sábado, 29 de setembro de 2012

Quantos pontos valem os ciclistas portugueses?

Rui Costa vale 189 pontos para o apuramento das equipas WT
Disputou-se hoje o Il Lombardia (ex-Giro di Lombardia), último monumento da temporada e brilhantemente vencido por Joaquim Rodríguez debaixo de chuva intensa nos quilómetros finais (e a meio do percurso). Mesmo faltando a Volta a Pequim para completar o calendário World Tour de 2012, já é possível ter uma ideia de quantos pontos os ciclistas portugueses valem para as candidaturas das suas equipas ao World Tour.


Os regulamentos UCI definem que o acesso das equipas ao World Tour é estabelecido por critérios desportivos, éticos, financeiros e administrativos e que, para calcular o valor desportivo de cada equipa, são considerados os ciclistas inscritos até 20 de Outubro. Esses ciclistas são avaliados, não pela classificação do World Tour (porque essa exclui os outros ciclistas), mas segundo uma "escala aprovada pelo Conselho de Ciclismo Profissional UCI", escala essa que (oficialmente) não é de conhecimento público. Ainda assim, há sempre fugas de informação e num comentário a um a crónica recente um anónimo indicou-me um artigo do CyclingNews que explicava o processo para 2012. (a vantagem do CV ser um espaço aberto a todos é que recebe constantemente comentários muito úteis e interessantes).

Segundo esse artigo (de Abril de 2011), os pontos de cada ciclista são definidos pela sua classificação final no World Tour, nos ranking continentais, pódio em grandes voltas e vitórias em provas internacionais (categorias World Tour, .HC, .1 e .2, Campeonatos Mundiais, Continentais e Nacionais). Tudo isto, nas duas temporadas anteriores (para 2013, valem então os anos 2011 e 2012).

Para que os gregários não sejam tão prejudicados e postos de parte pelas suas equipas, apenas os 15 ciclistas com mais pontos eram contabilizados para a atribuição de licenças 2012, deixando assim espaço para ciclistas que trabalham apenas para os seus líderes e não somam pontos (e já vi rumores de que para 2013 apenas contarão 12 ciclistas por equipa). As 15 primeiras equipas classificadas são automaticamente aceites no World Tour e as cinco que se seguem serão avaliadas pela comissão de licenças da UCI, aceitando-se três delas. As outras duas ficam fora do World Tour, tal como todas as candidatas classificadas abaixo do 20º posto.

Os rankings ainda não estão fechados, mas no World Tour já só falta a Volta a Pequim e as equipas continentais portuguesas já não vão competir mais, pelo que é possível ter uma ideia muito próxima de quantos pontos valem os ciclistas portugueses (e estrangeiros que por cá correm). Se para 2013 a escala de pontuações continuar igual à de 2012, a situação está algo como:


Todos os outros portugueses ou estrangeiros do pelotão português não têm
qualquer ponto. (contas feitas por mim, podendo estar erradas)

Mas afinal, o que se pode considerar "muitos" e "poucos" pontos? De que modo os 189 pontos de Rui Costa podem ser decisivos para uma equipa ser World Tour, ou os 30 de Tiago Machado e Ricardo Mestre?

Para isso, calculei os pontos de três ciclistas que estiveram entre os melhores da temporada. Não necessariamente os três melhores, mas certamente três dos melhores. Bradley Wiggins somou 387 pontos (no conjunto 2011-12), faltando saber se os Jogos Olímpicos também são contabilizados, Joaquim Rodríguez leva 344 e Peter Sagan 305. Fiz também as contas para outros três ciclistas que considero de grande qualidade mas que têm poucas vitórias. O melhor jovem do último Tour, Tejay Van Garderen, tem 61 pontos (podendo baixar para 41),  o mais combativo do Tour, Chris Anker Sorensen, tem 23 e Igor Antón 43.

Mestre, que vale 30 pontos, pode estar a caminho da Euskaltel
Por aqui se percebe que um ciclista como Ricardo Mestre pode ser muito importante para uma equipa como a Euskaltel-Euskadi, em busca de pontos para se manter no World Tour. De lá sai Amts Txurruka, o pequeno mas aguerrido basco que foi o mais combativo do Tour 2007. Tem 0 pontos, não por falta de qualidade, mas porque os seus directores, em vez de lhe darem liberdade para provas menores espanholas, sempre o quiserem como o ataca-ataca do Tour.

Andy Schleck, apesar de quase não ter corrido em 2012 devido a problemas físicos, tem 104 pontos conquistados em 2011.

Não faltam histórias de ciclistas desconhecidos contratados pelos pontos conquistados em provas menores. Há um ano atrás dois dos ciclistas mais cobiçados por equipas World Tour de baixo nível foram o iraniano Mahdi Sohrabi e o russo Boris Shpilevsky. Sohrabi acabou na Lotto, depois de liderar o Ranking Asia Tour em 2010 e 2011, somando uns incríveis 77 pontos e Shpilevsky terminou na Ag2r com 78 pontos. Os resultados conquistados foram quase todos eles na Ásia, e chegados à Europa, seja em provas World Tour ou Continentais, parece que levam chumbo nos bolsos do equipamento. Ou isso, ou o actual sistema de pontos da UCI é injusto e não tem em conta que o nível é muito diferente da Europa para a Ásia.

