segunda-feira, 20 de maio de 2013

Revista da Semana: Paulinho 2º na Noruega, André Cardoso 6º

Gelo em Itália e muito calor na Califórnia, dois opostos desta semana que terminou. Tejay Van Garderen venceu a geral e Peter Sagan duas etapas. Os portugueses também estiveram a grande nível lá fora. Sérgio Paulinho foi segundo na Volta à Noruega, André Cardoso 6º na mesma prova e José Gonçalves venceu a classificação da montanha no Paris-Arras.

Giro d'Itália

Sobre o Giro falou-se aqui ontem, na crónica "Visconti, Nibali, neve e greve". Hoje é dia de descanso e muitos ciclistas não saíram do hotel para o habitual treino de descompressão. Talvez tenha sido mesmo a maioria a tomar esta decisão, uma vez que as equipas estão instaladas nas montanhas e as temperaturas estão baixíssimas.

A etapa de amanhã tem boas possibilidades de ser discutida entre fugitivos e a de quarta-feira também tem boas possibilidades de ter esse desfecho. Cada uma tem uma contagem de montanha (3ª e 4ª categorias) já dentro dos vinte quilómetros finais e talvez retraia as equipas dos velocistas. Quinta-feira é crono-escalada, sexta e sábado etapas de alta montanha e domingo a consagração em Bréscia.

Troféus Cidade de Amarante

Este fim de semana voltou a Portugal o ciclismo de elites, um mês depois da Volta às Terras de Santa Maria. O palco foi Amarante, com um modelo de competição interessante. Em vez de fazer uma prova de três etapas (uma no sábado, duas no domingo), que seria uma prova sem novidade e sem grande interesse, a organização optou por fazer dois troféus. No sábado, corrida única com 120 km, que é pouca distância mas foi o que houve. E no domingo uma prova de dois setores, com um contrarrelógio de 8,5 km na ciclovia da Linha do Tâmega pela manhã e um circuito citadino de 3,7 quilómetros (20 voltas) pela tarde. Não é que os ciclistas gostem de andar tanto às voltinhas, mas o público gosta. E uma vez que o troféu de sábado e o de domingo eram independentes entre si, os ciclistas que desistissem no sábado poderiam alinhar no domingo, evitando assim que o pelotão fosse ainda mais curto.

No sábado a vitória foi para Gustavo César Veloso, que deu mais uma vitória à OFM-Quinta da Lixa, num dia em que muita gente brincou ao ciclismo. Dos 90 ciclistas que alinharam à partida, apenas 52 terminaram, o oitavo classificado já ficou a quase quatro minutos e o melhor mesmo é ver as classificações (clicar aqui). Não é a primeira vez que isto acontece e em nada dignifica o ciclismo. O público sai de casa para ver uma corrida a sério, como aquelas que passam na televisão, e o que acaba por ver é meia dúzia a discutir os primeiros lugares, um primeiro grupo que já vem com quase quatro minutos de atraso e a partir daí vão chegando aos poucos, de tempo em tempo. Não é isto que vende o ciclismo e não é isto que conquista patrocinadores, nem para as equipas, nem para as provas. Alguns ciclistas que fazem choradinho em agosto por falta de patrocinadores e melhores condições, devem lembrar-se do que fazem durante a restante temporada. Outros sim, tem motivos para se queixar, porque são profissionais durante todo o ano.

A OFM-Quinta da Lixa, que tem sido a melhor equipa portuguesa até ao momento, voltou a estar em evidência no domingo ao vencer o contrarrelógio da manhã e a geral do dia através de Alejandro Marque. Arkaitz Durán (Efapel) foi terceiro no sábado, terceiro no contrarrelógio e venceu o circuito da tarde. Em ambos os dias o melhor sub-23 foi o Frederico Figueiredo (Liberty Seguros), que já na Volta às Terras de Santa Maria e na Volta ao Alentejo tinha sido o melhor sub-23 das equipas de clube.

A competição nacional regressa na sexta-feira com o Challenge Cidade de Tavira, sábado com a Clássica do Restaurante Alpendre a marcar o arranque da Taça de Portugal (patrocinada pel'O Jogo) e no domingo o Challenge Cidade de Loulé.

Volta à Califórnia

Se no Giro o problema são as baixas temperaturas, chuva e neve, na Volta à Califórnia um dos adversários dos ciclistas foi o calor e alguns falam mesmo em temperaturas a rondar os 50 graus. Talvez por isso a segunda etapa fez mais estragos do que era suposto. Lieuwe Westra (Vacansoleil), que era um dos principais favoritos e venceu a primeira etapa graças a um ataque nos quilómetros finais, perdeu dez minutos no segundo dia.

