domingo, 11 de agosto de 2013

As vítimas do Monte Farinha

Fantástica foto da Volta a Portugal, do fotografo da Volta a Portugal
Uma vez mais, a chegada à Senhora da Graça não serviu para decidir a Volta nem o pódio, mas serviu para eliminar alguns ciclistas, com diferenças curtas entre os melhores mas significativas para as desilusões.

Foi bom ver a seleção na Barragem do Alvão, com o grupo principal a chegar restrito a Mondim de Basto, o que não se via desde 2009. Por outro lado, a subida final foi pouco atacada, sem que alguém se atrevesse a desafiar a força coletiva da Efapel. Com exceção para Vergílio Santos, que já merece uma vitória de etapa na Volta a Portugal mas ainda não a conseguiu hoje, e Sergio Pardilla, que ficou com a tirada e a camisola amarela, pelo menos para já.

A Efapel-Glassdrive esteve forte, sim, mas longe da perfeição. Em Viana do Castelo foi o episódio entre o Rui Sousa e o Joni Brandão, e aproveito para corrigir agora o que disse na altura: havia retas em que dava para ver o Joni sozinho e foi aí que os outros companheiros saíram da frente, com exceção do Rui Sousa. E hoje, apesar de um enorme trabalho do Ricardo Vilela, não se deve ignorar que Nuno Ribeiro e Arkaitz Durán ficaram muito aquém da entrega que lhes era exigida.

Hélder Oliveira foi um bom exemplo do que é um ciclista que se entrega à equipa. Estava próximo do seu limite, mas deu tudo o que tinha até entrarem na subida final. Aí encostou para o lado, completamente exausto, perdendo mais de onze minutos na subida final. Ricardo Vilela foi outro bom exemplo. Tinha atacado por duas vezes na Barragem do Alvão, entrou na subida para a Senhora da Graça a puxar e lá foi ele, sempre ele. César Fonte ainda puxou um pouco, e depois Hernâni Brôco a lançar Rui Sousa, que foi terceiro, atrás de um surpreendente Edgar Pinto. Nuno Ribeiro e Arkaitz Durán nada. Sobretudo Durán, o que tinha (que não era tanto quanto gostaria), poupou para si, durante grande parte da subida bem colocado atrás dos seus companheiros mas sem os ajudar.

O Edgar Pinto foi a melhor surpresa do dia. Infelizmente perdeu tempo no contrarrelógio por equipas, mas será um homem a ter em conta no que resta desta Volta, sobretudo para procurar uma vitória de etapa e a classificação por pontos, onde é segundo atrás de Rui Sousa. Depois dos azares dos últimos anos, constantemente vítima de lesões, merece um prémio condicente com a sua qualidade.

Gustavo César* foi quarto e fez justiça às suas palavras, seguido de Hernâni Brôco em quinto e Daniel Silva. Outras boas surpresas foram o cazaque Vladislav Gorbunov (8º), Rui Vinhas (11º), Henrique Casimiro (13º), Rafael Silva (21º) e Nuno Bico (23º). Pela negativa, Hugo Sabido, Arkaitz Durán e Marcel Wyss, que saem da luta pela vitória. Também Eduard Prades ou David Livramento.

Depois da etapa de hoje, vejo cinco candidatos aos três lugares de pódio. O camisola amarela Sergio Pardilla, Rui Sousa, Hernâni Brôco, Gustavo César e Daniel Silva. Pena que não sejam mais.

Pardilla lidera, foi terceiro em 2010 e mostrou hoje ter capacidade para ganhar tempo na montanha, que é o seu terreno. Em 2010 fez um excelente contrarrelógio em Leiria, ao ser sexto (surpreendente), e o deste ano adapta-se melhor às suas características, pelo que poderá defender-se muito bem. A MTN não é uma equipa de topo, mas é muito melhor do que era há um ano atrás, e os seus adversários são poucos, o que torna mais fácil o controlo da prova.

Délio Fernández e Alejandro Marque perderem tempo hoje, o que talvez tenha sido uma desilusão para quem os esperava ver a disputar a Volta. No entanto, a OFM tem Gustavo César em terceiro na geral e hoje foi quarto, por isso não pode ser ignorado. Se estiver com os melhores na Torre, será uma surpresa para mim, mas não o será se for um dos melhores no contrarrelógio. A Efapel tem que lhe ganhar tempo nos dois dias de Serra da Estrela, porque se forem para o crono com ele próximo, será um grande perigo.

