quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pavés no Tour: quem sairá favorecido?

Em 2010, Cancellara arrancou com Andy Schleck na roda e apenas Evans, Hushovd, Thomas e Hesjedal seguiram 
Uns passaram pelo Critérium du Dauphiné, outros escolheram a Suíça, outros a Route du Sud, a Volta à Eslovénia ou o Ster ZLM Toer. Caminhos diferentes que levarão 198 ciclistas a juntarem-se dia 5 de julho em Leeds para o começo da Volta a França. E se nenhum incidente assim o impedir no dia 9 estarão a percorrer alguns dos setores de pavé do Paris-Roubaix, dia que muito se aguarda.

Para fazer prognósticos sobre a luta pela classificação geral, costumamos tentar prever o que se passará nas montanhas e nos contrarrelógios, mas para este ano temos esta variável, o dia dos pavés. Em 2010, Andy Schleck e Cadel Evans ganharam tempo importante a todos os favoritos, Hesjedal ganhou o tempo que lhe permitira ser sétimo à frente de Purito e Kreuziger, Frank Schleck abandonou de clavícula fraturada. O que poderá acontecer este ano?

A aproximação dos setores

Não é apenas o tempo a pedalar sobre as pedras que faz estragos, mas também a aproximação. Todas as equipas têm alguém que querem colocar na frente e a guerra será intensa. Aliás, foi na aproximação ao primeiro setor de pavé que Iban Mayo ficou afastado da disputa do Tour 2004.

Quase todas as equipas têm alguém com aspirações à geral, seja um candidato à vitória, um candidato ao top-10, ou o que quer que seja que tem que estar na frente e terá um ou dois colegas para o ajudar. Em casos como a Sky ou a Tinkoff, talvez três ou quatro e só não metem a equipa toda porque alguns ciclistas pouco ou nada podem ajudar e será preferível evitar riscos desnecessários. Querem colocar na melhor posição os líderes mas reconhecem que não é benéfico causar demasiado tráfego.

Outras equipas querem lutar pela etapa e vão colocar muita gente, como são os casos da Cannondale de Sagan ou da Giant de Degenkolb. Da Trek de Cancellara tem esta etapa marcada como objetivo.

Existem também formações que jogam em ambos os tabuleiros, o da etapa e o da geral. Como a Omega Pharma que tem Terpstra para a etapa e Kwiatkowski para a geral, a Belkin tem Vanmarcke para um objetivo, Mollema para outro, a BMC tem Van Avermaet e Van Garderen… É muita gente para colocar na frente e a aproximação aos pavés será um pânico.

A importância das equipas

As equipas serão importantes mas não fazem milagres. Para ciclistas como Froome, Contador, Nibali e quase todos os candidatos ao top-10 falta experiência sobre os pavés e por isso será muito importante o apoio das suas equipas na aproximação e dentro dos setores. Da mesma forma que precisam de Geraint Thomas ou Daniele Bennati para os colocar na frente do pelotão nos últimos quilómetros de uma etapa plana, necessitarão aqui.

Estes são alguns exemplos mas muitos mais poderiam ser dados, pois somente Michal Kwiatkowski tem experiência nas provas flamengas e só Rui Costa tem experiência em Roubaix. Ainda assim, requererão o apoio dos seus colegas.

Quando estiverem sobre as pedras, nos estreitos setores que colocam o pelotão em fila única, cada um terá que suportar o ritmo com as suas pernas e a trepidação com os seus braços (e não só). Os colegas ajudam a garantir o melhor posicionamento mas não os levam presos por uma corda. Se equipas como a Omega ou a Trek decidirem fazer estragos, ou se alguma outra equipa com interesses na geral procurar surpreender, veremos o que vale cada um dos homens-Tour sobre o pavé.

E o que valem Froome, Contador e os outros sobre o pavé?

Muito se tem teorizado sobre quem levará a melhor no pavé, geralmente baseando as teorias no peso. Diz-se que os mais pesados andam melhor sobre o pavé, mas em 2010 quem mais beneficiou com a etapa de pavés foi Andy Schleck, um exemplo de extrema magreza. O dia correu bem a Andy porque quando Cancellara acelerou estava logo na sua roda, mas o irmão Frank também estava entre os dez da frente e foi ao chão, partiu a clavícula e terminou ali o Tour.

O favoritismo também poderia ser atribuído em função da altura. No top-10 do último Paris-Roubaix a média de altura é de 1,86m, desde os 1,79 de Sebastian Langeveld aos 1,92 de Tom Boonen. Nos últimos cinco pódios da prova a altura média foi de 1,87. Alguém reparou nisso? Enfim, podem fazer teorias com base em muitos aspetos, mas ainda não vi nenhuma que me convencesse e não vou tentar antever o desempenho de Froome, Contador, Nibali, Costa, Valverde, Talansky nem Van Garderen ou quem quer que seja com base no peso nem na altura.

A melhor maneira de perspetivar o futuro é analisando o passando e neste caso não há prestações passadas no pavé dos principais candidatos a este Tour. E nas poucas participações que houve, como a de Rui Costa em Roubaix, os objetivos eram distintos. Não há nada que nos indique se alguém é bom ou mau.

Conclusão

Teorias haverá muitas, umas vão acertar, outras vão falhar. Se repetissem a etapa dez vezes, penso que os resultados seriam muito diferentes e basta ver as últimas edições do Paris-Roubaix para ver a quantidade de ciclistas que num ano está a lutar pelo pódio e no outro está completamente fora da discussão porque caiu, furou ou ficou preso num momento nada oportuno.

O meu palpite é que algum candidato ao pódio verá as suas hipóteses reduzidas a cinza nesta etapa vítima de azar. Se tudo correr bem, será um palpito falhado, ninguém cai e ninguém fura. Dia 9 de julho veremos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Share