segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O que é um chefe-de-fila e qual a importância para a equipa?

Quem é o chefe-de-fila da equipa tal? Muitas vezes ouve-se a pergunta, sobretudo neste período de Volta a França e Volta a Portugal, provas que geram maior interesse, também em adeptos que não têm tempo para acompanhar toda a temporada. Mas será que todas as equipas têm um chefe-de-fila? E qual a sua importância para a estratégia da equipa?

A primeira questão baseia-se no que é um chefe-de-fila. Será o homem mais forte da equipa para a classificação geral ou será a principal aposta da equipa, para o principal objetivo, seja ele qual for? Porque o ciclismo não é uma ciência exata, não se pode rejeitar nenhuma das hipóteses e cabe a cada um formar a sua opinião.

Geralmente o chefe-de-fila é realmente a aposta para a classificação geral. Pensado no último Tour, Chris Froome, Joaquim Rodríguez, Alberto Contador, Alejandro Valverde ou Bauke Mollema, não impossibilitando que existissem outros ciclistas com liberdade, como Nairo Quintana, que viria a tornar-se o chefe-de-fila da Movistar depois do furo de Valverde. Mas pensemos também no caso da Argos, uma equipa que foi para a Vuelta 2012 e para este Tour com uma equipa totalmente apostado nas chegadas ao sprint e conseguiu, respetivamente, cinco vitórias de John Degenkolb e quatro de Marcel Kittel. Degenkolb na Vuelta e Marcel Kittel no Tour eram os chefes-de-fila da Argos, tal como Mark Cavendish da Omega Pharma-Quick Step e Peter Sagan da Cannondale, apesar de não serem homens para a classificação geral. Considero assim que o chefe-de-fila é a aposta da equipa para o seu objetivo delineado, seja a geral ou qualquer outra classificação.

Olhando para as equipas portuguesas na Volta a Portugal que está à porta, há duas que têm chefes-de-fila facilmente identificáveis. A LA-Antarte tem Hugo Sabido e a Rádio Popular-Onda tem Daniel Silva, dois candidatos à vitória na classificação geral. Já na Efapel-Glassdrive, há pelo menos Rui Sousa e Hernâni Brôco a poderem atacar a geral e talvez Arkaitz Durán. Poderá haver uma aposta clara dentro da equipa, mas não é de conhecimento público. E na OFM-Quinta da Lixa, Banco BIC-Carmim, Louletano-Dunas Douradas não se perspetiva que haja um chefe-de-fila, nem para a geral, nem para outra classificação. Mas qual a importância de ter chefe-de-fila?

Estando as duas etapas teoricamente mais influentes para as contas finais da Volta no antepenúltimo (Torre) e penúltimo dias (crono), é de esperar que os candidatos à vitória não gastem muitos cartuchos antes disso. Porém, nenhuma equipa se deverá arriscar a esperar por esses dias para "fazer a Volta".

Apesar de LA-Antarte e Rádio Popular terem cada uma um ciclista que pode vencer a Volta e não mais do que um (por isso não há dúvidas quanto à liderança), nem eles nem ninguém parte para esta Grandíssima com um favoritismo tão claro como Chris Froome no último Tour ou Bradley Wiggins e Vincenzo Nibali no último Giro. Estas equipas devem então, desde o primeiro dia, lutar por vitórias em etapa, sem deixar os seus líderes desprotegidos mas tentando colocar ciclistas em fuga todos os dias.

Já no caso de uma equipa como a Efapel, a melhor estratégia poderá passar por começar sem um chefe-de-fila em torno de quem todos se juntem. Ciclistas como Rui Sousa e Hernâni Brôco deverão ter o apoio dos seus colegas desde o primeiro dia, mas isto não quer dizer que a Efapel se tenha que privar de entrar em fugas durante os primeiros dias. Realço que não deve faltar apoio aos dois ciclistas com mais sólidas hipóteses de lutarem pela vitória final, mas existindo oportunidades para isso, poderão tentar colocar um ciclista em fuga. Até porque este ano não têm um sprinter que ofereça tantas garantias quanto Sérgio Ribeiro nos últimos anos.

Nos casos da OFM, BIC e Louletano, que não têm um claro candidato à vitória nem um sprinter que ofereça grandes garantias (nenhuma equipa portuguesa tem), ninguém está ancorado à obrigação de permanecer junto de ninguém durante todas as etapas. Claro que ciclistas como David Livramento ou Eduard Prades, que poderão obter bons rendimentos nas etapas mais montanhosas, deverão poupar-se nas restantes e contar com algum apoio, mas não devem as suas equipas ficar tão limitadas como noutros anos em que tinhas os grandes candidatos à vitória, David Blanco e Ricardo Mestre/André Cardoso.

E no caso dos tavirenses, têm um diretor desportivo que já venceu quatro Voltas a Portugal mas também sabe correr sem chefe-de-fila. Em 2006, sendo uma equipa modesta, venceram três etapas, a classificação da juventude, a da montanha e tiveram um dia de camisola amarela. A vitória do Martin Garrido e a classificação da juventude do Mestre deveram-se sobretudo à capacidade física dos ciclistas. Mas as etapas vencidas por Mestre e por Krassimir Vassilev e a classificação da montanha foram em grande parte fruto da liberdade que os ciclistas tinham, por não estarem presos a um chefe-de-fila.

Pode então concluir-se que a existência de um chefe-de-fila definido desde a partida não é garantia nem requisito para uma estratégia bem-sucedida. E a sua existência não significa que todos os seus colegas tenham que se sacrificar todos os dias por si.

