terça-feira, 25 de setembro de 2012

Vidal Fitas & CC Tavira: uma história de êxito que termina

Vidal Fitas anunciou a sua saída do Clube de Ciclismo de Tavira, clube pelo qual correu 7 temporadas profissionais e foi director desportivo por outras 8, de onde se destacam quatro vitórias na Volta a Portugal. É uma mudança importante na equipa mais antiga do pelotão internacional. Qual o futuro do CC Tavira? Quem sucede Vidal Fitas? e Qual o futuro de Vidal Fitas? são as questões que se colocam.


Certezas do passado


Vidal Fitas, nas duas fases da sua carreira, enquanto ciclista e enquanto director desportivo, representa as duas fases do ciclismo profissional no Clube de Ciclismo de Tavira (CCT). Primeiro, uma equipa modesta, que lutava por vitórias em etapas através de fugas, e Vidal Fitas assumiu essa postura atacante. Depois uma equipa que venceu quatro Voltas a Portugal e aí Vidal Fitas foi o director desportivo que nunca virou a cara à responsabilidade.

Na cabeça dos tavirenses ainda deve estar bem fresca a vitória de Pedro Martins em Évora, numa etapa de 220 quilómetros debaixo de calor intenso (como é fácil de imaginar, em Agosto, no Alentejo). Pedro Martins atacou com Nelson Vitorino (então ao serviço da Cantanhede-Marquês de Marialva) e um italiano logo nos primeiros quilómetros, chegaram a ter quase vinte minutos de avanço, o ciclista da Gresco-Tavira deixou para trás os seus colegas de fuga e conquistou a saborosa vitória para os tavirenses. Era esse o objectivo da temporada da equipa e aquela etapa significava uma Volta de enorme sucesso. Nessa Volta, Pedro Martins venceria também a classificação das metas volantes e da montanha, esta última que voltaria a ser vencida pelo CCT em 2005, com Krassimir Vasilev, então na DUJA-Tavira, comandada pelo estreante Vidal Fitas.

Foi a DUJA que deu maior estabilidade ao CCT e impulsionou o clube para um patamar superior, onde venceria quatro voltas a Portugal. Com o apoio da DUJA e da Câmara Municipal de Tavira (ainda havia dinheiro nas autarquias), a equipa saiu para a estrada em 2007 com um orçamento de mais de 700 mil euros, que a colocava apenas atrás da Liberty Seguros e do Benfica, que nesse ano regressava ao ciclismo aspirando grandes sucessos. Com a DUJA, a equipa de Tavira apresentava, pela primeira vez em muitos anos, um candidato à vitória na Volta a Portugal: David Blanco, vencedor da edição anterior. Em 2006 Ricardo Mestre tinha vencido uma etapa, envergado a camisola amarela por um dia, vencendo a montanha e a juventude, assumindo-se como uma promessa do ciclismo português. Também Martín Garrido tinha vencido uma etapa.

Em 2007 Blanco e a DUJA-Tavira não conseguiram vencer a Volta (foi 5º classificado), mas tiveram a vitória de Martín Garrido no prólogo e quatro dias de camisola amarela. A construtora civil DUJA deixou de patrocinar a equipa no final da temporada mas rapidamente chegou o Palmeiras Resort, um Resort de luxo que estava a ser construído na região de Tavira mas que não chegou a ser concluído e que não estava a ser vendido. Sem receitas, tiveram que deixar de patrocinar a equipa no final de 2010, ano em que já foi muito complicado pagarem tudo o acordado.
Garrido, Marque, Blanco e Mestre na 1ª Volta a Portugal de Tavira
(2008)

Durante os 3 anos de patrocínio do Palmeiras Resort, foram conquistadas três Voltas a Portugal por David Blanco, numa excelente equipa que, além de Ricardo Mestre, Nelson Vitorino, Alejandro Marque, David Livramento e Samuel Caldeira (que ainda lá seguem), contou com André Cardoso, Cândido Barbosa, Krassimir Vasilev, Juan Gomis e Martin Garrido, um dos melhores estrangeiros que passou pelo pelotão nacional nos últimos anos.

