domingo, 25 de maio de 2014

Não há dois dias iguais neste Giro

Fabio Aru, 23 anos, primeira vitória profissional
Rigoberto Urán fez o melhor contrarrelógio da sua carreira na quinta-feira e no sábado cedeu no seu terreno, a montanha. Cadel Evans defendeu-se muito bem ontem mas hoje cedeu. Domenico Pozzovivo vinha sendo o mais ofensivo mas hoje passou mal. Nairo Quintana tinha estado apagado até então mas ganhou tempo aos seus adversários neste fim de semana... exceto a Fabio Aru, que pode ser incluído entre os candidatos à vitória. Mas quem pode prever o desenrolar deste Giro?

Não tem sido um Giro muito atacado, com grandes cavalgadas em solitário desde longe, exceção feita para Pierre Rolland e Julián Arredondo, que muito têm feito para alcançar os seus objetivos. No caso do colombiano, uma vitória de etapa e a classificação da montanha, no caso do francês não sei se prefere uma vitória de etapa ou subir na classificação geral. Tem sido muito agressivo mas talvez na última semana pague o preço de todos este ataques.

Em parte, não tem sido um Giro muito atacado porque não há uma superequipa. Por vezes o adepto reclama das superequipas que destroem pelotões, mas sem estas as corridas tornam-se mais frias. Chega a um momento em que já não há gregários para impor o ritmo, os líderes olham uns para os outros mas ninguém ataca porque o grupo ainda está muito composto. Tem valido a Ag2r, com Alexis Vuillermoz e Hubert Dupont a prepararem os ataques de Domenico Pozzovivo.

Tem sido, isso sim, um Giro de humanos, em que todos mostram fraquezas. Já vimos dias maus ou menos bons de todos os homens do top-10 e hoje tocou a Pozzovivo. Mas se chegar no grupo dos que lutam pelo top-10 é o pior dia até ao momento de Pozzovivo, então é porque o seu nível tem estado muito alto.

Rigoberto Urán ganhou hoje tempo ao segundo classificado, Cadel Evans, que cada vez mais me convence que não aguentará o pódio desta Volta a Itália até ao final. Quintana ganhou ontem vinte segundos a Evans e vinte e cinco a Urán, hoje vinte ao compatriota e cinquenta e um a Evans, aos quais acrescem quatro de bonificação. Pouco a pouco vai aproximando-se e, continuando assim, pode chegar à vitória. Não me refiro a ganhar vinte segundos em cada etapa. Mas a diferença de nível de Quintana para Urán e Evans que nestes dois dias lhe valeu este tempo recuperado, em etapas mais duras pode significar mais de um minuto.

Ataques por parte dos candidatos à vitória não deverão acontecer antes da última subida de cada dia. Ninguém quer desgastar-se num esforço solitário de uma hora sabendo que no penúltimo dia tem pela frente o Zoncolan. Só quem o poderá fazer é quem já tenha os seus objetivos distantes e não lhe reste outra solução para além de arriscar. Quem não tem anda arrisca tudo sem arriscar nada, quem ainda possui legítimas aspirações de vitória não pode correr dessa forma.

Em 1998, em Montecampione, Marco Pantani atacou a três quilómetros da meta para ganhar 57 segundos a Pavel Tonkov, que à partida estava a menos de meio minuto do italiano. Hoje, na mesma montanha, Quintana atacou a 2700 metros da meta para ganhar 51 segundos a Evans. Para fazer estas diferenças não basta ser forte, mas também ter confiança. Nairo Quintana ataca sem olhar para trás e isso é algo que só os grandes campeões podem fazer. E mesmo nas raras vezes em que olha para trás, fá-lo em jeito de curiosidade, porque mesmo que tenha alguém na roda ele continua a pedalar forte naquele seu mundo em que só existe ele e a meta.

E claro, Fabio Aru, deixado para o final desta crónica propositadamente. Um dos 15 jovens a seguir em 2013 do Carro Vassoura, que no Giro do ano passado se viu afetado por problemas de saúde mas que mereceu a confiança da equipa. Tinha contrato até final de 2014 mas em agosto a Astana renovou até final de 2016, reforçando a aposta neste jovem atelnteo. Apontado aqui como uma possível revelação para este Giro, ficou com total liberdade quando Michele Scarponi saiu das contas da geral e hoje é um dos grandes candidatos ao pódio. Não é o principal candidato para isso mas, depois do que mostrou este fim de semana, não o descarto sequer da luta pela vitória final do Giro d'Itália 2014, ele que é outro que ataca sem olhar para trás. Tem 23 anos e nestes dois dias foi o único que ganhou tempo a Quintana. Além de Rolland, mas esse está mais atrasado.

Ao dia de hoje, olhando para toda a montanha que ainda falta e o que se tem visto, acho Quintana o principal favorito à vitória, seguindo de Urán, Majka, Aru, Evans e Pozzovivo. Não o Pozzovivo de hoje mas a versão que temos tido em todos os outros dias. Mas o melhor de tudo é que não conseguimos prever o dia de amanhã. Bom, o de amanhã é descanso. Mas a partir de terça-feira reabre a luta pelo pódio.

As previsões para o Gavia e o Stelvio rondam os 0º C, mas os organizadores acreditam que a etapa de terça-feira se realizará como está prevista. E é isto que está previsto para a última semana:
27/05, Terça-feira, 16ª etapa
28/05, quarta-feira, 17ª etapa
29/05, quinta-feira, 18ª etapa
30/05, sexta-feira, 19ª etapa, crono-escalada
31/05, sábado, 20ª etapa
01/06, domingo, 21ª etapa




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