segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Pelotão profissional volta a crescer, 8 anos depois

Em 2013, o pelotão das equipas profissionais alongar-se-á
Num período de crise generalizada em Portugal, a Federação Portuguesa de Ciclismo decidiu tomar medidas e alterar os regulamentos de modo a baixar o orçamento necessário para a criação de uma equipa Continental. Conseguiu assim que cinco equipas se candidatassem a este escalão, mais uma do que nos últimos dois anos. Por um lado, conseguiu um aumento do número de equipas, o que não acontecia desde 2005, mas veio autorizar a exploração dos mais jovens.


Segundo a FPC informa hoje, a Carmim-Prio, a Efapel-Glassdrive e a LA Alumínios-Antarte apresentaram candidatura para continuarem como equipas Continentais, tal como o Louletano-Dunas Douradas e a OFM-Valongo, estas duas em ascensão do escalão amador. Fica a aguarda-se esclarecimentos quanto à situação da Onda-Boavista.

Na mesma nota de imprensa publicada no site da FPC são dados a conhecer os traços gerais do novo regulamento para as equipas Continentais. São eles:
  • O mínimo de ciclistas por equipa passa de 8 para 7;
  • Esses ciclistas ("profissionais") continuam a ter como salário mínimo 1000€ mensais;
  • Cada equipa poderá contratar até 5 ciclistas em regime semi-profissional;
  • Esses 5 ciclistas semi-profissionais terão que ser neoprofissionais e ter menos de 25 anos*;
  • Os ciclistas semi-profissionais terão como salário mínimo 2400€ anuais;
  • Sub-23 de primeiro ano poderão ser inscritos em equipas Continentais (ultimamente precisavam de pelo menos um ano numa Equipa de Clube) mas só poderão correr provas inferiores à categoria .1, ou seja, em Portugal não podem correr a Volta ao Algarve nem a Volta a Portugal.
Coloquei ali um asterisco porque a Associação de Ciclistas Profissionais define como neoprofissionais os ciclistas que correm pela primeira vez por equipas World Tour ou Continentais Profissionais ainda pertencendo ao escalão sub-23, mas, segundo a nota de imprensa da FPC, para este caso vai considerar todos aqueles que estejam no primeiro ano de profissionalismo e sejam sub-25.

O último ponto considero irrelevante, pois passar de júnior para uma equipa de clube (como já é possível) é o mesmo do que passar de júnior para uma equipa continental mas sem correr as provas 2.1 e superiores (que são as únicas que as equipas de clube também não podem disputar). Centremo-nos nos cinco primeiros pontos:

Este ano havia 44 ciclistas nas equipas Continentais com estatuto de profissionais (apesar de muitos deles receberem abaixo de 500€) e em 2013, apesar do número de equipas aumentar, esse número vai diminuir. Mesmo que algumas equipas optem por ter mais profissionais do que o mínimo, andará por volta dos 40 profissionais (continuando alguns deles abaixo dos 500€ e sem receber 12 meses).

Este pacote de medidas tem como objectivo claro diminuir os encargos das equipas com salários. Enquanto até aqui as equipas tinham em média 10 ciclistas e todos tinham que ser profissionais, totalizando 120.000€ anuais em salários (10 ciclistas, 1000€ mensais, 12 meses) para cumprir com os regulamentos, no próximo ano "bastará" 91.200€ para ter os mesmos 10 ciclistas na legalidade (7 ciclistas, 1000€ mensais, 12 meses + 3 ciclistas semi-profissionais por 2400€ anuais). Equivale a uma poupança de quase 25%. Reforço que os meus cálculos são feitos de forma ingénua, como se eu não soubesse que muitos ciclistas continuarão a receber abaixo do mínimo e apenas nos meses de competição.

O propósito da FPC é louvável e perfeitamente adequado à situação financeira e económica que o país vive. No entanto, se a FPC alivia o regulamento a favor dar equipas, devemos exigir que seja mais rigorosa a faze-lo cumprir. Devemos também estar preparados para que neste defeso haja muitos ciclistas acima dos 25 anos a saírem das contas dos seus directores desportivos e a serem substituídos por jovens que possam correr como semi-profissionais (custando apenas 20%). Directores desportivos que se queixavam pela obrigatoriedade de jovens, agora sairão em público como grandes defensores da aposta na juventude para ter a mão-de-obra barata (ou perna-de-obra barato, se preferirem).

A FPC deverá estar especialmente atenta para que esta situação dos semi-profissionais seja uma oportunidade para os jovens e não uma forma das equipas os explorarem. Será importante ver quantos dos semi-profissionais de 2013 serão profissionais em 2014. Uma vez que o estatuto só é válido por uma temporada, temo que alguns directores desportivos escolham agora 2 ou 3 neo-prós e no final do ano os mandem todos embora para ir buscar 2 ou 3 na mesma situação. Como disse, esta medida não deve ser uma forma de explorarem os jovens mas sim um incentivo a lhes darem oportunidades. Como aqui escrevi em Setembro, após a Volta a Portugal do Futuro, há uma série de jovens portugueses prontos a serem profissionais.

