segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Quick Step 2018: gestão dos danos para segurar futuro

Sem a pujança financeira de outros tempos e com um plantel que tanto surpreendeu e se valorizou em 2016 e 2017, a equipa de Patrick Lefevere teve que deixar sair algumas das principais figuras para segurar outras.

A equipa Quick Step passou por uma redução orçamental há um ano, com o fim do patrocínio da Etixx sem substituto, e 2017 foi dado como um ano para a estrutura encontrar novo sponsor que permitisse a continuidade da estrada, pois apenas a Quick Step não seria suficiente como patrocinador principal. O ano passou, não chegou um forte incremento ao orçamento da equipa e tornou-se impossível manter o plantel que mais se valorizou na época agora terminada.

O bom problema

Fernando Gaviria chegou em 2015 como uma jovem promessa e em 2017 somou 14 triunfos, quatro dos quais no Giro d’Italia. Marcel Kittel chegou em 2016 depois de uma temporada tão má que a Giant-Alpecin aceitou rescindir o seu contrato – nem Kittel queria continuar na equipa, nem a equipa queria que o ciclista continuasse. Mas o alemão reconquistou o posto de melhor sprinter da atualidade, com igual número de 14 vitórias e cinco delas no Tour. Os dois merecem agora um aumento de salário e a equipa apenas podia dar a um.

Philippe Gilbert chegou em 2017 com 34 anos cumpridos e muitas dúvidas se ainda conseguiria render ao seu melhor nível: não só venceu (mais uma vez) a Amstel Gold Race como, finalmente, conseguiu cumprir o seu sonho de vencer a Volta a Flandres, protagonizando uma das exibições mais incríveis. Quanto a Matteo Trentin, depois de vitórias no Giro e no Tour em épocas transactas, já merece outro tipo de liberdade, também para as clássicas, e despede-se com 7 vitórias, quatro delas na Vuelta.

Daniel Martin chegou ao plantel em 2016 como um teórico candidato a top-10 no Tour de France. Em dois anos, foi 9º, foi 6º, rendeu a excelente nível em provas de uma semana e nas clássicas das Ardenas e partirá para 2018 como um candidato inclusivamente a algo mais. Bob Jungels chegou no mesmo ano e poucos esperariam dois top-10 no Giro d’Italia, um contrarrelogista que não se esconde nas montanhas e pode lutar ao sprint em grupos reduzidos. Os dois são agora mais caros e a Quick Step não consegue segurar ambos.

 
E ainda Julian Alaphilippe, já um dos melhores do mundo para as Ardenas, combativo, capaz de lutar em muitas etapas de grandes voltas e ainda com margem de progressão para classificações gerais, sobretudo em provas de uma semana.

Alguém teria que sair. Haveria, forçosamente, baixas de peso.

As escolhas e o resultado

O resultado final não dependeu apenas da equipa belga, mas também dos ciclistas e do mercado, das propostas que outras concorrentes fizeram aos seus ciclistas mais cobiçados. Isto convém ter sempre em conta nas análises feitas às "contratações". Muitas vezes a ausência de grandes reforços não se deve à falta de capacidade intelectual dos seus responsáveis mas à falta de argumentos financeiros em comparação com as rivais. No caso da Quick Step, mesmo não tendo acesso a toda a informação, olhando ao plantel que irá para a temporada prestes a iniciar, a escolha parece ter recaído nos jovens, com uma forte aposta no futuro.


A Quick Step perdeu Marcel Kittel para a Katusha-Alpecin, mas segurou Fernando Gaviria, seis anos mais jovem e mais versátil. Kittel é o ciclista mais rápido da atualidade, mas é um ciclista válido apenas para chegadas em grande pelotão, enquanto Gaviria, vencedor também do Paris-Tours 2017, pode lutar pela vitória numa mão cheia de clássicas, com a Milano-Sanremo à cabeça. E fica ainda a esperança do colombiano se tornar, porque não, o melhor sprinter do mundo num futuro próximo. Aos 23 anos, parece ter margem para isso.

E precisando dum outro sprinter para dividir o posto com Gaviria ao longo da temporada, a Quick Step conseguiu Elia Viviani, um excelente sprinter sem espaço na Sky, que chegou a ser noticiado como certo na Emirates (a mudança seria logo em agosto, diziam) mas irá sim para a histórica belga. Aqui Viviani, campeão olímpico de Omnium poderá ter tudo o que lhe faltou na anterior equipa: oportunidades em grandes voltas e apoio para isso.

Daniel Martin saiu para a Emirates, sem dúvida uma aposta muito válida para a equipa árabe atacar o Tour com esperança num resultado cimeiro, mas um ciclista de 32 anos já cumpridos. A Quick Step por sua parte segurou Bob Jungels, de apenas 25 anos e, porque não, ainda com margem para atacar o pódio de uma grande volta. Além de Julian Alaphilippe, agora o líder indiscutível da equipa para as duas clássicas das Ardenas belgas e mais algumas provas de uma semana onde deixará de ter a sombra de Martin.

 
Outra baixa assinalável é David de la Cruz (Sky), suprida, dentro do possível, com a esperança na evolução de Enric Mas (22 anos), um dos mais promissores ciclistas no pelotão World Tour.


É uma Quick Step sem dúvida mais fraca, que em abril se tinha despedido de Tom Boonen e agora perdeu outros cabeças de cartaz e apoios, como Gianluca BrambillaJulien Vermote e Jack Bauer. Mas é a Quick Step possível, ainda e sempre com um grande foco nos pavês, com Zdenek Stybar e Niki Terpstra como principais armas para essas batalhas.

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