segunda-feira, 13 de junho de 2011

Critérium du Dauphiné: primeiros sinais para o Tour

Terminado o Critérium du Dauphiné, é hora de retirar as primeiras impressões com vista à Volta a França que dia 2 de Julho começa. Não existe uma forma mágica que nos diga, com base na sua prestação no Dauphiné, como determinado ciclista vai estar na Volta a França e eu não me vou meter em exercícios de adivinhação… apenas olhemos ao que tivemos durante a última semana.

Os Homens-Tour

Bradley Wiggins conseguiu esta semana a sua primeira grande vitória no ciclismo de estrada e possivelmente a maior que terá na sua carreira nesta vertente, muito maior do que os contra-relógios até agora ganhos. Apesar de muita gente julgar que, vencer esta prova significa estar em forma demasiado cedo para a Volta França e, se no Tour não correr tão bem, criticaram este triunfo, eu não vejo as coisas assim. Para um ciclista como o Wiggins, que o único resultado digno de nota numa grande volta é um 4º lugar caído do céu, vencer o Critérium du Dauphiné é um feito brutal, que deve ser aplaudido independentemente de como correr o Tour. Wiggins não pode ser visto como tendo a mesma responsabilidade de Alberto Contador, Andy Schleck, Cadel Evans ou Ivan Basso porque o que tinha na sua carreira até à semana passada era isso mesmo: um 4º lugar caído do céu.

Quanto a Cadel Evans, pareceu-me ainda distante do nível que apresentou no Tirreno-Adriático mas no bom caminho para lá chegar na Volta a França, o seu grande objectivo do ano (este sim, tem um palmarés que justifica responsabilidades em grandes voltas). Vinokourov pareceu em grande forma nos dois primeiros dias mas depois disso pareceu muito justo, até com um contra-relógio fraco, e com a sua idade é difícil saber se ainda está a caminhar para a melhor forma ou se já não tem pernas para mais, pois este ano tem sido sobretudo um caça-etapas ao género de Thomas Voeckler, sem demonstrar a força doutros tempos (a idade a deixar marca).

Jurgen Van Den Broeck conseguiu a primeira vitória profissional da sua carreira mas também ainda me pareceu distante do seu melhor, tal como Robert Gesink, outro homem que poderá lutar pelo pódio na Volta a França. Joaquin Rodríguez foi o mais forte dos trepadores (vem com a forma do Giro, ao contrário dos que estão a “crescer”) e é uma pena que não esteja presente no Tour. Por outro lado, é bom ver que há ciclistas que, em vez de andarem vários anos a lutar para terminar nos dez primeiros do Tour, preferem tentar ganhar ou chegar ao pódio no Giro ou Vuelta.

Como já é normal, Thomas Voeckler foi um dos mais combativos em prova, lutando continuamente pela vitória em etapas. Porém, desta vez a sua prestação foi um pouco ofuscada pelo seu colega Christophe Kern, que se apresentou na melhor forma da sua carreira, venceu uma etapa e andou continuamente na luta por mais sucessos, terminando em quinto. Mas não estranhem! Vogondy também foi 6º no ano passado e venceu uma etapa.

Janez Brajkovic não está longe do seu melhor mas ainda tem capacidade para melhorar, Samuel Sánchez e Ivan Basso, dois dos mais fortes candidatos ao pódio, estão longe do topo mas ainda com margem de manobra, Luis León Sánchez e Rein Taaramäe igualmente e Chris Anker Sorensen poderia ser um grande animador na Grande Boucle se não tivesse que trabalhar para Contador. Rigoberto Urán poderá voltar a dar um lugar de destaque aos colombianos, depois de Soler em 2007.

Os Portugueses

Alguns críticos deverão estar agora a dar-lhe forte no Rui Costa, mas a prova que ele fez foi muito boa. Bem no prólogo e nas primeiras etapas, excelente no contra-relógio e só depois a falhar na alta montanha. Não me desiludiu, porque não o via nem vejo como um grande trepador, pelo menos por agora, mas conjugando a sua boa ponta final, a forma como passa a meia montanha e a qualidade nata para os contra-relógios, já temos aqui um grande ciclista para provas de uma semana. Não é que não tenha capacidade para aguentar três semanas (não sei se tem ou não), mas nas grandes voltas costuma aparecer alta montanha para a qual ainda não está talhado. Com trabalho, talvez chegue lá, mas por agora há que aproveitar o semi-voltista de ouro em vez de só querer um grande-voltista de bronze.