Muito mais importante é reconhecer as capacidades e limitações da equipa, traçar objetivos adequados a elas e delinear a estratégia mais indicada para lá chegar. À capacidade de usar da melhor forma os recursos disponíveis chama-se eficiência e uma equipa com menor qualidade física pode fazer uma grande Volta graças a um diretor desportivo eficiente, enquanto uma equipa repleta de bons ciclistas pode fracassar pela ineficácia de um mau diretor desportivo ou por confiar a estratégia da equipa a alguém que deveria limitar-se a conduzir o carro de apoio. Na Volta ou em qualquer corrida do mundo.

8 comentários:

  1. Excelente ponto de discussão mais uma vez, mas acho que falta um outro aspecto. Mais do que a questão de ter ou não ter um chefe de fila e de isso poder dar mais ou menos liberdade aos "jokers" da equipa que acabam por fazer boas prestações, na Volta existe a "tradição" de se empurrar toda a responsabilidade para uma equipa (lembremo-nos da Maia, da Liberty e agora da Efapel). É raro haver mais do que uma formação disposta a assumir a corrida, e acho que isso tem mais impacto nas vitórias inesperadas do que a existência do chefe-de-fila. A sorte do Tavira e do Ricardo Mestre foi só terem tido a amarela por um dia, senão lá se iam o resto das etapas. E em 2005 foi o que bem se viu, a Liberty a tentar controlar todos aqueles que conhecia e o Efimkim a desaparecer Serra acima.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. sorte do tavira ....e bem mais fácil controlar a corrida do que a atacar.de sorte não tem nada

      Eliminar
  2. José o Tavira sempre mostrou competência para comandar o pelotão e fazer a perseguição que lhe era exigida, em 2010 o Blanco esteve de amarelo desde a Sra da Graça e aguentou até ao fim e a equipa foi muito competente. Mesmo no ano passado, na etapa da Sra da Graça fizeram grande parte da etapa na frente, mas o coitado do Mestre caiu bem na frente do pelotão.

    Já agora Rui pessoalmente acho que a nível de sprinters nas equipas portuguesas pelo menos o Filipe Cardoso dá boas garantias, tal como o Sérgio fazia nos anos passados. Só está em desvantagem por a sua equipa estar delineada para a geral e não para os sprints, por exemplo o Marco Cunha que poderia lançar o Filipe não vem à volta.

    ResponderEliminar
  3. as vezes só dizes asneiras... Atenção, não me refiro particular-me a este artigo. falo no geral

    como se diz em linguagem "futebolista" falta-te conhecer o cheio do balneário.
    falta-te conhecimento no terreno, para que tenhas capacidade para emitir algumas opiniões com "sabedoria".
    já foste ciclista? acho que não :)
    vais assistir ao vivo as competições?


    é impressão ou são muitos poucos os ciclistas que ligam/"aplaudem" ao teu trabalho. será por causa das criticas que fazes? acho que não... não criticas toda a gente.
    é mais por falta de experiência. és daqueles que anda "nisto" à meia dúzia de anos e acha que sabe tudo.

    ResponderEliminar
  4. Oh Pinto deixa lá que tu em questões de português também deixas muito a desejar....diz-se linguagem "futebolística" e não "futebolista" que é um termo que não se adequa....ah espera aí secalhar és um dos Directores de alguma equipa portuguesa e não gostaste que colocassem em causa a eficiência do teu trabalho...ou da tua condução...porque da táctica que dás aos teus ciclistas não "pescas" nada......

    ResponderEliminar
  5. Caro "Carro Vassoura", sempre apoeie as suas crónicas desde que as produz. E volto a concordar, especialmente com uma coisa aqui: não é preciso um chefe-de-fila exato para se fazer uma boa volta (como é o caso das equipas OFM, Tavira e Louletano). E acredito também que estas equipas que vocês estam a dizer que não tem um chefe-de-fila irão ter uma boa prestação. Obrigada por publicar as suas crónicas aqui no "carro vassoura", e continue o bom trabalho.

    ResponderEliminar
  6. Obrigado pelos comentários!

    José, certo. Pretendo que o artigo tenha um carácter mais global, utilizando exemplos desta Volta a Portugal apenas para o enriquecer. Por isso não fui a fundo nas questões que são (quase) exclusivas do ciclismo nacional, como a passagem da batata quente tantas vezes vista.

    Davide, não digo que não seja um bom sprinter. Mas não tem o favoritismo que noutros anos teve o Cândido Barbosa ou o Sérgio Ribeiro que, existindo alguma pequena dificuldade no final, era o claro favorito. E mesmo nas etapas planas poderiam disputar a vitória. Ciclistas como o Filipe Cardoso, Samuel Caldeira, Bruno Sancho e outros de equipas estrangeiras parecem-me muito equilibrados entre si. Continuação de boa escrita para ti, Davide.

    Pinto, deve ser impressão sua.
    http://carrovassoura.blogspot.pt/2013/04/inquerito-carro-vassoura.html
    E quanto ao feedback de ciclista e ex-ciclistas, acredite, tem sido muito bom.

    Anónimo (07/08,12h31), também acredito que essas equipas têm ciclistas para fazer uma boa Volta.

    Cumprimentos!

    ResponderEliminar
  7. Caro Rui,

    Como amante do ciclismo que certamente é, e dado, que este Blog é das poucas coisas que de bom que existe no ciclismo português, gostaria que publicasse este documentário sobre o meu grande ídolo e melhor ciclista de todos os tempos: Joaquim Agostinho

    LINK: http://www.youtube.com/watch?v=Wxk5GEGtvkI

    Obrigado

    ResponderEliminar

Share