quarta-feira, 1 de maio de 2013

Giro d'Itália: percurso, favoritos e antevisão

Bradley Wiggins e Vincenzo Nibali, respetivamente vencedor e terceiro no último Tour, são os grandes candidatos à vitória na Volta a Itália que está à porta. Ryder Hesjedal, Cadel Evans, Samuel Sánchez, Robert Gesink, Ivan Bass, Michele Scarponi e muitos mais completam um cartaz de excelência. Portugueses serão 4.

Percurso

Teremos este ano um Giro d'Itália um pouco mais equilibrado do que vem sendo norma. Não lhe faltará montanha, mas um contrarrelógio longuíssimo de 54,8 quilómetros dará vantagem aos especialistas e com duas etapas planas na última semana (um delas a derradeira) haverá mais motivos para os sprinters tentarem terminar a prova.

A prova arranca de Nápoles, uma das mais populosas cidades italianas mas marcada pela pobreza da periferia e pela insegurança. A primeira etapa é uma daquelas feitas a pensar no público local, com apenas 130 km mas com 11 passagens pela meta antes da chegada. Nela caberá aos sprinters lutarem pela vitória e pela camisola rosa.

A 15ª etapa será uma das mais duras
Ao segundo dia haverá contrarrelógio coletivo na pequena ilha de Ischia, ali próximo de Nápoles mas com o Mar Tirreno pelo meio. Serão apenas 17,4 quilómetros mas o terreno um pouco acidentado dificultará a vida aos sprinters e seus lançadores, que tantas vezes são importantes nos cronos coletivos planos. Apenas as equipas mais fracas deverão perder mais de um minuto em relação à vencedora.

A quarta etapa tem uma contagem de segunda categoria muito próxima da meta e poderá fazer uma seleção de vinte a quarenta ciclistas para disputar a vitória. Dependerá, claro, da forma como for atacada. No entanto, a classificação geral começa a jogar-se de forma mais intensa na oitava etapa, com o tal contrarrelógio de 54,8 quilómetros onde os especialistas poderão ganhar alguns minutos a adversários menos fortes neste tipo de esforços. Ciclistas como Scarponi ou Basso deverão perder aí três ou quatro minutos para Wiggins. Se lhes serve de consolação: será o único contrarrelógio plano ao longo da prova.

A primeira chegada ao alto será na décima etapa, após o primeiro dia de descanso, para alguns tentarem recuperar o atraso do crono e outros mostrarem que não são homens com os quais contar para o pódio. 

As duas últimas etapas de montanha
Com o avançar da prova, a alta montanha tem cada vez mais peso. As chegadas ao alto seguintes estão na 14ª e 15ª etapas, aí com chegada ao Galibier, onde Andy Schleck deu a sua última grande demonstração de força, no Tour 2011. A 18ª será uma crono-escalada, não tão dura como noutros anos, mas ainda assim um dia que favorece os trepadores. Seguem-se as duas etapas da decisão, duas etapas verdadeiramente duras onde um dia mau para qualquer ciclista poderá ser fatal e deitar por terra qualquer vantagem conquistada até então. Quem sair daí na liderança, terá o seu passeio triunfal por Brescia.


Favoritos

Bradley Wiggins (Sky) parte como o principal favorito à conquista deste Giro, depois de um 2012 de completo sucesso coroado com a vitória na Volta a França. Ainda assim, olhando para 2012 vemos um Wiggins que venceu o Paris-Nice, Volta à Romandia e Critérium du Dauphiné antes do Tour. Este ano, Wiggins está a zeros em termos de vitórias, o que levanta algumas dúvidas. Terá feito uma preparação diferente propositadamente ou algo está a falhar?

Se Wiggins é o número 1, Vincenzo Nibali (Astana) é o número 2... para muitos até o principal candidato. É um dos melhores voltistas da atualidade, com uma vitória na Vuelta, dois pódios no Giro e um no Tour, tudo nas últimas três temporadas. Foi o maior rival da Sky no Tour e este ano bateu Froome e Contador no Tirreno-Adriático, vencendo também o Giro del Trentino. Tem estado fortíssimo mas poderá pagar o esforço na última semana da Corsa Rosa. Certamente gostaria que houvesse mais etapas com final em descida, mas mesmo este percurso assenta-lhe bem.

