quarta-feira, 29 de junho de 2011

As lutas do Tour

Faltam apenas três dias para aquela que, independentemente dos gostos de cada um, é a mais mediática prova do ciclismo internacional. De 2 a 24 de Julho, para muitos estará em jogo aquilo que poderá ser uma excelente ou uma medíocre temporada.

Alberto Contador e Andy Schleck voltarão a encontrar-se para o ansiado duelo, mas não serão os únicos a correr pela camisola amarela de Paris. Mark Cavendish correrá para a camisola verde que lhe tem fugido mas também para a história, Cadel Evans e Ivan Basso terão uma das últimas oportunidades de vencer a prova, o jovem Robert Gesink pretende subir ao pódio 21 anos depois do seu director desportivo e os ingleses depositam as suas esperanças em Bradley Wiggins. Quanto a portugueses, voltarão a estar dois em prova, Sérgio Paulinho e Rui Costa.



(Este é o maior artigo até agora aqui publicado. As imagens e vídeos são apenas para fazer umas pausas durante a leitura.)
  
Contador contra Andy Schleck?

Se no Tour do ano passado todos vimos um Contador muito bem protegido por Daniel Navarro e Paolo Tiralongo, na recente Volta a Itália o espanhol esteve por sua própria conta. Nas duas primeiras etapas de montanha, conseguiu distanciar os seus principais adversários e criar uma vantagem que o colocou em muito boa posição: apenas tinha que gerir.
Para esta Volta a França, espera-se um grande duelo entre Alberto Contador (Saxo Bank) e Andy Schleck (Leopard) mas a falta de equipa do espanhol poderá mudar esse cenário. Independentemente de Contador conseguir ou não recuperar do Giro e estar na melhor forma no Tour, a tarefa será mais complicada para os seus gregários e quatro dos que estarão no Tour estiveram no Giro: Daniel Navarro, Jesús Hernández, Richie Porte e Matteo Tosatto. Apesar de não terem estado nos seus melhores níveis, certamente acumularam muito desgaste durante aquela que foi uma das grandes voltas mais difíceis dos últimos anos.
Andy Schleck é, à partida, o maior adversário do madrileno, mas Robert Gesink, Ivan Basso, Jurgen Van Den Broeck e Samuel Sánchez, apenas para citar alguns, são ciclistas perigosos e que poderão atacar na montanha, não podendo Contador (nem Andy Schleck) descuidarem-se. Mais perigoso que esses poderá ser Frank Schleck. Se os luxemburgueses centrarem a sua corrida em Andy, será mais fácil para Contador e a Saxo Bank controlarem, mas se os dois irmãos estiverem nas suas melhores formas e tiverem igual liberdade, será muito mais difícil para a concorrência.



Os outsiders

Numa segunda linha de favoritismo, coloco Ivan Basso, Cadel Evans, Robert Gesink, Samuel Sánchez e Jurgen Van Den Broeck. Tal como nunca escondi que sou fã dos Schlecks, não esconderei que sou fã de Robert Gesink (Rabobank). Talvez por isso a minha análise seja parcial, mas penso que o holandês é aquele que tem mais hipóteses de completar o pódio. 7º e 6º nas Vueltas de 2008 e 2009, 6º no Tour passado, este ano tem mostrado uma enorme melhoria no contra-relógio, que alia à sua grande capacidade de trepador. O seu 20º lugar no Critérium du Dauphiné (CdD), engana. Esteve seis semanas sem correr, voltou sem ritmo competitivo mas acabou por ser 2º e 3º nas duas últimas etapas, as mais difíceis. Além disso, à parte dos Schlecks, é quem melhor equipa tem para o ajudar.

Ivan Basso e Cadel Evans: depois do Giro 2010,
a luta continua neste Tour
A forma de Ivan Basso (Liquigas) é das mais incógnitas. A queda que sofreu em Maio atrasou a sua preparação, também fez um CdD em crescente e, aproveitando a primeira semana do Tour para continuar a ganhar ritmo, poderá estar no seu melhor quando chegar a altura das decisões. Em 2009 foi 4º no Giro e na Vuelta e no ano passado venceu o Giro e desiludiu no Tour. Contudo, apenas na terceira semana de Tour falhou, depois de ter estado relativamente bem nos Alpes. Contra ele, tem três debilidades: é fraco no contra-relógio, tem uma equipa fraca para o contra-relógio colectivo e apenas Sylvester Szmyd o poderá ajudar nas etapas de montanha. Não sou defensor de que seja necessário ter 4 ou 5 trepadores para se poder ganhar um Tour, mas um é claramente insuficiente.