Vidal Fitas e o presidente Jorge Corvo sempre deram preferência à formação nacional e em especial à formação local. No plantel de 2008, com 15 corredores, cabiam 6 estrangeiros (contabilizo Metcalfe como português, porque se formou nas camadas jovens de Loulé e Tavira), em 2009 o plantel foi reduzido para 14 corredores mas apenas 4 estrangeiros e em 2010, para reduzir a equipa em 2 elementos, os sacrificados foram Garrido e Vasilev. Certamente não foi fácil para Vidal Fitas e Jorge Corvo dispensar dois homens que deram tanto ao clube, mas por contenção orçamental e para que metade da equipa fosse sub-28 alguém tinha que sair e, em vez de dispensar portugueses, optaram por dispensar o Martín e o Krassimir. Numa altura em que alguns directores desportivos pedem por favor (quase de joelhos) que se acabe com a regra dos 28 anos, convém lembrar esta escolha feita em Tavira. Nesse ano venceram a Volta a Portugal e em 2011 novamente. Alguém ainda acredita que os mais jovens são desculpa para o insucesso? Voltemos a Tavira...

Em 2011 a situação já era financeiramente débil, com a referida retirada do Palmeiras Resort. A Prio, patrocinador secundário em 2009 e 10, passou a patrocinador principal, não por reforço do seu investimento mas porque não foi encontrado substituto para o Palmeiras Resort. A continuidade da equipa esteve por decidir durante muito tempo mas acabou por concretizar-se depois dos ciclistas acordarem receber muito abaixo do que mereciam e estavam habituados. Aceitaram uma temporada na precariedade à espera da chegada de um novo patrocinador ainda durante 2011 (a camisola guardou um espaço de destaque vazio à espera de novidades) ou para a temporada 2012. Não chegou.

O melhor que conseguiram foi a Carmim, que, como contei em Fevereiro, conseguiu um contrato muito vantajoso para eles mas pouco ou nada para o Clube de Ciclismo de Tavira, que colocou toda a gente a trabalhar como comerciais da Carmim e à procura de novos clientes, desde direcção a ciclistas.


Questões para o futuro


Ao contrário das restantes equipas portuguesas, nas quais o director desportivo é o grande patrão que gere tudo o que diz respeito ao profissionalismo, o CCT tem um presidente e uma direcção. Vidal Fitas tinha muitas responsabilidades, trabalhava muito, mas a sua saída do cargo de director desportivo não implica o final da equipa, como aconteceria no Boavista e no Paredes se José Santos e Mário Rocha abandonassem. (Na Fullracing, Carlos Pereira é director desportivo e dono, não sendo necessário dizer o que aconteceria se abandonasse).


Luís Miguel Constantino, o actual presidente, tem a responsabilidade de encontrar novos patrocinadores e agora um novo director desportivo. Constantino sucede a Jorge Corvo, o qual conheci em 2008 quando trabalhei com a equipa de Tavira (até final de 2010) e do qual só tenho coisas boas a dizer. Não conheço o actual presidente mas espero que consiga dar a volta à actual situação e encontrar um patrocinador que permita manter o CCT na estrada em 2013 e com condições dignas para os seus ciclistas. O ciclismo nacional precisa que as quatro equipas se mantenham.

Quanto ao novo director desportivo, Nelson Vitorino poderá ser uma opção. Digo eu. No ano passado já dizia ele que, nas actuais condições, não sabia se valia a pena continuar e agora, aos 37 anos, com 15 épocas de profissional, sendo da região e conhecendo bem a equipa, poderá ser uma boa opção... se estiver para aí virado. E não esquecer de Nentcho Dimitrov, que há vários anos é adjunto na equipa profissional de Tavira e foi principal na equipa sub-23 enquanto esta existiu (acabou no final de 2010, com a saída do Palmeiras). Pode ser nova aposta. Ou Sérgio Rodrigues, ex-ciclista que correu muitos anos em Tavira, depois teve uma equipa de juniores e agora é o treinador dos juniores de Tavira. A única vez que falei com ele (até dar meia volta e ir-me embora) foi para o ouvir a lançar suspeitas sobre um júnior que agora é profissional em Tavira, por isso, digamos que a minha opinião sobre si não é a melhor.

4ª e mais recente Volta a Portugal de Tavira
(2011)
Outras opções passam por recrutar alguém com experiência em funções semelhantes no pelotão elite ou sub-23 (parece-me difícil, porque não há ninguém com capacidades no Algarve) ou alguém que nunca tenha sido ciclista (difícil, olhando ao passado recente do pelotão nacional em que quase todos os directores desportivos foram ciclistas).

