segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Revista da Semana: Down Under, San Luis e Marselhesa

Tiago Machado deu nas vistas na Austrália
Pela Austrália e Argentina, algumas das maiores estrelas do ciclismo mundial iniciaram na semana passada a sua temporada, como foram os casos de Alberto Contador, Mark Cavendish e André Greipel, todos eles já com vitórias conquistadas. Assistimos também ao despontar de uma promessa holandesa, Tom-Jelte Slagter, e já tivemos em ação sete portugueses.

A 21 de janeiro, o Tour de San Luis (Argentina) marcou o arranque de temporada oficial para muitas das equipas World Tour, seguido do Tour Down Under (Austrália) no dia 22, a primeira corrida da máxima categoria.

Tour de San Luís


Dani Díaz (San Luis-Somos Todos), argentino de 23 anos, foi o grande vencedor do Tour de San Luís, melhorando assim o terceiro lugar de 2012 (segundo após desclassificação de Contador). Mark Cavendish estreou-se pela OmegaPharma-Quick Step com uma vitória à frente de Sacha Modolo (Bardiani), invertendo a ordem no dia seguinte para o triunfo do italiano. Iniciou-se uma série de quatro etapas que decidiram a classificação geral, com três chegadas em alto e um contra-relógio. O brasileiro Alex Diniz (Funvic) surpreendeu na primeira chegada ao alto e assumiu a liderança da prova, perdida no contra-relógio do dia seguinte, vencido por  Svein Tuft (Orica-GreenEDGE) e com o polaco Michal Kwiatkowski (OmegaPharma) a assumir o comando.

Na segunda chegada ao alto, mais uma surpresa, desta vez através de Emanuel Guevara (San Luis-Somos Todos), que protagonizou uma grande escapada coroada com sucesso. O seu colega Dani Díaz foi segundo e novo líder da prova, defendendo-se no dia seguinte atrás de Alberto Contador (Saxo-Tinkoff). No último dia, para a consagração de Díaz, Mattia Gavazzi (Androni) bateu Peter Sagan (Cannondale) e fez a festa.

Díaz venceu com 33 segundos de avanço sobre Tejay Van Garderen (BMC), 39'' para Alex Diniz, 1'02'' para Contador e 1'47'' para Jurgen Van Den Broeck (Lotto). Em 2014 espera estar numa grande equipa. André Cardoso (Caja Rural) foi 15º, José Mendes (NetApp) 18º, Bruno Pires (Saxo-Tinkoff) 66º e Sérgio Paulinho (Saxo-Tinkoff) 113º.

E uma referência também para Martin Garrido, que comandou a seleção argentina e terminou com a vitória na classificação sub-23 através de Ariel Sívori. O nome do jovem não nos diz nada mas fica a referência pelo Martin, que em 2008 inscreveu o seu nome no quadro de honra da prova ao serviço da Palmeiras Resort-Tavira.

Tour Down Under


Paralelamente ao Tour de San Luis, no dia 22 iniciou-se o Tour Down Under. Para quem não sabe, "Down Under" é um termo utilizado para se referir à Austrália mas todas as etapas se realizam na região de South Australia, mais concretamente num raio de 100 km à volta de Adelaide. Convém não esquecer que a Austrália é o sexto maior país do mundo mas apenas o 233º quanto a densidade populacional, fruto do enorme deserto que ocupa grande parte da ilha. De resto, a Volta à Polónia também é toda ela disputada nos Sudetos e região envolvente (ver mapa), a Volta à Turquia apenas anda no Sudoeste do país, a Volta a Portugal apenas anda pelo Norte do país e deverá haver mais provas cujo traçado não se adequa ao nome.

Mas se o Tour Down Under apenas anda na região de South Australia é por uma razão simples: é organizado pela Comissão do Turismo de South Australia. E é um exemplo, tanto enquanto produto turístico, como prova de ciclismo, sendo uma das melhores organizadas em todo o calendário mundial e uma das líderes de inovação.

A prova começou com uma vitória de André Greipel (Lotto), o patrão daquelas paragens, que ali já levava dez etapas conquistadas e duas classificações gerais desde 2008. Este ano começou por vencer a People's Choice Race (prova não oficial que serve de apresentação aos ciclistas num circuito urbano plano), venceu a primeira etapa do Tour Down Under, a quarta e a sexta... as únicas três com final ao sprint.

Quanto às contas para a geral, a Colina Willung (Willunga Hill em inglês) voltou a ser decisiva. Geraint Thomas (Sky), que ambiciona um percurso semelhante ao de Wiggins e quer um dia disputar grandes voltas, atacou numa pequena ascensão perto do final da segunda etapa e impôs se no final, mantendo a liderança até ao Willunga. O jovem Tom-Jelte Slagter, uma das promessas do ciclismo holandês, foi o mais forte na chegada a Stirling, onde Manuel Cardoso o tinha sido em 2010. No final, o jovem de 23 anos declarou que o seu ídolo é Joaquim Rodríguez, que espera que o espanhol esteja ao seu melhor depois de resolvida a situação da Katusha e que quer bater-se com ele nas clássicas das Ardenas. Talvez ainda não em 2013, mas a sua arrancada no Willunga Hill é de nos deixar de aviso. Num ápice alcançou Simon Gerrans (Orica-GreenEDGE) e na meta foi segundo, atrás do australiano que tinha vencido a edição do ano passado.



T-J ficou com a liderança de G (assim são tratados Slagter e Thomas pelos seus colegas) e sagrou-se vencedor do Tour Down Under, com o espanhol Javier Moreno (Movistar) em segundo e Thomas em terceiro, aproveitando as bonificações do último dia para conquistar um lugar no pódio.

