domingo, 22 de junho de 2014

A Geração de Ouro

Tiago Machado vence a Volta à Eslovénia! Rui Costa vence a Volta à Suíça! Um dia de ouro para a Geração de Ouro do ciclismo português.

Joaquim Agostinho e Acácio da Silva foram ciclistas de classe mundial, capazes de ganhar nos maiores palcos, do Tour ao Giro. Mas é esta a Geração de Ouro do ciclismo português, a melhor de sempre. Que começou com José Azevedo no top-10 do Giro e do Tour, que teve a medalha de prata e as vitórias de etapa de Sérgio Paulinho no Tour e na Vuelta, que teve Nelson Oliveira no pódio do Campeonato do Mundo, que teve Manuel Cardoso como primeiro português a vencer no World Tour. Que hoje viu a consistência de Tiago Machado premiada além-fronteiras. Que hoje viu Rui Costa vencer pela terceira vez a Volta à Suíça, algo jamais feito, e com um arco-íris no peito. Não se tratam de vitórias morais, não se tratam de resultados que podiam ter sido ou quase foram. Tratam-se de conquistas!

Começando pelo Tiago Machado, porque foi dele a primeira vitória do dia, o Tiago é um excelente ciclista, um dos melhores de sempre do ciclismo nacional. Hoje teve um prémio que poderia ter tido no ano passado, ou há quatro anos. Antes da Volta à Eslovénia, no seu percurso internacional tinha oito terceiros lugares, onze segundos, montes de top-10 mas apenas uma vitória, no contrarrelógio do Circuit de la Sarthe 2010. Canso-me de repetir estes dados porque parece-me que ainda não é dado o devido valor ao Tiago. Mas olhem para a história do ciclismo português, desde os seus primórdios, e pensem em quantos ciclistas tivemos assim, capazes de andar entre a elite mundial. Pódios e top-10 em provas World Tour ou noutras que, mesmo não sendo World Tour, são de excelente nível.

Porque não ganha mais, não sei. Apetece-me usar a falta de sorte como desculpa, porque não vejo outra razão. Há ciclistas que entram uma ou duas vezes em fugas e conquistam grandes vitórias. No caso do Tiago, mesmo quando é taticamente perfeito, há alguém que o bate em cima do risco de meta. Hoje venceu a Volta à Eslovénia, uma prova já vencida por Fuglsang, Nibali, Brajkovic ou Ulissi e agora vencida pelo português.

Talvez esteja a guardar toda a sorte destes anos para a usar no Tour. Talvez aí seja ele a entrar numa fuga e a sair vencedor. Mas para já, hoje teve o seu momento de glória, de subir ao pódio de amarelo, receber o troféu e os beijinhos.

Depois tivemos a vitória do Rui Costa, campeão do mundo, Rei da Suíça, senhor da classe, imperial!

Esteve atento e foi capaz de seguir o primeiro ataque de Mathias Frank, também com Bauke Mollema mas onde não estava Tony Martin, Roman Kreuziger ou Tom Dumoulin. Três dos primeiros na geral falharam. Rui Costa não falhou, como não costuma falhar, e por isso é reconhecidamente um dos ciclistas mais inteligentes do pelotão mundial.

A IAM e a Belkin tinham ciclistas na fuga do dia que esperaram para ajudar os seus líderes, enquanto Frank, Mollema e Rui Costa iam ganhando tempo a Tony Martin. Rui Costa sempre mais atrás, procurava economizar o máximo de energia, enquanto os seus companheiros José Serpa e Rafael Valls seguiam na roda de Tony Martin, recordando o alemão de que os seus adversários tinham colegas para apoiar e ele não. Os sprinters que a Omega Pharma levou à Suíça já tinham todos eles descolado.

Marcel Wyss (IAM) derreteu Tony Martin, desmembrou o tanque alemão, que durante esta semana mostrou a qualidade alemã tantas vezes falada nos anúncios televisivos. Venceu duas etapas, participou nas vitórias dos companheiros Mark Cavendish e Matteo Trentin mas não foi capaz de vencer a Volta à Suíça. Era demais para ele.

A luta ficou restrita ao campeão mundial Rui Costa, ao sexto do último Tour Bauke Mollema e a Mathias Frank, aqui a correr o grande objetivo da sua temporada. E o suíço atacou. Rui Costa esperou por resposta de Mollema, aguentou mais um pouco. Logo aí, quando esperou que Mollema gastasse os últimos cartuchos, mostrou uma grande confiança. Depois acelerou e, chegou  Frank e atacou logo de seguida. Nesse momento a Volta à Suíça de 2014 estava tão entregue como naquele dia de setembro em que se soltou de Valverde e Nibali para chegar a Purito Rodríguez.

Etapa para ele, Volta à Suíça para ele e só faltava uma coisa. A fotografia de arco-íris e braços no ar que todos os campeões do mundo buscam com ansiedade. A de Rui Costa chegou a 1800 metros de altitude, mas Rui Costa é maior do que isso, é do tamanho do arco-íris que leva no peito e vai aos limites da imaginação. E esta geração. Esta Geração é de Ouro.

As vitórias são deles. São eles que sofrem e que pedalam, que treinam à chuva e ao vento, com 0 ou com 40º C. Mas quem os apoia sempre, quem confia sempre, quem sofre com cada segundo perdido, quem fica ansioso a cada aceleração... esses conhecem o sabor destas vitórias. Obrigado, campeões!

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