segunda-feira, 27 de junho de 2016

Tour 2016: Quem pode bater Chris Froome?

A esperança, o desejo, o sonho de uma Volta a França equilibrada fazem-nos acreditar que, talvez, nalguma eventualidade, alguém possa chegar ao nível de Chris Froome. A realidade, dura, mostra que apenas uma quebra de Froome pode levar a algo que não a sua vitória. Desde 2012, Froome foi o melhor em todos os Tours que completou e nenhum dos seus adversários para as próximas três semanas alguma vez esteve a um nível semelhante ao melhor do britânico.

(nota prévia: ainda nem todas as equipas estão oficializadas e poderá haver alguma mudança no decurso da semana)


Chris Froome

Em 2013 Chris Froome fez uma temporada estrondosa: vencedor na Volta a Omã, Critérium Internacional, Romandia, Critérium du Dauphiné e Tour de France. Apenas não venceu o Tirreno-Adriático e foi porque se distraiu numa rampa, com o piso molhado. Isso, juntamente com o sua pedalada tão elegante quanto um homem de saltos altos a subir numa calçada portuguesa, criou a ideia de que a sua debilidade seria a descer, mas no Tour do ano passado viu-se a descer na frente dos seus adversários.
2014 foi um ano marcado por quedas, problemas de saúde e ausências de provas à última hora, mais uma queda no Tour e uma Vuelta disputada contra Alberto Contador, sendo que ambos tinha abandonado o Tour, nenhum tinha feito a preparação ideal para a prova espanhola, mas Contador tinha a vantagem de ter uma "fratura na perna" e já se sabe que, quanto mais doente, melhor.
Já em 2015 Froome esteve um pouco inferior ao nível de 2013, vencendo apenas Volta à Andaluzia e Critérium du Dauphiné, permitindo inclusive sonhar com um Tour mais equilibrado, mas bastou chegar à primeira etapa de montanha para que esse cenário se evaporasse.
Para o Tour que se avizinha, Froome seria favorito mesmo que não tivesse corrido nada e o calendário que fez mostrou isso mesmo, que não importa o que corra. Venceu o Herald Sun Tour, uma prova disputada na Austrália para ciclistas de lá, não correu Omã, Algarve, Andaluzia, Paris-Nice ou Tirreno-Adriático como os seus rivais, depois foi 8º na Catalunha, foi 38º na Romandia (com uma fantástica vitória de etapa, debaixo de chuva) e agora venceu o Critérium du Dauphiné.
É o principal favorito para o Tour de France e tem ao seu lado Sergio Henao, Mikel Landa, Mikel Nieve, o agora trepador Geraint Thomas e Wout Poels.


Nairo Quintana

Nairo Quintana foi o único que em 2015 se colocou entre Chris Froome e os mortais e este ano já venceu Volta a Catalunha e Romandia, sendo terceiro no País Basco pelo meio. Para preparar o ataque à Volta a França, opta mais uma vez por passar apenas pela Route du Sud (vitória na geral), saltando Dauphiné e Suíça. Desde 1983 (Laurent Fignon) que ninguém vence o Tour sem ter disputado Giro, Dauphiné ou Suíça.
O seu ponto menos bom é o contrarrelógio mas para seu alívio apenas existe um. E parece que tem melhorado nos últimos tempo. Prespetiva-se que perca tempo, mas poderá não ser tanto como os três minutos que perdeu para Froome em 2013 (para usar um contrarrelógio plano de distância semelhante, também no Tour).
Ao seu lado terá Winner Anacona, Jesús Herrada, Ion Izagirre, Daniel Moreno e Alejandro Valverde, que no ano passado mostrou ser um companheiro muito dedicado e este ano espera-se o mesmo grau de empenho para com o seu colega, sobretudo depois de alcançado o desejado pódio no Tour e agora o pódio na estreia no Giro.


Fábio Aru

Nos últimos dois anos Fábio Aru tem estado longe de ter resultados semelhantes aos seus rivais em provas de uma semana. De facto, em provas de uma semana, Fábio Aru tem tido resultados dignos apenas de um candidato a top-10 de grandes voltas. Mas quando chega ás grandes voltas, reinventa-se e nas duas últimas temporadas, em quatro provas de três semanas, não baixou no quinto posto: 3º Giro 2014, 5º Vuelta 2014, 2º Giro 2015, 1º Vuelta 2015. Impressionante pela qualidade mas também pela consistência.
Faz a sua estreia na Volta a França e, em teoria, a falta de conhecimento da prova poderá ser uma desvantagem, porque o Tour é especial e por outras teorias. Mas Quintana estreou-se no Tour em 2º e na altura era menos experiente que Aru é agora. São ciclistas excecionais, capazes de coisas excecionais.
A Astana terá em França alguns dos ciclistas que mais se destacaram no Giro e nos últimos anos, como Tanel Kangert e Jakob Fuglsang, mas também Vincenzo Nibali e Diego Rosa, que pode ser a grande revelação deste Tour.