Wiggins e Nibali têm mostrado respeito um pelo outro mas são os maiores rivais no Giro
Ryder Hesjedal (Garmin) surpreendeu há um ano. Todos esperavam pelo dia que falhasse, mas era o canadiano quem atacava e colocava os seus adversários em dificuldades. Será capaz de fazer o mesmo em 2013? Em princípio, não, mas no ciclismo as surpresas acontecem e ele foi um dos que mais gente surpreendeu em 2012.

Cadel Evans (BMC) não esteve ao seu melhor na Volta a França transata e durante este ano ainda não chegou próximo do Evans que venceu o Tour 2011. Não tem estado mal, mas também ainda não mostrou a condição necessária para vencer um Wiggins ou Nibali na máxima força. Robert Gesink (Blanco) não parece um homem para vencer, mas talvez para pódio. É capaz de andar próximo dos melhores na montanha e andar muito bem nos contrarrelógios, mas para chegar ao pódio do Giro será importante não cair. Talvez seja essa a maior dificuldade do holandês. O ex-campeão olímpico Samuel Sánchez (Euskaltel) decidiu apostar este ano na prova francesa e também por isso tem feito uma temporada discreta até ao momento. Ainda assim, estando na sua melhor forma, é um candidato ao pódio.

Depois de Nibali, Michele Scarponi (Lampre) é a melhor opção dos tiffosi italianos para o pódio, agora que Ivan Basso (Cannondale) começa a acusar a idade. Em sentido contrário, Mauro Santambrogio (Vini Fantini) está a fazer a melhor temporada da sua carreira, mas ainda não provou ser capaz de aguentar três semanas ao nível a que esteve no Tirreno-Adriático e no Giro del Trentino. Domenico Pozzovivo e Carlos Betancur (Ag2r) deverão animar as etapas e montanha, Wilco Kelderman (Blanco), Beñat Intxausti (Movistar) e Tom Danielson (Garmin) são homens a poder ambicionar o pódio, bem como Sergio Henao ou Rigoberto Uran, se bem que o principal objetivo destes será levar Wiggins à vitória.

Chave da corrida

O contrarrelógio da oitava etapa servirá para marcar as primeiras diferenças importantes na classificação geral. Nibali tem estado mais forte que Wiggins na montanha, mas se o britânico lhe ganhar aí dois minutos, o italiano terá a tarefa dificultada por uma Sky de grande nível. Certamente não serão os colegas a fazer com que Wiggins vença as etapas de montanha, mas Uran, Henao, Cataldo e Siutsou conseguirão meter um ritmo alto nas subidas finais para dificultar os ataques dos adversários.

Nibali tem também ele uma forte equipa em seu redor. Se assumir a liderança, não veremos o mesmo cenário do ano passado, com Hesjedal apenas entregue a Vande Velde e Stetina. O próprio Hesjedal, este ano terá consigo Danielson, além dos dois companheiros repetentes.

A menos que haja uma grande surpresa, a luta estará entre Nibali e Wiggins. E pelo que temos visto até agora, é de acreditar que o vencedor apenas poderá suspirar de alívio quando terminar a penúltima etapa.

Portugueses

Estarão em prova quatro portugueses: Tiago Machado e Nelson Oliveira pela Radioshack, Bruno Pires pela Saxo-Tinkoff e Ricardo Mestre pela Euskaltel-Euskadi.

Tiago Machado tem condições para melhorar o 19º lugar de 2011, mas o top-10 já parece ser demasiado, tendo em conta o leque de grandes grande-voltistas que estarão presentes no Giro. Procurar a vitória numa etapa, como fez na Vuelta depois de ver as suas opções na geral estragadas numa queda, poderá ser uma alternativa. Mas de princípio há que ir com calma e tentar estar com os melhores nas primeiras etapas de montanha. Depois se verá.

