sexta-feira, 11 de março de 2011

O que mudou?

Alguns dirão que o David Blanco se foi embora, outros dirão que se foi o David e a Palmeiras, mas muito mais do que isso mudou no ciclismo que se faz por cá. Na passagem de 2010 para 2011, abandonaram o pelotão português as duas mais figuras, David Blanco e Cândido Barbosa, cada uma ao seu género.

Se olharmos para o enorme leque de voltistas que chegaram ao pelotão nacional em 2007 e 2008, Blanco e David Bernabeu foram os últimos a partir. José Azevedo, Xavier Tondo, Héctor Guerra, Paco Mancebo, Koldo Gil, Ruben Plaza, Tiago Machado, José Pecharroman ou Eládio Jiménez*, todos abandonaram o nosso pelotão, uns para melhor, outros para terminar carreira (de livre vontade ou não), e houve até quem nos abandonasse por combater a queda de cabelo com um produto proibido que 3 meses depois já não o seria. Na Volta a Portugal 2010, de todos os que chegaram ao ciclismo português nessa altura, sobravam dois Davides, o Blanco e o Bernabeu (curiosamente, dois regressos).

Tanto em Fevereiro de 2009 como em Fevereiro de 2010, Blanco era o vencedor em título da Volta a Portugal, o maior candidato a vencer a edição seguinte, o homem marcado por todos e mesmo assim venceu. Em contextos diferentes, é certo, com ou sem desclassificações de adversários, com ou seu furos em plena Serra da Estrela, com ou sem abébias a caminho da Senhora da Graça, ele venceu. Toda a gente sabia que Blanco era o mais forte candidato e, quer numa, quer noutra ocasião, foi o mais forte na estrada. Por ter esse estatuto de número 1 do pelotão, e porque na sua equipa havia ainda Cândido Barbosa (a época não é só a Volta a Portugal), a Palmeiras era a equipa sobre quem recaiam todas as responsabilidades durante todo o ano. Já aqui elogiei a forma como Vidal Fitas sempre assumiu o favoritismo e, mesmo quando não o tinha, fez por merecer (Volta ao Minho 2010, lição para muitos).

Onde quero chegar com isto tudo? A uma pergunta simples: quem comandará o pelotão em 2011? Na Prova de Abertura, porque se corria no Algarve, as restantes equipas confiaram que o Tavira (já sem Palmeiras) controlaria o pelotão, e eles controlaram porque o seu ciclista em fuga (Metcalfe), apesar de ser um bom corredor de equipa, não tinha hipótese ao sprint contra os demais. Na Volta ao Algarve não foi preciso que uma equipa portuguesa controlasse o grande grupo porque estavam presentes colossos internacionais. E agora, em Albufeira, a responsabilidade deverá voltar a cair sobre Tavira por estarem a correr no Algarve, mas e quando o ciclismo sair do Algarve? Quando forem correr no resto do país?

De sprinters, mais ou menos puros, a Barbot tem Filipe Cardoso e Sérgio Ribeiro, a LA tem Bruno Sancho e Edgar Pinto, a Onda tem Bruno Lima e Tavira tem Samuel Caldeira e Daniel Mestre. Quando for a subir, Santi Pérez e Rui Sousa na Barbot, Brôco, Vergílio Santos e Sabido em Paredes, Cabreira na Onda e Ricardo Mestre, André Cardoso e Nelson Vitorino em Tavira, uns mais velhos e outros mais novos, mas todos com provas dadas. E há vários outros ciclistas com qualidade nas equipas portuguesas, que equilibram todas elas, mas quem será o director desportivo com coragem de considerar os seus homens os mais fortes e trabalhar para os seus líderes? Teremos muitas fugas a vingar? Muitos ciclistas de equipas amadores a ganhar? Ficam as perguntas no ar.

*eu sei que entre 2007 e 2008, o Jiménez só correu um ano em Portugal, mas não invalida de estar na lista.

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Sexta-feira (que já é hoje), prova na pista de Loulé para equipas profissionais e equipas de clube, a partir das 20h. No fim-de-semana, Volta a Albufeira, com 188,8 quilómetros… em três etapas. Como os custos de policiamento são elevados (o governo não compreende ou conscientemente ignora que está a matar uma modalidade histórica), não se podem fazer etapas muito longas. A primeira tem 86,5 km de Albufeira para as Ferreiras, a segunda é uma crono-escalado-sprint de 3 km desde Purgatório até à Aldeia dos Matos, e a última vai da Guia para Albufeira com 99,3 km. Como o contra-relógio não começa logo a subir, a média vai enganar muita gente. Prever vencedores ou favoritos parece-me difícil. Depende das diferenças que se fizerem no contra-relógio e talvez se decida tudo numa fuga.

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Deixando o ciclismo e retomando à rubrica “Coisas de Bons Rapazes”, o protagonista de hoje é: Eufemiano Fuentes. O caricato médico das Ilhas Canárias, especialista em ginecologia e medicina desportiva, protagonista da Operação Puerto e personagem secundário na Operação Galgo, com uma carreira iniciada no atletismo (Real Federação Espanhola de Atletismo, Jogos Olímpicos, etc), famosa passagem pelo ciclismo e convenientemente ignoradas mas confessadas passagens por ténis, futebol, basquetebol e boxe... Eufemiano Fuentes está agora dedicado a 100% ao futebol. O Universidad de Las Palmas, da 2ª B espanhola, contratou Fuentes e, presumo eu, o objectivo passará por ser campeão europeu dentro de 5 anos. Certamente não dopará ninguém porque, como todos sabem, no futebol não existe doping.

Eu só gostava de saber por que motivo ele não deixa o desporto e se dedica è ginecologia.

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Passando para o mundo das hipocrisias: Simon Mensing, futebolista do Hamilton Academicals, da Premier League escocesa, teve um controlo anti-doping positivo e foi suspenso por um mês. Como poderão ler aqui no 2º parágrafo, a substância detectada foi methylhexaneamine.

Nunca tinha ouvido falar no Simon Mensing, nem no Hamilton Academicals e acho que não conheço nenhum futebolista da liga escocesa, mas sei que por essa substância os irmãos Rui e Mário Costa foram suspensos por cinco meses e o CNAD queria, como mínimo, um ano. Mais palavras para quê?

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