segunda-feira, 4 de março de 2013

Revista da Semana: Machado, Pedro Paulinho e André Cardoso em destaque

André Cardoso ao ataque na Roma Maxima
Passou-se uma semana com muitas provas, muitos portugueses em ação e alguns deles em destaque. Tiago Machado foi 2º no prólogo nos 3 Dias de Flandres-Ocidental e 4º na classificação final, Pedro Paulinho foi um dos fugitivos do dia no GP Cidade de Camaiore e André Cardoso na Roma Maxima, absorvido pelo pelotão já dentro do último quilómetro. Semana cheia de boas exibições dos representantes do nosso ciclismo.

3 Dias de Flandres-Ocidental

Começamos com esta prova que foi a mais comentada da semana graças à prestação do Tiago Machado. A prova tinha um prólogo, uma primeira etapa em linha talhada para sprinters e uma segunda com algumas colinas na parte final que poderia causar alguns cortes. Ainda assim, o mais espectável era que as maiores diferenças se fizessem no prólogo.

Havia alguma expetativa sobre o que o Tiago e o Nelson Oliveira poderiam fazer no prólogo (e consequentemente na geral), mas nem o próprio Tiago Machado acreditaria que podia ser segundo num contra-relógio plano de apenas sete quilómetros. O campeão belga da especialidade Kristof Vandewalle (Omega Pharma-Quick Step) foi o mais forte, com Tiago Machado a sete segundos e nove ciclistas a oito segundos do português, o que deixava tudo em aberto devido às bonificações.

A primeira etapa terminou ao sprint com vitória de Danilo Napolitano, um talentoso sprinter que se batia com os melhores do mundo nas grandes voltas ao serviço da Lampre, venceu duas etapas na Volta a Portugal 2008 e agora está na belga AccentJobs porque a sua barriga é demasiado volumosa para o World Tour.

Os primeiros postos não sofreram alterações na primeira etapa em linha mas a última meta volante da prova viria a alterar o pódio para infelicidade dos portugueses. Tobias Ludvigsson (Argos) e Niki Terpstra (Omega) bonificavam e ultrapassavam assim Tiago Machado.

Vitória ao sprint para Gerald Ciolek, agora ao serviço da sul-africana MTN-Qhubeka, geral para Vandewalle e Tiago Machado em quarto, uma classificação que supera as expetativas iniciais mas deixa algum amargo de boca pelo segundo lugar que esteve tão perto e apenas foi perdido numa meta volante. Ainda assim, muito bem o Tiago!

Quanto a Nelson Oliveira, que teve o início de temporada afetado por problemas de saúde, foi 32º no prólogo e 21º na classificação geral.


Strade Bianche

Prova sem portugueses mas que vinha a despertar grande atenção pela sua singularidade. Favoritos agrupados até ao sexto de oito setores não asfaltados, altura em que Moreno Moser (Cannondale) saltou do grupo e levou na roda apenas Juan António Flecha (Vacansoleil), que depois de largos quilómetros em posição intermédio estava prestes a ser absorvido pelo mini-pelotão. Na frente havia um grupo de fugitivos aos quais apenas Moser chegaria, entrando na subida final com Michael Schar (BMC), Aleksejs Saramotins (IAM Cycling) e Maxim Belkov (Katusha).

Fabian Cancellara e Tom Jelte-Slagter tentaram escapar-se ao grupo principal mas sem sucesso, com o Peter Sagan sempre muito atento a controlar a corrida para o seu companheiro. À entrada do último quilómetro, em subida, o quarteto dianteiro estava à vista dos perseguidores mas ainda com quinze segundos de vantagem. Tendo em conta o desgaste dos líderes e a capacidade de explosão de Sagan, era espectável que o eslovaco chegasse ao grupo mas era igualmente espectável que Moser se fosse embora para a vitória, tal como na etapa-rainha da Volta à Polónia do ano passado. Assim foi. Moreno Moser arrancou para a vitória e lá atrás Sagan disparou para o segundo lugar, com Rinaldo Nocentini (Ag2r) e fechar o pódio e Fabian Cancellara 4º, a ganhar forma para as clássicas de pavé que se aproximam.


