quinta-feira, 21 de março de 2013

Com comboio é mais fácil vencer na montanha?

Um dos objetivos para os próximos tempos do Carro Vassoura passa por comentar estratégias, forma de estar na corrida ou de a ler, de modo a tornar mais compreensível algumas opções das equipas. Depois da crónica "Ciclismo de todos-contra-todos ou um-contra-todos", onde foi analisada a construção da estratégia de uma equipa em função do seu principal rival (ou rivais) ou em função do seu líder e da sua equipa, a crónica de hoje é sobre os comboios na montanha, tema muito atual depois das vitórias da Sky nas chegada ao alto do Paris-Nice e do Tirreno-Adriático. Os comboios fazem a vitória mais fácil?

A minha resposta é não! (sublinho que é a minha resposta, podendo existir outras opiniões e podendo as mesmas ser apresentadas e defendidas nos comentários, como sempre). Passo a explicar.

No início de 2008 tive a oportunidade de entrevistar Orlando Rodrigues, então diretor desportivo do Benfica que estava em estágio. Na Volta a Portugal anterior José Azevedo era o chefe-de-fila e terminou em 6º. Para 2008 o Benfica tinha-se reforçado com Ruben Plaza e Cândido Barbosa, segundo na Volta de 2007. Perguntei ao Orlando Rodrigues sobre a falta de apoio a Azevedo na etapa da Torre e respondeu-me o Orlando que esse não tinha sido o problema, porque Azevedo perdeu a corrida numa altura em que esta estava entregue aos chefes-de-fila e cada um tinha estava por sua responsabilidade. A exceção era Cândido Barbosa que tinha Héctor Guerra e disso falarei adiante. Orlandro Rodrigues tinha razão.

O apoio da equipa pode ser fundamental para uma vitória na classificação geral, nomeadamente para minimizar as perdas de tempo. Por exemplo, na chegada ao alto do Tirreno-Adriático Daniel Moreno realizou um trabalho de enorme qualidade para que Joaquim Rodríguez não perdesse muito tempo e que continuasse com as possibilidades de uma boa classificação geral em aberto. O mesmo aconteceu na Vuelta do ano passado, com Nairo Quintana por várias vezes a auxiliar Valverde para que chegasse a Contador e Rodríguez. Porém, o apoio que é dado para minimizar as perdas de tempo (para depois serem compensadas noutro tipo de etapas mais favoráveis) e os comboios como o da Sky no último Paris-Nice e Tirreno-Adriático, são situações diferentes.

Por comboio entende-se uma equipa a impor um ritmo forte para o seu chefe-de-fila durante uma distância considerável, seja um ciclista apenas (como David López no Paris-Nice) ou um conjunto (como Cataldo, Henao e Uran no Tirreno-Adriático). O comboio serve essencialmente para impor um ritmo constante, manter a corrida controlada e para evitar excesso de ataques. Sem isso haveria mais variações de ritmo, o que obrigaria o líder a ter que escolher quais os ataques aos quais responder. Uma má seleção poderia levar a um desgaste desnecessário, talvez com consequências na classificação final.

Porém, tornar a corrida mais controlada não é sinónimo de vitórias. Temos o caso de Contador no Tour 2010 (primeira chegada ao alto vencida por Schleck, depois do comboio da Astana de Contador evitar ataques durante toda a subida). Porque ganhou Andy Schleck nesse dia? Porque era o mais forte. O mesmo motivo levou Porte à vitória na Montanha de Lure e Chris Froome no Prati di Tivo.

O momento decisivo para as vitórias de Porte e Froome foram os ataques desferidos e impossíveis de seguir para os seus rivais. Foi aí que a corrida foi ganha. Se existisse alguém mais forte do que os homens da Sky, teria vencido, porque o ritmo até então imposto era o mesmo para todos. Froome tinha a roda de Cataldo, Henao e Uran para seguir? Tinha, mas todos os outros iam ao mesmo ritmo.


