Col du Glandon, Col de la Madeleine e Col de la Croix Fry fazem agora parte de uma das páginas de ouro do ciclismo português, escrita e assinada por Rui Costa, que com muita classe conquistou a sua terceira vitória na Volta a França.
A etapa do Alpe d'Huez teve os ingredientes necessários para ser considerada uma excelente etapa. Equipas a atacar desde cedo para tentar isolar Froome, duas subidas a uma mítica montanha, muito público (que oscila entre o espetacularmente belo e o desgraçadamente mal comportado) e os candidatos ao pódio a atacarem desde o início da última dificuldades.
A Saxo-Tinkoff lançou Nicolas Roche e Sérgio Paulinho para a frente da corrida naquilo que toda a gente percebeu ser uma tentativa de imitar a estratégia que valeu a vitória na Volta à Espanha. Para isso era necessário que Contador conseguisse distanciar-se de Froome na montanha (o que não conseguiria), que apanhasse Froome desprevenido (todos vimos a Vuelta do ano passado) ou que atacasse na descida de Sarenne. Foi o que fez na companhia de Kreuziger e chegaram a ter vinte segundos de vantagem, mas a essa altura já os seus colegas tinha sido absorvidos pelo pelotão. A estratégia correu tão mal que no final Contador disse que não eram um ataque e apenas se tinha colocado na frente para descer mais tranquilamente. Sim, foi o que vimos. Na última dificuldade faltaram as forças.
Froome atacou logo no sopé do Alpe d'Huez (final) mas desta vez não esteve tão forte. O carro da Sky tinha tido problemas antes e faltou alimentação. Foi o seu momento mais humano ao longo deste Tour mas valeu-lhe Richie Porte. Inclusive teve que ser o australiano a ir buscar abastecimento ao carro de apoio, que lhe valeu 20 segundos de penalização (como mandam os regulamentos) por já estarem após o fecho do abastecimento.
A corrida ficou interessantíssima. Riblon dava tudo o que tinha e o que não tinha para chegar a Van Garderen na luta pela vitória na etapa, Quintana e Joaquim Rodríguez tentavam chegar ao pódio, Froome tentava não esgotar a reserva, Contador tentava segurar o pódio, Kreuziger tentava salvar o seu colega e Mollema dizia adeus a esse objetivo.
No final venceu Riblon, curiosamente o único que caiu na perigosíssima descida que alguns ciclistas queriam que fosse anulada.
A etapa de hoje também começou muito atacada e já a prever (e a preparar) isso Movistar e Katusha fizeram aquecimentos prévio nos rolos. Como para um contrarrelógio ou uma prova de BTT em que se sai a top. Entre os fugitivos estava Rui Costa. Aliás, depois de se poupar no contrarrelógio na quarta-feira, ontem já tinha estado em fuga no começo da etapa mas o grupo em que se encontrava inserido foi absorvido. Hoje estava no grupo certo.
Depois de ultrapassado o Col de la Madeleine chegou a dar a sensação de que o numeroso grupo de perseguidores não conseguiria alcançar Ryder Hesjedal e Pierre Rolland, que registaram uma vantagem máxima próxima dos cinco minutos. A tendência inverteu-se e na subida seguinte (terceira de cinco) já parecia provável que se chegasse ao duo, com os perseguidores a beneficiarem de um furo de Rolland para se situarem a menos de três minutos. A partir daí a aproximação foi quase constante e a iniciativa do francês terminou na subida para a Croix de Fry. Hesjedal ficou antes disso.
O grupo era grande e tinha gente bem capacitada. Mikel Nieve que foi 3º no Mont Ventoux, Robert Gesink, Daniel Navarro que procurava entrar no top-10 (saltou para 8º), Bart De Clercq (que vem em crescente), o ex-camisola amarela Jan Bakelandts e Andreas Kloden (que foi 2º em 2004 num final semelhante... quase uma década).
