terça-feira, 22 de maio de 2012

Quem pode parar este Joaquim Rodríguez?

Antes do arranque desta Volta a Itália, enumerei seis candidatos à vitória final, dos quais um desistiu, outro está fora da luta e outro parece estar num nível superior à concorrência: Joaquim Rodríguez. O catalão lidera a prova com mais de um minuto de vantagem para a concorrência e na montanha tem sim o melhor. Quem é que o pode impedir de vencer este Giro?


Foi logo no contra-relógio inaugural, na Dinamarca, que o Giro começou a sorrir para Joaquim Rodríguez. 44º classificado a 43 segundos de um super Taylor Phinney, Rodríguez perdeu apenas 7 segundos para Roman Kreuziger e quatro para Ivan Basso, tendo ganho 16s a Frank Schleck, 20s a Damiano Cunego, 23s a Michele Scarponi, para referir apenas as diferenças em relação aos outros cinco por mim enunciados. Purito Rodríguez salvou aí um dos dias assinalados a negro no seu calendário, não só limitando as perdas como deixando em desvantagem aqueles que, em teoria, seriam (e serão) mais perigosos na montanha.

No contra-relógio colectivo da quarta etapa, a primeira em Itália, Rodríguez voltou a salvar outro dia e, desta feita, abrindo margem para todos os seus principais adversários na geral. A Katusha foi segunda, apenas cinco segundo pior que a Garmin, deixando a 17 segundos a Astana de Kreuziger, a 21s a Liquigas de Basso a 23s a Radioshack de Schleck e a 29s a Lampre de Scarponi e Cunego. Rigoberto Uran e Sergio Henao (Sky), que deveriam ter ganho tempo nesse dia, perderam 25s, Pozzovivo perdeu mais de um minuto, José Rujano e John Gadret cerca de minuto e meio. Muito tempo! Demasiado!

Surpresas e desilusões


As duas primeiras montanhas assinaláveis deste Giro chegavam na sétima e oitava etapa, próximas da meta, apesar de não coincidentes com o risco de chegada. Paolo Tiralongo, que já tinha andado muito bem na Volta à Romandia, bateu Scarponi nos metros finais da sétima etapa, com Frank Schleck em terceiro a mostrar-se em boa forma. No dia seguinte, com a última montanha do dia a cerca de cinco quilómetros da meta, um ataque de Domenico Pozzovivo surpreendeu os favoritos e deu ao pequeno italiano a vitória na etapa, com Beñat Intxausti a dar um ar da sua graça para ser segundo quatro segundos à frente do grupo principal, encabeçado por Joaquim Rodríguez, que assim bonificou oito segundos. Ryder Hesjedal, canadiano da Garmin que há vários meses trabalha a pensar no Giro, era o maglia rosa após o segundo fim-de-semana de prova.

Dois dias depois, uma daquelas chegadas que assenta como uma luva a Joaquim Rodríguez, a terminar numa curta mas ingreme subida, daquelas que obriga a uma grande explosão como o espanhol é capaz mas Basso nem lá perto. Rodríguez venceu com alguns segundos de vantagem e ainda levou vinte de bonificação pela vitória, mais do que suficiente para chegar à liderança da classificação geral. Frank Schleck perderia aí 26 segundos mas o pior ainda estava para vir para o luxemburguês. No dia seguinte, devido a queda, perdeu mais 46 segundos e lesionou-se no ombro, acabando por desistir nos primeiros 30 km da etapa de domingo.

A primeira chegada ao alto estava agendada para sábado dia 19. Pelo meio, Mark Cavendish tinha vencido três etapas e Matthew Goss, Miguel Rubiano, Francisco Ventoso, Roberto Ferrari e Lars Bak uma cada, além dos já referidos Phinney, Tiralongo, Pozzovivo, Rodríguez e do contra-relógio colectivo da Garmin. Na primeira de duas chegadas ao alto consecutivas, Andrey Amador venceu em fuga, numa grande exibição e na terceira fuga que vingou neste Giro, depois das de Rubiano e Bak. Ryder Hesjedal esteve em grande nível e recuperou a camisola rosa, num dia em que Rodríguez tentou fazer a diferença mas a única coisa que conseguiu foram cinco segundos ganhos para Kreuziger e meio minuto para Rujano, que atacou nas duas montanhas do dia mas no final quebrou.

