quarta-feira, 15 de junho de 2011

Uma Volta ao Alentejo marcada pela crise

Disputou-se na semana passada a Volta ao Alentejo, muito provavelmente a prova que mais proximamente tem estado da evolução (para sermos mais precisos, regressão) do ciclismo português nos últimos anos. Tal como o pelotão, está cada vez mais curta, a qualidade tem decrescido (mas ainda existe), e, tal como o nosso ciclismo, apesar das dificuldades, ainda está viva.

Bruno Lima, Bruno Sancho e Filipe Cardoso, três dos bons sprinters portugueses da actualidade, venceram etapas, mas a geral acabou por ir para um lituano de apenas 22 anos: Evaldas Siskevicius,


Tantos sprinters para tão pouco pelotão…

Quem acompanha este espaço há mais tempo, já sabe que defendo que os sprinters merecem um papel de destaque em todas as provas, e sou contra a “marginalização” de que são alvo em provas como o último Giro d’Italia, apenas com 5 etapas para eles entre 21. Pois esta Volta ao Alentejo foi mesmo desenhada para sprinters e deu para se mostrarem alguns dos muitos de qualidade que temos actualmente. Talvez por não existir um claro dominador neste tipo de chegadas (ou dois), o pelotão vai decrescendo mas cada vez há mais sprinters a discutir as chegadas massivas.

Apesar de Manuel Cardoso estar no nível muito elevado e ser difícil comparar com os do pelotão nacional (até porque têm muito menos condições), outros há em Portugal que apresentam muito boa qualidade e os quais gostaria de ver correr mais vezes no estrangeiro. Sérgio Ribeiro tem sido um dos melhores do pelotão até ao momento (ou mesmo o melhor) e, quando vai a Espanha, dá mais força há minha crença de que temos vários sprinters de qualidade, mas também Samuel Caldeira, Filipe Cardoso, Bruno Sancho ou Bruno Lima, apenas para realçar aqueles que considero serem os cinco melhores sprinters puros do nosso pelotão (apesar do Sérgio ser mais do que um sprinter, como mostrou na última Volta).

Estou certo de que se a Volta a Portugal tiver três ou quatro chegadas ao sprint, estes (mas também outros) as saberão aproveitar para conquistar vitórias, dar importante destaque às suas equipas e dar espectáculo aos adeptos, com constante incerteza quanto ao vencedor, que é um dos aspectos mais positivos deste tipo de chegada. http://www.youtube.com/watch?v=4vHYZfbVh4U


… um pelotão que não pode ser só de sprinters

Se não gosto quando só há espaço para voltistas, também não gosto quando só há espaço para sprinters, como foi o caso desta Volta ao Alentejo. Bem sei que não se pode colocar uma montanha de 1000 metros onde ela não existe, mas também não é isso que peço. Uma chegada mais dura já ajudaria. Dir-me-ão que não havia municípios interessados em que isso fosse possível, e eu aceitarei, porque bem sei que é difícil levar para a estrada esta prova (como quase todas actualmente), mas não daria nem para um contra-relógio?

Com este percurso, os protagonistas foram sempre os mesmos e muitos outros ciclistas, que poderiam ter animado a prova, limitaram-se a fazer quilómetros. Uma prova que poderia ser de 9 ou 10 protagonistas, é de 4, 5… 6, no máximo. Facilmente se entende que, um evento com vários pontos (ciclistas) de interesse, interessa mais gente do que um evento centrado em 2 ou 3 pontos.

