domingo, 5 de julho de 2015

O Tour não espera pelas montanhas

O contrarrelógio individual do primeiro dia fez magras diferenças entre os principais candidatos à vitória (e ao pódio) do Tour 2015, sendo Nairo Quintana quem tinha maiores motivos para estar satisfeito, olhando ao tempo (não) perdido. Os seus adversários tinham a responsabilidade de ganhar mais tempo ao colombiano do que aquele que conseguiram em Utrecht. Diferenças mais significativas fizeram-se sim no dia de hoje, de forma mais ou menos inesperada.

Mais ou menos porque, olhando para o perfil plano, seria de esperar uma decisão em pelotão compacto. Mas fazendo a preparação da etapa, todas as equipas e todos os ciclistas com alguma ambição na classificação geral estavam (ou deviam estar) alertados para a chuva e o vento.

Ainda na primeira metade da jornada deu-se a primeira ameaça de #MomentoValverde. O pelotão fracionou-se e o espanhol ficou para trás. Dizia-me um jornalista amigo há dias que há ciclistas que não percebem de ciclismo. Valverde tem 14 anos de grandes voltas e não percebe. Com ele ficaram também Rui Costa, Talansky, Rodríguez e Mollema, homens que querem chegar a Paris no top-10. Mas, ok, toda a gente tem desculpa para estar desatento uma vez e, felizmente para eles, apareceu Roterdão. Numa zona mais abrigada do vento e por isso menos sujeita a abanicos, mas também porque as zonas urbanas são mais técnicas e mais perigosas, formou-se um pacto de não agressão. Sky, Tinkoff, Etixx e Lotto-Soudal afrouxaram o ritmo para evitar perigos, permitindo que os atrasados reentrassem.

Após Roterdão, uma queda a afetar sobretudo Wilco Kelderman provocou um corte no pelotão e entre os "surpreendidos" estavam alguns repetendes. Alguns dirão que foi azar, porque a queda foi de outros ciclistas mas foi à sua frente. Eu tenho dificuldades em atribuir a responsabilidade ao azar. Houve gente a ser novamente apanhada atrás e gente a ser novamente "apanhada" na frente. Fabian Cancellara veste de amarelo porque soube estar bem colocado (e bonificar) mas recordo uma etapa de 2009, logo nos primeiros dias, em que também aí se formou cortes pelo vento e Cancellara também esteve no primeiro grupo. Curiosamente, nesse dia venceu Cavendish, que hoje também esteve no primeiro grupo, novamente com Tony Martin e Renshaw (seus colegas antes na HTC e agora na Etixx). Já em 2013, no dia em que Valverde furou (disso não tem responsabilidade) e se formaram abanicos, o vencedor foi Cavendish, com Sagan na frente, Contador e a sua Tinkoff. Então, havendo tantos repetentes, será uma questão de sorte ou astúcia?

Adiante formou-se um novo corte, desta feita com Nibali, Rui Costa e Pinot atrasados. Quando o grupo estava a 10, 15 segundos, Rui Costa confiou na mesma estratégia dos Mundiais de 2013. Naquele dia, valeu a pena esperar na roda de Nibali que o italiano perseguisse Joaquim Rodríguez. Hoje, nem por magia Nibali com apoio de apenas um ou dois ciclistas iria alcançar o grupo da frente, muito mais numeroso. Quem tem ambições na geral devia ter feito um esforço para tentar colar na frente e ganhar tempo a todos os que seguiam atrasados, mas aparentemente apenas Nibali as tinha. Os que quiseram poupar energias quando estava a 15 segundos, acabaram por perder quase minuto e meio para Froome, Contador e Van Garderen, mas também para Tom Dumoulin, que poderá chegar amanhã à camisola amarela.

A Etixx-Quick Step fez um trabalho fantástico, desde o início marcou presença com Vermote e Golas, depois (e sobretudo) com Kwiatkowski e Tony Martin, mas também Stybar e Renshaw na parte final, poupando-se Urán, o homem para a geral do conjunto belga. Um trabalho fantástico da Etixx, mas deixaram Cavendish muito cedo na frente e o triunfo foi para André Greipel, outro (como Martin) para quem já esgotei os elogios. E Marcel Sieberg, o gigante que está sempre lá, um dos melhores gregários do mundo, ainda que passe desapercebido por ser um homem de terreno plano.

Van Garderen, Froome e Contador são os melhores posicionados na geral entre os candidatos ao pódio, mas Rigoberto Urán, que no Giro não foi ao seu limite está à sua frente. Nibali a mais de um minuto destes, Quintana a mais de minuto e meio. Ninguém está fora da luta pela vitória, nem nada que se pareça, até porque nenhum destes sofreu quedas até ao momento (o que seria bem pior, por deixar mazelas). Mas é tempo que se regista.

Tentar antecipar estratégias para as montanhas é um esforço em vão. Até lá muita coisa falta acontecer, amanhã haverá Mur d'Huy, depois pavés, Mûr de Bretagne e contrarrelógio coletivo. Tudo ainda na primeira semana.

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Relembrando que o artigo com a antevisão de cada etapa está ali no lado esquerdo.

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