Esta Volta a Portugal é um baralho diferente, já que conta com cinco ases, todos eles de origem caseira: André Cardoso, Hernâni Brôco, João Cabreira, Ricardo Mestre e Rui Sousa. Apesar de não estar presente nenhum estrangeiro de topo, se os portugueses apenas se preocuparem em se anularem uns aos outros e se distraírem com os demais, poderá haver um vencedor surpresa, ao género Vladimir Efimkin.
De qualquer forma, olhemos para os ciclistas que desde quinta-feira estarão nas estradas da Volta:
Os chefes-de-fila lusos
Há um ano atrás, escrevi que, por mais voltas que se desse, o grande favorito à vitória na Volta seria David Blanco. Sem um favorito claro este ano, há cinco candidatos principais: Hernâni Brôco, quinta na Volta do ano passado; Rui Sousa, sexto; Ricardo Mestre, recente vencedor do Troféu Joaquim Agostinho; André Cardoso, que no ano passado tão boa ajuda deu a Blanco; e o campeão nacional João Cabreira.
Hernâni Brôco
No ano passado, Hernâni Brôco foi para o contra-relógio final no segundo lugar, depois de grandes prestações nas chegadas a subir. Começou a Volta como apenas mais um dos homens da LA Alumínios, onde Hugo Sabido e José Mendes eram os líderes, e por isso Brôco teve que trabalhar na frente do pelotão logo na primeira etapa, para tentar anular a fuga de Chuzhda e possibilitar que Edgar Pinto ou Filipe Cardoso disputassem a vitória na etapa.
Na chegada à Nª Srª da Assunção Brôco foi 7º, o melhor da equipa, e o único colega que chegou com o mesmo tempo foi Vergílio Santos. No dia da Senhora da Graça, atacou logo na subida para o Alto de Campanhó para beneficiar o seu colega Hugo Sabido, mas voltou a ser Brôco o melhor da equipa, na terceira posição, atrás do duo tavirense Blanco-André Cardoso.
Na etapa da Torre, aí já como líder da equipa, foi segundo, subiu ao mesmo posto na geral, que perdeu no contra-relógio e terminou como quinto classificado, ainda assim o melhor português (e é por isso que é o primeiro de quem falo neste artigo). Essa prestação deu-lhe a liderança da equipa nesta temporada, pautada pela regularidade, com destaque para a medalha de bronze nos Nacionais de contra-relógio e o 4º lugar na Volta às Astúrias.
Em Hugo Sabido e Vergílio Santos, Brôco tem dois ciclistas experientes e com capacidade para o ajudar nas etapas mais duras. Márcio Barbosa, se estiver no seu melhor, também poderá dar uma ajuda. Dependendo de como estiver recuperado da sua queda no Troféu Joaquim Agostinho, Edgar Pinto também poderá ser útil nas jogadas da equipa para o ataque á classificação geral, embora a luta principal de Pinto seja outra: as chegadas mais selectivas para os sprinters.
Rui Sousa
Se comecei pelo melhor português do ano passado, passo agora para o segundo nessa classificação, sexto na classificação geral. Este ano sem David Bernabéu, a Barbot terá que procurar outro homem para ser o chefe-de-fila na Volta a Portugal e é Rui Sousa o escolhido.
6º na Volta de 2001, 3º em 2002, 10º em 2004, 10º em 2006, 7º em 2008 e 6º no ano passado, Rui Sousa é o português no activo com melhor palmarés na Volta a Portugal. No ano passado, o então campeão nacional deu boa conta de si nas etapas de montanha e surpreendeu no contra-relógio (que até então era a sua grande lacuna). Agora com 35 anos, veremos como está Rui Sousa na Volta, tendo até agora realizado uma temporada sem grandes resultados, o que se justifica pelo constante trabalho para colegas seus como Sérgio Ribeiro, Sérgio Sousa ou Filipe Cardoso, que se adaptam melhor ao tipo de etapas que se têm disputado no calendário nacional (tem faltado a montanha). O sétimo posto alcançado nos Nacionais de contra-relógio é mais um indicador da evolução do minhoto nessa área.
Bom, também é de relembrar que nos contra-relógios da Volta a Castela leão e Volta às Astúrias, respectivamente com 11 e 14 quilómetros, foi 91º e 64º. Por isso, o melhor é esperar para ver.
Sérgio Sousa é o único valor seguro para ajudar Rui Sousa na montanha, pois boa parte da equipa Barbot é virada para o apoio a Sérgio Ribeiro e Filipe Cardoso. Curiosamente, Sérgio Ribeiro poderá ser um dos mais úteis para Sousa na montanha, cabendo ao director desportivo Carlos Pereira decidir, se resguarda Sérgio Ribeiro para a camisola branca (para a qual é o grande favorito), ou se o desgasta na luta pela vitória na Volta. O mais indicado é esperar pela evolução dos primeiros e só depois decidir qual a estratégia a adoptar na etapa da Torre.
