quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

E, nós por cá, cá vamos


Começou no domingo mais uma temporada nacional, com menos equipas e menos corridas… tudo por culpa da crise financeira. O “bom” dessa crise, é que tira responsabilidade a toda a gente quando as coisas correm mal e faz toda a gente parecer competente, quando aí também está uma grave crise. Nada acontece porque as pessoas trabalhem mal ou tenham incapacidade… é tudo por culpa da crise financeira. Na minha modesta mas chata opinião, é raro o caso em que não há mais culpados e grande parte da responsabilidade da crise quê se vive no ciclismo está nos próprios intervenientes.
Ora, uma primeira sugestão pode ser perceber que há algumas (muitas) dependências no ciclismo. As equipas precisam de patrocinadores para se manterem na estrada e os patrocinadores investem para ter publicidade. Onde? Sobretudo nas provas. Então as equipas precisam de provas. O certo é que, várias vezes durante a última época, as equipas profissionais portuguesas foram correr a Espanha e deixaram apenas dois ou três ciclistas para provas portuguesas que se disputavam em simultâneo. Então, valerá a pena as organizações portuguesas se esforçarem na caça aos patrocinadores para montar uma prova profissional, em que depois as equipas profissionais preferem as provas espanholas e as portuguesas ficarem entregues aos amadores?
Convém perceber de uma vez por todas que os agentes do ciclismo estão dependentes uns dos outros e no ciclismo português essa dependência é ainda maior e de um circulo mais restrito, pois não há novas provas na Austrália, nem na Arábia, nem nos EUA para onde fugir. Ciclistas, equipas, provas e Federação têm que trabalhar em conjunto, num único sentido, em vez de criarem barreiras uns aos outros, porque sobem e descem todos juntos e nos últimos anos tem sido só descer. Crise existe, mas não é só financeira, é também de ideias e de projectos num ciclismo de boca. Pede-se por boca, sem apresentar um projecto sólido, e depois usa-se a boca para reclamar e reclamar. São poucos os que têm projectos realmente fortes e esses acabam por sofrer por estarem dependentes dos demais.
O que também coloca o ciclismo no caminho para a autodestruição é a incapacidade existente (não só em Portugal) para lidar com casos como o de Rui Costa ou Alberto Contador. Casos em que é manchada a imagem dos ciclistas e da modalidade e depois se vê que afinal não havia motivo para tal. E não vale a pena criticar os órgãos de comunicação social generalista acusando-os de só falarem no ciclismo pelas piores razões, pois dentro do próprio ciclismo (e dos OCS de ciclismo) também há quem faça isso, ou por estupidez, ou por desejo de ver sangue e cabeças a rolar.
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No domingo correu-se a Prova de Abertura, onde a chuva veio chatear, depois de várias semanas de bom tempo no Algarve. A vitória foi para o Sérgio Sousa, que esteve quase para ir para o desemprego depois da Liberty Seguros anunciar que afinal não avançava com a equipa profissional.
E hoje arrancou a Volta ao Algarve, que por vários motivos não consegue crescer noutros aspectos, mas no aspecto desportivo continua a ser a maior prova portuguesa e uma referência mundial para as provas não-Pro Tour. Algumas más-línguas dizem que só existe um grande pelotão na Volta ao Algarve devido ao habitual bom tempo (comparativamente ao resto da Europa nesta altura), mas o certo é que o Algarve sempre teve melhores condições climatéricas que as demais regiões e não tinha esta qualidade até 2003, ano em que a Associação de Ciclismo do Algarve pegou na organização da corrida. Posto isto, é claro que a organização tem mérito pela evolução e actual situação da corrida.
E como se não bastasse todo o destaque que a prova está a ter pela presença do Contador, a primeira etapa foi ganha pelo Gilbert, outro dos tubarões que anda por aí. O César Fonte (Barbot) é líder das metas volantes e o Ricardo Mestre, a mostrar serviço para encontrar um patrocinador principal para a Tavira-Prio, é líder da montanha.
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E Lance Armstrong abandona o ciclismo pela segunda vez. Antes do cancro, foi um dos melhores ciclistas do mundo em clássicas, depois do cancro, tornou-se a pessoa mais influente da história do ciclismo. Agora deixa o ciclismo e vai dedicar-te aos cinco filhos e aos que hão-de vir.

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