Roma Maxima

Após a Strade Bianche, outra prova italiana sobre a qual havia grandes expetativas, o regresso do Giro del Lazio, agora com a denominação principal de Roma Maxima, prova que se iniciava e terminava na Via dei Fori Imperiale, com o lendário Coliseu de Roma como pano de fundo

Depois de um arranque de prova a todo o gás, já estavam percorridos mais de 50 quilómetros quando se formou a fuga do dia, composta por Blel Kadri, Pim Lightart, Albert Timmer, Christophe Premont e o português André Cardoso. Com as maiores dificuldades a 40 km da meta, gerou-se uma situação propícia ao sucesso da fuga, pois os homens mais à-vontade para as subidas não se sentiam com confiança para arriscar de tão longe e as equipas dos sprinters não podiam impor um ritmo forte no pelotão para que os seus homens rápidos não ficassem fora da disputa.

Blel Kadri (Ag2r) atacou a cerca de 40 km do final e ficou isolado na frente, enquanto do pelotão saiam Nibali, Mauro Santambrogio, Miguel Rubiano e Francesco Reda para se juntarem ao André Cardoso, aquele que mais luta tinha dado a Kadri nas subidas.


Fotografia fantástica de um desporto fantástico.
Blel Kadri vence a Roma Maxima
Filippo Pozzato reentrava no pelotão e a sua Lampre assumia a perseguição aos fugitivos, absorvendo o quinteto já dentro do último quilómetro mas incapaz de chegar até Kadri, francês de 26 anos que teve um 2012 marcado pelas lesões. 37 segundos depois chegava o pelotão, com Pozzato a impor-se aos demais e levantar os braços para comemorar uma vitória que não conseguiu. Correr sem rádios gera situações destas. O italiano desconhecia que ainda havia um fugitivo. Grega Bole (Vacansoleil) fechou o pódio e André Cardoso foi 38º. Certamente saber-lhe-á à pouco ser alcançado tão próximo da meta, mas foi uma excelente prestação do André. Bravo!


GP Cidade de Camaiore

Apesar do nome do blog ser Carro Vassoura, da minha parte não existe nenhuma adoração a quem anda na cauda da corrida. Os corredores que admiro são aqueles que, não tendo hipótese de levar a melhor ao sprint ou na última montanha do dia quando ela existe, atacam, animam a corrida e dão visibilidade aos patrocinadores. 

Na quinta-feira disputou-se o GP Cidade de Camaiore, com a presença de André Cardoso, Pedro Paulinho e Amaro Antunes num percurso que incluía sete passagens por uma subida de 2,8 km a 7,4% de inclinação média. O percurso era duro e Pedro Paulinho não tinha hipóteses de chegar no primeiro grupo, pelo que saltou para a fuga do dia com mais quatro corredores (incluindo Taylor Phinney). A iniciativa terminou já nos 20 km finais e Pedro Paulinho (alcançado um pouco mais cedo) acabou por desistir, mas enquanto teve condições para tal, animou a corrida e deu visibilidade aos patrocinadores da sua equipa, a correr no seu país.
Pedro Paulinho, de branco, em fuga no GP Camaiore

A vitória foi disputada por um grupo de 12 ciclistas e estava lá Peter Sagan... venceu, claro. Para a sua vitória contribuiu o lançamento de Moreno Moser, que dias depois venceria a Strade Bianche à frente de Sagan. Diego Ulissi (Lampre) foi segundo, Rinaldo Nocentini (Ag2r) terceiro, Denis Menchov mostrou-se em boa forma para o Paris-Nice que arrancou no domingo e Vicenzo Nibali (Astana) e Michele Scarponi (Lampre) mostraram-se em boa forma para o Tirreno-Adriático que se inicia quarta-feira.

André Cardoso chegou no segundo grupo, a 40 segundos da frente, no 22º lugar, e Amaro Antunes não terminou a prova.


