Chegada a montanha e a grande luta pela classificação geral, faz todo o sentido o Carro Vassoura fazer uma paragem não programada para recolher aquilo que ficou na estrada: muitos estragos, muitos segundos (mais para uns, menos para outros) e muitos motivos de análise.
Samuel Sánchez conseguiu a sua ansiada vitória no Tour, Frank Schleck foi o melhor entre os candidatos ao pódio, Alberto Contador deixou segundos para todos os principais adversários e Thomas Voeckler segurou a camisola amarela com a ajuda de um grande Pierre Rolland. Antes disso, Jens Voigt disfarçou a falta de força de alguns dos seus colegas.
33 segundos de Frank Schleck a Alberto Contador
Não tinha planeado voltar a escrever antes de sábado, mas a etapa de hoje foi rica em motivos de interesse. No começo, tivemos algumas surpresas, com Johnny Hoogerland, Sylvain Chavanel e Romain Kreuziger a saltarem do pelotão a caminho da primeira contagem de montanha. Estando todos eles marcados por quedas, poucos espectadores poderiam pensar que qualquer um deles atacasse nestas condições, em perseguição de um sexteto de fugitivos (sem perigo para a geral) muito adiantado. O trio perseguidor não conseguiu chegar à frente e a fuga principal foi anulada logo no início da subida para Luz Ardiden, o que de resto se antevia desde cedo.
A Euskaltel-Euskadi apostou em levar Samuel Sánchez à vitória. Com algum atraso na classificação geral, o asturiano (o único da equipa que não nasceu nem no lado espanhol nem no lado francês do País Basco) tinha liberdade e saltou do grupo principal antes da derradeira subida, tendo consigo um colega de equipa que o ajudou enquanto pôde e o deixou com Jelle Vanendert.
Lá atrás, acabava-se Jens Voigt, uma espécie de coelho da Duracell, que dura, dura e dura. Hoje, a Leopard-Trek esteve abaixo das expectativas enquanto equipa, apenas com Jens Voigt a disfarçar a falta de força de Maxime Monfort, Linus Gerdemann e principalmente Jakob Fuglsang. Voigt (quase nos 40 anos) serviu para manter o pelotão em ordem até ao princípio da última ascensão, onde o alemão abriu e cedeu o seu posto à espera de outro. Alberto Contador ainda lá tinha três colegas mas nenhum se chegou à frente. Foi aí que tive a primeira desconfiança de que o espanhol não estava no seu melhor (como de resto comentei na página de Facebook do João Pedro Mendonça, um espaço aberto a todos e que convido a visitar). Se Contador estivesse no seu melhor e se sentisse capaz de atacar, teria dado instruções a um colega seu para assumir a dianteira do grupo, mesmo que não fosse logo num ritmo infernal.
Sylvester Szmyd, o qual considero um dos melhores gregários do mundo, aumentou o ritmo para Ivan Basso e deixou muita gente a passar mal. Depois, os irmãos Schleck entraram naquele jogo que eu já tinha indicado como o mais indicado. Não interessava qual deles ganharia tempo, porque ficarão igualmente satisfeitos se um deles vencer, seja qual for. Frank atacou, obrigando os adversários a responder, depois Andy e mais uma vez os adversários tiveram que ira trás, repetindo o jogo até Frank atacar sem resposta. Era até mais provável que fosse ele a ter sucesso, pois beneficiava de maior liberdade do que o irmão, apesar de eu o considerar próximo do nível de Andy e até estar melhor na classificação geral.
Sem surpresa, Sánchez desfez-se de Vanendert na parte final e venceu, conquistando a vitória de etapa no Tour que tanto desejava e tão importante para a sua equipa, que nos últimos anos já esteve em risco de acabar.
Cadel Evans e Ivan Basso assumiram a perseguição de Frank Schleck, enquanto Contador dava passagem a Andy Schleck, depois a Damiano Cunego e acabava por ceder. Samuel Sánchez recuperou 10 segundos para Frank Schleck, o primeiro entre os candidatos à vitória, porque Frank Schleck tem que ser visto como um candidato à vitória, um dos principais.
Thomas Voeckler conseguiu manter a camisola amarela, com uma grande prestação sua e do seu colega Pierre Rolland, um jovem a caminho dos 24 anos. A 1.49 minutos, Frank Schleck é o segundo da geral e vem complicar as contas para a concorrência. A aposta deverá continuar a ser a mesma, com ataques de um e outro à vez, mas agora os seus adversários não poderão escolher um dos luxemburgueses e terão que responder a ambos. Atendendo a que existe um contra-relógio pela frente, Cadel Evans é o melhor colocado para a vitória final e o único que se poderá limitar a defender, pois Ivan Basso terá que continuar ao ataque, se quer chegar à vitória. De qualquer forma, a acontecer, esses ataques serão na etapa de sábado, pois a de amanhã tem a única dificuldade muito distante da meta. Quem a deverá aproveitar para atacar na busca do tempo perdido são ciclistas atrasados, como Peter Velits, Taaramae, Leipheimer, Urán ou Peraud, todos eles entre 6 e 8.20 minutos. Ciclistas mais atrasados poderão tentar a sua sorte, mas, apesar de ser provável que vingue uma fuga, não me parece que isso aconteça com grande vantagem. Não nos podemos esquecer de um sem-fim de ciclistas que procurarão a vitória na etapa, podendo estar entre eles o Sérgio Paulinho, enquanto o Rui Costa deve ajudar Rojas a ultrapassar a subida ao Aubisque junto dos melhores para poder disputar os primeiros lugares da tirada.
O lado menos bom
Chamar “desilusões” a ciclistas como Robert Gesink ou Klöden, seria uma extrema injustiça. O holandês já estava demasiado marcado pelas quedas e rapidamente ficou para trás, e o alemão caiu mais uma vez hoje e as dores impediram-no de seguir com os melhores. Peter Velits teve dois furos e também não conseguiu estar na frente, podendo melhorar nos próximos dias e até ser um dos mais indicados para os primeiros postos amanhã. Gesink e Klöden deverão esperar por melhores dias nos Alpes para procurar uma vitória de etapa.
Luis León Sánchez é que, como noutros dias, se mostrou completamente fora de forma, tal como Vande Velde, e Tony Martin mostrou-se incapaz de ultrapassar as montanhas perto dos trepadores.
Outro dos pontos baixos desta etapa foi ver que dificilmente haverá luta pela classificação da montanha. Por mais que alguém queira amealhar pontos nas contagens de montanha colocadas a meio da etapa, a diferença de pontos em relação aos finais em alto é enorme. Para vencer um ciclista que não dispute as chegadas em alto, é necessário que esteja em fuga em várias etapas de montanha e que não haja um dominador entre os homens da geral, sendo as vitórias de etapa o mais repartido possível.
Para quem ainda não sabe, as classificações estão disponíveis aqui. Basta escolher a etapa, a classificação que querem ver e se é etapa ou geral. E para ver as etapas no computador, basta ir ao site da RTP N.
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