terça-feira, 7 de abril de 2015

Paris-Roubaix 2015: Kristoff como homem a bater

Terpstra e Kristoff, primeiro e segundo na Ronde. Vencedor de Roubaix 2014 e maior favorito em 2015
Foto: CyclingTips.com.au
Cada cultura tem os seus símbolos e o Paris-Roubaix é um dos mais destacados no mundo do ciclismo, com os seus setores de pavé onde os ciclistas são chamados a enfrentar o caos e os tormentos.

Volta a Flandres e Paris-Roubaix são belíssimas corridas quase por definição, ambas com muitas pedras, com muitos protagonistas que se repetem mas com importantes diferenças. Por contraste com os muros da Ronde, no Inferno do Norte são 52,7 quilómetros de pavé divididos por 27 setores planos, fazendo deste o Monumento em que a seleção se inicia mais distante da meta. Também é aquele em que a sorte e o azar jogam um papel mais importante, bastante mais que nas clássicas de Flandres. Um problema mecânico a 100 quilómetros do Velódromo, com o pelotão já muito alongado e os carros de apoio atrasados, pode ser a sentença. Para evitar isso, as equipas com ambições em Roubaix enviam um batalhão para o Norte de França. Mais do que os nove ciclistas, estarão presentes muitos mecânicos, massagistas e amigos, vestindo o respetivo equipamento e de roda no ar, ao longo dos setores de pavé, para poder prestar assistência caso necessário. À parte do Paris-Roubaix, no próximo domingo apenas se disputa a Klasika Primavera espanhola, e apenas com uma formação World Tour, a da casa, a Movistar. Só importa Roubaix.

Percurso

De entre os 27 setores de pavé, ordenados em decrescente conforme o perfil seguinte, três se destacam. A terrível Floresta de Arenberg, a 95 quilómetros da meta (2400m de extensão), o Mons-en-Pévèle (3000m), à falta de 49, e o Carrefour de l'Arbre (2100m) quando faltarem cumprir 17 quilómetros. São, em teoria, os mais duros, os únicos de cinco estrelas. Arenberg é, muitas vezes, onde se começa a fazer a seleção. O Carrefour de l'Arbre é, por norma, vista como a derradeira oportunidade de alguém se desenvencilhar de uma companhia inoportuna em caso de sprint, uma vez que os três setores que faltam são acessíveis. Mas um Paris-Roubaix, que se perde em qualquer sítio, também se pode vencer com um ataque desde qualquer local. Nem necessita de ser sobre as pedras, como mostrou Cancellara em 2010, Boonen em 2012 ou Terpstra no ano passado.

O percurso sofreu pouquíssimas alterações, e dos 253,5 quilómetros a percorrer este ano os últimos 123,5 são iguais aos de 2014.



Favoritos

Alexander Kristoff parte como principal favorito, um favoritismo incontestável depois da vitória da semana passada, ainda que as pedras não façam destinação entre cabeças-de-cartaz e figurantes na hora dos azares. A sua equipa é débil. Dependerá muito da forma como a corrida se desenrolar, mas Kristoff não tem ao seu dispor o bloco da Etixx, da BMC ou da Sky. Luca Paolini deverá ser o seu principal apoio, e apesar de ao longo do último mês o italiano estar constantemente num nível altíssimo, esta é a clássica que menos assenta no seu perfil. (A Katusha conseguiu hoje a 10ª vitória em 12 dias, com Kristoff no Prémio Escalda.)

A Etixx tudo fará para quebrar a sua malapata. Niki Terpstra, vencedor do ano passado, chega aqui depois de ter sido segundo no Omloop, Gent-Wevelgem e Volta a Flandres. Zdenek Stybar foi segundo no E3 Harelbeke e tem sido também ele muito constante, sendo em teoria mais rápido que o companheiro holandês. Mais rápido ainda é Matteo Trentin. Não é o principal favorito dentro da equipa, na hierarquia desta ainda terá pela frente Stijn Vandenbergh, seria uma grande surpresa vê-lo  a discutir o pódio, mas Trentin é um ciclista a seguir com atenção. No ano passado esteve entre os primeiros na etapa de pavés do Tour, recentemente foi terceiro no E3 e sabe ganhar: venceu etapas nos últimos dois Tours. É a última oportunidade de uma grande vitória da Etixx nos pavés desta Primavera depois de tantos segundos lugares.

John Degenkolb ambiciona aquele que seria o seu segundo Monumento da temporada, depois de Sanremo, e tem razões para estar confiante depois do segundo posto da última edição, apenas surpreendido por Terpstra.

No que toca a blocos, depois da Etixx, destacam-se a BMC e a Sky. Na equipa norte-americana o líder será Greg Van Avermaet, recentemente terceiro em Flandres e sempre um homem muito regular, com Daniel Oss de plano B. Nunca esteve entre os melhores em Roubaix, mas tem-se mostrado muito forte desde a Milano-Sanremo, sobretudo em Flandres.

Já a Sky tem como homem mais forte Geraint Thomas, fortíssimo em 2015 e com legítimas aspirações a melhorar o seu sétimo posto de 2014, quando teve que trabalhar em prol de Wiggins. O principal ponto fraco de Thomas será esse mesmo, Bradley Wiggins. Ainda que tenha medo da chuva, a coqueluche da Sky meteu na cabeça que queria vencer o Paris-Roubaix e é provável que o diretor meta o seu melhor homem, mais uma vez, a trabalhar para este produto científico que de contrarrelogista virou vencedor do Tour e de vencedor do Tour quer virar vencedor do Paris-Roubaix. O Paris-Roubaix, prova maior da bravura de um ciclista, não merece ter um vencedor que tem medo da chuva.
Outra carta importante na Sky pode ser Ian Stannard, bivencedor do Omloop Het Nieuwsblad.

O Sempre-Em-Perseguição Vanmarcke foi uma das desilusões da semana passada e tenta em Roubaix a grande vitória que lhe tem escapado. Lars Boom, vencedor da etapa de pavés do último Tour, é outro dos candidatos, bem como Jurgen Roelandts, Peter Sagan e Arnaud Démare. Ainda que comece a desconfiar que apenas eu e o próprio Démare acreditamos nas suas possibilidade. Para isso teria que evitar quedas, furos e demais problemas mecânicos, algo muito difícil para ele.

***** Kristoff
**** Terpstra, Stybar, Van Avermaet e Degenkolb
*** Vanmarcke, Thomas, Boom, Roelandts e Sagan
** Wiggins, Démare, Vandenbergh, Stannard, Oss e Trentin


Horários

A transmissão da prova começa às 11h45, os ciclistas deverão enfrentar o primeiro troço de pavé às 12h05, Arenberg às 13h40, Mons-en-Pévèle às 14h50, o Carrefour de l'Arbre às 15h40 e o final está previsto às 16h10.
O resumo do Paris-Roubaix 2014 de Kristoff. O favoritismo não garante imunidade

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