Para finalizar, dizer que estes semi-profissionais, só serão semi pelo salário, porque a exigência dos directores desportivos (e do ciclismo em si) para com eles será a mesma que para os profissionais. Espero é que as equipas lhe forneçam a suplementação alimentar e que, em caso de queda, não tenham que pagar o arranjo da bicicleta. 200€ por mês não dá para nada.

4 comentários:

  1. Se a federação fiscalizar convenientemente, esta situação será benéfica, se não o fizer acabará por prejudicar ainda mais os ciclistas mais jovens.

    No entanto tenho de concordar que gosto mais que desgosto, temos jovens com qualidade e apesar de eu não gostar muito da regra dos 28 anos, gosto que os jovens tenham oportunidade, e bastou ver o caso dos dois jovens que a LA Alumínios - Antarte levou à Volta, foram chamados à última hora, e nem por isso a equipa deixou de conseguir ajudar o Sabido, foram excelentes gregários. Se estes mesmos ciclistas tivessem a contar desde o início da época com a presença na Volta certamente poderiam fazer bem melhor, e mais vale ter jovens a rodar que ciclistas não capazes de concluir sequer 100km.

    Estou curioso é para ver se em 2014 estes mesmo ciclistas continuam nas equipas que lhe deram a oportunidade. Fala-se que estes mesmo ciclistas vão poder correr a Volta a Portugal do futuro, o que na minha opinião é bem pensado, assim um máximo de 5 ciclistas poderá representar nesta prova as equipas continentais, o que acaba sempre por ser mais exposição para os respectivos patrocinadores, e uma oportunidade de correrem praticamente apenas com os do seu escalão, pelo menos uma vez na época.

    Espero claro que as equipas tenham a decência de dar as condições aos jovens, bicicletas iguais aos "pros" suplementação, etc etc etc. Só assim terão condições para demonstrar todo ou quase todo o seu potencial.

    Pena que algumas dessas 5 pre inscrições, dizem, são praticamente fictícias, a ver vamos, e vamos esperando pelo Boavista.

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  2. Como grande aficionado do ciclismo acompanhando mais o ciclismo internacional do que o nacional, por vezes acompanho algumas etapas da Volta a Portugal e já não é a primeira vez que no decurso das emissões os próprios jornalistas abordam esta questão do "salário mínimo dos ciclistas" admitindo que ele não é respeitado.
    Mas sinceramente nem sei o que mais me choca: se as equipas se aproveitarem desta situação (deplorável comportamento) se os ciclistas pactuarem com esta situação e alinharem nela (um ciclista profissional com um salário inferior a 500 euros?).
    A única explicação razoável que consigo encontrar é que ganham o remanescente digamos "por fora", para escapar ao pagamento de impostos, caso contrário não consigo compreender e acho que não é uma atitude muito pouco racional.
    As equipas podem alegar não serem capazes de conseguirem economicamente suportar o "salário mínimo dos ciclistas profissionais": contactam a Federação expõe o problema e das duas uma ou há uma redefinição desse salário mínimo ou caso não haja encerram como qualquer outra empresa, não é economicamente viável.
    Agora se a situação é como relatas neste blogue e já tenho lido em outros locais não passa de uma situação de hipocrisia em que tentam fazer parecer o que não são.

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  3. Obrigado pelos comentários ;)

    SR, eu nem ponho em causa que o material de uns e outros seja diferente. Muito mal estávamos se assim fosse. Quando me refiro à questão do arranjo em caso de queda, é uma pequena ironia, para reforçar que 200€ por mês não são nada.

    cycling_fan, nem se trata de receber por fora. Antes pelo contrário. Trata-se de dar por fora. Os ciclistas têm um contrato oficial de 1000€ mensais mas comprometem-se a devolver uma boa parte dele. Na prática, essa parte nem sai dos bolsos do clube... porque não há.

    Cumprimentos!

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  4. Acredita que infelizmente nem todos correm com o mesmo material, e muitas vezes não é por opção do ciclista, é por ser aquilo que há, felizmente também, sei que existe até quem tente dar um melhor acompanhamento aquilo que os corredores pedem. e espero que para o ano corram todos com a mesma coisa, tirando o material comprado pelos próprios, que também o há, mas isso até no World Tour.

    É muito triste a situação do dinheiro "devolvido" mas mais uma vez esperemos que as coisas mudem, é que nem sempre o dinheiro "não há", as vezes até há, fica é fora dos bolsos de quem devia : /

    Mas espero que tudo melhore, haja seriedade por parte dos directores desportivos, patrocinadores, etc etc etc.



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