sábado, 2 de fevereiro de 2013

A segunda vez de Sven Nys

Sven Nys, por trás da lama, enquanto nevava
Sven Nys, o mais laureado da história do ciclocrosse, conquistou hoje o seu segundo título mundial, oito anos depois do primeiro. Klaas Vantornout foi segundo e o terceiro lugar pertenceu ao jovem Lars Van der Haar, bicampeão mundial sub-23 em 2011 e 12 e que vem fortalecer as esperanças de uma Holanda que venceu as outras três corridas: juniores, elites femininas e sub-23.

Juniores, Femininas e Sub-23


Louisville (EUA) foi a cidade escolhida para acolher os primeiros Campeonatos do Mundo de ciclocrosse fora da Europa, alimentando o desejo da UCI de globalizar todas as vertentes do ciclismo. O programa original dividia as provas entre sábado e domingo mas devido às previsões meteorológicas e à possibilidade de inundações no rio Ohio as corridas de elites femininas e elites masculinos tiveram que ser antecipadas para domingo, juntando-se assim às provas de juniores e sub-23 masculinos.

Esta edição dos Mundiais de crosse começou da melhor forma para os holandeses, com Mathieu Van der Poel a comprovar o favoritismo e impor-se na corrida de juniores, sagrando-se assim bicampeão mundial de juniores, tal como já era bicampeão europeu, bicampeão holandes, bivencedor da Taça do Mundo e prepara-se para se sagrar bivencedor do Superprestige.

Como curiosidade, dizer que Mathieu Van der Poel é filho de Adri Van der Poel, um dos grandes classicomanos da década de 80, onde venceu a Volta a Flandres, Liege-Bastonge-Liege, Clássica de San Sebastian, Amstel Gold Race e Clássica de Zurique, além de muitos outros pódios (incluíndo Roubaix e Mundiais de estrada). O avô de Mathieu é Raymond Poulidor (8 pódios no Tour). O segundo foi o também holandês Martijn Budding e o terceiro o checo Adam Toupalik.

Se nos juniores a Holanda tinha favoritismo, na corrida das senhoras tinha super-favoritismo, através de Marianne Vos. A rainha do ciclismo feminino não facilitou e conquistou o seu décimo título mundial de elites, sexto em ciclocrsse, quinto consecutivo na especialidade. Katherine Compton (EUA) foi segunda a mais de minuto e meio e Lucie Chainel-Lefèvre (França) fechou o pódio com mais de dois minutos de atraso.

Nos sub-23 esperava-se uma corrida equilibrada e um grande duelo entre belgas e holandeses, como se veio a verificar, sendo o top-10 totalmente preenchido por corredores destes dois países. E apesar dos belgas terem vencido o duelo de postos no top-10 por 6-4, a grande vitória foi para um holandês, Mike Teunissen, que assim deu o terceiro título do dia ao seu país, seguido por Wietsen Bosmans e Wout Van Aert, naturais do outro lado da fronteira.

Elites

O evento principal estava marcado para o final, com Sven Nys, Niels Albert e Kevin Pauwels a liderarem as apostas, seguidos de Klaas Vantornout, Bart Wellens e o holandês Lars Van der Haar. O suíço Julien Taramacaz, o francês Francis Mourey, o alemão Philipp Walsleben e os checos Martin Bina e Radomir Simunek sonhavam com um lugar no pódio.

Martin Bina e Francis Mourey (da FDJ) tentaram surpreender logo na primeira de nove voltas ao circuito gelado, sendo o francês mais resistente e permanecendo isolado na frente até ao final da terceira volta, quando foi alcançado por Pauwels com Nys e Vantournout pouco atrás.

O domínio belga no ciclocrosse é avassalador mas não se pense que funcionam como equipa. É cada um por si e que vença o melhor.

Quando os quatro se juntaram na frente, Mourey continuou a ser um dos mais ativos, enquanto Niels Albert se aproximava e pouco depois seguia Lars Van der Haar, o jovem holandês que foi campeão mundial sub-23 nos últimos dois anos.

Parecia que os seis primeiros lugares seriam disputados entre Mourey, Pauwels, Nys, Vantornout, Albert e Van der Haar, mas no ciclocrosse os azares são frequentes e a intensidade leva a muitos erros na gestão de energias. Em poucas dezenas de metros, Pauwels perdeu todas as aspirações ao título por um problema mecânico, Mourey começou a acusar o esforço e Niels Albert parecia pronto para se juntar à frente de corrida... o que não veio a acontecer.

Nys e Vantornout ficaram sozinhos na liderança a três voltas do final e acabaram por discutir o triunfo entre eles. O Canibal Nys procurava o segundo título da sua carreira, o que não é condicente com o seu fantástico palmarés, e Vantornout procurava juntar o título mundial ao título nacional, ele que já tinha sido 2º em 2010.

Quando se esperava decisão ao sprint, a vitória acabou por resultar de um erro de Vantornout... a pé. A sua roda da frente ficou presa e foi o suficiente para Nys montar a sua bicicleta e disparar para o título. Vantornout cruzou a linha de meta logo a seguir, a barafustar, consigo, com o seu azar. Os belgas voltaram a vencer, o 10º título em 13 anos, batidos apenas por dois homens que agora se dedicam à estrada: Lars Boom (2008) e Stybar (2010 e 2011). Nys teve um merecido prémio, mas o seu compatriota também merecia melhor sorte.


Lars Van der Haar cruzou a meta sorridente e com três dedos a indicar o seu posto, dando esperanças aos holandeses de voltarem a conquistar um título na categoria principal nos próximos anos, talvez já em 2014 em casa. O veterano Bart Wellens (campeão em 2003 e 2004) foi quarto, seguido de três "estrangeiros": Walsleben, Taramarcz e Bina. O campeão em título Niels Albert terminou a sexta volta a apenas dez segundos do duo da frente mas acusou o esforço e caiu para a oitava posição, enquanto Mourey foi 11º e Pauwels 12º. 


Não houve portugueses em prova mas houve dois espanhóis: Aitor Hernández (23º) e Javier Ruiz de Larrinaga (28º). Os crossistas portugueses estão tão distantes do nível dos melhores espanhóis como os melhores espanhóis estão distantes dos melhores do mundo, mas talvez daqui a 3-5 anos tenhamos um português a participar nos Mundiais. Talvez.


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E se o objetivo da UCI é globalizar o ciclismo, realçar também as classificações dos estadunidenses*: Logan Owen 4º nos juniores, Compton foi 2ª nas elites, Zach McDonald foi 11º nos sub-23 e Timothy Johnson foi 19º nos elites.

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*Quando uso o termo "estadunidense" há sempre alguém que diz que me enganei e muitos mais pensarão o mesmo, mas fica aqui a explicação: "Norte-americano" é alguém ou algo natural da América do Norte, podendo ser dos Estados Unidos da América ou do Canadá, enquanto "estadunidense" é alguém ou algo natural dos EUA. Por exemplo, Hesjedal e Van Garderen são ambos norte-americanos, mas um é canadiano e outro é... estadunidense. Fica a curiosidade.

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Domingo termina a Etoile de Bessèges (onde está Ricardo Mestre) e começa a Volta ao Qatar e a Challenge de Maiorca (onde estão Rui Costa e Manuel Cardoso). Segunda-feira haverá Revista da Semana.

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