Janier Acevedo (Jamis) venceu a segunda etapa e assumiu a liderança da prova com uma pequena vantagem face a Tejay Van Garderen (BMC), que dava um passo de gigante rumo à vitória. Este é um ponto de interesse das provas norte-americanas, a mistura entre os ciclistas da elite mundial como Van Garderen e alguns ciclistas mais desconhecidos que se preparam especificamente para estar bem aqui.

Uma etapa para Peter Sagan (Cannondale), outra para Tyler Farrar (Garmin) e a quinta para Jens Voigt (Radioshack), essa lenda viva do ciclismo que aos 41 anos ainda é capaz de vencer. Está muito longe do pico da sua carreira mas quando está no topo de forma ainda é capaz de umas coisas destas. Devido a cortes, Van Garderen chegou à camisola amarela que manteve até final, vencendo pelo meio o contrarrelógio. A etapa rainha foi para Leopold Konig (NetApp) e a última para Peter Sagan.

Nota também para Andy Schleck, que perdeu muito tempo na segunda etapa mas depois disso esteve dois dias em fuga, foi 30º no contrarrelógio e 25º lugar na geral. Não é um candidato à vitória no Tour mas está a melhorar.

Volta à Noruega: Sérgio Paulinho 2º, André Cardoso 6º

Disputou-se esta semana a Volta à Noruega, um país onde o interesse pelo ciclismo tem vindo a crescer nos últimos anos, primeiro por mérito de Thor Hushovd e nos últimos anos também de Edvald Boasson Hagen e Alexander Kristoff. A prova é de categoria 2.1 e conta com algumas equipas de elite mundial, como a Sky de Boasson Hagen, vencedor em 2012. Alexander Kristoff (Katusha) venceu as duas primeiras etapas com Boasson Hagen 2º, Theo Bos (Blanco) a terceira e quarenta ciclistas partiam para a quarta etapa com hipóteses de vitória na geral, pois as diferenças feitas até então diziam respeito a bonificações e pequenos cortes nos sprints dos três primeiros dias.

A quarta etapa é a exceção aos sprints, disputada numa região mais acidentada do país, que não chega a ser montanha (as montanhas norueguesas estão cobertas de neve) mas é o bastante para atrasar os sprinters. Sérgio Paulinho atacou a 30 km da meta e lá atrás teve que ser a Sky a comandar a perseguição. Já sem colegas junto de si e com muitas escaramuças, Boasson Hagen foi caçar Paulinho e a 1500m da meta, apesar de ser claro favorito num hipotético sprint a dois, atacou para o triunfo na etapa e a camisola amarela com que terminaria a Volta à Noruega pela segunda vez consecutiva. Esta foi a primeira vitória do norueguês desde 26 de agosto, altura em que venceu o GP Ouest France, de forma muito semelhante e também batendo um português, dessa feita Rui Costa.

Excelente prova para Sérgio Paulinho e também muito bem André Cardoso, 6º na geral, que assim conquistou pontos para o Ranking Continental Europeu (a classificação pode ser vista na coluna do lado direito do blog). Sérgio Paulinho não amealhou ponto porque é um ciclista do World Tour.


Paris-Arras: José Gonçalves melhor na montanha

Outro português em evidência este fim de semana além-fronteiras foi José Gonçalves, que disputou o Paris-Arras (prova 2.2) esteve em fuga nas duas etapas, foi sexto na primeira delas e venceu a classificação da montanha. Nestes primeiros meses ao serviço da La Pomme Marseille, José Gonçalves já leva 26 dias de competição internacional, mais do que os 23 que existem no calendário português (Algarve, Alentejo, Joaquim Agostinho e Volta).

Subida à Glória

Na sexta-feira à noite disputou-se a Subida à Glória, uma aposta da Federação Portuguesa de Ciclismo.

Muita gente deverá ter ficado surpreendida com todo este aparato em torno da "centenária Subida à Glória" que nunca antes se tinha ouvi falar... eu também fiquei. É que a última edição foi em 1988 (há 25 anos), mas isso pouco se referiu. E parece que mesmo até aí (entre 1913 e 88) também não teve tantas edições quanto pode parecer quando se fala em "centenária". É centenária porque surgiu há 100 anos, não porque tenha 100 edições, para que fique claro.

Não sei se podemos considerar a Subida à Graça uma prova de ciclismo, mas foi um bonito espetáculo a envolver bicicletas, com homens e mulheres, adultos e jovens, em bicicleta de estrada ou BTT e até ciclistas de desporto adaptado. Pelo público, pelo cenário, por ser diferente... gostei e espero que continue a realizar-se. É engraçado poder ver esta brincadeira em direto na internet (e por momentos na televisão). Tem pouco de competição, mas é entretenimento.

