sábado, 11 de maio de 2013

Agora é Nibali o número 1!

Cumpriu-se o enorme contrarrelógio deste Giro d'Itália e Bradley Wiggins não marcou as diferenças que se temiam. O britânico caiu ontem, tinha cerca de minuto e meio para recuperar para Vincenzo Nibali e apenas conseguiu 11 segundos. O italiano é o novo camisola rosa e o principal favorito à conquista de um Giro d'Itália onde tudo está mais renhido do que era expectável.

Desde a antevisão do Giro que vinha a dizer o mesmo. Wiggins poderia abrir grandes diferenças face aos seus adversários no contrarrelógio que hoje se disputou e a partir daí seria uma corrida de um sentido apenas: todos a tentarem recuperar tempo em relação a Wiggins. Não era nada de muito rebuscado pensar que o campeão olímpico da especialidade poderia ganhar dois ou três minutos aos adversários mais diretos. Foi assim no último Tour.

Porém, a Sky está a ter um Giro marcado pelo azar. Primeiro foi Dario Cataldo afetado por um vírus estomacal (decidiu continuar em prova para ajudar a equipa), ontem Wiggins caiu já na fase final e hoje furou.

É sempre frustrante e revoltante ver alguém afetado pelo azar, mas sobretudo quando é alguém com aspirações à classificação geral. Já tinha sido Samuel Sánchez no contrarrelógio coletivo afetado por um furo de Ricardo Mestre (que tem estado muito combativo na sua estreia numa grande volta), depois foi uma queda de Michele Scarponi que lhe custou 44 segundos e ontem Wiggins a perder cerca de minuto e meio.

Sem lesões a assinalar como consequência da queda, era de esperar que Wiggins recuperasse hoje parte do atraso. 54 quilómetros de contrarrelógio, a sua especialidade, pareciam suficientes para, pelo menos, se aproximar da camisola rosa.

Em vez de uma bicicleta suplente, a Sky preparou duas suplentes para Wiggins e a primeira delas foi necessária ainda na fase inicial do percurso, depois de um furo. Com o tempo perdido para a mudança e para recuperar o ritmo, Wiggins passou no primeiro ponto intermédio (km 26) com um registo discreto, perdendo 52 segundos para o seu compatriota Alex Dowsett (Movistar). Sergio Henao, que ontem sacrificou a sua classificação para ajudar o chefe-de-fila após a queda, era segundo provisoriamente.

À medida que outros homens da geral passavam no primeiro ponto intermédio, a situação parecia negra para o líder da Sky. Scarponi, Evans, Gesink, Hesjedal e sobretudo Nibali estavam a ganhar tempo. Nibali estava um minuto melhor que Wiggins ao km 26 e a diferença provisória entre ambos na geral cifrava-se em quase dois minutos e meio. A liderança de Beñat Intxausti começa então a ficar por terra. Ontem terá sido um dia muito marcante para Intxausti, assumindo a liderança do Giro quase dois anos após a morte do colega e amigo Xavi Tondo, falecido num acidente por si presenciado. Mas hoje o basco teve um dia muito mau e perdeu quatro minutos num terreno que é a sua especialidade.

Wiggins conseguiu uma grande recuperação na segunda metade do contrarrelógio e ficou a apenas dez segundos de Dowsett, sendo segundo na etapa. Aí, sem contratempos e conseguindo manter um bom ritmo, ganhou tempo aos seus adversários diretos. 11 segundos a Nibali, 29 a Evans, 43 a Scaponi, 1'12'' a Gesink, 2'13'' a Hesjedal e 3'07'' a Samuel Sánchez.

A prestação de Bradley Wiggins acaba por não ser má e sem a mudança de bicicleta até deveria ter ganho, porém fica aquém do que necessitava. Aquém do que se pensava  à partida que poderia ganhar neste dia e sobretudo aquém do que necessitava depois da queda de ontem. Se até aqui era ele o principal candidato à vitória, agora o título passa para Vincenzo Nibali.

O italiano, que já tem uma vitória na Vuelta e pódios no Tour e Giro, assume a liderança da prova com 29 segundos para Evans, 1'15'' para Gesink, 1'16'' para Wiggins, 1'24'' para Scarponi e 2'05'' para Hesjedal. A corrida está completamente em aberto e Samuel Sánchez é a única vítima a assinalar até ao momento entre os candidatos ao pódio. Qualquer um poderá recuperar o atraso que tem, mas Nibali esteve em grande nível no Giro del Trentino e hoje voltou a exibir-se em grande forma.

O atraso de Wiggins é recuperável. No Tour do ano passado mostrou que, mesmo não sendo um ciclista de ataque, pode ganhar tempo aos concorrentes na montanha. O seu maior problema será não estar no topo da sua forma ou, pelo menos, ainda não o ter mostrado. De resto, em 2013 ainda não chegou próximo do Wiggins que venceu Paris-Nice, Volta à Romandia, Critérium du Dauphiné e Volta a França no ano passado.

Evans chegou a Itália dizendo que o principal objetivo era o Tour mas está bem posicionado para o Giro. Será que a sua forma lhe permitirá continuar na luta? Robert Gesink também é um homem a ter em conta. Claro que já caiu (a sua grande "especialidade") mas a grande surpresa é que não perdeu tempo nessa queda.

A Sky tem também Henao e Uran, respetivamente sétimo e décimo na geral. A etapa onde teoricamente teriam maiores dificuldades seria a de hoje, mas defenderam-se muito bem. Sacrifica-los ontem pelo líder não me pareceu uma má opção do diretor da Sky, mas ultrapassado o crono e estando tão bem posicionados são dois homens para atacar a prova.

Apesar de já ser tão rico em acontecimentos e histórias, há algo muito importante a lembrar sobre esta Volta a Itália: a alta montanha ainda está toda para vir.

3 comentários:

  1. prestação do Wiggo não foi má?
    ahahaha

    sou fã dele, mesmo assim admito que ele tem qualidade e capacidade de num crono destes dar 2/3 minutos ao principais adversários: Nibali, Evans,...
    Viste com ele descia durante o crono?
    Parecia uma amador...
    Modéstia a parte, acho que descia melhor do que aquilo que ele fez. :)
    Mesmo assim ainda falta muito GIRO :)

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  2. Obrigado pelo comentário.

    Anónimo, o Wiggins caiu no dia anterior... numa descida. É natural que tenha sido muito cauteloso (ou medroso) nas descidas do crono. Ainda assim, e mesmo com o furo, foi 2º. Sem o furo teria ganho. Se considera isso uma má prestação, então o que seria o mínimo do aceitável? Que depois de queda e mesmo com furo ele ganhasse por 1 minuto? Atenção que estamos a falar da prestação e não do resultado.

    Cumprimentos!

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  3. Boa análise.

    Só é preciso ter em conta que Wiggins perdeu tempo na etapa de sexta, não só devido à queda, mas devido a descer mal (principalmente com chuva). Quando caiu já não estava no grupo do Nibali e dos outros favoritos (aliás, Nibali caiu antes do Wiggins, e o Wiggins já estava para trás).

    Já hoje, Domingo, também chegou a ficar para trás numa descida quando chovia e não há informações de que tenha caído.

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