E aqui entramos nas contas da Efapel-Glassdrive. O que farão os homens de Carlos Pereira na Serra da Estrela? Seguir a estratégia de hoje, com um ritmo constante durante tanto tempo quanto possível, eliminando os adversários gradualmente, é uma hipótese. Mas aquela que me parece mais forte seria atacar, à vez, com Hernâni Brôco e Rui Sousa. Porque quando se chegar à alta montanha, não acredito que a OFM e a MTN tenham lá mais do que um homem, tal como se viu hoje. Se ataca o Brôco, o Gustavo César e o Pardilla são forçados a escolher entre deixar ir ou a responder eles mesmo. Se ataca o Rui Sousa, novamente o Gustavo César e o Pardilla são obrigados novamente a decidir entre deixar ir ou responder eles mesmo. Claro que nenhuma estratégia servirá se os homens da Efapel estiverem muito inferiores aos seus adversários. Mas se estiverem em nivelados, esta parece-me ser a melhor opção. Pelo menos, a única forma de fazerem valer o facto de terem dois corredores na disputada.

Por último dentro dos que ainda considero candidatos ao pódio, Daniel Silva. Tem 46 segundos de atraso face a Pardilla e hoje não mostrou estar na condição necessária para os recuperar. Porém, se estiver ao seu melhor nos últimos dias, será um sério candidato. E aqui realço o "se".

O cazaque Gorbunov está na sua melhor forma da temporada e as indicações que traz sobre o seu valor no contrarrelógio são muito más. Ou muito boas... para as equipas portuguesas, porque deverá perder tempo no crono da Guarda. Edgar Pinto está atrasado na geral devido ao crono coletivo, mas pode ser uma das grandes figuras desta Volta.

A partir de amanhã, com uma etapa acidentada que liga Lousada a Oliveira do Bairro, começa a disputar-se a Volta a Portugal dos que queriam mais mas não puderam. Isto é, dos ciclistas que já não contam para a classificação geral e poderão procurar uma vitória de etapa ou a classificação da montanha.

A Efapel já tem uma vitória de etapa e continua viva na sua principal guerra, a vitória na Volta. A LA-Antarte está na luta pela classificação por pontos e lidera a montanha (não era preciso fazer birra ontem, porque é uma classificação que se vai ganhando ao longo dos dias), mas não deixará de procurar uma vitória em etapa.

A OFM é a formação que enfrenta situação mais complexa. Tem uma vitória de etapa e por isso já não vai de mãos a abanar. Tem um ciclista na luta na geral (Veloso), dois que estão perigosamente próximos e por isso não terão liberdade para se mexer (Marque e Délio), e outro que está muito desgastado depois de dois dias escapado (Hélder Oliveira). Samuel Caldeira desistiu por gastroenterite e sobram quatro ciclistas, que têm liberdade por parte dos adversário mas farão falta no apoio aos seus colegas "protegidos".

Quanto ao Louletano, Tavira e Boavista é óbvio que terão que correr ao ataque. No caso do Boavista, Daniel Silva pode até vencer, mas não tem mostrado a segurança que se esperava e a equipa não se pode arriscar a poupar energias para a Serra da Estrela. Tem que ser agressiva, como tem sido.

*Como todos os anos, é preciso alertar que os nomes espanhóis têm primeiro o apelido paterno e em último o materno. O correto é chamar Gustavo César ou Gustavo César Veloso, mas nunca Gustavo Veloso, tal como não se chama Alberto Velasco, Alejandro Belmonte ou Joaquim Oliver.
Ainda assim, no caso do Gustavo César Veloso, também é frequente que se chame apenas César Veloso ou Veloso, tal como sucedia com o José Ángel Gómez Marchante. Há mil maneiras de o chamar, incluindo Gómez Marchante ou Marchante, mas nunca Ángel Marchante.

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Terminou hoje a Volta a Burgos, com vitória de Don Nairo Quintana, à frente de David Arroyo (vencedor na Senhora da Graça e Torre em 2004) e Vincenzo Nibali, em fase de preparação para a Vuelta. Um grande destaque também para André Cardoso, quinto na etapa rainha e na classificação geral.

A Caja Rural tem apostado muito em estágios de altitude e os resultados viram-se nesta Volta a Burgos. Vamos esperar e acreditar que igualmente se verão na Vuelta, com o André Cardoso ao seu melhor nível.