Nelson Oliveira terá o contrarrelógio marcado no seu calendário. Durante a primeira semana terá que poupar energias para esse dia, o da sua especialidade. Depois disso, é fazer-se à vida e tentar estar em fugas, se a equipa lhe der liberdade para tal. Bruno Pires sim, deverá ter liberdade da sua equipa desde a primeira semana. Concentrarem as energias em Rafal Majka poderia ser um erro para uma equipa que não tem nenhum claro candidato a top-10 sequer.

Ricardo Mestre estará na sua estreia em grandes voltas e a prioridade é auxiliar Samuel Sánchez, até porque será ele um dos ciclistas de quem mais a Euskaltel pode esperar nesse capítulo. Enquanto Sánchez estiver a lutar por algo, o Ricardo não deverá ter grande liberdade.

Transmissão televisiva

Todas as etapas terão transmissão no Eurosport. Os horários de cada dia poderão ser vistos no site do canal. Sempre que possível, também serão disponibilizados links na página do Facebook para poderem acompanhar as etapas e sempre que possível os links disponibilizados serão os do Eurosport 1. Será assim por respeito à grande maioria que não está à vontade com mais nenhuma língua. No entanto, não me responsabilizo pelas barbaridades que ouvirem durante a transmissão.

Poderão também entrar em www.twitter.com/carrovassoura e acompanhar aí comentários.

*****
Se existir tempo disponível, haverá ainda mais alguma crónica até ao arranque da prova. Caso contrário, apenas no Facebook e Twitter.


*****
Crónica desta semana já publicada no NotíciasCiclismo.net. Podem ler aqui.

*****
No domingo disputou-se a segunda e última prova do Troféu Luso-Galaico. Daniel Freitas (Anicolor) venceu a prova e Renato Avelar (Liberty Seguros/Feira/KTM) o Troféu.

5 comentários:

  1. O Basso não vai estar... barbaridades tem calma...

    ResponderEliminar
  2. Obrigado pelo comentário. Porém, caro anónimo, o texto que leu foi escrito e publicado no dia 1 de Maio. Ivan Basso apenas anunciou a sua não participação no dia 2.

    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  3. É pena o Basso não estar presente, excelente analise, concordo com tudo expecto com o aspecto dos comentadores da Eurosport , continuação de um bom trabalho

    ResponderEliminar
  4. Esperei até ao anúncio das equipas finais para fazer uma analise com calma e a minha antevisão.

    O Giro já não tem a dureza dos anos 90, em que era dominado muito por italianos, agora quer atrair todos os ciclistas e o crono de 52kms é um convite inibido a Wiggins...

    Apesar de mais forte a Garmin não tem equipa para assumir a corrida, e Hedjal terá de se segurar muito bem se por acaso lhe cair a liderança nas mãos...

    A Sky e a Astana levam equipas muito fortes para a montanha, mas terão de ter um dos seus gregários em super forma para aguentar a dureza e o seu lider respectivo não ficar desprotegido demasiado cedo.

    Nota-se que equipas Pro Tour que deixaram todas as suas peças importantes de fora: Saxo, RadioShack, Movistar, Lotto, Katusha. Apostaram tudo no Tour, e o facto de não terem lideres absolutos para a geral, poderá lançar alguma confusão na corrida e abrir mais esta.

    Espero que seja uma corrida aberta, e que o Nibali e restantes estejam 1 nivel acima do ano passado. Em que Nibali bem tentou algo o tour, mas nada conseguiu...

    ResponderEliminar
  5. Espero estar enganado mas penso que este Giro vai ser algo monótono. A Sky e a Astana tem equipas claramente superiores a todas as outras e depois faltam corredores de ataque para a montanha. Além disso ainda temos um Pozzovivo, que vem duma lesão, um Cadel Evans que depois de vencer o Tour nunca mais foi o mesmo, um Gesink que acaba sempre por cair e um Samuel Sanchez que há oito anos que não vinha ao Giro.

    ResponderEliminar

Share