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A China e o Japão estão com relações muito tensas pela disputa das ilhas Senkaku e a Saxo Bank excluiu o japonês Takashi Miyazawa da sua equipa para a Volta a Pequim por temer que algo acontecesse ao seu ciclista.

As ilhas Senkaku são ilhas inabitadas controladas pelo Japão há muitos anos, os japoneses agora querem torna-las território nacional mas a China opõem-se. Independentemente de quem tenha ou não razão, é inacreditável que a UCI organize uma prova World Tour num país socialmente terceiro mundista como a China. Como se não bastasse, a Argos-Shimano decidiu não disputar a prova, também por temer o que podia acontecer aos seus ciclistas, uma vez que o segundo patrocinador é nipónico.

De realçar que a Volta a Pequim é uma criação UCI e organizado pela Global Cycling Promotion, uma empresa que pertence... à UCI. Este ano pretendiam ainda organizar a Volta a Hangzhou, igualmente na China e pertencente ao World Tour, mas foi cancelada e a estreia adiada para 2013.

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Como já disse na página do Facebook, José Gonçalves correrá pela La Pomme Marseille em 2013 e José Mendes pela Team NetApp. 


Além disso, André Cardoso e Manuel Cardoso foram confirmados na Caja Rural para o próximo ano, Rui Costa tem contrato com a Movistar, Tiago Machado com a Radioshack e Sérgio Paulinho com a Saxo Bank. Segundo sei, o contrato de Bruno Pires termina este ano mas deve ser renovado, sobre Nelson Oliveira nada sei e relativamente Hernâni Brôco ainda tem várias opções em aberto, não estando excluída a hipótese de continuar na Caja Rural. Daniel Silva pode ir para a Saur-Sojasun.

8 comentários:

  1. Muito bom. para termos +- a noção de como funciona, e vermos realmente a importancia dos pontos nas contratações e nas dispensas. Só o pequeno pormenor, e o daniel Silva não tem pontos com o 4º lugar da volta a portugal?

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    1. Obrigado pela pergunta, Nuno, porque muita gente deve estar a fazer-se perguntas semelhante.

      Não, não tem. Segundo a informação que há, apenas as vitórias (em etapas e gerais) dão pontos (excepto Tour, Giro e Vuelta), onde o 2º e o 3º lugares finais também dão pontos. O que o Daniel Silva conseguiu na Volta a Portugal foram pontos para o Ranking Europe Tour mas insignificantes para a classificação final deste, ficando-se pelo 425º lugar.

      Mesmo o Hugo Sabido, com dois segundos lugares e um terceiro em etapas, o 2º na geral e vários dias de amarelo, não fez aí qualquer ponto para estas contas do apuramento World Tour. O que conseguiu foram pontos para o Ranking Europe Tour, que lha valem por agora o 83º lugar no Europe Tour e aí conquista pontos. Na Volta do ano passado, apesar de se ter retirado logo após a 3ª etapa, conseguiu 2 pontos pela vitória no prólogo.

      Cumprimentos

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  2. soube que neste momento o 18º lugar estará entre a esukatel e a argos shimano, e a aeuropcar e que neste momento a eskautel está em 20º, com cerca de 400 pts, necessita cerca de 600 para assegurar o 18º lugar, isto se as outras duas não contratarem mais ninguem com pontos. a europcar está tapada em termos de orçamento pelos vencimentos do vockler e do rolland, mas a argos shimano está a apostar forte. o ricardo Mestre com 30 pode ser importante, mas não será suficiente nem de perto

    Nuno Sofio

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  3. Obrigado pelo comentário, Nuno ;)

    Sim, o BiciCiclismo publicou isso hoje, mas falta saber se as contas foram bem feitas ehehe.

    Cumprimentos

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  4. bem que grande ranking...como continuo a dizer, parece o da federação e história e estatística de futebol, em que uma equipa pode ser muito melhor que outra mas estar muito atrás no ranking...enfim.

    No entanto grande artigo como sempre, e finalmente isto explica o porque do Txurruca ter sido "dispensado" pela euskaltel e o Mestre ser tão apetecível.

    Cumprimentos

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  5. Rui será que podias colocar uma espécie de resumo da escala da pontuação?
    Já consegui perceber algumas coisas, o título nacional português de estrada vale 4 pontos, o de cr 1 ponto, uma vitória de etapa numa corrida 2.2 como o Troféu Joaquim Agostinho ou a Volta ao Alentejo valem igualmente um ponto.
    Uma vitória de etapa em corridas 2.1 como a Volta a Portugal vale 2 pontos.

    Será que podias explicar a classificação das restantes provas e os pontos do Europe Tour?

    Desde já agradeço e felicito-te por mais um artigo muito bom.

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  6. Obrigado pelos comentários ;)

    Davide, o que sei é o que está aqui: http://www.cyclingnews.com/features/photos/exclusive-uci-proteam-ranking-system-revealed

    Ainda assim, posso colocar como anexo numa crónica futura ;)

    Cumprimentos a todos!

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  7. falta a lotto na lista das equipas que solicitaram a licença

    Nuno Sofio

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