Outro que quer ganhar o Tour mas não tem a melhor equipa é Cadel Evans (BMC). O ex-campeão mundial terá como maior apoio na montanha Steve Morabito (pelo menos, em teoria), um suíço que ultimamente tem mostrado aptidão para subir mas está longe de ser o suficiente. Evans falhou nos dois últimos Tours que disputou (em 2009 por má preparação e em 2010 por lesão), mas a julgar pelo que tem feito noutras provas, penso que ainda poderá disputar os primeiros lugares.

Samuel Sánchez (Euskaltel-Euskadi) ficou às portas do pódio em 2010 e por isso o coloco com tão alto nível de favoritismo. Desde a Flèche Wallonne, em Abril, que não mostra o melhor de si mas é sabido que este asturiano, quando tem um objectivo em mente, sabe como preparar-se para ele e chega sempre nas melhores condições. Não tem ninguém que o possa ajudar nos momentos decisivos da corrida, mas tem muitos equipiers de segunda linha, que poderão disfarçar essa falha.

Lucien Van Impe, segundo em 1981, foi o último belga a terminar nos três primeiros da Grande Boucle. Este ano, Jurgen Van Den Broeck (Omega-Lotto) marcará presença com o objectivo de chegar ao pódio de Paris, 30 anos depois do seu compatriota. 5º no ano passado, regular nas provas em que tem entrado e vencedor de uma etapa no CdD (a primeira da sua carreira), será um dos homens a ter em conta para o Tour e este não é de apenas seguir na roda. Não tem nenhum companheiro que o possa ajudar mas, enquanto tiver capacidades, poderá atacar e animar a corrida.

Outros homens a ter em conta

Bradley Wiggins (Sky), 4º em 2009 e vencedor do Dauphiné há umas semanas, é a grande esperança dos britânicos e da Sky para a classificação geral e apontam-no ao pódio. Quanto a mim, acredito que possa terminar no top-10, mas duvido muito que termine nos 6 ou 7 primeiros e não acredito de forma alguma lute pelo pódio.

A corrida de Frank Schleck (Leopard) dependerá muito da de Andy, mas terá capacidades para ficar nos cinco primeiros da geral, ganhando tempo a quase toda a concorrência na montanha. As provas de Bauke Mollema e Luis León Sánchez (Rabobank) também dependerão muito de Gesink e Rigoberto Urán (Sky) estará dependente de Wiggins, mas são três ciclistas com capacidades para lutar por um lugar entre os dez melhores.

Damiano Cunego (Lampre), depois da excelente Volta à Suíça que fez, Tony Martin (HTC) pela vitória no Paris-Nice e o seu colega Peter Velits pelo terceiro lugar obtido na Vuelta 2010, são candidatos a lugares de destaque, mas sobre Tony Martin não acredito muito. Aliás, excepto ele, a equipa e alguns esperançados adeptos, acho que ninguém acredita realmente que possa estar entre os primeiros do Tour, pelo menos para já.

A Radioshack vai com Leipheimer, Horner, Brajkovic e Klöden com liberdade para as primeiras etapas de montanha, a ver quem de lá sai como líder. Klöden é aquele em que menos acredito para as etapas mais duras, de Horner e Leipheimer, tenho sérias dúvidas de que não tenham um dia muito mau (39 e 37 anos, é alguma coisa) e Brajkovic ainda tem que provar que é capaz de andar com os melhores durante três semanas. Se conseguirem terminar com um nos dez primeiros, já será muito bom.

A Garmin leva Ryder Hesjedal, Christian Vandevelde e o estreante Tom Danielson a ver o que dá e um lugar nos dez primeiros parece-me que é o máximo que se pode pedir. A Ag2r tem construído uma boa equipa durante os últimos dois anos e alinhará com Nicolas Roche, John Gadret, Hubert Dupont e Jean-Christophe Peraud à procura de um lugar entre os dez melhores. Sonhos à parte, apenas em Roche vejo capacidades para isso, e é se a queda no CdD não tiver atrapalhado em demasia a sua preparação.