Bruno Pires foi uma agradável surpresa para mim, estando bem e regular nas etapas de montanha e defendendo-se no contra-relógio, que está longe de ser a sua especialidade. Continuo sem entender o porquê de ter ido para uma equipa Pro Tour em vez de outros melhores que por cá continuam, mas certamente ganhou mais algum crédito dentro da equipa e voltem a apostar nele para mais provas deste calibre.

Sérgio Paulinho, como é normal, andou por lá, com excepção da etapa de sexta-feira, em que esboçou dois ataques, algo que também já é habitual fazer nesta prova. Para os comentadores da Eurosport, é sempre brilhante, tem sempre óptimas prestações, realiza um grande trabalho para os seus colegas, é dos poucos que está sempre a apanhar vento de frente, etc, etc. Quanto a mim, só tenho pena que lhe tenham matado qualquer combatividade e ambição que pudesse existir, tornando-o num ciclista tipo… esqueçam, não há comparação. Entre os medalhados olímpicos e mundiais, não encontro ninguém com tão poucas vitórias e resultados de destaque. Infelizmente, passou ao lado de uma carreira que poderia ter sido muito maior.

A nova esperança alemã

Entre terça e quinta-feira, os adeptos alemães da modalidade devem ter rejubilado. Depois de Jan Ullrich abanar (até cair) com a Operação Puerto, de Bjarne Riis, Erik Zabel, entre outros, terem confessado que a Telekom de meio da década passada era um antro de dopados e de Patrick Sinkewitz e Mathieas Kessler terem sido apanhados no anti-doping, a popularidade do ciclismo caiu muito na Alemanha, com o Tour a sair mesmo da televisão pública alemã. O sucesso de Tony Martin (que teve como ponto alto a vitória no Paris-Nice) e Andre Greipel, o potencial de John Degenkolb, e Marcel Kittel têm vindo a dar uma nova esperança aos germânicos, num ciclismo de topo sem doping, e as duas vitórias de Degenkolb neste Dauphiné, com outra de Martin pelo meio, deverão ser importantes para continuar essa recuperação. Tendo o mercado alemão o peso que tem dentro da própria União Europeia, será muito importante para chamar novos patrocinadores.

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Se a Eurosport Portugal tivesse concorrência (por “concorrência” entenda-se “algum canal que transmitisse as mesmas provas em língua portuguesa” e passasse em Portugal), teria que investir mais na qualidade dos seus comentários, que está muito longe do que eu considero aceitável. Os erros são às dezenas por etapa e já não há paciência para as teorias dos cotovelos nem do faz de conta. Ouvir tantas vezes que “Fulano está a passar dificuldades… dá para ver pelo ângulo dos cotovelos” e depois ver o Fulano a aguentar-se até ao final no grupo, já cansa, ainda mais quando usam essa teoria para o Evans, que tem sempre aquela posição feia de estar na bicicleta. Outra coisa que cansa é a conversa do “se a etapa tivesse mais cinco quilómetros”, “se a subida fosse mais inclinada”, “se a prova tivesse mais dois dias”… não preciso de comentar isto, pois não?

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Como este artigo já vai grande e ficaria mal colocar a Volta ao Alentejo aqui às três pancadas, fica para um artigo a sair a meio da semana, quando o tempo o permitir. A Volta à Suíça, que também dará algumas impressões importantes para o Tour, será falada no seu final. 

11 comentários:

  1. "Se a Eurosport Portugal tivesse concorrência (por “concorrência” entenda-se “algum canal que transmitisse as mesmas provas em língua portuguesa” e passasse em Portugal), teria que investir mais na qualidade dos seus comentários."

    A qualidade dos comentários da Eurosport ao nível do Futebol, do Ténis e dos desportos motorizados é soberbo. Digo mesmo que é melhor e de longe, que os das Sporttv.

    Quanto aos comentadores de ciclismo concordo contigo. Um comentador mais seguro, que cometesse menos falhas e que tivesse um maior conhecimento geral da modalidade no geral seria um adição a considerar.

    De resto, excelente artigo!