Falar ainda de Tiago Machado, único português em prova. O Tiago tinha sido terceiro no ano passado e por isso partia com ambições para a prova. Na chegada a Stirling atacou a quatro quilómetros da meta mas foi alcançado, e no Willunga atacou logo no início da subida, sendo alcançado dentro do último quilómetro (como podem ver no vídeo anterior). Claro que agora é fácil dizer que atacou cedo, mas não concordo. O Tiago não atacou para ser segundo, atacou para ganhar! Se ele deixasse para o fim, não teria hipóteses contra homens mais rápidos como Slagter, Gerrans ou Thomas. Thomas foi apenas 17º, mas depois do que fez na segunda etapa, era de esperar muito mais.

No contexto, acho que a estratégia do Tiago foi boa. O que tinha a defender? Nada. Não venceu mas tentou pela surpresa, foi persistente e ousado, como foi Thomas na segunda etapa ou Alex Diniz na primeira chegada ao alto de San Luis, atacando logo no começo da subida. Thomas e Diniz chegaram a bom porto, Machado não e no final da prova foi 9º.

GP de Abertura "A Marselhesa"


Este fim-de-semana tivemos também o GP de Abertura "A Marselhesa", prova que marca o arranque da temporada na Europa. Aqui estiveram presentes os portugueses Ricardo Mestre e José Gonçalves, que se estrearam com as suas novas cores, que é como quem diz o laranja histórico da Euskaltel-Euskadi e o branco cheio de ilusão da La Pomme-Marseille.

A corrida tem um traçado algo acidentado mas está longe de ser uma prova para trepadores e terminou decidida entre um grupo de 32 ciclistas que chegaram com o mesmo tempo, estando entre eles Mestre, 18º no final. Não é numa prova como esta que o Ricardo vai mostrar toda a sua qualidade, mas chegar na frente é sempre bom para elevar a moral, principalmente estando ele a iniciar uma nova aventura numa equipa do primeiro escalão.

O Ricardo Mestre seguirá agora para a Estrela de Bessèges (30/01 a 03/02) e para a Volta ao Mediterrâneo (06/02-10/02) e aí sim terá contra-relógio e montanha bastante interessante para esta fase da temporada. Vamos ver o que consegue fazer, não esquecendo que não é o seu objetivo da temporada.

Quando ao José Gonçalves, chegou no segundo grupo, em 65º com 1'31'' de atraso, mas pode sair feliz pelo triunfo do seu companheiro Justin Jules.

Esta semana


A Estrela de Bessèges (Etoile de Bessèges em francês) será a única prova a disputar-se esta semana e Ricardo Mestre será o único português pré-inscrito, mas a partir de domingo já teremos a Volta ao Qatar e a Challenge de Maiorca.

Rui Costa venceu em Maiorca em 2010
A Challenge é uma prova muito particular. Durante muitos anos era composta por cinco clássicas oficiais que compunham uma classificação geral oficiosa. Cada equipa podia inscrever na Challenge 14 ciclistas e cada um deles podia participar apenas numa das clássicas ou em todas. No final, além da classificação de cada clássica, era feita uma classificação geral somando os tempos dos ciclistas que tinham participado em todas as provas. Foi assim até 2009, posto que em 2010 a UCI achou por bem terminar com a classificação oficiosa. De resto permaneceu igual.

No ano passado apenas estavam programados quatro troféus (e um foi cancelado pela neve), número que se repete este ano. Entre os inscritos está Rui Costa (Movistar) e o campeão nacional Manuel Cardoso (Caja Rural). De realçar que Rui Costa venceu o Trofeo Deià em 2010 e foi segundo em 2012, e que nos vários Troféus de 2010 e 2012 Manuel Cardoso coleccionou dois terceiros lugares, dois quartos e um quinto.

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Este artigo serve como inauguração da rubrica "Revista da Semana", na qual pretendo fazer um resumo e análise do que se passou durante a semana, idealmente à segunda-feira. Nem sempre será possível, mas vou tentar não falhar.

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Já vi que nenhum português foi premiado nos primeiros jogos do Zweeler e a equipa que esteve mais próxima até foi a minha, ao ser 28ª entre mais de 400 no Tour de San Luis, a apenas 3 pontos dos prémios, mas jogo é jogo. Novas oportunidades virão.


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Agora que a temporada começou, relembro que o Carro Vassoura está também no Twitter, onde vou comentando as etapas que vão acontecendo. Entrem em www.twitter.com/CarroVassoura, tornem-se seguidores e sintam-se à vontade para ir comentando.

4 comentários:

  1. Sim falar agora é facil, mas tb me pareceu que o Tiago machado atacou cedo de mais. o que me pareceu foi que o Tiago tendo aspirações e sentindo-se forte, arriscou e pensou claramente que era o mais forte. mas saiu-lhe ao contrario. fiquei decepcionado foi com a ultima etapa onde perde 3 lugares na geral, onde nunca poderia perder. foram alguns pontos do ranking world tour que foram á vida, e que poderiam ser importantes não só para o Tiago como para Portugal. de Bom fica apenas o Top 10 e a vontade que já não se via há algum tempo do Tiago tentar ganhar.

    Nuno Sofio

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  2. Boas

    Excelente iniciativa a revista da semana.

    Por acaso eu não tenho como confirmar isto, mas o ariel Sivori, se não chegou a correr esteve para correr na equipa do Ze Barros, na altura que a mesma era Aluvia-Valongo, masnão tenho como confirmar isso.

    Cumprimentos

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  3. Obrigado pelos comentários :)

    SR, não sabia, mas pesquisei e tens razão. Foi em 2010.

    Cumprimentos

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  4. Bem me parecia que era esse! E então pelosvistos o Zé Barros "perdeu" um bom talento!

    Cumprimentos

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