Alberto Contador

Depois de ter anunciado ainda na primeira metade de 2015 que 2016 seria a sua última temporada, Alberto Contador fez aquilo que se esperava e voltou com a sua palavra atrás. Correrá não apenas mais uma época, mas mais duas, e faz todo o sentido. O que não fazia qualquer sentido era anunciar o final da carreira com época e meia de adianto, ainda para mais considerando que na altura (e agora) não demonstra nenhuma quebra de nível. É certo que desde 2012 não tem o nível que tinha antes de estar suspenso, quando ganhava quase todas as provas em que entrava e as etapas de montanha como bónus. Mas desde que regressou da suspensão Contador tem estado num nível bastante alto e parece-me perfeitamente capaz de vencer o Giro ou a Vuelta, ainda que para o Tour me pareça curto, porque a concorrência é maior e melhor. De qualquer forma, tem tudo para ser um dos maiores destaques, em termos de resultado e de forma de correr.
Em 2016 Contador tem estado nesse mesmo nível que justifica a sua permanência no ativo: 3º no Algarve, 2º no Paris-Nice, 2º na Catalunha e vencedor na Volta ao País Basco. No Critérium du Dauphiné venceu o prólogo-cronoescalada e logo serviu para encher de expectativa a afición que espera que possa fazer o que não faz desde 2010: ser primeiro no Tour (e desde Gino Bartali que ninguém vence o Tour com uma diferença temporal tão grande). Serviu então para fazer o que sempre faz. Estando na liderança, elogiou a vitória de Fábio Aru, porque o italiano já tinha mostrado no prólogo que não estava em forma. E quando perdeu a liderança, fez o de sempre e disse que apenas lá estava para rodar as pernas, um discurso que em nada dignifica os adversários nem as provas mas felizmente poucos ciclistas o adoptam.
Tentará lutar por um lugar no pódio e para o apoiar tem na sua equipa o fiel Roman Kreuziger, que acaba de se sagrar campeão checo, e Rafal Majka.

Tejay Van Garderen

Não é um ciclista de fazer épocas sempre a top como Froome, Quintana, Contador ou Valverde e não está, de todo, a ter a sua melhor temporada: 2º na Andaluzia, 25º no Tirreno-Adriático, 5º na Catalunha, 10º na Romandia, 6º na Suíça. Ainda assim, Tejay Van Garderen é um dos candidatos ao pódio no Tour.
Mas já por duas vezes foi quinto no Tour (2012 e 14) e no ano passado estava a fazer um Tour muito bom até ao segundo dia de descanso, quando foi forçado a abandonar muito doente (malditos dias de descanso!) e a deixar livre o seu terceiro posto na geral. Tudo isso e tudo o que tem feito nos últimos anos suportam a sua candidatura ao pódio, e a recente vitória na etapa rainha da Volta à Suíça aguça as expetativas sobre o que pode fazer na alta montanha diante de Froome e Quintana.


Richie Porte

Saiu da Sky para cumprir o seu sonho de se tornar líder. Na equipa britânica Richie Porte teve uma oportunidade que não conseguiu aproveitar, no Giro 2015, e mudou-se para a BMC sem que alguma vez tenha aguentado três semanas ao seu melhor nível. Mas, na sua nova equipa o objetivo é o Tour, onde partirá com total liberdade a par de Van Garderen e será a estrada a definir o líder.
Foi 2º no Tour Down Under, 3º no Paris-Nice, 4º na Catalunha e 4º no Critérium du Dauphiné. Nunca conseguiu bater os melhores voltistas e os melhores trepadores do mundo, mas se for regular, Richie Porte será um forte candidato a estar no pódio de Paris.


Thibaut Pinot

Quem também tem feito uma espetacular temporada é Thibaut Pinot. Espetacular mas não surpreendente, pois todos os anos o francês tem evoluído e a sua carreira é mesmo um dos melhores exemplos de evolução contínua e sustentada. Para se perceber, em fevereiro foi 3º na Estrela de Bessèges e 4º no Algarve; depois no Tirreno-Adriático 5º (tinha sido 4º em 2015, mas este ano a etapa rainha foi anulada) no Critérium Internacional passou de 2º para 1º, no País Basco de 10º para 4º, na Romandia de 4º para 2º e no Critérium du Dauphiné não repetiu na classificação geral a prestação da Volta à Suíça 2015 (4º) mas ainda assim conseguiu vencer uma etapa. Tem 6 vitórias nesta temporada, a última delas o título francês de crono,  e são números notáveis para um não-sprinter.
A FDJ não é uma superequipa, mas será uma equipa virada para apoiar Pinot, tanto assim é que deixa de fora Arnaud Démare.
O terceiro posto em 2014 foi facilitado pelos abandonos de Contador e Froome, à partida os dois principais candidatos à vitória, mas não me admiraria nada se Thibaut Pinot voltasse a subir ao pódio em Paris. Há outros mais favoritos, mas ele também tem a sua dose de favoritismo. E se ficar arredado da luta muito cedo, irá fazer uso da sua garra para procurar uma etapa. Foi o que fez em 2015 e venceu a chegada ao Alpe d'Huez.


