quinta-feira, 5 de julho de 2012

Julho, época de caça ao Homem

Há muitos anos que Armstrong é motivo de interesse
para os jornalistas
Aproximou-se o Tour, a época em que o ciclismo tem destaque em toda a comunicação social,  e algumas pessoas aproveitam para ter um mediatismo que, de outra forma, não teriam. O doping e perseguição a Lance Armstrong é a forma mais fácil, tal como muitos cantores e aspirantes a tal aproveitam os títulos do Benfica no futebol para fazer álbuns com esse tema e dizerem que são "benfiquistas deste pequeninos", sejam portugueses, brasileiros ou de algum PALOP. É a caça ao Homem, com H maiúsculo, porque no ciclismo Lance Armstrong é O Homem.


Sendo a luta anti-doping uma necessidade, a forma como tem sido gerida nos últimos anos, por parte do Comité Olímpico Internacional, Agência Mundial Anti-Doping (AMA), UCI,  Federações nacionais de ciclismo e das agências anti-doping de cada país, tem sido um disparate. Tal como a GNR tem medo de aparecer num local de assalto mas é muito rápida a colocar radares em sítios estratégicos de caça-à-multa, as agências anti-doping têm medo de mexer com os desportos e ligas que envolvem muitos milhões de euros (FIFA, NBA, entre outros) mas são muito rápidos a cair em cima de qualquer ciclista. Os grandes grupos económicos, que controlam os partidos políticos através de donativos, investem forte no futebol, patrocinando os grandes clubes, selecções e futebolistas mais mediáticos, com os quais não pode haver problema algum. No caso dos EUA, não tanto no futebol "europeu", mas  fazem-no sim no futebol americano, basquetebol, basebol e hóquei no gelo, desportos igualmente protegidos. Por isso está fora de hipótese uma perseguição ao Cristiano Ronaldo,  Messi, LeBron James ou Kobe Bryant, até mesmo ao Hulk, Moutinho, Aimar, Gaitán ou Wolfswinkel para citar alguns nomes de estrelas escolhidas aleatoriamente. O próprio Jardel confessou que, enquanto jogou em Portugal, consumiu regularmente cocaína sem qualquer problema. Se um grande do futebol tivesse um controlo anti-doping positivo, o responsável por esse controlo estaria em sérios problemas. Por outro lado, caçar Lance Armstrong é um prémio muito apetecido.

Oscar Pereiro sentiu os efeitos de vencer o Tour quando foi submetido a controlo numa cervejaria em que se encontrava com amigos, mas nada se equipare a Lance Armstrong, o Homem que venceu 7 Voltas a França e, sendo ou não o melhor de sempre, é o mais mediático, como Pete Sampras foi no ténis ou como Michael Jordan foi e é no basquetebol. Não sei quantas vezes Armstrong já foi investigado (e sempre ilibado) e por quantos organismos diferentes, mas creio que está é a primeira vez que a agência anti-doping dos EUA (USADA) acusa o heptavencedor do Tour.

Caso Armstrong nº 13881623992716153

Como disse Miguel Indurain, é curioso que estes casos apareçam sempre em altura do Tour. E acrescento eu: é curioso que as declarações de Indurain não surjam publicadas quase em lado nenhum. Será por não atacarem Armstrong e não prometerem sangue?

O ridículo da USADA começa quando suspende provisoriamente Armstrong, não só no ciclismo, mas também do triatlo (que tem praticado) e de qualquer outra modalidade, o que não faz sentido, pois a legitimidade para suspender pertence à federação nacional de cada desporto, sendo depois as suspensões estendidas a todo o mundo pelas federações internacionais (como a UCI). Exemplo disso foi Héctor Guerra, que esteve suspenso pela Real Federação Espanhola de Ciclismo, não podia competir em provas oficiais de ciclismo, mas competia em triatlo... porque não pertence à RFEC nem à UCI. Reparem bem, de acordo com a USADA, Armstrong está suspenso de participar num torneio de pingue-pongue na China ou de xadrez na Rússia, desportos e países em que a USADA não tem legitimidade... mas acha que tem.

Nova notícia com um tanto ou quanto de ridícula saiu esta manhã no jornal holandês De Telegraaf. Segundo este jornal, Hincapie, Leipheimer, Zabriskie, Vande Velde e o director desportivo da Garmin Jonathan Vaugthers estariam dispostos a confessar que se doparam enquanto foram colegas de Armstrong e acusar este de também o ter feito e, como moeda de troca, em vez de uma suspensão de dois anos, seriam suspensos apenas por seis meses, a começar depois da Vuelta, de modo a poderem correr normalmente em 2013.