11 comentários:

  1. Felizmente este ano os portugueses parece que se lembraram de andar a fundo, e tentar vencer, mas no estrangeiro, que cá por Portugal, tal como dizes, anda muita gente a brincar ao ciclismo, e não sei qual é o objetivo!

    A OFM vai em grande forma, atacam a tudo o que mexe! Quem me está a desiludir é a LA, com tantos jovens de valor, no plantel muito consistente e equilibrado, com boas condições ( para a realidade nacional intenda-se) e nada…

    A volta à Califórnia caiu-me no goto, gosto mesmo da prova, é um pouco diferente do que estamos habituados, e podemos ver mais de “Perto” a realidade do ciclismo norte-americano, que é bem diferente da nossa, as equipas continentais de lá, tem condições que aqui só em sonhos, pena a nossa Volta não atrair meia dúzia de equipas WT com algumas estrelas, porque como já disse aqui noutras alturas, se há coisa que detesto é uma equipa WT no meio de outras continentais e continentais-profissionais, e sem estar a acrescentar nada, agora se cá viessem várias WT e para disputar, tinha muita piada, o que não me parece, porque como é obvio aqui o interesse comercial destas equipas é praticamente nulo, e na Califórnia é exatamente o oposto!

    Boa iniciativa a de colocar a lista dos pontos no Blog!

    Cumprimentos

    PS:Kristoff (Katusha);)

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  2. Obrigado pelos comentários.

    SR, o balanço faz-se no final da Volta a Portugal, que é a prova rainha. Uma equipa que não ganhe nada até lá mas na Volta ganhe duas ou três etapas ou a geral, tem a época feita. Ainda assim, não justifica a falta de atitude por parte de alguns ciclistas.
    Quanto às equipas WT, o mercado norte-americano tem um grande interesse para muitas empresas. Portugal não tem essa questão.
    Corrigido quanto ao Kristoff.

    Luís Caldas, para saber isso seria necessário somar os pontos de todos os ciclistas em todas as provas, o que dá muito trabalho. A UCI atualiza os Rankings no dia 25 de cada mês.

    Cumprimentos!

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  3. Pois, essa hegemonia da Volta por vezes é má, e de qualquer das maneiras não justifica mesmo a falta de atitude de alguns, há que haver brio naquilo que se faz.

    A parte das equipas WT, para já permanece só como um sonho!

    Cumprimentos

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  4. No que às provas nacionais diz respeito também gostei do modelo de competição dos Troféus Cidade de Amarante mas não gostei do facto do circuito de domingo à tarde ter apenas 3,7 Km de extensão porque já era previsível quer brincassem ao ciclismo ou não que muitos ciclistas fossem dobrados, se desligassem da corrida e acabassem por desistir. O circuito deveria ter tido uma extensão maior (mesmo que tivesse menos voltas) para evitar esse tipo de situações.

    Disputou-se também entre Sexta-feira e o dia de hoje a Volta à Ilha de São Miguel nos Açores. Mesmo sendo uma prova para ciclistas amadores, chamou-me atenção a participação a Seleção Nacional de Sub 23 com 4 jovens que pertencem à Escola Nacional de Pista/Liberty Seguros (sediada no Centro de Alto Rendimento da Anadia), o que abrilhantou esta prova dando-lhe um cariz mais profissional pois estes jovens da Seleção estão habituados a correr com os profissionais de estrada. Uma corrida interessante que podia no futuro contar com as equipas profissionais assim se criassem meios para isso e se fizesse um esforço nesse sentido.


    Parabéns pelo excelente artigo.

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  5. Bom dia. só uma ligeira correção. o andre cardoso tem 55 pontos (16 noruega, 34 asturias 5 trentino)e o jose gonçalves tem 5 (13º lugar numa 2.HC francesa que não me lembro)

    Nuno Sofio

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  6. Obrigado pelos comentários!

    Nuno, tem razão e já corrigi. Por isso é que apenas contabilizo os portugueses. Se mesmo assim já há falhas (1 ponto no André) e esquecimentos (o 13º lugar do José Gonçalves), imagine-se como seria se fizesse as contas para todos... fica para a UCI.

    Cumprimentos!

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  7. Algum portugues compete esta semana?

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  8. Obrigado pela questão.

    Além dos portugueses do Giro, o José Gonçalves vai estar sábado no GP Plumelec-Morbihan e domingo no Boucles de l'Aulne, ambos em França. O André Cardoso e o Manuel Cardoso também estão pré-inscritos para a prova de sábado.

    Cumprimentos!

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  9. o Manuel Cardoso já recuperou da queda sofrida na Volta a Turquia?

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