e adapta-se ao perfil da prova.


Outros grandes candidatos



Edvald Boasson Hagen (Noruega) é outro que, tal como Sagan, sprinta ao nível dos melhores do mundo mas sobe como muito mais do que um sprinter. Depois do Tour, onde muito trabalhou para a vitória de Wiggins, tem competido pouco, de modo a chegar a estes Mundiais em forma mas fresco. Desde os Jogos Olímpicos só tem mesmo 5 corridas: venceu o GP Ouest France (Rui Costa 2º), foi 5º na Vattenfall Cyclassics e no GP Montréal, desistiu no Québec e participou nos Mundiais de contra-relógio colectivo (Sky 9º). Só não o coloco no primeiro lote porque nunca se destacou nas Clássicas das Ardenas.

Greg Van Avermaet (Bélgica) "fugiu" da Lotto para se livrar de Gilbert mas este ano voltou a ter a companhia do seu compatriota na BMC. Acabaram por não chocar ao longo de todo o ano, com GVA a ser 4º na Volta a Flandres, 2º no Québec e no GP da Valónia, estando também muito activo no GP Montreal (14º). Está em muito boa forma, tem poder para atacar e ir-se embora ou para aguentar todas as colinas e impor-se no sprint final. Em 2010 foi 5º nos Mundiais de Melbourne (ou de Geelong, onde terminaram).

Vicenso Nibali, Moreno Moser e Luca Paolini, três armas italianas. Nibali está em boa forma depois de vencer o Giro di Padania, é o italiano mais forte para atacar as subidas mas talvez não haja dureza suficiente para fazer a diferença. Moser e Paolini, por sua vez, têm capacidade para aguentar o Cauberg e Bemelerberg e têm melhor ponta final. Moreno Moser leva 5 vitórias na sua primeira época como profissional, incluindo duas etapas e a geral da Volta à Polónia. Duas semanas antes do Mundial foi 2º no GP de Montréal. Já Paolini é muito experiente, com 35 anos e oito participações em Mundiais de elites (3º em 2004) e está a fazer um grande final de temporada: 4º no GP de Québec, 9º em Montréal, 4º no GP de Valónia e 2º no GP Industria & Comércio de Prato. A Itália não tem uma grande figura como Bettini no auge da sua carreira (que durou quase uma década), mas tem várias opções para as medalhas.

Thomas Voeckler (França) é a grande aposta da equipa comandada por Laurent Jalabert, se bem que, devido ao seu mau feitio, não é qualquer um que aceita trabalhar para ele. Diz que é por inveja... Certo é que Voeckler c'est Voeckler, venceu duas etapas do Tour deste ano, foi 5º na Amstel Gold Race e 4º na Liège-Bastogne-Liège. Certamente dará luta no domingo.

Representação Nacional: o seleccionarod Poeira, André Cardoso,
Bruno Pires, o presidente a terminar o último mandato,
Sérgio Paulinho e Rui Costa 
Rui Costa (Portugal, com orgulho) fica para o fim, não por ser o menos favorito entre estes sete mas por ser a grande esperança nacional e merecer outro tipo de abordagem.

A picada de uma abelha impediu-o de participar nos Mundiais de contra-relógio por equipas mas à partida não o incomodará no próximo domingo. O que poderá fazer-se sentir são os treinos condicionados pela dita ferroada. Nas últimas 3 corridas foi 2º (GP Ouest France), 3º (GP de Québec) e 8º (GP de Montreal). Independentemente do que aconteça no domingo, o que foi feito até agora (especialmente nos últimos 2 anos) não se altera. Rui Costa é, à partida, a melhor opção que Portugal teve nuns Mundiais desde que tenho memória, merece que os seus colegas trabalhem para ele e, aconteça o que acontecer, basta-lhe dar tudo o que tiver para regressar da Holanda de cabeça erguida. E certamente que o fará, pois não tem qualquer jeito para ser vegetal e ficar a ver a caravana passar.