Outras provas da semana

No Tour de Langkawi (Malásia), o colombiano Julian Arredondo (Team Nippo) venceu a classificação geral, depois de na segunda-feira ter vencido a etapa rainha. É a quinta vez consecutiva que a prova é vencida por um sul-americano, aproveitando que estão em melhor forma física, pois no hemisfério sul está agora a acabar o verão. Ao longo da prova, Andrea Guardini venceu uma etapa, Francesco Chicci, Theo Bos e Bryan Coquard duas cada um.

Coquard começa a tornar-se um caso sério. Na sua época de estreia, com apenas 20 anos, já leva quatro triunfos. Atenção a este sprinter pluma de apenas 58 kg.

Na classificação geral, Pieter Weening foi segundo e Sergio Pardilla terceiro, obtendo assim o primeiro posto de destaque da temporada para a MTN-Qhubeka. E por falar na MTN, lembram-se dJay Thomson que venceu a primeira etapa da Volta a Portugal 2012 e andou de camisola amarela? Está agora ao serviço da equipa do seu país e no sábado sagrou-se campeão nacional da África do Sul.

Na quarta-feira disputou-se a semi-clássica Le Samyn, onde o jovem Alexei Tsatevich surpreendeu o pelotão e deu mais uma vitória em solo belga à Katusha. Kris Boeckmans foi o mais forte no pelotão, com o mesmo tempo de Tsatevich, mas incapaz de ir além do segundo lugar.

Para finalizar a semana, o GP de la ville de Lillers, prova de um dia em França onde participam sobretudo equipas de jovens. A Leopard Continental foi uma das presentes e Fábio Silvestre foi 18º, a 41s do primeiro lugar, integrando o segundo grupo.


Esta semana

A semana que se está a iniciar será marcada pelo Paris-Nice e o Tirreno-Adriático e não começou nada bem para Rui Costa. Depois de ontem ter sido 15º no prólogo, hoje caiu e teve que abandonar, desconfiando-se de fratura no pulso. Os exames médicos excluíram essa hipótese e o tempo de recuperação será curto, mas fica a frustração de ter que abandonar uma prova que lhe assentava bem e onde podia começar a somar os importantes pontos World Tour.

Damien Gaudin (Europcar) surpreendeu toda a gente e venceu o prólogo, de apenas 2,9 km, com o seu compatriota Nacer Bouhanni (FDJ) a dar hoje a segunda alegria consecutiva ao franceses.

A classificação geral deverá jogar-se na sexta-feira com a chegada à Montanha de Lure e no domingo com a crono-escalada ao Col d'Èze. A prova tem transmissão em direto no Eurosport 1, com excepção de quinta-feira, sábado e domingo, sendo nesses dias transmitida no Eurosport 2.

A partir de quarta-feira (até dia 12) estará na estrada o Tirreno-Adriático, com José Mendes e Sérgio Paulinho. A prova transalpina inicia-se com um contra-relógio coletivo de 16,9 km, seguem-se duas etapas para sprinters, uma chegada em alto (6km a 7%), duas etapas acidentadas e para terminar um contra-relógio plano de 9,2 km.

José Mendes terá liberdade para fazer a melhor classificação possível e o top-10 pode ser uma fasquia elevada mas exequível, depois de várias boas exibições neste começo de 2013. Já Sérgio Paulinho dedicar-se-á ao trabalho para Alberto Contador, um dos grandes favoritos à vitória a par de Vicenzo Nibali, Cadel Evans e Chris Froome (teremos o segundo duelo da temporada entre Contador e Froome). Atenção também a Bauke Mollema, que tem estado a grande nível e já leva quatro lugares de pódio, procurando ainda o primeiro triunfo.