Perfil da etapa de quarta-feira
Provas de três semanas ganham-se ao longo de 21 dias mas podem perder-se apenas num. No domingo, Frank Schleck desistiu, ele que tinha chegado com os melhores no dia anterior, mas as desilusões não se ficaram por aí. Depois da vitória da semana anterior, houve muita euforia em torno de Pozzovivo, mas esqueceram-se de uma grande desvantagem do italiano: é que é tão pequeno e tão leve, que se perde nas descidas… tal como Rujano. Alguns, como Joaquim Rodríguez e Damiano Cunego, compensam a baixa estatura (apesar de terem quase mais 10 kg que Rujano, também são baixinhos) com uma grande técnica de descida, o que não acontece com Pozzovivo e Rujano. Em etapas como a de domingo, em que a última descida terminava a 15 km do final e houve quem acelerasse na descida (Astana), Rujano perdeu-se e Pozzovivo reentrou na subida final muito desgastado, o que era evidente pela sua posição na cauda do grupo, logo ele que gosta de andar lá na frente.

A Liquigas fez aquilo que já tinha feito no dia anterior e vai continuar a fazer: meter ritmo para desgastar os adversários à espera que Ivan Basso faça a diferença no final. Mas Basso está cada vez menos explosivo e foi preciso esperar pelos ataques de Scarponi e Joaquim Rodríguez para que o grupo se fragmentasse. No último quilómetro e meio, Rodríguez ganhou 25 segundos a Scarponi, Basso e Sergio Henao, foi alcançar o fugitivo Matteo Rabottini (Farnese Vini) e, apesar da vitória lhe ter fugido, voltou a vestir de rosa e a ganhar tempo para a concorrência, num dia em que mais um fugitivo se impôs aos grandes candidatos ao pódio de Milão.

Além da desistência de Schleck, Cunego foi para o segundo dia de descanso com provas claras de que não está em condições de lutar por mais do que uma vitória em etapa, Pozzovivo com 3m17s de atraso, John Gadret com 3m24s e José Rujano 7m50, diferenças que colocavam os três fora da luta pelo pódio, cada vez mais centrada em Rodríguez, Basso, Kreuziger e Scarponi, com Hesjedal e Tiralongo pelo meio.

A terceira semana


Perfil da etapa de sexta-feira
Hoje iniciou-se a última semana de prova, com uma etapa que poderia causar pequenas diferenças entre os favoritos pela sua parte final mas que não foi atacada por estes. Ion Izaguirre, que há menos de um mês venceu o contra-relógio da Volta às Astúrias, foi o mais forte de dez escapados e conquistou uma grande vitória para si e para a sua Euskaltel. Os favoritos chegaram nove minutos depois, todos juntos.

Faltam cumprir cinco etapas, a de amanhã, que é de alta montanha mas com 18 quilómetros de descida entre a última montanha e a meta, uma plana (quinta-feira), duas chegadas ao alto (e que chegadas!) e o contra-relógio final de Milão com 30,9 km.

Perfil da etapa de sábado
Rodríguez lidera e é, para mim, o maior favorito à vitória. Em termos de favoritismo, seguem-se Ivan Basso e Michele Scarponi, terceiro e sexto da geral a 1.22 e 1.36 minutos, mas Roman Kreuziger (5º a 1.27) também poderá ter uma palavra a dizer se minimizar as perdas na sexta e sábado. Ryder Hesjedal (2º a 30s) e Paolo Tiralongo (4º a 1.26) ocupam lugares de destaque mas não os vejo como homens para se aguentarem na alta montanha. Sergio Henao (8º a 1.55 e líder da juventude) parece-me ser o homem para completar o top-5. Hesjedal, Beñat Intxausti (7º a 1.42), Dario Cataldo (9º a 2.12), Rigoberto Uran (11º a 2.56), Thomas de Gendt (12º a 3.16), Pozzovivo (13º a 3.17), John Gadret (15º a 3.24) e Mikel Nieve (18º a 4.20) parecem-me os mais fortes candidatos a completar o top-10. De todos os referidos, três terão que ficar fora do top-10 final, mas estou quase certo de que pelo menos 9 destes 13 estarão nos dez primeiros da classificação final.

1 comentário:

  1. Mais um excelente (tópico)
    É muito bom poder contar com as tuas análises.
    Não tenho muito a referir, apenas esperava mais para já do kreuziger...
    A minha grande surpresa foi a Movistar, depois de vir com uma equipa um pouco modesta está a fazer um grande giro.
    Com 2 etapas ganhas e mais uma série de pódios ainda consegue colocar Benaut Inxausti em 7º.
    Por último penso que ó Joaquin Rodriguez vai limpar este Giro.

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