Quanto ao futuro de Vidal Fitas, arrisco-me a dizer, com quase 100% de certeza, que estará fora do pelotão profissional em 2013. Não resta tempo para lançar um projecto de raiz e nos projectos existentes não há vaga para mais nenhum director desportivo. Também ainda não se ouviu falar em nenhum novo projecto que já esteja em curso.




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Outra notícia referente a Tavira: segundo me dizem, o Record avança que Ricardo Mestre poderá estar a caminho da Euskaltel-Euskadi. Para poder continuar no World Tour, a equipa precisa de pontos, que são atribuídos numa escala tão famosa quanto misteriosa. Como tal, a equipas abriu a porta a estrangeiros (não bascos) e já foi anunciado como reforço o esloveno Jure Kocjan. Ricardo Mestre pode ser o próximo estrangeiro, ele que tem pelo menos os pontos do Troféu Joaquim Agostinho deste ano e talvez do Troféu Joaquim Agostinho e Volta a Portugal do ano passado, se é que ainda contam para algo. (Se alguém conhecer o método de atribuição, que me informe, sff, porque no regulamento UCI não aparece.)

Além disso, Mestre é um ciclista de grande valor que poderia conquistar mais pontos em 2013, válidos para 2014.

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Ainda segundo o Record, José Gonçalves pode estar a caminho de uma equipa profissional continental francesa entre Cofidis, Bretagne-Schuller e Saur-Sojasun. A ser verdade que vai sair, aposto na Cofidis. É patrocinada por uma multinacional e não seria a primeira a contratar um português para conseguirem maior destaque em Portugal.

6 comentários:

  1. realmente gostava de saber mais sobre esse metodo de pontos. a unica coisa que sei é que tem de apresentar até ao inicio de Outubro os 12 melhores corredores em termos de pontos.....mas pontos do que se a unica coisa que temos é pontos world tour, e pontos europa tour, como se juntam?????

    Nuno Sofio

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  2. Penso que ajuda a perceber :)

    http://www.cyclingnews.com/features/exclusive-uci-proteam-ranking-system-revealed

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  3. Boa noite

    De facto é uma pena o Vidal Fitas abandonar, espero que isso não traga nenhum mal à equipa de Tavira, e que a mesma se mantenha pelo menos com a qualidade que nos tem habituado até agora.

    Se ele lança-se um projecto próprio era fantástico, mas acho isso uma utopia neste momento, por todas as razões e mais algumas...

    A noticia do mestre é um pouco esquisita, não sei como funciona o sistema de pontos da UCI, aliás acho que quase ninguém no mundo sabe, parece o ranking da federação de historia e estatística do futebol...adiante...no ano passado dizem que o Mestre não assinou pela AG2R por falta de pontos suficientes que servissem realmente á equipa para se manter no pro tour...e uma vez que a equipa Basca vai "dispensar" o Txurruca, será que ele não tem mais pontos que o mestre??
    Apesar de ser anti fim da filosofia Euskadi, quem me dera que o mestre para lá fossem, já merece á muito um lugar numa equipa de topo.

    Quem dera que o José Gonçalves vá para uma equipa estrangeira, bem o merece e sempre é mais um lugar que cá se abre, de preferencia para a Cofidis e ainda podia ter a sorte de participar numa das muitas provas pro tour em que eles alinham, e nunca esquecendo que o Cofidis está a planar subir ao escalão máximo! Se o seu irmao tambem fosse, era ouro sobre azul!

    Cumprimentos, excelente Post.

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  4. Obrigado pelos comentários ;)

    Obrigado também pela partilha, Anónimo. Serve como resposta aos comentários do Nuno Sofio e o SR. Não deixando de merecer uma análise mais profunda no futuro.

    Cumprimentos

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  5. Ora aí está um bom tema para um post, uma análise ao tema do rankig e do seu funcionamento.

    Só um aparte, a Euskaltel já confirmou o Jure Kocjan? É que da ultima vez que li sobre ele era apenas uma suposição.

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  6. Já agora em jeito de curiosidade o ciclista italiano que entrou nessa célebre fuga do Pedro Martins e do Nélson Vitorino é o Leonardo Giordani que ainda corre atualmente ao serviço da equipa italiana da Farnese.

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