E no domingo haverá a Paris-Troyes, com a participação de José Gonçalves.
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Apesar de a cada Revista da Semana tentar listar as provas em que vão alinhar portugueses, nem sempre é possível, pois nem todas as provas têm site devidamente atualizado e com a lista de participantes. Para contornar esse problema, se alguém tiver conhecimento de mais alguma corrida com participação lusa, pode enviar a informação por comentário, e-mail, mensagem de Facebook, Twitter... é só escolher. Ou os ciclistas que correm por equipas estrangeiras, podem enviar o seu calendário (o que já conhecem) pelos mesmos formatos.

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Todos os dias, dentro do possível, irei twittando as novidades sobre as várias provas. Porquê pelo Twitter? Porque é a plataforma mais limpa, clara e perceptível quando a informação é muita e porque qualquer pessoa, mesmo sem se registar, pode aceder. Apesar de ser um grande incentivo ter quase 1000 seguidores no Facebook e já mais de 100 no Twitter, o meu objetivo do Carro Vassoura não é aumentar esse número mas sim que a mensagem chegue ao máximo de gente. Se entram e seguem, muito bem. Se entram, veem mas seguem, muito bem na mesma também.

4 comentários:

  1. Belo blog! Aqui fica o meu blog, se pudesse comentar e votar ;)

    http://fasdociclismo.blogspot.pt/

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  2. Excelente, excelente, excelente crónica! A acompanhar praticamente tudo o que havia para acompanhar! É de dar valor.

    Felizmente grande desempenho dos portugues, só pena mesmo o que aconteceu ao Rui Costa, até gostava de saber em que provas irá ele alinhar agora para tentar suprimir o numero de dias do paris-nice, que acabará por não cumprir.

    Este fim de semana e ao ver as diversas provas, principalmente ao ver o Biel Kadri, tornou-me a vir uma ideia à cabeça que já ando a matutar à algum tempo, os franceses passam a vida a "queixar-se" de não terem grandes campeões, e muitas vezes isso até é usado por "publico em geral" quando querem atacar porcamente o ciclismo, dizendo que agora já não há grandes ciclistas franceses, e que isso se deve ao que os outros fazem...pois parece-me que a geração de franceses que está a aparecer irá limpar as lágrimas a todos os pobres franceses. Coquard, Bouhanni, Pinot, etc etc , entre outros mais estabelecidos, como Pierre Rolland ou até o Arnaud Demare, entre outros. Vejo qualidade nos franceses. Que tal um artigo sobre isso??

    PS: não sabia que o Napolitano comia assim tanto, lá que tem nome de bolo o homem tem!

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  3. A crónica do que se passou está muito completa, como de costume. Excelente, como escreve o João Pedro. No entanto, creio que é cedo para deitar foguetes e dar os parabéns aos vencedores dessas provas, bem assim como é cedo para elogiar o comportamento dos portugueses. Teremos de esperar 20 anos para termos a certeza que estes resultados serão mesmo válidos, não vá amanhã um qualquer burocrata sedento dos holofotes da ribalta descobrir que um destes ciclistas utilizou indevidamente um produto que será proibido daqui por 10 anos...
    Uma nota à parte, é pena que tenha adoptado o aborto horto gáphico. Será que o Rui Quinta é funcionário público e se sinta na obrigação de obedecer à martelada do socas? Mas, se pretende escrever de acordo com o acordês, convinha que cumprisse na íntegra as "normas" (?) das XXI Bases que o compõem; respeitar umas normas e ignorar outras, a seu bel-prazer, só serve para confundir os leitores que sabem português.

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  4. Obrigado pelos comentários.

    João Pedro, boa sorte com o blog.

    SR, eu gostava de ver o Rui Costa na Volta à Catalunha, mas com o Valverde lá não terá tanta liberdade.
    Vamos ver se estes jovens franceses se afirmam mesmo. Por vezes aos 20 e poucos anos já se está no topo da carreira. Veja-se o caso do Cunego.

    Conan, não vou estar a discutir a adoção do novo acordo ortográfico face ao de 1990. Cada um que faça como entender melhor. Eu tento escrever pelo novo, sem corretor automático e consciente de que é possível que existam erros na conversão. Mas se essas são as únicas queixas a apontar, não me tirarão o sono.

    Cumprimentos a todos!

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