Alberto Contador foi suspenso por dois anos e desta vez não há volta a dar! O vencedor da Volta a França de 2010 passa a ser Andy Schleck, o vencedor do Giro 2011 passa a ser Michele Scarponi, a suspensão é até Agosto de 2012 e o mundo do ciclismo sofreu uma grande reviravolta, com mais um caso que mancha a imagem da modalidade.
O Caso Contador
O caso de Alberto Contador e o seu bife de vaca (ou apenas clembuterol) está mais do que falado, inclusive neste blog, aqui e aqui, e apenas faltava o veredicto do TAS. Já expressei várias vezes que a minha opinião (vale o que vale) era favorável à absolvição de Contador, mas também não me surpreende que seja suspenso pelo TAS. Por uma questão de bom-senso, esperava eu que a Federação Espanhola o absolvesse e foi o que aconteceu, mas o julgamento do TAS limitam-se a cumprir os regulamentos, sem o patriotismo da Federação Espanhola e sem a fome de sangue que tantas vezes se nota na UCI ou na Associação Mundial Anti-doping.
Curiosamente, a acusação justificava o ínfimo valor de clembuterol com transfusões de sangue, enquanto a defesa alegava que esses valores se deviam a carne de vaca que estaria contaminada. O TAS deu razão a… nenhuma das partes. Diz a sentença que a probabilidade do clembuterol se dever à ingestão de um suplemento contaminado é maior do que ser devido à ingestão de carne ou de transfusão sanguínea. Como os desportistas são responsáveis por tudo o que ingerem, a responsabilidade da substância estar no corpo é de Contador e daí a suspensão. Relembro o caso de Rui Costa, que baseou a sua defesa no facto de não ter conhecimento que a substância proibida estava no suplemente e conseguiu ser ilibado. Porém, o Rui Costa tinha o suplemento, os testes provaram que a substância detectada estava lá presente sem estar especificada na composição do produto. Portanto, apesar de eu preferir que Contador fosse ilibado e continuar a acreditar que não se dopou propositadamente (até porque aquela quantidade não teria relevância na sua performance desportiva), vejo com naturalidade a sua suspensão.
Com esta sentença, todos os resultados do espanhol desde o controlo anti-doping no Tour 2010 são anulados e fica impossibilitado de competir até 5 de Agosto de 2012, perdendo a Volta a França e os Jogos Olímpicos, que seriam os seus principais objectivos da temporada.
Consequências e reacções
Andy Schleck e Michele Scarponi são os principais beneficiados em termos desportivos, dois corredores de poucas vitórias (apesar da enorme qualidade de ambos) e que agora são, respectivamente, vencedor do Tour 2010 e do Giro 2011. Como já vem sendo hábito neste tipo de situações, nenhum deles demonstra grande alegria, pois não é uma notícia de jornal ou internet que vai fazer alguém sentir-se vencedor de algo que terminou há sete meses no caso do Scarponi, 18 meses no caso do Schleck.
Menchov passa a ser vencedor de uma etapa da Volta a Múrcia de 2011 e Jérôme Coppel de uma etapa e da classificação geral da mesma prova. Scarponi “venceu” também a etapa rainha e a geral da Volta à Cataluna, Richie Porte é o vencedor do contra-relógio da Volta a Castela e Leão, Rujano e Nibali ganham uma etapa no Giro cada um e John Gadret sobe ao terceiro lugar… sem o prazer de subir ao pódio de Milão. Nos Campeonatos Nacionais de Espanha, Ivan Gutiérrez passa a ser o medalha de bronze no contra-relógio e na prova em linha Koldo Fernández sobre para segundo e Jesús Herrada para terceiro. Já este ano, Leipheimer e o argentino Daniel Díaz conquistam uma vitória em etapa no Tour de San Luís, com Díaz a subir para segundo na geral e Stefan Schumacher, esse recordista dos controlos anti-doping, a ser terceiro.
A Federação Espanhola, que tinha ilibado o corredor, lamente mas respeita e acata a decisão (como se tivesse outra opção…) e o Oscar Pereiro mostra-se bastante desagrada pelo resultado e lentidão do processo, se bem que ele já devia estar habituado, dado o tempo que teve que esperar para ser declarado vencedor da Volta a França 2006 (só em Setembro de 2007 teve a confirmação).
Angelo Zomegnan, director do último Giro que entretanto já foi destituído das funções, relembra, e com razão, que Contador foi o mais rápido no Giro, não acusou nenhuma substância proibida e não faz sentido que perca a vitória. Tem razão e, para que situações destas não se repitam, os processos têm que se tornar muito mais rápidos, pois apesar de ser um processo complexo (diz que entende do assunto), 565 dias é demasiado tempo com demasiada gente à espera de uma decisão importante nas suas vidas. Durante todo este tempo, uma série de corredores viram-se impossibilitados que negociar contractos com vitórias que agora lhes foram atribuídas e vários patrocinadores não tiveram o destaque que poderiam ter tido se a decisão tivesse saído mais cedo. Outrora, Predictor ou Lotto (uma das duas empresas, não me recordo qual, que patrocinavam a mesma equipa) apresentou queixa contra a Vinokourov pelos perdas provocadas pela sua dopagem, isto é, por Cadel Evans não ter subido ao pódio como vencedor de um contra-relógio do Tour e todo o restante destaque que teriam. Desta vez, se alguém quiser apresentar queixa, será contra quem? Contra o TAS? É que Contador não tem culpa do quanto se arrastou o processo e limitou-se a competir, estando habilitado para isso.
A Saxo Bank, que tinha uma equipa montada em torno de Contador e despendia com ele grande parte do seu orçamento, fica agora “desarmada” do seu pistoleiro. Até Agosto dependerá de Nick Nuyens, Chris Anker Sorensen, Juan José Haedo e alguma surpresa para conseguir resultados relevantes. Além disso, sem os pontos de Contador não conseguiriam os suficientes para ser World Tour e a UCI está agora a estudar se a equipa de Riis continuará a pertencer ao escalão máximo do ciclismo mundial. Se perder o seu estatuto, não me admiraria que também perdesse o patrocinador e ficasse à beira do desaparecimento. Hoje, dia 7, pelas 18h30 portuguesas, o corredor e a equipa darão uma conferência de imprensa.
Em breve deverá haver novos desenvolvimentos… mais ou menos relevantes.
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No domingo arranca o calendário nacional, com a Prova de Abertura, toda ela no concelho de Loulé. Serão 142 km com partida no Hotel Pinhal do Sol, perto de Quarteira, e chegada no centro de Loulé. Estarão presentes as equipas de clube e equipas continentais portuguesas. Conto ainda falar delas antes da prova. Aqui fica o vídeo de promoção da mesma.
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