A caminho dos Mundiais... |
Falta semana e meia para a Vuelta chegar a Madrid, faltam três semanas para o Campeonato do Mundo de contrarrelógio e três semanas e meia para o Mundial de fundo. Para muitos, o percurso até Florença é o mesmo pela Vuelta.
Fabian Cancellara e Tony Martin, mais do que dois excelentes contrarrelogistas da atualidade, são dois dos melhores contrarrelogistas da história do ciclismo moderno, o ciclismo da especialização. Calhou-lhes em sorte competirem na mesma época.
Cancellara, que desde os juniores se mostrou um contrarrelogista excecional, foi o grande dominador da especialidade até 2010, colecionando quatro títulos em Mundiais de elites, uma edição dos Jogos Olímpicos e vitórias em cronos de Tour e Vuelta. Em 2011 Tony Martin deu um salto de qualidade e tomou o título mundial de Cancellara, além de vitórias no Tour e na Vuelta, dominando nesta que é a sua especialidade. Nem tudo se resumia a Cancellara e Martin, com Bradley Wiggins e outros mais esporadicamente a mostrarem-se capazes de bater o Spartacus suíço e o Panzer alemão, mas foi claro que ao longo de 2011 Cancellara não conseguiu impor a sua supremacia nos contrarrelógios.
2012 esteve longe de correr da melhor maneira para Fabian Cancellara. Uma queda na Volta a Flandres já o tinha impedido de disputar as suas duas clássicas de eleição, Flandres e Roubaix, e uma queda na prova em linha dos Jogos Olímpicos deixou-o bastante condicionado para a prova de contrarrelógio, onde viu Wiggins, Martin e Froome preencherem o pódio, não indo além do sétimo posto.
Mundiais 2011: Cancellara recebe Martin no pódio, depois da vitória do alemão |
Para poder recuperar o domínio do contrarrelógio mundial, Cancellara teria que aumentar o foco no treino específico, sacrificar em parte a sua preparação para as provas de um dia. Aos 32 anos, Cancellara não se sentia capaz de dominar as clássicas de pavé e os contrarrelógios. Como o mesmo disse, os contrarrelógios não têm o mesmo impacto que uma Volta a Flandres, um Paris-Roubaix ou os Campeonatos do Mundo... de fundo. Esses foram traçados como os grandes objetivos para a presente temporada. Sem prólogo no Tour, não existindo a hipótese de vestir de amarelo na Volta a França, o contrarrelógio passaria para segundo plano, diminuindo a carga de trabalho específico na cabra. Ou isso disse em fevereiro. ("O contrarrelógio dos Mundiais não está no meu pensamento. Não tenho ambições para o contrarrelógio, mas tenho enormes ambições para as clássicas.")
Depois da campanha das clássicas, cumprida com nota máxima, talvez tenha mudado de ideias. Venceu o contrarrelógio da Volta à Áustria e foi segundo no da Polónia... batido por Bradley Wiggins. Fabian Cancellara chegou à Galiza num estado de forma sensacional, demonstrado no contrarrelógio coletivo, na chegada ao cabo Fisterra (2º atrás de Moreno), na chegada a Cáceres (3º lançando-se ao sprint de muito longe) e no trabalho para Chris Horner. Hoje chegou a vitória, uma vitória que pode levar a que altere o seu programa.
Agora parece mais provável que Cancellara esteja no contrarrelógio de Florença e o mesmo não exclui essa possibilidade. Porém, a decisão ainda não está tomada, pois o melhor que lhe poderia acontecer no crono seria conquistar o seu quinto título, um desafio muito menos aliciante do que conquistar pela primeira vez o arco-íris principal. O percurso é duro, mas estando no topo de forma o suíço poderá melhorar o quinto e o quarto lugares já conquistados. Pode aspirar ao ouro.
Resta saber se Cancellara estará disposto a abdicar de uma medalha altamente provável no contrarrelógio para apostar tudo no jackpot. Faltam três semanas e meia para uma prova que se prevê espetacular.