Daniel Martin

Depois de oito temporadas na Garmin e nos seus diversos nomes, Daniel Martin mudou-se para a Etixx-Quick Step e abriu a temporada com uma vitória na Volta à Comunidade Valenciana. Depois foi 3º na Catalunha (+1 etapa) e 3º na Flèche Wallonne mas o maior destaque foi no Critérium du Dauphiné.
Dan Martin foi 3º na mais importante prova das que antecede o Tour e o mais relevante foi a forma como foi batendo Contador, Porte e companhia, sendo a única excepção Chris Froome, o único que esteve melhor que o irlandês nos confrontos diretos.
Não será fácil para Martin estar em boa condição e de pé durante três semanas, mas depois de o termos visto tão bem no Critérium du Dauphiné, fica  a expetativa pelo seu Tour.


Romain Bardet

Sexto em 2014, nono em 2015 com vitória de uma etapa, recentemente segundo no Dauphiné e portador de grandes expetativas por parte do público francês, Romain Bardet. Praticamente tudo o que fez em 2016 foi bem feito ou, pelo menos, meritório.
Abriu o ano sendo segundo em Omã atrás de Nibali, oitavo no Paris-Nice, sexto na Catalunha e em Trentino, segundo no Dauphiné subindo ao ritmo dos melhores trepadores. Regular durante a temporada e em crescente com o aproximar do Tour. Será prejudicado pelo contrarrelógio, mas a combatividade que tem evidenciado poderá ser o antídoto para  contrariar essa debilidade.


Vincenzo Nibali e Alejandro Valverde

Nibali e Valverde chegam ao Tour em situação muito semelhante, satisfeitos com as suas prestações no Giro, com um líder para a Volta a França e a pensarem nos Jogos Olímpicos. Poderão lutar por alguma vitória de etapa, mas o pensamento de ambos deverá estar afastado da luta pela classificação geral.

***** Froome
**** Quintana
*** Aru, Contador e Van Garderen
** Porte, Pinot, Martin e Bardet

À parte destes, surgem muitos outros ciclistas com capacidade para terminar entre os dez primeiros. O problema é que, candidatos à vitória são uma mão-cheia, aos cinco primeiros são dez candidatos e ao top-10 são quase vinte à partida. Uns terão quedas, outros furos em alturas cruciais, outros ficarão nos abanicos, outros ficarão doentes, outros não estarão na sua melhor forma, ou simplesmente encontrarão dez ciclistas melhores.

Os franceses alimentam justificadas expetativas, além de Pinot e Bardet, sobre Rolland e Barguil. Pierre Rolland (Cannondale) tem estado apagado mas foi 10º no ano passado, e Warren Barguil (Giant) acaba de ser terceiro na Volta à Suiça.

Robert Gesink (LottoNL-Jumbo), 6º no ano passado, falhará a prova para recuperar após queda na Suíça, mas os holandeses ainda acreditam em Bauke Mollema (Trek), 7º no ano passado, e Wilco Kelderman (LottoNL-Jumbo), que não sendo um trepador de excelência, poderá ser o suficiente para, com regularidade, terminar no top-10.

Mathias Frank, oitavo em 2015, será o líder da IAM Cycling quando a equipa procura um patrocinador para continuar na próxima temporada, Joaquim Rodríguez será o líder da Katusha mas este ano - finalmente - mostra sinais da idade, a Orica-GreenEdge tem Adam Yates e a Lampre Rui Costa e Louis Meintjes, 10º na última Vuelta e recentemente muito bem no Dauphiné. Sei que, na teoria, Rui Costa tem como objetivo lutar por vitórias de etapas em vez da geral, mas o que significa isso na prática? Para outros ciclistas, como Gallopin, Vuillermoz, Stephen Cummings, Voeckler ou Albasini, por exemplo, lutar por etapas sem pensar na geral significa que não se importam de perder tempo na primeira semana, que não precisam de estar bem colocados em todas as chegadas ao sprint, que não se importam de ficar nos abanicos ou que se deixam ficar para trás nas primeiras etapas de média montanha para assim ganharem liberdade. Mas no Rui Costa, com a ambição que lhe é característica, alguém pensa que se vai deixar, propositadamente, ficar para trás nos abanicos ou nas primeiras etapas de média ou alta montanha? Não. Ainda para mais depois de ter justificado que não queria estar em forma na Suíça para fazer um grande Tour e que "abdicou" da "sua camisola" de campeão nacional para preparar o Tour, a única opção é tentar fazer a melhor classificação geral, pelo menos enquanto poder.

E entre as equipas dos favoritos, não é de excluir que mais alguém, mesmo fazendo lugar de lugar-tenente, se coloque no top-10. Thomas, Henao, Poels ou Izagirre, por exemplo. Sem esquecer Valverde e Nibali, naturalmente demasiado desgastados para lutar pelo pódio, mas talvez ainda com a condição suficiente para terminar entre os dez se os seus líderes falharem.

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