Conclusão

Ao contrário do que acontece nas chegadas ao sprint, em que é fundamental estar bem colocado e sair na frente dos adversários (desde que não seja muito cedo), nas etapas de montanha os comboios não são decisivos para a a vitória na etapa. Facilita o controlo da corrida, reduz o número de ataques, mas faz o mesmo trabalho para todos os homens da geral. Então qual o interesse da Sky em impor um ritmo forte? Se o ritmo fosse baixo, Contador atacaria, Nibali atacaria, Horner atacaria e Froome, ou ira a todas as movimentações, ou tinha que escolher e provavelmente acabaria por vingar um ataque que inicialmente foi consentido e que posteriormente se tornou impossível de anular. Foi assim que Samuel Sánchez e Jelle Vanendert venceram duas chegadas ao alto no Tour 2011, batendo Cadel Evans e os irmãos Andy e Frank Schleck, três ciclistas mais fortes a subir mas que não podiam responder a tudo e todos.

Na montanha o apoio de um gregário ao líder assume grande importância noutro tipo de situações. Por exemplo, quando um ciclista que sobe bem (talvez até melhor que o líder) ajuda um colega melhor colocado na geral (como o tal caso de Guerra a Cândido Barbosa na Volta 2007) ou quando um ciclista que sobe bem mas é mau contra-relogista ajuda um colega que se adapta melhor aos contra-relógios que estão para vir. Mas ter muita ajuda, por si só, não faz a vitória. É preciso ser o mais forte.

21 comentários:

  1. rui mais uma boa cronica...porém vou discordar um pouco de ti nem que sirva somente para lançar o debate...
    tal como nos sprints há ciclistas que não vencem sem comboio, na montanha o comboio beneficia um conjunto de ciclistas, os que gostam pouco de mudanças de ritmo...lembro-me de ver os primeiros comboios no tempo do indurain em que a banesto controlava a corrida de modo que os ataques não fossem muitos...
    concordo contigo quando falas que para trepadores a existência de equipa alinhada pode não ser uma necessidade...
    voltando ao froome, contador e nibali no tirreno o 1o e salvo o futuro me mostre o contrário não tem capacidade para grandes explosões, para ele quanto mais alto o ritmo e constante melhor...os outros dois principalmente contador gostam de ritmos loucos na corrida com arranques súbitos...
    resumindo os comboios não ganham sozinhos mas adaptam-se na perfeição ao estilo de corrida de alguns corredores

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  2. Concordo plenamente, o comboio pode ser feito só por uma equipa mas é para todos os ciclistas do pelotão irem na roda...quem não for é porque não está tão forte como os outros que conseguem acompanhar.

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  3. isto dos comboios é de uma forma de pôr toda a gente em sentido, e notou-se isso no Tour do ano passado quando Froome assumia o comando toda a gente ficava a trás de Wiggins porque se seguir ao ritmo de Froome era difícil atacar ainda pior, o que eu acho é que este ano há 3 equipas que se podem debater com a Sky em termos de equipa para a montanha, a Katusha, a Saxo Tinkoff Bank e a Movistar... Para mim este ano vai ser um Tour bastante interessante, porque é o Tour que o Froome tanto deseja, mas para mim se Wiggins não for para ajudar, vai aocntecer o que se passou no Tirreno Adriático, vêm rampas acima de 12% e Froome tem dificuldades em seguir Nibali, Contador e mesmo Valverde que este ano tem um Tour à sua medida

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  4. Já agora, gostava de ver uma crónica sobre quem é o líder de cada equipa e a sua pérola, isto para o pelotão nacional, por exemplo a Liberty este ano tem uma equipa interessante tanto como o Maia que podem dar grandes jovens às formações nacionais, outro tema é a formação de uma equipa continental profissional se vale a pena e como pode ser formada e por quem...

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  5. Ou seja, o comboio não é essencial, mas que pode ajudar isso pode! contudo o comboio até pode ir rápido, mas se existir alguém mais forte vai ganhar! E geralmente o comboio deixa para trás muita gente, mas que provavelmente nunca iria discutir verdadeiramente a vitória.

