sábado, 26 de outubro de 2013

Volta a França 2014: percurso

O regresso do Hautacam
A Volta a França do próximo ano foi desenhada para manter o equilíbrio até ao final, altura em que se disputará o único contrarrelógio da prova, com 54 quilómetros. Bom, é um contrarrelógio longo mas será o Tour com menos quilómetros de crono (entre individuais, coletivos e prólogos) desde a década de 1930 (dizem).

O Tour 2014 começará na Inglaterra, em Leeds, sete anos depois de Londres. A primeira etapa será plana e tanto os ingleses que estão a pagar como os franceses que estão a receber vão cruzar os dedos para que vença Cavendish. A segunda etapa já será mais acidentada, com um algumas rampas que não serão suficientes para ataques dos homens da geral mas deverão deixar alguns sprinters fora de combate. A terceira etapa, outra que deverá ser para sprinters, terminará em Londres, e daí o pelotão rumará a França.

A quarta etapa será totalmente francesa mas a quinta já começará na Bélgica, para terminar em Arenberg, a etapa dos pavés já aqui falada. Esperando que essa etapa não deixe baixas, seguem-se duas jornadas que levarão os ciclistas até aos Vosges, onde enfrentarão as primeiras etapas para trepadores. São três subidas nos últimos 25 quilómetros, a última delas de apenas 1800m de extensão mas a mais de 10% de inclinação média. A nona etapa terá os Vosges na fase inicial mas o final será mais tranquilo e a nona, a última antes do descanso, será de constante sobe e desde. Terminará em La Planche des Belles Filles, onde Froome se impôs a Evans e Wiggins em 2011, mas desta vez será antecedida de cinco subidas, em vez de apresentar um percurso acessível até à ascensão para a meta como há dois anos. Então teremos o primeiro dia de descanso.
8ª e 10ª etapas, na cadeia dos Vosges
Depois de dez dias seguidos na "primeira semana", entre os dois dias de descanso apenas haverá cinco etapas. Pelo meio, os Alpes, reduzidos a duas etapas mas duas chegadas em alto. E que chegadas!

Primeiro, na sexta-feira, será a chegada a Chamrousse. O nome pode não dizer nada, pois esta será apenas a segunda vez que receberá um final de etapa do Tour, mas a subida a Chamrousse tem 18 km de extensão a 7,3% de inclinação média. Em 2001 recebeu uma crono-escalada, onde Lance Armstrong venceu com um minuto sobre Jan Ullrich. E no sábado será a chegada a Risoul. Os ciclistas terão que ultrapassar o Col du Lautaret e o histórico Col d'Izoard para chegarem a Risoul. É uma estreia no Tour e talvez por isso o nome não lhe diga nada, mas foi lá que terminou o Critérium du Dauphiné deste ano, e onde Quintana venceu a Volta a França do Futuro em 2010, vencendo lá uma etapa em linha e uma crono-escalada.
13ª e 14ª etapas, nos Alpes
Na terceira semana haverá Pirenéus. Primeiro com a passagem pelo Port de Balès a 20 quilómetros da meta de Bagnères-de-Luchon, repetindo aquele final em que a corrente de Andy Schleck saltou à frente de Contador sem que o espanhol visse. Nessa altura os dois eram candidatos à vitória no Tour e, embora pareçam tempos muito distantes, foi em 2010. 

À 17ª etapa, chegada em Pla d'Adet, uma das etapa mais montanhosas deste montanhoso Tour. Serão três contagens de montanha mais a final, menos duas que em 2005, e também menos 80 quilómetros (de 205 para 125). Nesse que foi o último final de etapa do Tour em Pla d'Adet, venceu George Hincapie, numa das maiores chupa-rodices dos últimos largos anos. Hincapie ia numa fuga de catorze ciclistas dos quais Oscar Pereiro era o mais forte. O espanhol descarregou todos os seus adversários, excepto Hincapie, que nunca colaborou apoiado na desculpa de ter lá atrás Armstrong, e que no final venceu. Depois dessa etapa (e do 14º lugar na geral), houve quem acreditasse que Hincapie poderia disputar os primeiros lugares do Tour seguinte.