O calendário nacional no internacional

A crise económica afecta o ciclismo e isso está à vista de todos, mas não podemos usar isso como desculpa para todos os males. Há quem diga que a Volta ao Algarve só tem sucesso por se disputar em Fevereiro, eu não concordo, mas acho que todos concordamos que as datas das provas são importantes para ter um melhor pelotão. Ok, não há dinheiro para ter em todas as provas um pelotão de grande qualidade, mas quando dava para terem melhor, os organizadores da Volta ao Alentejo não o souberam utilizar.
Em 2007 e 2008, foi disputada na segunda semana de Abril, quando as atenções estão viradas para Volta a Flandres e Paris-Roubaix. Muitos dos principais ciclistas do panorama mundial estavam lá e outros estava na Volta ao País Basco, que acontecia nas mesmas datas. Além disso, perdia-se a hipótese de ter cá as melhores equipas do país vizinho, que claramente apostam numa corrida no seu país. Em 2009, anteciparam uma semana a prova, continuo a disputar-se na altura das clássicas belgas e terminava um dia antes do começo da Volta ao País Basco… mantinha-se o problema. A partir do ano passado, quando a PAD pegou na corrida, o dinheiro já nem dava para ser de categoria 2.1 e, sendo 2.2, não dá para trazer equipas estrangeiras cabeças-de-cartaz. Não posso então criticar a PAD neste aspecto, mas a AMDE (organizadores anteriores) poderia ter tratado melhor esse assunto.
Fica prometido que, o mais brevemente possível, falarei de alguns pontos que considero importantes de ter em conta no desenho de uma Volta a Portugal.

*****
O Jornal Ciclismo mudou de direcção, o que significa que se acabaram as notícias sobre doping na Volta ao Sul do Vietname e no Grande Prémio ao Sudoeste da Burkina Faso. Agora o director é o prof. José Santos, histórico director desportivo do Boavista, que certamente gosta mais de ciclismo e trata melhor os ciclistas do que o anterior jornaleiro responsável pelo JC.

A crítica feita ao Diário de Notícias é uma boa forma de se posicionar quanto a este tema delicado, mas acaba por servir também para criticar a postura do próprio Jornal Ciclismo durante os últimos anos. Espero então que o site tenha uma longa vida e a partir de agora dando destaque apenas ao que realmente importa em vez de optar pelo sensacionalismo.

7 comentários:

  1. Muito bom artigo Rui, continua assim!
    :)

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  2. O ciclismo português tem muito para dar. Em potencial claro, porque as adversidades vencem as organizações que tentam avançar este desporto. Consequentemente novos, velhos e nacionalmente creditados talentos tem que remar contra muitas marés se um dia quiserem ser ou estar onde o potencial deles os levaria. É pena o sub-aproveitamento da qualidade dos nossos valores, e também, das características das corridas. É natural que não apareçam mais Agostinhos ou Azevedos com corridas nacionais sem montanhas como o que se vê lá fora. Estou a falar em geral, a volta ao alentejo para mim deve ser assim, uma prova para roladores e um contra relógio só a tornava mais saudável. Não queria morrer sem ter a alegria de ver um português a discutir uma vitória numa grande volta. As novas gerações estão dentro dos colhões. Vamos ter coragem.

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  3. Precisamos de sinais de melhora. De uma equipa que surja, de provas a ganhar dias ou subir de categoria, de algo que mostre que o ciclismo português se aguenta. Nos últimos anos, as equipas vão desaparecendo, os dias de prova também, as corridas vão baixando de categoria... isto são péssimos indicadores para todos, especialmente para quem está de forma e poderia entrar, trazendo mais dinheiro.

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  4. já sabe quais as equipas estrangeiras que este ano virão à Volta a Portugal?

    obrigado

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  5. Bem-vindo, Pengo.
    Sem certezas, mas deverão estar presentes as equipas habituais, como a Andalucia, Caja Rutal, Lampre e Farnese Vini. Europcar e Saur-Sojasun já estiveram no ano passado e devem repetir, e não é de excluir a CCC e a Colombia es Pasión.

    ;)

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  6. Dessas que o amigo falou a Caja Rural já está confirmada depois de ter sido excluída da Volta à Espanha..Quanto a outras informações fala-se também na equipa croata da Meridiana que contratou o Riccó mas mais nada sei..


    parabéns pelo excelente blog

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  7. Através dos sites de algumas equipas já confirmei a Caja Rural, Lampre, Andalucia e Europcar.

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