Ricardo Mestre e André Cardoso
O desempenho de um estará dependente do outro. A equipa de Tavira não terá este ano David Blanco, mas será a única com dois ases para jogar no ataque à vitória na Volta a Portugal. Ricardo Mestre estreou-se na Volta em 2006, ano em que venceu uma etapa, as classificações da montanha e da juventude, vestiu a camisola amarela por um dia e terminou em 9º na geral. A Mestre custou caro a inexperiência. Foi de amarelo para o dia da Senhora da Graça (nesse Volta, a etapa rainha) mas alimentou-se mal e perdeu 6.16 minutos para o vencedor desse dia (Cabreira) e 3’47’’ para David Blanco, que no final se sagraria vencedor com menos 4’13’’ que Mestre. Não dá para dizer que, sem essa quebra, Mestre teria lutado pela vitória ou teria ficado no pódio, porque no desporto (como em quase tudo) não interessam os “ses”, mas não há dúvidas de que o algarvio perdeu uma grande oportunidade de lutar pelo pódio. Talvez o conseguisse, talvez não, mas este ano estará à partida, em Fafe, a pensar na luta pela vitória.
Entretanto, Mestre colaborou em três vitórias de Blanco, no ano passado foi 8º e recentemente venceu o Troféu Joaquim Agostinho. É muito completo, deverá subir com os melhores e será dos que menos tempo perderá no contra-relógio, como demonstrou nos Campeonatos Nacionais da especialidade, apenas 6 segundos pior do que Brôco, 9 melhor do que Rui Sousa, 1’30’’ melhor que Cabreira e 2’34’’ que André Cardoso.
André Cardoso será o outro chefe-de-fila da equipa de Vidal Fitas. O contra-relógio é mesmo a desvantagem de Cardoso, que já mostrou um grande talento para a montanha e um endurance de nível internacional, que lhe valeu um 17º e um 15º postos nos últimos dois Mundiais. Em 2007 subiu ao pódio da Volta a Portugal como vencedor da classificação da montanha e isso valeu-lhe o interesse da Relax, com a qual chegou a ter tudo certo, porém a equipa não foi para a estrada em 2008 e Cardoso teve que se ficar por Portugal, na equipa de Paredes. A sua Volta de 2008 foi comprometida pela ida aos Jogos Olímpicos, mas em 2009, já ao serviço da equipa tavirense, foi 7º, vencendo na Senhora da Graça (após desclassificação de Cabreira e Nuno Ribeiro). No ano passado foi o principal apoio de Blanco na montanha e este ano terá a liberdade que merece um ciclista da sua qualidade. O contra-relógio estar antes da Torre poderá ser benéfico para ele. Se o contra-relógio fosse a última etapa-chave, Vidal Fitas teria que montar uma estratégia para André Cardoso ganhar o máximo tempo possível antes desse dia. Com o formato deste ano (crono primeiro, Torre depois), será mais fácil Vidal Fitas decidir qual a estratégia a optar para o dia decisivo, com base nos resultados reais do contra-relógio e não em projecções.
A equipa será uma vantagem para Mestre e Cardoso. Nelson Vitorino e David Livramento já têm experiência a proteger os seus líderes e são bons trepadores, Luís Silva também têm experiência nesse trabalho para Blanco e até mesmo Caldeira, porque já estamos habituados a que, quando é para trabalhar na equipa de Tavira, trabalham todos os que lá estiverem. Vidal Fitas é também ele um ponto forte de Mestre e Cardoso. Já aqui o elogiei várias vezes e no Troféu Joaquim Agostinho a sua equipa voltou a destacar-se tacticamente, com um ataque de Mestre quando a concorrência menos esperava e depois três dias a realizar o controlo necessário no pelotão.
João Cabreira
Na equipa do Boavista, a aposta para a vitória na Volta será o campeão nacional João Cabreira, cuja carreira tem sido uma autêntica montanha-russa. Chegou ao profissionalismo em 2005 mas as lesões arruinaram-lhe a temporada, em 2006 começou com uma vitória na Volta ao Algarve, depois na Senhora da Graça e o quarto lugar final na Volta. Em 2008 venceu o Campeonato Nacional pela LA-MSS-Póvoa, equipa que ganhava tudo onde entrava mas terminou depois de uma denúncia anónima motivar uma rusga da PJ e ser encontrado demasiado material farmacêutico na casa de alguns ciclistas. O título de campeão nacional nunca chegou a ser atribuído, pois nas amostras de urina do ciclista foram detectadas protéases (pela primeira vez na história do desporto mundial), que servem para eliminar proteínas, como por exemplo a EPO.