Quando Rui Costa atacou o grupo já estava reduzido e por isso toda a gente sabia quem eram os homens a controlar. Rui Costa era um deles, estava marcado e o seu ataque não foi uma surpresa, mas nem assim conseguiram seguir com ele, tal era a diferença de capacidade. O ataque e a forma como passou por Rolland mostram que é um ciclista de outra liga e noutra condição física, diferente dos seus colegas de grupo. Rolland venceu a chegada ao Alpe d'Huez e foi melhor jovem em 2011, venceu outra etapa e foi oitavo no ano passado, mas estava desgastado por um longa fuga, Rui Costa chegou a ele, passou para a frente e foi a seu ritmo. Não abrandou quando chegou ao francês nem pediu que este colaborasse. "Limitou-se" a fazer a sua corrida, de pedalada forte e certeira rumo ao cume, com confiança própria dos campeões. Depois a descida, um último topo e ali estava outra vitória. E que me desculpem todos os que já venceram no Tour, sem querer tirar mérito às restantes vitórias, mas com montanhas como as de hoje no percurso, está é uma vitória daquelas que fica excelente nos livros.
Rui Costa tem duas vitórias na terceira semana da Volta a França e agora digam que não é ciclista para três semanas. Que seja ciclista para lutar pelo pódio do Tour, como muitos diziam à partida, não me parece. Mas o problema não são as três semanas, como de resto já tinha mostrado no ano passado ao atacar continuamente. Continue a evoluir na alta montanha e veremos até onde pode chegar. Em que equipa? Saber-se-á muito em breve.
O grupo de favoritos foi sempre comandado pela Saxo-Tinkoff, que arrisca-se a perder dois lugares no pódio e tentava salvar a classificação coletiva do ataque da Radioshack, agora a menos de quatro minutos. As hostilidades no grupo foram iniciadas por Alejandro Valverde, que não fosse aquele Momento Valverde e estaria também ele a lutar pelo pódio. Entre os que ainda alimentam esse objetivo não aconteceram diferenças, mas Michael Rogers afastou-se do top-10 e assim poderá fugir amanhã para defender a liderança coletiva da sua equipa.
Para o penúltimo dia, não se espere ataques dos favoritos muito longe da meta, porque não há forças para tal. O que haverá sim são ritmos diferentes na última montanha e diferenças de tempo como consequência. A confirmar-se a tendência do Alpe d'Huez, Quintana chegará ao segundo lugar e Joaquim Rodríguez ao terceiro, o que seria o seu terceiro pódio consecutivo em grandes voltas, nas três diferentes... sem ganhar. Mas não há dois dias iguais e Contador e Kreuziger ainda terão uma palavra a dizer.
Assim se vai chegando ao final do Tour, que traz aquela nostalgia de final de princípio do fim do verão.
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Na primeira etapa do Troféu Joaquim Agostinho, vitória de Sérgio Ribeiro. As etapas podem ser acompanhadas em direto no site da prova. Todas as noites há resumos de 10 minutos da RTP 2, com início pouco depois das 22:00 (sábado 22:08 e domingo 22:04 para sermos precisos).
Pura classe do Rui...ele foi feito para isto, atacar em busca de vitórias em etapa quando já está longe da Geral...nunca será um homem para lutar pela Geral de uma grande Volta mas será um homem que nos próximos 10 anos nos irá dar muitas alegrias destas seja no Tour, Giro ou Vuelta como em muitas outras provas. Que venham mais Rui e porque não já amanhã?;);)
ResponderEliminarSoberbo.O Rui Costa demonstrou mais uma vez que é um ciclista de nível mundial.Estrategicamente esteve brilhante,como já havia acontecido na chegada a Gap.Mais uma vez se demonstra a super qualidade desta geração de ciclistas portugueses.Nos últimos anos são já 4 vitorias em etapas do Tour,3 pelo Rui e 1 do Sérgio.Este estado de graça dos ciclistas portugueses só encontra paralelo com as participações,vitorias em etapas e lugares no pódio de Joaquim Agostinho e com as presenças brilhantes de Acácio da Silva e José Azevedo.Parabens enorme Rui Costa.
ResponderEliminarCom um feito desta envergadura impunha-se uma grande crónica, tal como aconteceu. Os Rui estão fortes!
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