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E está a decorrer agora a última etapa da Volta ao Utah, onde Tiago Machado é 7º classificado.

7 comentários:

  1. Em primeiro lugar, parabéns à organização pelo prémio de Montanha antes da Senhora da Graça e às equipas pelo que dele quiseram fazer. Detestava aquelas etapas de 208 km com chegada a este alto em que só se corriam 8. Numa Volta futura, era interessante ver esta etapa colocada depois da Serra.

    Segundo, acho má ideia reduzir já a lista de concorrentes a 5 corredores. Já todos percebemos que o Rui Quinta não gosta da direcção da LA-Antarte mas, caramba, o Edgar Pinto merece pelo menos o benefício da dúvida. Num bom dia de Torre pode recuperar o resto do que perdeu em Lisboa. E, se a Efapel não jogar bem as cartas na Serra, ainda poderemos ouvir mais dos homens da OFM do que aquilo que imagina, por muito que não sejam trepadores.

    Terceiro, para mim o maior favorito já leva a amarela vestida. Tem tudo para ganhar, em especial o facto de ninguém da equipa poder incomodá-lo, coisa que não acontece nas equipas potugueses: não tem nenhum colega a correr por si, a la Duran, e o próprio Ciolek veio só passear, por isso nem se devem desgastar nos sprints. Ainda por cima, tem a experiência e o conhecimento da prova do seu lado. Gostei muito de o ouvir explicar a forma como ganhou, como mudou de estratégia depois de ter metido água há uns anos.

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  2. Obrigado pelo comentário, com vários pontos pertinentes!

    José, se o Edgar Pinto lutar pela Volta a Portugal, por mim, excelente. Aliás, para mim o ideal seria ter muitos ciclistas a atacar mas que chegássemos aos últimos dias ainda com muitos candidatos ao primeiro lugar. Gostava de hoje ainda poder considerar oito ou nove candidatos ao pódio mas eu comento em função do que acho plausível e não do que gostaria que acontecesse.
    No caso do Edgar Pinto, o principal problema parece-me ser o contrarrelógio. De qualquer forma, todos os ciclistas podem contrariar os meus prognósticos. Como fez o Ryder Hesjedal no Giro do ano passado.

    Cumprimentos!

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    1. O senhor devia era comentar em função daquilo que acontece na ESTRADA e não em função daquilo que considera plausível...a estrada revelou uma boa prestação do Edgar Pinto logo até que a estrada dite o contrário, o homem da LA também é um dos favoritos à geral........e depois como se atreve a acusar o Arkaitz Durán e o Nuno Ribeiro de falta de entrega se foi o ritmo imposto pelo colega de equipa (Ricardo Vilela) que os deixou em dificuldade??? Não foi falta de entrega....foi falta de pernas!!! Nuno Ribeiro ficou para trás devido a esse ritmo e Durán aguentou bem colocado até onde pôde aguentar...foi quebrando lentamente com o ritmo de Vilela e quando o Vergílio Santos atacou aí foi a machadada final nas aspirações de Durán em manter-se mais tempo no grupo...é impossível ajudar quando as pernas não respondem.

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    2. É por ainda faltar a Torre que temos de esperar para saber em que posição chega o Edgar Pinto ao contrarrelógio e por faltar o contrarrelógio que temos de ver como é que o Marque passa a Serra.

      Com menos agressividade do que o Anónimo anterior, concordo que a estrada tem-nos mostrado que não pode tirar já nenhum deles do rol de candidatos.

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  3. Vamos esperar para ver. Estou expectante quanto à estratégia da efapel, penso que serão ofensivos e não uma segunda Sky.
    Quanto ao Hélder Oliveira o que fez é realmente de louvar para quem já não recebe há dois meses!

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  4. Se há criticas (legitimas e correctas também do meu ponto de vista à LA Antarte) a verdade é que o Carlos Pereira farta-se de meter água. Hoje, novamente, Joni Brandão a puxar na fuga, rebocando o Sérgio Sousa e no pelotão O Filipe Cardoso e depois o Vilela a fazer o mesmo trabalho. Isto em simultâneo. Incrível! É uma espécie de "dar pérolas a porcos".

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  5. A resposta é dada na estrada aos teóricos do ciclismo15 de agosto de 2013 às 17:37

    Vitória de Raul Alarcon dedicada a todos (inclusive o administrador deste blog) os que criticaram a contratação de corredores espanhóis de suposta falta de qualidade...

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