Enquanto o caso se arrastava pelos tribunais, Cabreira venceu a etapa da Senhora da Graça e foi quarto na Volta a Portugal de 2009, resultados que também lhe foram retirados após a decisão final do TAS, que o suspendeu por dois anos, não por acusar qualquer substância proibida mas sim por manipulação de amostrar, prática também ela proibida. Este ano Cabreira voltou à competição e sagrou-se campeão nacional, camisola com a qual venceu o GP LabMed, última prova da Taça de Portugal e última prova nacional disputada antes da Volta. Por essas recentes vitórias (apesar de entretanto ter passado completamente ao lado no Troféu Joaquim Agostinho) e pelas exibições desde 2006 (tanto as que contaram como as que foram anuladas), é um dos claros candidatos à vitória na Volta a Portugal deste ano.
A Onda-Boavista conta com uma boa equipa para ajudar Cabreira, destacando-se Ricardo Vilela e Daniel Silva, que em 2009 acompanhou Cabreira na ida para Loulé e este ano o acompanhou na ida para a Onda. Em Junho teve que ser operado ao cotovelo mas no GP LabMed já foi 6º e por isso será um homem a ter em conta, ou não tivesse ele sido uma das grandes revelações da última Volta: 5º na Senhora da Graça, 8º na Torre e 12º na classificação final. (já agora, podem passar pelo site do Daniel Silva, que é novo e está muito agradável)
Estou curioso para ver o que fazem Delio Fernández, Jon Pardo e Alberto Morrás, que apenas estão no pelotão português para fugir ao desemprego, certamente quererão correr no seu país em 2012 e poderão colocar os seus objectivos pessoais à frente dos colectivos. Alejandro Marque também é espanhol mas já mostrou que, se for para trabalhar, trabalha.
As equipas portuguesas
Apesar da importância que a vitória na Volta a Portugal tem, as equipas portuguesas não se resumem a essa luta. Sérgio Ribeiro e a Barbot são os primeiros a merecer destaque, sendo respectivamente o ciclista e a equipa mais vitoriosos desta temporada. Sérgio Ribeiro venceu a classificação dos pontos no ano passado e parte como principal candidato ao triunfo nessa classificação para a Volta que amanhã se inicia. É um dos melhores sprinters presentes, é regular, adapta-se bem a todas as chegadas excepto Senhora da Graça e Torre e conta com uma equipa muito sólida ao seu redor. Além de Filipe Cardoso, que poderá ser uma opção para os sprints mais planos ou para lançar Sérgio Ribeiro, a Barbot conta com António Amorim e Bruno Pinto, ciclistas habituados a controlar o pelotão para que os seus colegas mais velozes possam discutir as vitórias (que este ano têm sido tantas). Têm também o Raul Alarcón, que este ano já conquistou duas vitórias.
A Tavira-Prio, conta com Samuel Caldeira para o ataque aos sprints, devendo o seu braço direito ser Daniel Mestre, estreante na prova rainha do ciclismo português. A LA-Antarte conta para essa luta com Bruno Sancho e Edgar Pinto, o primeiro para finais mais rápidos e o segundo para finais mais selectivos, podendo qualquer um deles vencer etapas. A Onda não tem nenhum sprinter mas poderá jogar com a polivalência de Hélder Oliveira e Délio Fernandéz para procurar vitórias em etapas.
Quanto à selecção nacional, é difícil de avaliar se as escolhas foram acertadas ou não. Em primeiro lugar, porque desde que praticamente acabaram as provas sub-23 (agora correm sempre com os elites, excepto nos Campeonatos Nacionais e Volta a Portugal do Futuro), tenho acompanhado menos o escalão sub-23. Em segundo lugar, porque as equipas de clube têm como principal objectivo da temporada a Volta do Futuro e a presença na Volta a Portugal pode comprometer esse objectivo. Por exemplo Fábio Silvestre e José Gonçalves, respectivamente campeão nacional de fundo e de contra-relógio no escalão sub-23, mereciam um lugar entre os escolhidos, mas talvez tenham ficado de fora por opção da sua equipa, a Liberty Seguros. Sem saber se estes são os escolhidos por José Poeira ou os cedidos pelas equipas, não vou estar a avaliar se é a melhores selecção possível ou não, mas estou curioso para ver as prestações do trio Liberty composto por Jóni Brandão, Domingos Gonçalves e Luís Afonso, do Guilherme Lourenço e do Bruno Saraiva.