E no dia seguinte haverá chegada ao Hautacam, pela quinta vez na história do Tour. Primeiro o Tourmalet, depois a duríssima subida ao Hautacam, onde já venceram Luc Leblanc (94), Riis (96), Javier Otxoa (2000) e Juanjo Cobo (08).

Debaixo de chuva, Javier Otxoa entrou na subida final isolado, com oito minutos sobre um grupo com gente como Virenque, Heras, José María Jiménez, Escartín ou Beloki e dez sobre o grupo de Armstrong. Pantani atacou com Zülle e Armstrong, depois o norte-americano passou para a frente, chegou sozinho ao grupo de Virenque, passou e terminou a 42 segundos de Otxoa, numa das mais impressionantes performances da carreira de Armstrong. A carreira de Otxoa como era terminaria poucos meses depois. Em fevereiro de 2001 um acidente levou-lhe o irmão gémeo Ricardo e deixou-o em coma. Os médicos disseram à família que não havia hipóteses de sobreviver, mas outro irmão, Andoni, perguntou o que significava "nenhuma hipótese". Pediu que lhe desse uma percentagem e responderam-lhe que uma num milhão. "Essa é a mesma hipótese que alguém tem de vencer uma etapa de montanha no Tour e o meu irmão conseguiu", respondeu. Em 2004 e 2008 Javier Otxoa conquistou três títulos paralímpicos.
16ª, 17ª e 18ª etapas, nos Pirenéus
A décima nona etapa será de transição e a penúltima um longo contrarrelógio de 54 quilómetros, entre Bergerac e Périgueux. Em sentido contrário (e com 64 km), Miguel Indurain venceu em 94. Mais do que isso, arrasou, deixando o segundo classificado (Rominger) a dois minutos. E o terceiro classificado a 4'45''. Porque com Indurain era assim.

Estas são histórias do Tour. Os organizadores do Giro decidiram recuperar este ano alguns finais em que Pantani brilhou para homenagear o italiano (em fevereiro fará 10 anos da sua morte). As chegadas a Chamrousse, Pla d'Adet e Hautacam parecem homenages a Armstrong e a sua equipa. Não o são, mas é impossível separar Armstrong e a história do Tour.

Para finalizar, chegada a Paris.

A nove meses da prova, Chris Froome perfila-se como o mais forte candidato, seguindo de Vincenzo Nibali. O favoritismo destes dificilmente seria alterado pelo percurso, fosse ele qual fosse, ainda que Froome seja mais forte no contrarrelógio (principalmente aí). Mas depois há Quintana e Joaquim Rodríguez, que poderão dar luta a Froome na montanha mas muito dificilmente no contrarrelógio.

Ao deixar o único contrarrelógio para o penúltimo dia, a organização poderá conseguir que na montanha haja uma intensa luta pela vitória, pelo pódio e pelos vários lugares de top-10, que é o que interessa. Tudo será decidido no penúltimo dia, mas desta forma na montanha deverá mais haver mais gente a forçar os seus adversários, em vez da habitual divisão entre os que forçam e os que tentam segurar a vantagem adquirida no crono.

Mesmo assim, talvez cheguem ao primeiro final em alto, Froome arranque e abra logo uma significativa diferença, mas pelo menos as expetativas são boas. Ou então acontece como em 99 (bem lembrado nos comentários à crónica anterior). Aquele que seria o principal adversário (que aqui poderá ser Nibali ou Quintana) perde o Tour logo nos pavés, como aconteceu com Zülle na Passage du Gois.

2 comentários:

  1. eu gosto muito desta modalidade tenho 15 anos e alem do futebol gosto de ver outras e esta e uma das que me apaixonas por testar os limites do homem e por dar espetaculo. Nao vou dizer os meus favoritos mas esta bastante bom este artigo. parabens :)

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  2. Rui, gostava de saber a tua opinião sobre estas etapas que não começam, passam ou acabam em França...como pode ser chamado de Tour de France?

    Outra coisa que tenho notado nos últimos anos, na minha opinião, é a perda de espectacularidade do Tour fase ao Giro e à Vuelta, e isto só não é mais notado porque a máquina publicitária do Tour é muito maior. Achas que isto tem acontecido e que o percurso do ano que vem tenta trazer novamente o Tour como a melhor volta por etapas do Mundo?

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