segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Quem é Michal Kwiatkowski?

Não tenho o hábito de acompanhar o calendário júnior internacional e como tal não sei os grandes campeões da atualidade de 18 anos. Até porque a esta idade não há campeões. Há grandes talentos que acabam por dar excelentes ciclistas, grandes talentos que acabam por se perderem e grandes promessas que afinal eram só fogo de vista. Michal Kwiatkowski é uma exceção.

Em 2007 a UCI criou a Taça das Nações sub-23 e em 2008 criou a competição junior. E essa competição acompanhei porque contava sempre com a presença da seleção nacional, composta por ciclistas como Hélder Ferreira (atualmente na Efapel), Rafael Silva (Efapel), Luís Afonso (LA), André Mourato (LA), Daniel Freitas (LA), Pedro Paulinho (LA), Fábio Silvestre (Trek) ou Amaro Antunes (BIC).

Kwiatkowski começou a brilhar na Corrida da Paz (Republica Checa), vencendo as três primeiras etapas, que eram as duas mais duras e um contrarrelógio, e vencendo a geral com confortável vantagem sobre Peter Sagan. Nesse pelotão estava também Thibaut Pinot (5º) e Amaro Antunes foi 6º. Seguiu-se o Troféu Karlsberg na Alemanha e Kwiatkowski venceu duas das cinco etapas e a classificação geral. Em duas das principais provas por etapas para o escalão, contra os melhores do mundo da sua idade, passava as subidas na frente, vencia ao sprint e esmagava nos contrarrelógios. Foi sem surpresa que se sagrou campeão europeu e mundial de contrarrelógio, títulos que não conseguiu repetir na prova de fundo.

Não voltou a disputar provas da Taça das Nações (porque a Polónia não o fez) mas já tinha feito o suficiente para despertar a atenção de muita gente. No ano anterior já tinha sido campeão europeu de contrarrelógio, vice-campeão europeu de fundo e conquistado vitórias internacionais.

Em 2009 Kwiatkowski correu numa equipa amadora polaca (equivalente às equipas de clube portuguesas), onde tinha como colega o seu irmão mais velho, que de resto foi figura importante para Michal conquistar o título de campeão nacional sub-23, ainda com 19 anos recentemente cumpridos.

Não foi tão fácil chegar ao World Tour como esperava. Peter Sagan, o seu rival dos tempos de júnior, assinou em 2010 pela Liquigas, começou a dar nas vistas logo em janeiro e em março venceu duas etapas do Paris-Nice. Entretanto Kwiatkowski apenas tinha conseguido um lugar na Caja Rural. Em Portugal foi 7º na Volta ao Alentejo, mas no geral foi um ano apagado. Ou talvez seja mais correto dizer que foi um ano tranquilo, de alguém que não quis conquistar o mundo demasiado cedo e foi subindo aos poucos. Seguiu-se a Radioshack.

Os resultados foram melhorando (sobretudo em contrarrelógios) mas ainda estava muito distante de Sagan. Era um dos melhores ciclistas jovens, mas distante daquele nível de junior que arrasava os da sua idade. E no final da temporada mais uma mudança de equipa, agora para a Omega Pharma-Quick Step uma machadada na Radioshack, que queria continuar a contar com Kwiatkowski. Mas o polaco achou que seria melhor mudar-se para a equipa belga, onde teria maior liberdade. Aí juntou-se ao seu amigo, Michal Golas. Golas é da mesma cidade de Kwiatkowski, Torún, onde Kwiatkowski já tem uma academia de ciclismo para apoiar jovens.

Em 2012 continuou o seu progresso gradual mas agora com maior visibilidade. Apenas uma queda no último dia lhe tirou a vitória nos 3 Dias de Flandres-Ocidental e apenas por cinco segundos perdeu a Volta à Polónia. Conquistou um lugar entre os "15 jovens a seguir em 2013" aqui apontados e correspondeu. 2º na Volta ao Algarve, 4º no Tirreno-Adriático, ao ataque na Volta a Flandres, 4º na Amstel Gold Race, 5º na Flèche Wallona e 11º no Tour (7 etapas entre os 7 primeiros da etapa). É um nível ao alcance de muitos poucos.

Este ano já se sabe como está a ser. Arrasou a prova mais montanhosa da Challenge de Maiorca e arrasou as duas etapas decisivas da Volta ao Algarve (as que fizeram maiores diferenças), conquistando a classificação geral sem espinhas.

O seu empresário (que também tem em carteira Nairo Quintana, Urán, Betancur e Sergio Henao), diz que o polaco pode chegar a ser o número um do mundo. E o ciclista mostra-se com os pés no chão mas ao mesmo tempo com uma enorme ambição, que é como devem ser os grandes campeões.

Agora segue-se o Tirreno-Adriático e depois abdicará das clássicas de pavé. Em vez disso, fará a Volta ao País Basco para preparar as clássicas das Ardenas, onde será um dos principais candidatos às vitórias.

A partir daí o trabalho será direcionado para preparar o Tour. Tem menos contrarrelógio do que Kwiatkowski gostaria, mas o pavé servir-lhe-á melhor a si do que aos outros candidatos aos postos cimeiros. Até porque na Omega Pharma poderá ter a ajuda de companheiros experientes nesse terreno. Depois dependerá da sua evolução na montanha. Mas daqui até julho, ainda falta muito tempo, tempo em que Kwiatko poderá brindar os adeptos com mais prestações como as dos últimos dias.

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Este ano a Volta ao Algarve fez um trabalho muito bom no que toca à comunicação. A foto deste artigo é do João Fonseca, que é um craque a registar ciclismo através da câmara, e podem passar no site da prova para ver a Galeia completa.

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