Outros homens


Tom Boonen (Bélgica) é um dos três ex-campeões presentes em Valkenburg (Freire e Cavendish são os outros) e para muitos é um candidato ao ouro. Para mim, não. Se vencer, ficarei muito surpreso. Os belgas têm ainda Bjorn Leukemans, que este ano não correu as Clássicas das Ardenas por lesão mas vem de um sexto lugar em Montréal, 3º no GP da Valónia e poderá surpreender os favoritos. Em Montréal o vencedor foi Lars-Petter Nordhaug (Noruega), outro que pode surpreender. Em destaque em Montréal também esteve Alexandr Kolobnev (Rússia), que foi terceiro. Esteve sem correr de Julho de 2011 a Maio deste ano devido um "caso de doping" do qual acabou por ser ilibado. Tem duas pratas mundiais (2007 e 2009) e dóis sétimos (2005 e 2010). Após a desclassificação de Rebellin, também ficou com o bronze dos Jogos Olímpicos de Pequim. Falta-lhe um título ao nível de selecções.

O ex-campeão olímpico Samuel Sánchez (Espanha) foi forçado a abandonar o Tour devido a problemas físicos, falhou os Jogos Olímpicos e agora na Volta à Grã-Bretanha deu razoáveis indicações. Em Mundiais tem dois quartos lugares mas não me parece que esteja em condições de discutir as medalhas este ano. O percurso é bom para si mas a condição física não parece ser a melhor. O seu compatriota Alberto Contador também estará presente e acredito que atacará numa das colinas do percurso, mas não me parece haver dureza suficiente para as suas características. A última referência vai para Jonathan Tiernan-Locke (Grã-Bretanha), uma das grandes referências da temporada e que para o ano estará no World Tour, talvez na Sky. É a maior aposta dos britânicos, principalmente após a vitória na Volta à Grã-Bretanha, mas nunca disputou uma grande clássica. Veremos como reage à elevada quilometragem.

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Com a realização dos Mundias de contra-relógio sub-23, lembrei-me: em 2002 Sérgio Paulinho levou o bronze, em 2009 Nelson Oliveira levou a prata e em 2012 não temos sub-23 portugueses a correr os Mundiais, nem em contra-relógio nem na prova em linha. Este passo atrás acontece por má gestão da selecção nacional na Taça das Nações mas também por falta de portugueses sub-23 a correr provas continentais. Tem que se mudar a mentalidade e dar mais oportunidades aos jovens tugas. Caso contrário, não haverá continuidade para esta onda de ciclistas portugueses na elite mundial.


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Como já tinha dito anteriormente, os Mundiais de Ponferrada 2014 estão em risco. Agora é oficial: têm 30 dias para cumprir com os compromissos contratuais perante a UCI. Caso não o façam, a competição ser-lhes-á retirada. Para onde irá? Talvez um país árabe ou a China, onde não há público mas a UCI quer promover o "novo ciclismo".

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Extra-mundiais: foi anunciado o calendário Europe Tour para 2013: Volta ao Algarve de 13 a 17 de Fevereiro, Volta ao Alentejo/Crédito Agrícola Costa Azul de 20 a 24 de Março, Troféu Joaquim Agostinho de 19 a 21 de Julho e Volta a Portugal de 7 a 18 de Agosto.

Destaque para a Volta ao Alentejo ganhar um dia e o Troféu Joaquim Agostinho perder um. A Volta a Portugal acabará novamente após 15 de Agosto e, assim sendo, dificilmente teremos mais de quatro portugueses nos Mundiais de elites 2013.

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Victor Cabedo, da Euskaltel-Euskadi, faleceu na quarta-feira, depois de chocar com um automóvel enquanto treinava. Tinha 23 anos. Que descanse em paz.

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1 comentário:

  1. Talvez esteja a ser um pouco ofusivo, mas colocaria rui costa mais favorito do que o colocaste,e retiraria luca paolini, apesar da idade continua a andar bem, mas não o estou a ver vencer uns mundiais...
    Continuação de boas análises :)

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