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  2. Caro Pedro, bem-vindo a este espaço.
    Quando me refiro à qualidade dos comentadores da Eurosport Portugal, não me refiro ao geral mas sim aos de ciclismo. Longe de mim querer colocar em causa a qualidade de todos os outros ;)

    Sinta-se/sente-te à vontade para comentar mais vezes ;)

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  3. Os comentadores da Eurosport no ciclismo saõ muito bons,melhor que os da rtp n as teorias do Chagas são chatas de mais e principalmente na eurosport quando esta o olivier é animação garantida

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  4. "Anónimo", tens todo o direito à tua opinião, como eu tenho à minha. Pelo que escreves, pareces ser ainda um jovem, mas não é por isso que a tua opinião tem menos valor. Já que falas no Marco Chagas, tenho a dizer que, na minha opinião, é das pessoas que mais sabe de ciclismo em Portugal e para mim é sempre um prazer ouvi-lo. Mas lá está, são opiniões.

    Quanto à animação, temos o exemplo da dupla de comentadores de basquetebol da SportTv, que consegue juntar animação, conhecimento e excelente qualidade de comentários.

    Agradecia também que, quem quiser comentar, se identifique, nem que seja apenas primeiro nome, último ou alcunha. Se forem todos "anónimos" é impossível distinguir.

    Cumprimentos ;)

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  5. Não esquecer a vitória do Sérgio Paulinho numa etapa do Tour do ano passado. Que o Tiago Machado e o Rui Costa me desculpem, o Paulinho é o melhor ciclista português da actualidade.

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  6. Em relação aos comentários da Eurosport é de facto verdade que às vezes surgem coisas erradas e/ou despropositadas, principalmente por parte do Luís Piçarra, mas quanto ao Paulo Martins acho que ao fim do muito tempo (3 anos) que vejo tudo o que posso da nossa modalidade e que passa na eurosport é um excelente comentador bastante assertivo, conhecedor, apesar de quando comenta sozinho ser monótono. Não é que tenha alguma coisa contra o Luís Piçarra nem preferia que não lá estivesse mas acho que a origem da tua opinião deve ser por coisas que ouves da parte dele. E quando o Olivier está na eurosport como no tour é muito divertido ouvi-lo pois também é muito bem informado. O Marco Chagas está ao nivel do Paulo Martins prá alem de um corredor brilhante é também um comentador extraordinário com uma voz quase de rádio, muito agradável.
    Parabens pelo Blog as tuas opiniões são muito bem estruturadas e oportunas, com o orgulho português sempre presente.

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  7. Bem-vindo JailBait.
    Como já disse anteriormente, cada um tem as suas opiniões e respeito a tua sobre este tema. Não te vou tentar "converter" à minha, tal como tu não estás a tentar converter ninguém. Cada um com a sua ;)

    No entanto, tenho a acrescentar que, apesar de achar que a dupla de comentadores poderia ser melhor, não considero que a monotonia do Paulo Martins sozinho seja um defeito, pois é quase impossível não ser monótono um comentador sozinho durante 1 hora. Há comentadores que o conseguem mas muito poucos.

    Obrigado pelos elogios e espero que volte a comentar ;)

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  8. Tenho de discordar apenas numa coisa que o Rui disse.Eu acho o Paulo Martins um bom comentador seguro com expêriencia,já o Luís Piçarra deixa muito a desejar. O olivier é um caso aparte ele sabe umas coisas e é divertido ouvi-lo comentar e saber as apostas dele, mas penso que poderia concentrar-se um pouco mais na modalidade, mas ainda assim gosto de o ouvir.
    O Marco Chagas para mim é um óptimo comentador(apenas o ouço a relatar a Volta a Portugal) que já foi um grande ciclista e também bastante conhecedor.
    E tenho de concordar que se a Eurosport tivesse concorrência,perderia com toda a certeza... :)
    Apesar de ser bastante jovem, gosto de acompanhar o ciclismo e de poder deixar as minhas criticas.

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  9. Bem-vindo Pedro.
    Vendo assim, temos opinião muito semelhante quanto a este tema.
    Penso que a RTP teria a ganhar se também estivesse nas redes sociais durante as provas, criando interacção com o público. Seria fácil de o fazer e anularia essa vantagem da Eurosport.

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  10. Concordo, sem dúvida.
    Pena que só transmitam a Volta a portugal, e poucos quilómetros.
    Mas já vi também através da rtp2 uma etapa da Volta a França e gostei, pena com interajam com o público através das rede sociais,nomeadamente o Facebook.

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  11. De qualquer forma, transmitem todas as etapas do Tour na RTP N ;)

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