Um dos objetivos para os próximos tempos do Carro Vassoura passa por comentar estratégias, forma de estar na corrida ou de a ler, de modo a tornar mais compreensível algumas opções das equipas. Depois da crónica "Ciclismo de todos-contra-todos ou um-contra-todos", onde foi analisada a construção da estratégia de uma equipa em função do seu principal rival (ou rivais) ou em função do seu líder e da sua equipa, a crónica de hoje é sobre os comboios na montanha, tema muito atual depois das vitórias da Sky nas chegada ao alto do Paris-Nice e do Tirreno-Adriático. Os comboios fazem a vitória mais fácil?
A minha resposta é não! (sublinho que é a minha resposta, podendo existir outras opiniões e podendo as mesmas ser apresentadas e defendidas nos comentários, como sempre). Passo a explicar.
No início de 2008 tive a oportunidade de entrevistar Orlando Rodrigues, então diretor desportivo do Benfica que estava em estágio. Na Volta a Portugal anterior José Azevedo era o chefe-de-fila e terminou em 6º. Para 2008 o Benfica tinha-se reforçado com Ruben Plaza e Cândido Barbosa, segundo na Volta de 2007. Perguntei ao Orlando Rodrigues sobre a falta de apoio a Azevedo na etapa da Torre e respondeu-me o Orlando que esse não tinha sido o problema, porque Azevedo perdeu a corrida numa altura em que esta estava entregue aos chefes-de-fila e cada um tinha estava por sua responsabilidade. A exceção era Cândido Barbosa que tinha Héctor Guerra e disso falarei adiante. Orlandro Rodrigues tinha razão.
O apoio da equipa pode ser fundamental para uma vitória na classificação geral, nomeadamente para minimizar as perdas de tempo. Por exemplo, na chegada ao alto do Tirreno-Adriático Daniel Moreno realizou um trabalho de enorme qualidade para que Joaquim Rodríguez não perdesse muito tempo e que continuasse com as possibilidades de uma boa classificação geral em aberto. O mesmo aconteceu na Vuelta do ano passado, com Nairo Quintana por várias vezes a auxiliar Valverde para que chegasse a Contador e Rodríguez. Porém, o apoio que é dado para minimizar as perdas de tempo (para depois serem compensadas noutro tipo de etapas mais favoráveis) e os comboios como o da Sky no último Paris-Nice e Tirreno-Adriático, são situações diferentes.
Por comboio entende-se uma equipa a impor um ritmo forte para o seu chefe-de-fila durante uma distância considerável, seja um ciclista apenas (como David López no Paris-Nice) ou um conjunto (como Cataldo, Henao e Uran no Tirreno-Adriático). O comboio serve essencialmente para impor um ritmo constante, manter a corrida controlada e para evitar excesso de ataques. Sem isso haveria mais variações de ritmo, o que obrigaria o líder a ter que escolher quais os ataques aos quais responder. Uma má seleção poderia levar a um desgaste desnecessário, talvez com consequências na classificação final.
Porém, tornar a corrida mais controlada não é sinónimo de vitórias. Temos o caso de Contador no Tour 2010 (primeira chegada ao alto vencida por Schleck, depois do comboio da Astana de Contador evitar ataques durante toda a subida). Porque ganhou Andy Schleck nesse dia? Porque era o mais forte. O mesmo motivo levou Porte à vitória na Montanha de Lure e Chris Froome no Prati di Tivo.
O momento decisivo para as vitórias de Porte e Froome foram os ataques desferidos e impossíveis de seguir para os seus rivais. Foi aí que a corrida foi ganha. Se existisse alguém mais forte do que os homens da Sky, teria vencido, porque o ritmo até então imposto era o mesmo para todos. Froome tinha a roda de Cataldo, Henao e Uran para seguir? Tinha, mas todos os outros iam ao mesmo ritmo.
Na montanha o apoio de um gregário ao líder assume grande importância noutro tipo de situações. Por exemplo, quando um ciclista que sobe bem (talvez até melhor que o líder) ajuda um colega melhor colocado na geral (como o tal caso de Guerra a Cândido Barbosa na Volta 2007) ou quando um ciclista que sobe bem mas é mau contra-relogista ajuda um colega que se adapta melhor aos contra-relógios que estão para vir. Mas ter muita ajuda, por si só, não faz a vitória. É preciso ser o mais forte.
Porém, tornar a corrida mais controlada não é sinónimo de vitórias. Temos o caso de Contador no Tour 2010 (primeira chegada ao alto vencida por Schleck, depois do comboio da Astana de Contador evitar ataques durante toda a subida). Porque ganhou Andy Schleck nesse dia? Porque era o mais forte. O mesmo motivo levou Porte à vitória na Montanha de Lure e Chris Froome no Prati di Tivo.
O momento decisivo para as vitórias de Porte e Froome foram os ataques desferidos e impossíveis de seguir para os seus rivais. Foi aí que a corrida foi ganha. Se existisse alguém mais forte do que os homens da Sky, teria vencido, porque o ritmo até então imposto era o mesmo para todos. Froome tinha a roda de Cataldo, Henao e Uran para seguir? Tinha, mas todos os outros iam ao mesmo ritmo.
Conclusão
Ao contrário do que acontece nas chegadas ao sprint, em que é fundamental estar bem colocado e sair na frente dos adversários (desde que não seja muito cedo), nas etapas de montanha os comboios não são decisivos para a a vitória na etapa. Facilita o controlo da corrida, reduz o número de ataques, mas faz o mesmo trabalho para todos os homens da geral. Então qual o interesse da Sky em impor um ritmo forte? Se o ritmo fosse baixo, Contador atacaria, Nibali atacaria, Horner atacaria e Froome, ou ira a todas as movimentações, ou tinha que escolher e provavelmente acabaria por vingar um ataque que inicialmente foi consentido e que posteriormente se tornou impossível de anular. Foi assim que Samuel Sánchez e Jelle Vanendert venceram duas chegadas ao alto no Tour 2011, batendo Cadel Evans e os irmãos Andy e Frank Schleck, três ciclistas mais fortes a subir mas que não podiam responder a tudo e todos.Na montanha o apoio de um gregário ao líder assume grande importância noutro tipo de situações. Por exemplo, quando um ciclista que sobe bem (talvez até melhor que o líder) ajuda um colega melhor colocado na geral (como o tal caso de Guerra a Cândido Barbosa na Volta 2007) ou quando um ciclista que sobe bem mas é mau contra-relogista ajuda um colega que se adapta melhor aos contra-relógios que estão para vir. Mas ter muita ajuda, por si só, não faz a vitória. É preciso ser o mais forte.