    Concordo com o amigo nuno miguel, uma crónica sobre estes dois assuntos, se bem que o primeiro em parte já teve a sua abordagem, mas o segundo era algo interessante de se falar.

    Cumprimentos

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  6. Na minha opinião, um comboio a subir não dá vitórias, mas...evita derrotas. Um caso flagrante e muito recente foi o Wiggins o ano passado no Tour, se a equipa não tivesse trabalhado para ele nas subidas não acredito, apesar da sua capacidade extraordinária de contra-relógio, que ele tivesse vencido o Tour.

    Mas sim, as vitórias em subidas vêm para quem tem mais pernas e muitas vezes para quem é o melhor estratega.

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  7. Obrigado pelos comentários.

    Nuno Miguel, relativamente às equipas de clube, já foi abordado um pouco. Honestamente, não me parece que volte a esse tema tão cedo.
    Quanto à equipa continental, é um tema que me interessa e está na calha para ser abordado.

    Cumprimentos a todos!

    Tiago Sousa, é verdades, mas estão aqui em causa duas coisas diferentes:a a importância dos colegas para a classificação geral e a importância do comboio para o resultado na etapa. São coisas distintas.

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  8. Obrigado Rui, eu ainda não tinha explorado todo o blog, mas consegui encontrar alguns posts sobre as equipas de sub-23, e tenho a dizer que concordo maioritariamente consigo nos temas abordados, há algumas exceções, mas claro já as li tarde de mais, se calhar na altura concordava plenamente ou não, só a apontar o Diogo Silva, do Maia, que fez uma grande 5ª Etapa na Volta ao Futuro, acho que tem 24/25, poderia estar num equipa como o Boavista devido à falta de gente com alguma experiência e sabe-se que o Diogo é um bom trepador, de resto acho que todas as equipas vão lutar durante este ano, mas para mim na Volta só há três equipas que para mim vão lutar pela geral, OFM, Efapel e La Antarte. A OFM vai ter dois líderes o Gustavo César Veloso e o Alejandro Marque, a Efapel deve apostar no espanhol Arkaitz Durán e Rui Sousa e a La no Sabido

    Cumprimentos

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  9. Já tinha enviado o comentário, mas lá devo ter tido algum problema na internet e não enviou.

    Resumidamente e na minha opinião, os comboios na montanha são bons para os contra-relogistas e sobretudo, aquele conjunto de ciclistas que não gosta de muitas mudanças de ritmo, mas de ritmos pesados. Aqui entre Froome, Nibali e Contador parece-me que é o 1º o que mais gosta deste estilo de corrida.

    Contudo, tal como no sprint há ciclistas que vencem sem comboio, um ciclista mais puro trepador poderá aproveitar o trabalho de um comboio adversário. Porém, relembro que uma das coisas que os comboios também fazem é ter ritmos muito altos, em que toda a gente já vai com poucas energias e como tal, reduz o número de ataques e a potência destes.

    Será curioso de ver que equipa levará por exemplo a Saxo para o Tour, tal como perceber os estragos que as quedas vão fazer, porque em ciclistas que sejam muito iguais e que as diferenças se façam em muito poucas coisas o comboio poderá ser a diferença!

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  10. Obrigado pelos comentários.

    Luís Caldas, realmente recebi o comentário por e-mail mas quando o ia responder já cá não estava. É pena, porque o exemplo do Indurain estava muito bem lembrado.

    Nuno Miguel, não acredito no Alejandro Marque nem no Gustavo César Veloso para se defenderem na alta montanha. Mesmo no Arkatiz Duran tenho muitas dúvidas que consiga estar na luta. Penso que mais rapidamente estará o Hernâni Brôco ou o Daniel Silva no pódio. Apesar do Daniel Silva não ter equipa para o defender, estando as etapas decisivas nos dois últimos dias, poderá não se notar esse ponto fraco. De qualquer forma, ainda estamos em Março.

