domingo, 13 de setembro de 2015

Aru sobreviveu ao crono para vencer no último assalto

Tão perto fica a vitória da Vuelta do sexto lugar, pelo menos para Tom Dumoulin. Pelo meio, ficam a Morcuera e Cotos, onde Fabio Aru fez a diferença para conquistar a sua primeira grande volta.

Esta era uma prova com um percurso pobre. Pobre em diversidade, não oferecendo anda de novo, e pobre em dificuldades, e apenas por isso se manteve tão renhida até à penúltima etapa. Quanto menos montanha, menos diferenças, ou seja, maior equilíbrio. Assim chegaram à penúltima etapa com apenas quatro minutos a separar o primeiro do nono classificado. Que a etapa rainha (Andorra) tenha apenas 138 quilómetros, diz muito.

Outro aspeto relevante é a falta de Alpes, tão decisivos no Giro e no Tour, e a escassez de Pirenéus. Sem subidas longas, torna-se a Vuelta a grande volta mais propícia a surpresas, porque existe uma abismal diferença entre subidas de vinte quilómetros ou subidas que, por muito inclinadas que sejam, não chegam ao dez de extensão. São duras, mas é uma dureza diferente.

As etapas que se seguiam ao contrarrelógio não eram propícias a diferenças entre trepadores, mas a diferença era de apenas 3 segundos entre Fabio Aru e Tom Dumoulin, tendo o holandês perdido três minutos para o italiano durante a segunda semana, 2'50'' para Purito. Dumoulin, repito, aproveitou a apatia dos favoritos na primeira semana e aproveitou os seus exímios dotes de contrarrelogista para liderar até tão próximo de Madrid. Subiu muito bem, é jovem, pode evoluir, foi a grande surpresa desta Vuelta, mas ainda não demonstrou capacidade para subir próximo dos melhores trepadores ao ponto de ser candidato ao pódio ou aos cinco primeiros do Giro e Tour. É, isso sim, natural que continue a evoluir.

Com uma diferença tão exígua, Fabio Aru tinha que tentar, foi o que fez e saiu vitorioso. A Astana esteve taticamente perfeita na etapa da serra de Madrid, ao colocar corredores na fuga do dia, precavendo qualquer eventualidade. A Giant não o fez, mas também não seria isso a salvar a vitória. Talvez tivesse servido para salvar o quinto lugar, mas não a vitória, e Tom Dumoulin foi o primeiro a admiti-lo, logo no final da tirada, demonstrado muita lucidez. Disse ele que, depois de ficar para trás na Morcuera, a Vuelta estava perdida, porque mesmo que reentrasse, cederia na última subida. Também notar que a Giant não estava nesta Vuelta com uma equipa preparada para a luta pela vitória na geral, mas sim para lançar John Degenkolb para os triunfos de etapa. Em 2011, quando Thomas Voeckler estava a lutar pelo pódio no Tour, toda a Europcar apareceu a subir o Télégraphe e o Galibier como trepadores, mas a Giant não fez semelhante magia.

O segundo lugar da geral é para Joaquim Rodríguez. Poderia dizer que nunca venceu uma grande volta e nunca o fará, mas "apenas" tem 36 anos anos e não se sabe quantos mais durará ao mais alto nível, tal como o seu compatriota e companheiro geracional Alejandro Valverde (35). Espanha é, como se sabe, um dos melhores locais da Europa para a reforma. Rodríguez é - sempre foi - muito mau contrarrelogista, e tem tentado vencer uma grande volta à base de ataques de 200m. Assim é difícil.

O pódio fica completo com Rafal Majka, que no Tour não se apresentou na melhor forma (apesar de ter vencido uma etapa). O polaco optou por se poupar em França, onde teria que trabalhar para Contador, de modo a estar em melhores condições na Vuelta, aí sim com maior liberdade. Felizmente para ele e para a equipa Tinkoff, não se retiraram após o choque de Paulinho com a moto da RTVE, tal como o patrão Tinkoff tinha ameaçado.

Quarto posto para Nairo Quintana, que perdeu a Vuelta num dos dias decisivos: o primeiro dia de descanso. Correu muito mal ao colombiano, que no dia seguinte apareceu com grandes febres e cedeu três minutos para Fabio Aru em Andorra. Muito melhor correu o segundo dia de descanso, na véspera do contrarrelógio. Um crono vencido com média superior a 50 km/h, onde Alejandro Valverde foi terceiro e Nairo Quintana. No final, 1'42'' separaram Quintana do triunfo na Vuelta.

Quinto Esteban Chaves, sexto Tom Dumoulin. Top-10 fechado por Louis Meintjes, primeiro top-10 da MTN-Qhubeka numa grande volta, onde venceram também uma etapa através de Kristian Sbaragli. Muito bem no que toca a etapas esteve também a Trek, com uma para Jasper Stuyven, outra para Danny Van Poppel e finalmente uma, numa grande exibição, para Frank Schleck. Mas melhor mesmo foi a exibição de Ruben Plaza na serra de Madrid, com 117 km a solo. Depois de alguns anos apagado, Plaza reaparece no seu melhor e vence este ano no Tour e na Vuelta. Curiosamente, também está sem contrato para 2016.

A chegada a Madrid foi para um dos melhores da temporada. Se a classificação geral foi para um dos melhores voltistas da temporada, com Aru a somar a camisola vermelha ao segundo posto no Giro, a etapa foi para um dos melhores classicomanos do ano, o vencedor da Milano-Sanremo e do Paris-Roubaix, John Degenkolb.

Muito bem estiveram Nelson Oliveira e José Gonçalves, lutando continuamente por vitórias de etapa. Nelson Oliveira conquistou uma mas não alterou a sua postura e depois disso ainda foi segundo noutra. José Gonçalves foi do princípio ao fim, tendo sido prémio da combatividade na primeira etapa em linha e segundo classificado na penúltima. Um segundo, um terceiro e dois quintos postos.

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A fechar a noite, Rui Costa foi terceiro no GP de Montreal. Apesar da transmissão televisiva afetada pelas más condições climatéricas impossibilitar o melhor acompanhamento da prova, a vitória foi decidida ao sprint entre Tim Wellens, vencedor do Eneco Tour no mês passado, e Adam Yates, vencedor da Clásica San Sebastian. Rui Costa assumiu as suas responsabilidades no grupo perseguidor no último quilómetros, não foi possível fechar o espaço para o duo, mas ficou com a terceira posição e respetiva subida a um pódio que bem conhece (vencedor em 2011, 2º em 2014). Wellens foi o vencedor.

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