domingo, 14 de setembro de 2014

A terceira Vuelta de Contador

Foi espetacular a chegada a Ancares, ainda que a classificação geral estivesse desde cedo decidida, pois a etapa não oferecia condições necessárias para provocar mudanças entre os primeiros. Froome estava a 1'19'' de Contador e perdeu mais 18'', Valverde estava a 13 segundos e perdeu 44, Rodríguez estava a 57 de Valverde e perdeu mais 25, Aru estava a 46 de Purito e perdeu mais três. Por aqui se percebe que os primeiros lugares já estavam corretamente ordenados e que as diferenças feitas no sábado seriam (e foram) estreitas quando comparadas às distâncias que já tinham sido construídas.

Mas foi uma etapa atrativa, a começar pelo ataque de Joaquim Rodríguez, que não obteve o resultado que procurava mas fez o que tinha a fazer, sendo mais agressivo do que em qualquer outra etapa até então. Alejandro Valverde também não deixou as suas responsabilidades por mãos alheias, assumindo a perseguição, e Chris Froome jogou pelas suas escassas (escassíssimas opções de vencer). Mesmo que gostemos sempre de acreditar que tudo está em aberto até ao final, para Contador perder a liderança em Ancares teria que chegar depois de Aru. E Alberto Contador já tinha demonstrado ser o melhor neste Vuelta.

O blogger do The Inner Ring, blogue nº1 mundial no que toca ao ciclismo internacional e nada polémico (nada mesmo), escreveu no último dia de descanso que "já se construíram milagres religiosos por menos", referindo-se à "ressurreição de Alberto Contador desde uma perna fraturada até às pernas mais fortes de Espanha". Da minha parte também já disse o que acho da preparação de Contador para chegar a este soberbo momento de forma. Ou poderemos ainda acreditar na versão da Marca, O Milagre do Pistoleiro. Mas milagres é coisa de fé, não a minha área. Contador ganhou a geral e duas etapas, tal como Majka ganhou a montanha e duas etapas no Tour, ambos sem treinar. Que acredite quem consiga.

No Tour Péraud, Pinot e Bardet foram muito agressivos na luta pelo pódio, atacando a subir e a descer. Essa agressividade não se viu em Froome, Valverde ou Purito (exceto no sábado) mas poucos erros se podem apontar a qualquer um deles. Perderam para alguém que foi bastante superior.

O que sim deve ser notado foi a fraca prestação de Froome no primeiro contrarrelógio, deixando 53 segundos para Contador num terreno que é o seu. E já no contrarrelógio coletivo inaugural a Sky tinha perdido 8 segundos para a Tinkoff, passando por isso a barreira de um minuto ainda na primeira metade da Vuelta. E foi aí por aí que Contador começou a vencer Froome.



Contador aponta para o joelho. Chris Horner também teve problemas no joelho antes de ganhar a Vuelta 2013
Quando chegaram às etapas mais duras Contador apenas tinha que seguir na roda de Froome e aproveitar o trabalho do britânico para depois rematar. Foi o que fez na etapa rainha de Farrapona e na de Ancares. Bastante semelhante ao que fez a Ezequiel Mosquera em Fuentes de Invierno em 2008, quando seguiu na roda do galego, deixou este descarregar toda a concorrência (Valverde, Sastre, Rodríguez) nunca saindo da roda e no final arrancou para a vitória de etapa, muito criticado pelo diretor desportivo Álvaro Pino. Mas isto é alta competição, não há favores e não têm que existir ofertas. Froome puxou porque tinha que o fazer, Contador seguiu na roda porque tinha que o fazer e no final venceu porque podia. Houve ocasiões em que o madrileno ofereceu etapas. Ofereceu uma a Tiralongo no Giro 2011 porque eram ex-colegas e amigos, ofereceu uma a Rujano na mesma prova a troco de colaboração e já antes tinha oferecido uma a Andy Schleck no Tour 2010 para se desculpar por ter atacado o luxemburguês quando este teve um problema mecânico. Mas no sábado Contador não tinha motivos para oferecer a etapa ao seu rival, rival aqui e possivelmente no próximo Tour.

Fabio Aru foi um dos ciclistas mais destacados, com duas etapas e um quinto lugar que se somam à etapa e ao terceiro posto do Giro. Warren Barguil outro jovem soberbo nestas três semanas, que foi oitavo, atacou muito e ainda ajudou no lançamento de sprints de John DegenkolbO sprinter alemão leva quatro etapas, menos uma que em 2012, mas desta feita leva também a classificação por pontos. E posiciona-se como um dos grandes favoritos ao título mundial dentro de duas semanas.

No tocante aos sprints destacaram-se ainda outros dois jovens que já são valores seguros: Nacer Bouhanni com duas vitórias e um segundo lugar e Michael Matthews com uma vitória e dois segundos lugares. Também estão com o foco em Ponferrada.


Os abandonos fazem parte do ciclismo e nesta Vuelta Quintana e Urán tiveram a mesma sina que Contador e Froome no Tour ou Rodríguez no Giro. Mas as provas fazem-se com quem lá está. Ainda assim, uma menção especial merece o holandês Robert Gesink. Realizou uma operação ao coração em maio, em agosto foi oitavo na Polónia e agora era sétimo na Vuelta quando faltavam apenas quatro etapas. Viu-se levado a desistir para acompanhar a esposa grávida e hospitalizada. 

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