    Cumprimentos

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  11. Só acrescentar ao que o Nuno Miguel disse que apesar do Boavista não possuir uma equipa à altura para defender o Daniel Silva eu acho que não o podemos excluir do lote de favoritos a vencer a Volta a Portuga pois ele é um dos mais completos ciclistas que neste momento corre em Portugal.

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  12. Sim, Pengo mesmo sem ter grandes gregários a seu lado o Daniel continua a ser candidato ao pódio, para mim até para a vitória, porque este ano ele teve treinos específicos de montanha com a Cofidis, uma equipa com grandes trepadores, mas além disso tem um homem excelente para a alta montanha, o Vergilio Santos que o vai ajudar bastante, e espero que ganhe porque assim com esta vitória quem sabe senão pode saltar para uma equipa ProTour...

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  13. Exactamente, para mim o Daniel Silva é o principal favorito. Cuidado também com o Arkaitz Durán, ao contrário do que o Rui diz eu acho que ele é o homam com mais possibilidade de lutar pela Volta dentra da equipa Efapel e só numa segunda linha surgem Rui Sousa, Hernâni Brôco, Sérgio Sousa e Nuno Ribeiro para o ajudar e para estarem lá caso ele falhe. Na OFM também sou da opinião que o Gustavo César Veloso não tem a mínima hipótese de lutar pela vitória na Volta e nem mesmo ficar no Top 10, já o Alejandro Marque se continuar a evidenciar a evolução que tem tido nos últimos anos a nível da montanha é perfeitamente possível sonhar com o Top 5 da Volta.

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  14. Pengo eu acho o contrário, pois eu tive a procurar informação e sei que o Cesar Veloso ganha a Volta a Catalunha de 2008 e tem bons resultados, claro que o ano passado teve sem competir, mas pronto não o conheço muito bem só através de jogos e informações da net, mas quem ganha a volta a catalunha em frente de bons homens do world tour e pk sabe trepar e bem

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  15. Nuno, a Volta à Catalunha de 2008 não teve nada a ver com a que está agora a ser disputada. A edição de 2008 tinha um percurso ridículo e terminou vencida pelo Gustavo César Veloso, que não é trepador, tal como não era o David Cañada que venceu em 2006.

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  16. Ok, eu sou jovem bastante e comecei a ligar ao ciclismo na volta a espanha de 2011, a pouco tempo, mas ando informado e conheço bastante bem o ciclismo atual, mas se procurar a etapa 9 da volta a espanha de 2009 acho que mostra a capacidade da montanha do veloso porque aquela ultima montanha tinha media de mais de 10% e ele vinha atrasado passa o cunego e o taramae e depois segue para a vitoria, e o que acho estranho é que ele vem para substituir o líder da equipa o João Cabreira, logo penso que possa haver a intenção de José Barros de ele ser o líder na Volta, porque senão não entendo esta contratação.

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  17. Nuno Miguel..a aposta principal do José Barros é mesmo o Alejandro Marque e se ele falhar têm o Eduard Prades..e só depois surgem o Delio Fernandez e o Gustavo Cesar Veloso..o Gustavo é um puro rolador que sente dificuldades na alta montanha, um dia bom todos podem ter e foi o que lhe aconteceu nesse dia na Volta à Espanha.

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  18. Ok Pengo acredito que seja muito bom rolador, como disse eu sou jovem e comecei a seguir ciclismo a ano e meio e não conheço alguns ciclistas, e só o conheço devido a pesquisas e vídeos e jogos que encontro.

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  19. É pena não te lembrares dele quando corria em Portugal ao serviço do Boavista...as características dele não mudaram muito desde aí.


    Abraço

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  20. Pois, pengo o problema é que nessa altura eu nao ligava ao ciclismo aliás nessa altura acho que tinha 7 anos +/-

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  21. Mas gostava de ver uma equipa do Norte a vencer, simplesmente a OFM que é da zona do sobrado, muito perto da minha zona, ou o Boavista

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