A Astana com Alexander Vinokourov e Roman Kreuziger, a Katusha com Vladimir Karpets e a Cofidis com Rein Taaramäe também ambicionam um posto no top-10.

As outras classificações

Mark Cavendish procura a verde; a sua equipa
procura patrocinadores para 2012
Antes de mais, é importante dizer que houve alterações no que diz respeito aos sistemas de pontuações para camisola verde e camisola da montanha. Quanto à classificação por pontos, agora haverá apenas um sprint intermédio por etapa, a dar pontos aos 15 primeiros, 20 pontos para o primeiro. 20 pontos recebe também o vencedor de uma etapa de montanha ou de um contra-relógio, 45 o vencedor de uma etapa plana (se ainda não viram, vejam o link anterior para estarem a par de tudo).

Apesar destas alterações, os candidatos continuarão a ser os mesmos. Mark Cavendish (HTC), que venceu 15 etapas nos três últimos Tour, correrá para a camisola verde mas também para se aproximar de Eddy Merckx, o recordista de etapas da prova (34 vitórias). Alessandro Petacchi (Lampre), vencedor no ano passado, Tyler Farrar (Garmin) e André Greipel (Omega-Lotto) são os três principais concorrentes, tal como poderá ser Philippe Gilbert (Omega-Lotto) se esse for o seu objectivo. O belga não é sprinter mas tem várias etapas nas quais pode conseguir muitos pontos e é daqueles ciclistas que, quando se propõe a um objectivo, é um caso muito sério. Com os sprinters intermédios a darem tantos pontos, poderá pensar-se que há um benefício para sprinters como Thor Hushovd (Garmin), que passam melhor as dificuldades montanhosas, mas são poucas as etapas que têm dificuldades antes desses sprints. Tom Boonen e Gerald Ciolek (Quick Step), Matthew Goss (HTC), Ben Swift e Edvald Boasson Hagen (Sky), José Joaquin Rojas (Movistar), Romain Feillu e Borut Bozic (Vacansoleil) e Denis Galimzyanov (Katusha) também são ciclistas a ter em conta para as chegadas massivas.

Já para a classificação da montanha, as alterações são mais significativas. 4ªs categorias apenas darão 1 pontos, 3ªs apenas darão 2 para o vencedor, Especiais darão 20 e as 4 chegadas em Especial darão 40 para o vencedor. Desta forma, para ganhar a classificação da montanha é mesmo necessário ser trepador mas não sei se será necessário ser um Contador, Andy Schleck ou qualquer outro que lute pela classificação geral ou bastará ser bom trepador e ter muita vontade para ir para fugas, ao estilo David Moncoutié. Por isso mesmo, não vou estar a lançar favoritos.

Para a classificação da juventude o favorito claro é Robert Gesink. A ele, seguem-se Roman Kreuziger, Rein Taaramäe, Bauke Mollema e Rigoberto Urán.

Os portugueses

Tal como disse inicialmente, este ano estarão presentes dois portugueses na Volta a França: Sérgio Paulinho (Radioshack) e Rui Costa (Movistar). Para Sérgio Paulinho será a quarta participação, tendo ganho a classificação colectiva nas outras três. Como todos sabem, só lá estará para trabalhar em prol da equipa. No entanto, esperamos todos que, tal como no ano passado, o obriguem a ir para uma fuga e vingue. Já Rui Costa vai para a terceira participação e terá mais liberdade de acção. Será um dos caça-etapas da Movistar, ou pelo menos é isso que o seu director desportivo espera.


PS: ao longo deste artigo, falei em muitos ciclistas. No final do Tour, se ganhasse o Hubert Dupont, eu poderia vir aqui fazer aquele truque bem característico da Eurosport portuguesa e dizer «ah, eu bem que disse que ele poderia surpreender». Como não tenciono tal coisa, vou sintetizar quem acho que são os favoritos para os primeiros lugares:

*****
Alberto Contador e Andy Schleck
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Robert Gesink, Samuel Sánchez e Ivan Basso
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Cadel Evans, Jurgen Van Den Broeck e Frank Schleck

Ao lado direito, terão duas sondagens. Uma para sobre o vencedor do Tour e outra sobre o pódio. A minha aposta: Andy Schleck-Alberto Contador-Robert Gesink

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