Desde logo, não acreditei nisto! Vaugthers diz desde sempre que montou a Garmin para ser uma equipa 100% limpa e entrar nesta polémica agora com os seus colegas Zabriskie e Vande Velde, poderia significar o fim da equipa. Mesmo alegando que apenas se dopavam enquanto corriam na US Postal, a reputação dos três e de toda a equipa ficaria em xeque, se é que não ficava mesmo em xeque-mate.

Por outro lado, Leipheimer, que completa 39 anos em Outubro e tem uma carreira limpa de doping, ficaria com toda a carreira manchada. Sendo a suspensão de 6 meses ou de 2 anos, toda a carreira fica manchada quando um corredor assume que se dopava há 12 anos, porque ninguém acreditará que não o fez entretanto, ainda para mais, no caso de alguém que voltou a ser treinado por Bruyneel entre 2007 e 2011 e colega de Armstrong em 2009 e 2010.

No caso da suposta confissão de Hincapie, seria ainda mais ridícula. Hincapie, com 39 anos já cumpridos, já anunciou que se vai retirar este ano, e ser suspenso por 6 meses ou 2 anos, ser-lhe-ia indiferente. Além de tudo isto, se qualquer um deles confessasse e fosse suspenso por 6 meses pela USADA, o mais provável seria a UCI recorrer, tal como tem recorrido de todas as suspensões com "atenuantes".

Entretanto, Vaughters, que está em França a acompanhar o Tour (onde correm os seus ciclistas Vande Velde e Zabriskie, além de Leipheimer e Hincapie), já disse que toda a equipa está 100% focada no Tour e não há nenhum acordo para suspensões de 6 meses.

Resumidamente...

Não posso dizer que Armstrong ou qualquer outro desportista nunca se dopou, mas posso dizer que Armstrong nunca acusou positivo, já foi muitas vezes investigado e sempre ilibado e acredito que este caso acabará da mesma forma.

Por fim, lamentar que o ciclismo seja explorado e perseguido desta forma e que a luta anti-doping continue tão hipócrita.

2 comentários:

  1. Ora nem mais! Estou farto de o ciclismo para gente ignorante ser igual a doping! Se as outras modalidades fossem tão controladas como o ciclismo o número de casos aumentava exponencialmente! Enfim eu estou farto desta lenga-lenga à volta do Armstrong! Este tipo de notícias cada vez me passa mais ao lado.

    ResponderEliminar
  2. Podemos começar por nos interrogar dos motivos pelos quais a luta contra as drogas desportivas é uma necessidade. Necessidade para quem? Para os atletas ou para quem faz dessa luta um negócio?
    Passando por cima dessa primeira questão, são altamente duvidosos os critérios que são escolhidos para determinar quais são as substâncias proibidas. Se a cocaína, as bebidas alcoólicas, a nicotina e derivados do tabaco são consideradas prejudiciais à saúde, com grandes e dispendiosas campanhas de combate ao seu consumo pelos cidadãos; se um dos grandes argumentos contra o seu consumo é a degradação física e moral que atingem os seus consumidores, é um contra-senso que sejam proibidas pela UCI com o argumento que falsificam os resultados desportivos. Enfim, é possível que tal seja verdade. Se o Ullrich não tivesse abusado dessas substâncias, é possível que tivesse outros argumentos para bater o Armstrong...
    Finalmente, não sei os motivos pelos quais o ciclismo é o desporto de eleição para a perseguição movida pela Inquisição, perdão, pelas agências de luta contra a droga desportiva. Mas considero duvidoso que o fraco (?) peso económico do ciclismo seja o motivo principal para que tal suceda. Não se vê (ou sou eu que não me apercebo) de perseguição idêntica em desportos "mais pobres" ou menos "mediáticos", como o xadrez, o badminton, o pólo, a esgrima, a patinagem, o hóquei em patins ou outros. De vez em quando lá aparece uma notícia a dar conhecimento de alguém que fumou mais que aquilo que é autorizado, mas rapidamente isso cai no esquecimento. O ciclismo parece ser o único desporto onde a ordem é para remexer sempre na mer**. Dá protagonismo, talvez. Mas os motivos deverão ser outros, talvez tão tenebrosos que ninguém se atreve sequer a aflorá-los...

    ResponderEliminar

Share