E as equipas estrangeiras
Não há muito para falar sobre equipas estrangeiras. A Lampre conta com Alfredo Balloni, vencedor da juventude na Volta 2010 e 16º na geral, mas o italiano nada fez de relevo desde então. O principal destaque da equipa, se estiver em forma, deverá ser Francesco Gavazzi, que poderá disputar vitórias em etapas com finais de média dificuldade. A Farnese Vini tem Andrea Guardini, que já conta com nove vitórias este ano e poderá disputar as etapas mais planas, e de resto é uma equipa para fazer número.
A Caja Rural trás Oleg Chuzhda, um dos grandes animadores em 2008 e vencedor de etapas em 2009 e 2010, devendo este ano voltar a apostar nas fugas. Diego Milán será o sprínter da equipa e os restantes, ou andam em fugas, ou serão também eles para fazer número. Na Andalucia também só merece destaque David Bernabeu, vencedor da Volta em 2004 e segundo nas duas últimas edições. Está a realizar uma temporada apagada e o seu objectivo passa pela Volta a Espanha, por isso deverá estar em Portugal apenas para rodar e o destaque será mais pela presença do que pela prestação.
Quanto à La Pomme Marseille, Konya Torku e Itera-Katusha, são equipas que costumam andar em provas menores e não é de esperar que estejam na discussão de nada, excepto algumas excepções. São eles Julien Antomarchi e Evaldas Siskevicius, sprínter que venceu a Volta ao Alentejo, pela La Pomme Marseille; na Konya, Danail Petrov, que conhece a prova e tentará vencer uma etapa; e na Katusha estão Timofey Kritskiy, que tem estado apagado depois de ser um dos melhores sub-23 mundiais em 2008 e 2009, e Vyacheslav Kuznetsov, um dos talentos russos que brevemente poderá estar na Katusha principal.
A Chipotle, equipa satélite da Garmin, é composta por jovens talentos que têm nesta equipa a oportunidade de rodar pelo mundo em provas de menor dimensão e evoluir para chegarem à equipa principal. A única excepção é Thomas Dekker, que não é tão jovem (cumpre 27 anos em Setembro) e chegou agora à equipa (após dois anos de suspensão) para ganhar ritmo com vista a próxima temporada, na qual represe
farnese vini tem um ciclista de boa qualidade que este ano esteve por 2 vezes,em julho,muito perto de entrar no top-10,se nao me engano foi 11º na geral da Volta a Austria e no Brixia Tour,pelo que só pelos resultados muito dificilmente estará aqui para fazer numero
ResponderEliminarpenso que Lachlan Morton tem tido optimos resultados esta época e devido a isso tambem deverá andar muito bem aqui,sendo um top-5 algo possivel,mesmo complicado
Daniel Diaz,Justin Jules,Aitor Perez Arrieta,Alex Howes ou Higinio Fernandez podem ser outros que podem andar bem aqui
Concordo contigo.Estes 5 vão ser os vencedores da Volta! Os que me parecem com mais possibilidades é mesmo o João Cabreira e o André Cardoso (mas o contra-relógio) pode ser fatal,mas para ele é vantajoso que este ano seja antes da etapa do alto da Torre...
ResponderEliminarEntre os outros 3(Rui Sousa, Ricardo Meste,Hernani Brôco) o que penso que tem mais possibilidades é o Brôco, na montanha não é como o André Cardoso mas aguentasse bastante bem e no contra-relógio apesar do ano passado lhe ter corrido mal também anda bem.
Quanto aos outros 2... o Rui Sousa trepa muito bem, mas a idade já começa a pesar claro sem lhe retirar o mérito. O Ricardo Mestre é um ciclista que não tenho acompanhado muito, mas com a vitória do Troféu Joaquim Agostinho revelou ter muita qualidade e está com a moral em alta!
Quanto aos estrangeiros o Thomas Dekker não me parece que vá fazer muito, o Balloni igual, mas um ciclista que pouco falaste mas que na minha opinião se tiver boa equipa pode vir a surpreender é o Danail Petrov. Disseste que o Bérnabeu estava concentrado na Vuelta e que vem aqui apenas para se preparar, eu cá não sei penso mesmo que também estará na discussão da prova.
Para o sprint sem dúvida o Guardini(este é o favorito) ... e também se pode incluir o Sérgio Ribeiro o Samuel Caldeira assim como Fracesco Gavazzi.
Pedro977 do pcm-portugal.
Também penso que entre esses 5 estará o vencedor da Volta aqueles a que atribuo mais favoritismo são o Ricardo Mestre e o João Cabreira (por esta ordem)sendo dos 5 aquele que penso ter menos hipóteses de vencer a Volta o Rui Sousa.
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